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sexta-feira, 30 de julho de 2010

O andarilho das estrelas

No livro “O Andarilho das Estrelas” (1915), de Jack London, o personagem principal, Standing, está no corredor da morte esperando o momento para ser enforcado. No entanto, até chegar o dia D, ele passa por uma série de torturas aplicadas pelos guardas do presídio onde ele se encontra na Califórnia, Estados Unidos. Um dos principais castigos que lhe aplicavam, era amarrá-lo a uma camisa de força até espremer o último espaço entre os ossos, e deixá-lo em uma cela completamente fechada, com apenas um facho de luz entrando por baixo da porta durante o dia. Standing ficava lá, às vezes um dia, às vezes semanas, ganhando diariamente apenas um gole de água para não morrer. No entanto, como não tinha defesa nenhuma, e como estava completamente cansado de sofrer, Standing seguiu a orientação de um outro preso, mais experiente, e começou a querer morrer, mas sem se matar. Complexo, não? Pois é, mas, através disso, Standing passa a entrar em transe, voltando aos locais onde teria vivido suas vidas passadas. E, estando em transe, ele não sentia mais o sofrimento do corpo que estava ali, amordaçado na camisa de força.
Vendo a atual situação do Grêmio, com a boa fase do Inter, lembrei-me de imediato desse livro de ficção. O Standing nada mais é do que um gremista que já não sabe mais o que fazer para aliviar a sua dor de torcedor. O problema é que o torcedor do Grêmio ainda não descobriu nada parecido com o que Standing fez: matar o próprio corpo para viver apenas da alma. O torcedor gremista está, sim, é oscilando entre o entretenimento de secar o Inter e rir das tragédias alheias, mas que dificilmente chegam à altura das suas próprias tragédias. O torcedor gremista sabe que com a diretoria que tem, com os jogadores que estão no Olímpico, e com a comissão técnica comandada por Silas, o sofrimento será certo. No máximo, o tricolor escapará do rebaixamento. Parece que os gremistas se deram conta de que dessa vez nem mesmo o seu grito e o seu canto nas arquibancadas do Olímpico podem superar a mediocridade do time em campo.
E como o torcedor gremista reverterá esse quadro de sofrimento? Se ausentando espiritualmente dos jogos. Substituindo uma ida ao Olímpico num domingo de tarde por uma caminhada na Redenção. Trocando o jogo na TV em um bar de Santo Ângelo por um filme no cinema ou por uma caminhada com o cachorro. É a fuga do sofrimento. Por isso, o Gre-Nal de amanhã será apenas de uma torcida. Por isso, o Gre-Nal de amanhã será colorado. Mas (sempre tem o “mas”), caso o Grêmio vença e o Inter caia na Libertadores na quinta-feira, o torcedor gremista poderá se considerar um ser abençoado por milagres, e, porque não, poderá voltar a comemorar.
SELEÇÃO – Ainda é cedo para comentar o trabalho do Mano Menezes na Seleção. A convocação para o jogo contra os Estados Unidos não poderia ser diferente: vários jogadores novos e desconhecidos ganhando a chance de mostrar o seu futebol. Só volto a repetir que o Mano não poderá criar o mesmo esquema de bruxaria que o Dunga tinha, mantendo jogadores em má fase por “consideração”. Futebol é momento e uma seleção precisa de qualidade. Caso em 2014, na véspera da Copa, aparecer novos jogadores bons, ele não pode manter um ruim, que agora, em 2010, está bem, só porque convocou o cara durante três anos. A Copa desse ano foi prova disso, e a torcida brasileira não pode passar pelo que Standing passou por conta de um cabeça dura.
Um bom final de semana e um bom Gre-Nal a todos.

*Texto publicado no JM de sábado.

Pior que Cafundó

Santo Ângelo, minha terra natal, tem suas peculiaridades. Por exemplo: está cada vez mais difícil de se achar um lugar para estacionar no centro. Você sai com seu carro para ir pagar uma conta. Você passa pelas ruas centrais, uma, duas, três vezes, e nada. Então, você resolve estacionar a umas seis quadras do lugar onde você quer ir. Da uma bela caminhada, e fica lá, na fila, esperando, pensando na vida. Até que te chamam e você sai de lá e anda as seis quadras de volta, entra no carro e volta para casa, esperando andar a besta que está parada no sinal verde. Você até tenta buzinar, mas a buzina do seu carro está estragada e você não tem grana pra mandar consertar.
E por que você não tem dinheiro? Ah, porque você não tem emprego! Como ter dinheiro sem ter emprego? Traficando? Roubando? Trapaceando? Prostituindo-se? Dando pequenos golpes a la Augutinho, da Grande Família? Eis a questão... Aí, você resolve contatar os seus amigos e percebe que 90% deles estão morando fora da cidade. Um em Pelotas, outro em Porto Alegre, outro em Curitiba, outro em Cerro Largo, outro em Santa Maria, outro em São Borja, outro em Caxias, outro em Florianópolis, e por aí vai... Até que você descobre que aquele cara que nunca tinha viajado para fora da região nos tempos de colégio está morando em... em... onde mesmo? Ah, em San Diego, praia, Estados Unidos. Não conseguiu emprego nas Missões, sabe comé, né? É!
Esses dias cheguei a me questionar se Santo Ângelo não se extinguirá do mapa com o tempo. Antes eram apenas jovens pensando em ir embora para arrumar alguma coisa em outro lugar. Agora, são aposentados querendo ir para o litoral, autônomos percebendo que na Serra, no Litoral, em outros estados, e na região metropolitana, circula mais dinheiro do que aqui. Inclusive, lembro que encontrei um cara na rodoviária de Bento Gonçalves, quando estava embarcando de volta à minha terra natal.
- Você é de onde? – perguntei.
- Santo Ângelo. Mas lá não tem emprego, aí vim pra cá, mas a família ficou lá...
O resto da história você sabe, afinal, não é a toa que quando fui entrevistar, pela rádio de Bento, em dezembro passado, o responsável por uma empresa que faz viagens por todo o estado, ele disse: “bem, daqui da Serra o destino mais procurado em véspera de Natal e ano novo é o Noroeste-Missões”...
Santo Ângelo está sendo evacuada. No último censo já foi registrada uma redução no número de habitantes da cidade. E não é surpresa não. Aqui quem tem e quem não tem formação não encontra espaço. Mas que nada. Estamos com cara de cidade grande. Não existem vagas para estacionar no centro, as pessoas cada vez mais estão perdendo o respeito por seus semelhantes, têm engarrafamentos nas sinaleiras, e tem até uma mini-Farrapos atrás do Fórum, com menores se prostituindo, ao melhor estilo Vila Mimosa, do Rio, e com um posto da Brigada Militar localizado a uma quadra dali.
Enfim, não escrevi tudo isso porque não gosto da minha cidade. Muito pelo contrário, é aqui que eu nasci. É aqui que cresci. E é aqui a cidade que minha filha nascerá e é aqui onde eu pretendia criar ela. Mas, confesso, que essa não é a cidade que atualmente estou desejando para ela crescer. Não do jeito que está: bagunçada e sem perspectiva de futuro e de crescimento. E em tempos de eleições, é melhor abrirmos os olhos. Danrlei e Fabiano Cachaça estão na área! Existe alguém melhor que eles para a região? Particularmente, não vejo diferença nenhuma entre eles e os demais candidatos. Isso aqui, literalmente, está virando um Cafundó do brejo.

*Texto publicado em A Tribuna Regional dessa sexta-feira, com o título de "Desabafo de um santo-angelense"

Smartphones x Homens - by Guto Vasconcellos

Véspera de Intercom, povo todo trocando informações via WEB de todas as partes do Brasil (orkut, facebook, MSN, blogs, etc) e, entrando no clima, estou postando aqui o texto de Guto Vasconcellos, de Manaus (AM), publicado no blog http://jorn4ldigital.blogspot.com/. Em setembro vamos estar todos na Universidade de Caxias do Sul (UCS) para o Congresso 2010! Até lá, muito texto e vinho vão rolar! Segue o texto do GUto:

Ultimamente, andei prestando atenção na febre que virou esses Smartphones. E o mais assustador,são as mulheres que estão viciadas neles, que já até podemos chamá-las de " SmartGirls".

Sabe esses celulares que você toca na tela e eles fazem “de um tudo”? Lá ficam elas com seus dedos longos,lindos, unhas bem cuidadas, que poderiam estar fazendo outras coisas ao invés de dar toda sua atenção aos malditos smartphones.

Através desses "brinquedinhos" , elas ficam mandando Sms pra suas outras amigas , tirando e mandando foto por email, quase em tempo real, twittando a todo vapor, Online no Msn, quase 24 horas por dia...

Vocês podem estar comentando que eu estou legislando em causa própria, sim porque não?

Antes iamos para o shopping, bares, boates, praia, para ver a mulherada, desfilar, dar uma olhada mais de perto,conversar, beijar na boca, agora elas ficam grudadas no celular e nem olham mais para mim.

Já não olhavam antes, agora piorou...

Gostaria de falar uma coisa séria para vocês, Smartgirls : Eu também sou Touchscreen, toca em mim para ver se eu também “não faço de um tudo”. Eu me garanto !

A pergunta que não quer calar,será que os produtos lançados no mercado dia a dia, pela T.I (Tecnologia da Informação) vão chegar a substituir a presença de um Homem ao lado de uma Mulher?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Dança caliente

Um copo de vinho. Uma lareira. Um retrato. Como se os três fossem um. Colocou uma rosa em sua frente, bebericou um gole do vinho, olhou para o retrato e cheirou a rosa. Ligou uma música tântrica e começou a dançar no meio da sala, em frente à lareira, com a rosa pendurada entre os dentes. Dançava como se fosse a última dança da vida e beijou o retrato da mulher que estava em cima da mesa, como se fosse a única mulher que habitara seu coração em sua vida, que sempre fora tão ardente como as chamas que exibiam-se e dançavam extrovertidamente em sua frente.
Olhou para os olhos sólidos que estavam naquele retrato e, como se fosse mágico, fez aquela moça séria, de cabelos que variavam entre o preto, o loiro e o vermelho, sorrir naquela imagem estática, e naquele olhar trôpego, que estava fixado a um palmo de seu nariz, ficou hipnotizado. Largou o retrato, colocou a rosa em cima dele, pegou um toco de lenha, e passou a dançar com ela. Ah, como és linda, minha mulher, minha menina, minha garota, minha lenha, minha fêmea. Como quero beijar-te! E, subitamente, beijou apaixonada-e-loucamente a lenha, como se a dona da boca do retrato estivesse ali, grudada em seus lábios.
“Vamos dançar, meu amor”, murmurou para o toco de lenha, enquanto se aproximava da mesa e tomava mais um gole de vinho.
- Tu és linda, sabia?
- Você deve dizer isso para todas.... – respondeu timidamente aquele toco de lenha.
- Não! Você é única! Nunca vi um olhar como o seu. Nunca senti tanto calor estando colado junto a um corpo tão perfeito quanto o seu. Nunca senti meu coração estar tão amarrado a outro como o meu está agora amordaçado a você. Tu és minha alegria, minha dor, minha tristeza, minha princesa, minha rainha, minha dona, minha amante, minha mulher, minha força, minha esperança, meu futuro, meu tudo, meu nada, minha tragédia, minha consagração, minha viagem, minha viúva, meu esplendor, meu sossego e meu desassego...
- Você está exagerando...
- Não estou...
- Está sim! Você me faz sofrer.
- Você me faz amar.
- Mas eu nem te conheço.
- Mas eu te conheço desde que nasci.
- Mas hoje é o primeiro dia em que coloco meus olhos nos seus.
- E é o primeiro dia que alguém arranca meu coração com um olhar.
E nesse momento, ele volta a beijar loucamente o pedaço de lenha. Os dois começam a girar e a rodopiar em frente à lareira.
- Pára! Você deve me jogar no fogo.
- Não jogarei! – responde ele, enxergando no toco de lenha o rosto do retrato que estava sobre a mesa.
- Joga! É preciso!
- Então vou pular com você!
- Não! Não! Você não pode! Eu não sou sua...
- Não és minha?
- Não, nunca fui. Eu sou das chamas!
- Das chamas?
- Sim, das chamas!
- Então fique aqui.
E ele larga o toco de lenha em cima do sofá, enquanto se atira no fogo da lareira para esperar o seu amor nas chamas quentes da eternidade.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Uma paisagem em meio ao martírio

Ele andava pela praia pensando em seu passado e na sua falta de perspectiva para o futuro. Tratava-se de um ser maltratado pela vida, cansado e injustiçado. Os dez meses em que ficou na prisão o fizera envelhecer 10 anos na aparência. Tinha 30 com cara de 40. Conheceu algumas figuras enigmáticas atrás das grades, pessoas com grande espírito, grandes idéias, cheias de vontade, mas semi-mortas pela prisão. Por outro lado, também conheceu o quão o ser humano pode ser cruel. O quanto um homem pode querer e fazer mal a outro. Alguns o admiravam pelo seu conhecimento e, com isso, passavam dicas e informações que lhe foram fundamentais para sobreviver entre os outros presos. Por outro lado, teve que fugir de psicopatas e negociar com dementes que lhe apresentavam três opções: ou dava dinheiro, ou cigarro ou sangue.
Fora solto há seis meses, mas não conseguiu emprego. Sua ex-mulher e filhos o abandonaram pouco antes de ser preso. “Acho que por isso fiz aquela bobagem”, pensava consigo mesmo, enquanto mais uma onda se quebrava ali perto. Quando saiu, procurou emprego em todos os lugares possíveis e imagináveis, mas não conseguira nada. A única oportunidade de sobrevivência quem lhe deu foi a dona de um restaurante, mãe de um ex-colega da prisão. Agora, ele trabalhava das 8h às 20h como garçom e auxiliar de serviços gerais em troca de um salário mísero, um quarto minúsculo e almoço de segunda a sábado. Trabalhava como um condenado ao sofrimento. Por vezes sentia saudades da prisão. Não se cansava tanto lá, atrás das grades.
Jotinha, como era conhecido, caminhava pela praia pensando em tudo isso, quando resolveu sentar em uma pedra, de frente para o mar. E lá estava ele, sentado, meditando, conversando com os deuses, quando olhou para o lado e viu uma garota com o cabelo cor de fogo, sentada com as pernas cruzadas, como uma índia, que lhe olhou e sorriu. Ele sorriu de volta e a partir de então ele tinha algo bom para se lembrar em seu martírio pela vida.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Pequeno gênio

Um homem de 31 anos, outro de 28 e duas mulheres de 25 anos ouvindo um garoto de oito anos palestrar sobre história, filosofia, história da arte, biologia, ciências, etc. Essa cena aconteceu hoje na minha casa, quando meu irmão, minha irmã, a amiga dela e eu ouvimos meu primo de segundo grau, Bento, falar sobre a vida de Leonardo da Vinci, dinossauros, formação de espermatozóides, vida fora da Terra, história do deus Zumbi do Egito, aracnídeos, etc. Aliás, no início, quando ele começou a apresentar suas teorias e a falar que o dinossauro tal é o segundo maior herbívoro que existiu, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Fui pegar um álbum de figurinhas da Elma Chips que apresentava algumas espécies de dinossauro. Mostrava a figura, sem exibir o nome, e ele ia falando e acertando todas as espécies: brontossauro, tiranossauro rex, pteranodonte, triceratops, estagossauro e anquilossauro. Quando falou do último, ainda comentou como quem não quer nada: “esse teu livrinho é meio mixuruca”. Fiquei olhando, pasmo, para aquele garotinho.
Perguntamos a ele se todo esse aprendizado vem da escola. Não. Da sua mãe? Não. Do seu pai? Não. De onde vem então? “Dos livros. Eu pego na biblioteca do colégio e compro livros no shopping”. Vejam vocês.
Depois, quando começaram a zoar dizendo que ele era namorado de sua coleguinha, ele respondeu, categórico: “eu não posso namorar ela, porque ainda não produzo um milhão de espermatozóides e ela não tem óvulo maduro”. Ele explicou ainda que Leonardo da Vinci não foi só um pintor, mas foi também um inventor de navios de guerra e tudo o mais. Eu estou resumindo as palavras dele, porque ele discursou por alguns minutos, dando detalhes e usando termos que para mim, são impossíveis de memorizar, enquanto atônitos, ouvíamos aquele pequeno ser. Ele ainda comentou, dando risadas, que a mãe dele não sabia o que era acelerador de partículas. Olhei para ela e disse “mas como você não sabe o que é acelerador de partículas?”, sem ter a mínima idéia do que é um acelerador de partículas.
Outra questão que ele nos fez é: qual a diferença entre os aracnídeos e os demais insetos? “Os aracnídeos têm oito patas!”, disse astutamente. “Essa é só uma das diferenças”, respondeu ele, do alto dos seus oito anos, para, em tom professoral, explicar as outras. Outro ponto debatido foi a existência de seres vivos em outros planetas que, segundo meu primo, é impossível, pois, para haver vida é necessária a existência de algumas substâncias, que eu não sei o nome, mas que ele disse. Argumentei: “Mas e o pequeno príncipe que vive no cometa B 612?”. Ele ficou a pensar, com a mão no queixo e a cabeça baixa murmurando: “B 612... B612...”, como se dissesse “esse eu não conheço”.
Segundo minha prima, esse pequeno gênio já palestrou para a turma do terceiro ano do segundo grau na escola onde estuda. E, se no meio da fala dele, que depois ganhou o reforço de meus pais e dos pais dele, alguém falasse, alguém logo dizia “pshito! Fica quieto que quero ouvir”. Cheguei a cogitar largar o mestrado para seguir ele. Aliás, ouvindo-o palestrar, bolei vários planos para ficar rico. Poderia ser o empresário dele para vender palestras motivacionais e educativas, poderia tentar botar uma palestra dele no youtube para torná-lo famoso e depois negociar apresentações suas e entrevistas para a imprensa, poderia ainda dar os livros das bibliografias dos concursos públicos para ele ler, e entregar minha identidade para ele ir fazer a prova em meu nome, enfim, tenho vários planos para o garoto. Mas a mãe dele já se ligou disso e acho que não vai querer dividir o tesouro. A única coisa que eu lhe disse, seriamente, é: “quando você crescer, ficar rico e famoso não esquece do primão aqui, ok?”. Espero que não esqueça...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Feliz aniversário para minha ermã (postagem nº 400!)

Bom, como não tenho grana para dar um presente para a minha ermã, e como sei que ela vai me dar vários livros de presente no meu aniversário, e como ela será a madrinha que encherá minha filhota de presentes quando ela nascer, estou dando esse post de presente para ela.
O que posso dizer dessa criatura? Tenho várias lembranças. Uma, é que lembro que logo que ela nasceu vi a barriga da minha mãe cortada, e ela explicou que a minha ermã saíra dali. Vejam vocês. Também lembro que eu e meu ermão saíamos correndo atrás dela gritando “Godinha, Godinha, Godinha!”, porque ela era uma bolinha quando era pequena. Lembro ainda das nossas peleias entre ermãos, os primeiros tragos que tomei que ela me acusa de tê-la traumatizada, etc.
Mas a maior lembrança que tenho é do ano em que morei com ela em Porto Alegre, onde eu limpava todo o apartamento sozinho e ela brigava comigo alegando que eu não fazia nada... Brincadeira! Ela é uma pessoa que sabe demais, portanto, merece os meus humildes parabéns! Ah, de aniversário eu quero: Abusado, do Caco Barcellos, algum livro do Fausto Wolfe e algum livro da Feira do Livro de Porto Alegre.
É isso, feliz níver minha ermã. Não vou escrever mais porque o teclado desse teu notebook, que roubei escondido durante essa madrugada, é muito ruim, as teclas são muito pequenas e meus braços doem. Vou colher minhas abóboras morangas da mini-fazenda e dormir! Feliz aniversário agora, mas não me acorde com sua goela de manhã cedo! É isso.

PS 1: A trasta vai ficar aqui uma semana, então, sei que apesar desse post, até ela ir embora, ainda vamos trocar algumas farpas...
PS 2: Observem que estou com a camisa da Espanha na foto, tirada no meu níver em 2009, o que demonstra que eu, bem como o polvo mágico, já sabia quem seria o campeão mundial de 2010.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Inspira o quê?

Desde domingo, quando escrevi o último texto sobre o Eduardo Ritter Molarinho, ando atrás de inspiração para escrever. No entanto, está difícil. Sei, sei, escrever sobre falta de inspiração é algo tão antigo e sem graça quanto as piadas de papagaio e do Joãozinho. Nessa busca pela inspiração, tentei recordar meu passado. Confesso que nada muito atrativo me deu aquele click de inspiração. Depois, olhei os sites de alguns escritores que gosto, como do Juremir Machado da Silva, David Coimbra, meu primo Gérson, blog do Mr. Gomelli, do Marcão, da Juliany (que não posta há anos), do meu amigo anônimo lá do Rio (que também não posta mais nada, aliás, estará vivo esse cidadão?), do Agnigth, do traste do Arion (que também sumiu do mapa e não escreve mais), da Aline, enfim, olhei milhares de sites e blogs e nada me inspirou. Mas não pela qualidade dos seus respectivos escritores, mas sim, pela minha falta de capacidade de contágio. Não estou conseguindo me entusiasmar. Até terminei de ler A Sangue Frio no sábado e comecei hoje O Andarilho das Estrelas, do Jack London, e mesmo assim, sigo sem inspiração. Vi filmes, conversei com pessoas, e nada me tirou da inércia inspiratória. O astuto leitor deve estar se perguntando: “mas nem bebendo não se inspirou?”. Não, não velho e bom leitor. Nem tive ânimo para beber. Tem quatro garrafas de cerveja há dias na geladeira e garrafas de vinho do meu pai no armário da sala, e nem as olho. Aluguei alguns filmes, e também não me inspirei. Assisti hoje “Conduzido para matar”, pois geralmente me empolgo com filmes onde um cara alucinado tomado de desejo de vingança sai matando todo mundo (sempre matam dezenas de traficantes, gangsters, etc), mas nem isso me animou. Para ser extremamente sincero, só me animei quando coloquei a mão na barriga da Cris e senti minha filhinha se mexendo lá dentro. Mas considero isso muito pessoal, não quero ficar só falando e escrevendo sobre a Larissa. Está certo, às vezes a vontade e a felicidade que sinto ao pensar nela torna impossível não falar dela, mas enfim, fora isso, não tenho me inspirado muito não.
Será o frio? Será que to ficando velho? Ou será que eu to ficando frio? Será que pirei? Caraca, juro que amanhã tomo uma taça de vinho. Hasta la vista.

domingo, 18 de julho de 2010

Achei o Eduardo Ritter Molarinho!!!!

Lembram daquele texto, escrito em 24 de março desse ano, nesse mesmo blog, “Quem é Eduardo Ritter Molarinho??” Pois então, povo, achei o cara! Ou melhor, ele me achou. Ou melhor ainda, ele me achou antes, mas eu não tinha achado ele, e aí a irmã dele me avisou tudo! Estou em êxtase! Mas deixem-me explicar:
Abri o Orkut agora há pouquinho, e tinha uma solicitação de amigo de uma Luísa. Enfim, ela estava me convidando para ser minha amiga, mas colocou uma observação mais ou menos assim: “mandei um recado, mas caiu na sua caixa de sapam. Da uma olhada lá, mas não precisa aceitar o convite...”. “Bah!”, pensei comigo mesmo. “Deve ser uma fã incondicional que deve guardar um amor platônico pela minha pessoa, do tipo que não tem coragem pra se declarar, pois viu que eu sou um cara sério e compromissado e coisa e tal, decerto mandou um recado se declarando e por isso escreveu ‘mas não precisa aceitar...’, deve ter visto minha fotonovela no blog e não ter resistido meu charme, meu olhar 43, então....”. No entanto, quando abri a caixa de spam (que eu nem sabia como se fazia...), havia o seguinte recado dela:

“Oi Eduardo... ou seria "mano"? hehehehehe
Vou te explicar: estava eu no msn quando meu irmão veio falar comigo, contando que digitou o nome dele no Google e achou um arquivo de tua autoria perguntando "Quem é Eduardo Ritter Molarinho?".
Pois bem, respondendo, ele é meu irmão! hehehehehe Se não me engano ele respondeu pra ti nos comentários do post lá, se puderes vai lá e lê o que ele postou.
Achei bem engraçado o post, confesso, curioso também. Pude constatar que és gremistão como todos aqui de casa, deve ser do nome esse bom gosto! hehehehehe
Abraço.”

Vejam vocês. A partir da leitura desse recado, disse para mim mesmo: uma notícia boa e uma ruim. A ruim é que não se trata de uma leitora que se apaixonou por mim. Aliás, isso nunca aconteceu comigo, mas, dizem por aí, que com algumas pessoas acontecem. Vá saber... A boa, é que encontrei o Eduardo Ritter Molarinho!! E fui lá, catar no texto antigo o comentário dele. Chegando lá, realmente tive uma grata surpresa:

“Oi. Procurei meu nome no Google hoje e me deparei com esse texto. Eu sou o Eduardo Ritter Molarinho.
Pra acabar com a sua curiosidade sou servidor da Justiça do Trabalho de Santa Catarina. Já faz um tempão que não faço concurso nenhum.
Morei 25 anos em Porto Alegre e há 5 anos moro em Florianópolis.
Desculpa ser mais famoso que você rsrsrs.
Abraço do outro Eduardo Ritter”.

Vejam vocês novamente! Agora, o próximo desafio, é entrevistar o maluco aqui no blog. Enquanto isso, reproduzo o texto de março desse ano, que, confesso que não lembrava dos detalhes. Ah, e uma curiosidade: eu escrevi que havia descoberto três coisas sobre ele, no entanto, sigo sem lembrar qual era a terceira. Agora sim, segue o texto retro:

Manja quando você começa a escrever uma palavra no Google, e ele sugere o resto? Do tipo, você começa a escrever “Brasil” ai aparece como sugestão de complemento “telecom”, “telecom torpedo”, “urgente”, "rodovias", "putarias" e por aí afora? Então, sempre que vou escrever Eduardo Ritter no Google (às vezes dou uma checada) aparece como sugestão “Molarinho”. E há tempos eu me perguntava “quem é Eduardo Ritter Molarinho”. Outra vez, meu primo Gérson achou um homônimo meu, poeta panamenho, se não me engano. Inclusive, escrevi sobre ele aqui e tal. Mas hoje, sem nada para fazer, com a cabeça cheia de passar o dia em função da dissertação de mestrado, resolvi pesquisar no Google quem era o famoso Eduardo Ritter Molarinho.
Na verdade descobri três coisas sobre o cara:
1) trata-se de um concurseiro, pois todas as referências são em sites de listas do tipo “inscrições deferidas”, “aprovados no concurso tal”; e tem referências até no site do Portal da União e do Portal do Concursado.
2) o cara parece que passou em alguns concursos, o que me fez deduzir que, ou ele quer passar em um concurso para um cargo melhor do que o atual, ou ele é maníaco por concursos. Ou de repente ele participe dos concursos só para cantar as concurseiras. Aliás, o papo seria curioso:
- E aí?
- E aí...
- Muito concurso?
- Mais ou menos...
- Tem outro do IBGE mês que vem, você vai?
- Não sei, to pensando ainda, e você?
- Ah, acho que vou. Então, se você tiver de bobeira, me passa teu telefone que estudamos juntos e pá.
- Ah, pode ser. Anota ai, é 9999.....
- Beleza! Você fez aquele da Refap?
- Fiz! Em que sala você estava?
- Na 316 do Colégio Parobé! E você?
- Ah, eu tava na 210 do Julhinho...
- Ah, não foi lá que pegaram uma candidata com um bip escondido na calcinha?
- Foi sim!! Nossa, você ouviu falar dessa?
- Claro! E no concurso do Trensurb, onde você estava?
- Ah, nesse eu tava na sala 288, do prédio 6, da Fapa.
- Sério? Ta brincando???
- Juro! – diz ela, com as mãos nos peitos.
- Eu também!!!
E os dois se olham, e trombetas começam a tocar nos céus, e por aí vai...
Por fim, o terceiro item eu esqueci, mas devo lembrar a qualquer hora. (....) (...). É, não vou lembrar. Enfim, se alguém tiver mais alguma informação sobre o paradeiro de Eduardo Ritter Molarinho, é só falar!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Larissa

Aquele momento durou poucos segundos, mas foi o suficiente para mudar a minha vida. Durante aquele curto espaço de tempo, foi como se o mundo tivesse parado, como se as respostas para todas as perguntas fossem compreendidas em um momento mágico, como se fosse eu quem estivesse prestes a nascer novamente. Nunca um olhar me marcou tão profundamente. Já tive paixões a primeira vista; algumas nem tiveram início, ficou na esfera do platônico mesmo; outras duraram pouco tempo (de algumas horas de uma noite, até algumas semanas de um mês); outras duraram o tempo médio das relações contemporâneas (três meses); e outra, atual, perdura há quase quatro anos. Porém, esse olhar, esse par de olhinhos que eu vi nessa semana, com certeza, nunca vou esquecer, e vai ficar marcantemente presente em minha memória para além do último dos meus dias aqui na Terra.
Naqueles doces segundos da minha vida, minha respiração parou, de emoção. Não ouvi mais nada que se passava ao meu redor, foi como se eu tivesse sido transportado para outra esfera, onde ruídos de carros que patinam pelas ruas, vozes humanas que não dizem nada, latidos de cães que não nos deixam dormir à noite, risadas de bêbados na madrugada, reclamações de chefes mal-humorados, enfim, nenhum som, nenhum ruído, nem sequer uma música, pudesse entrar nessa esfera excepcionalmente hipnotizadora e envolvente.
Naquele momento, entendi que todos os prazeres da vida, como uma noite romântica na beira da praia, um gol do Grêmio comemorado no último minuto nas arquibancadas do Olímpico, ou o espasmo e o êxtase alcançado com quem se ama na frente da lareira, é apenas a superfície da capacidade máxima de sentimento que um ser humano pode ter. Descobri também que aquilo representa o amor pelo amor. Ou seja, um duplo amor. Um amor, dentro de outro amor, ou melhor, um amor duplicado, que vai além do que qualquer outro sentimento de prazer, satisfação, paixão, loucura, liberdade, etc, pode nos proporcionar. Esse, inclusive, é um sentimento de prisão. Mas prisão pelo que te mantém vivo, pelo que te faz sonhar. E é através dessa prisão harmônica (existiria, até então, uma prisão harmônica?) que você percebe que está livre, pois não há limites para o amor.
Essa imagem, a que tanto me marcou, me fez relembrar em segundos toda a minha vida, me apaixonar loucamente naquele presente, e ter certeza de que todas as incertezas quanto ao futuro não passam de belas e tolas incertezas. Também despertou em mim a doce ilusão da invencibilidade e da imortalidade, pois sei que, por essa imagem, eu dou meu sangue, dou minha alma, dou minha vida. Lutarei como um gladiador psicopata pela defesa dessa vida, e torturarei como um gângster todo aquele que desejar algum mal a essa imagem.
Pois a imagem a que me refiro, o pequeno par de olhos que me despertou tantos sentimentos intensos, eram as duas bolinhas pretas dos olhos de minha filhinha, Larissa, que vi através do ultra-som realizado pela minha noiva, no consultório da Dra. Cleia, na última segunda-feira. Víamos atentamente aquele pequeno bebê, que nem cinco meses completou dentro da barriga quentinha de sua mãe, virar o rostinho e mostrar na tela aqueles dois olhinhos minúsculos, que parecem entender tudo o que se passa do lado de cá da barriga. E é para ela, Larissa, que dedico esse texto, escrito em uma noite fria, mas muito feliz, desse gelado inverno de 2010.
*Texto publicado em A Tribuna Regional de hoje.

De volta à realidade

A Copa deixou gostinho de quero mais. Três jogos por dia em estádios cinematográficos, em campos que eram verdadeiros tapetes, com seleções bem organizadas taticamente, com alguns craques jogando um belíssimo futebol (Fórlan, Iniesta, Da Villa, Müller, Schweinsteiger, etc) e vários golaços. Depois, quando era um jogo por dia, às 15h30, tivemos espetáculos, como as goleadas da Alemanha contra a Inglaterra e contra a Argentina, e dramas épicos, como a vitória do Uruguai contra Gana nos pênaltis, a vitória da Espanha contra o Paraguai, e a própria decisão, com o gol de Iniesta no final do segundo tempo da prorrogação dando o título do mundial para os espanhóis.
Fim de Copa, fim de festa. Voltemos à realidade do nosso Brasileirão, com seus infindáveis pontos corridos. Simplesmente o oposto da Copa. No mundial, cada jogo vale tudo. Por isso, cada time dá o máximo do máximo de si a cada minuto. Já no Brasileirão, se você perde uma, não faz mal, tem outros mil jogos até o final do ano. E não me venham com esse papo de “mas cada ponto perdido agora faz falta no final”, porque ninguém dentro de campo encara isso como uma realidade. É mais ou menos como você ameaçar colocar seu filho de castigo, mas quando ele apronta uma, você sempre dá uma chance a mais. E assim, ele vai aprontando, sem nunca tomar jeito.
Na quarta-feira, por exemplo. Primeiro teve o jogo desastroso entre Grêmio e Vitória. Parecia que quem ganhasse levava como prêmio uma bergamota, tamanha a vontade dos dois times. Uma final de campeonato na semana cenecista do Sepé do meu tempo, por exemplo, era muito mais emocionante. Depois, havia três opções de jogos na TV aberta: Guarani e Inter, na RBS; Goiás e Vasco, na Globo do Rio; e Ceará e Corinthians, na Bandeirantes. Optei por ver um pouco de cada, mas tava difícil achar um lance bom nos três jogos. O Inter fez um 3 a 0 meia boca a lá Celso Roth contra o fraco Guarani. Goiás x Vasco e Ceará x Corinthians então? Dois 0 a 0 de dar sono em qualquer um. Como diria o velho e bom Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha: isso é pior que tomar água do pote de salsicha. Mas, fazer o quê? É o que temos até o final do ano.
Sorte dos colorados que terão pelo menos mais dois jogos da Libertadores para se entreter. Esse será o divisor de águas entre um ano glorioso, que salvará o futebol brasileiro em 2010, ou um ano onde a única lembrança futebolística que ficará guardada na mente de todos daqui a muito tempo será a Copa do Mundo afro-espanhola.
RESSACA – Nem deu tempo de curar a ressaca pós-Copa, e a dor de cabeça dos tricolores já é grande, com o Grêmio namorando a zona do rebaixamento. Caso perca para o Grêmio Prudente, amanhã, possivelmente o tricolor dará o primeiro beijo na caveira da Série B. O Inter, por sua vez, recebe o Ceará no Beira-Rio. Uma bela oportunidade para botar mais lenha no ânimo colorado para incendiar os jogos das semifinais da Libertadores contra o São Paulo. Ou seja, os colorados estão tentando curar uma ressaca com outro porre, enquanto os gremistas estão preocupados se a dor de cabeça da ressaca vai perdurar até o final do ano, com um final nada animador. Alguém tem um Engov?
*Texto publicado no JM desse sábado (amanhã).

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Sangue Frio - Quem pode, pode

Confesso que quando comecei a ler A Sangue Frio, hoje de tarde, após anos de tentativas frustradas de lê-lo, ao me deparar com o seguinte trecho, na apresentação de Ivan Lessa: “Quando confrontado com o terrível On the road [do Jack Kerouac], Capote foi ao âmago da questão: ‘Isso não é escrever. Isso é bater à máquina”, senti a mais pura vontade de fechar o livro ali mesmo e não seguir adiante. Confesso ainda que segui adiante mais por obrigação, do que por vontade própria. Desde a graduação queria ter lido A Sangue Frio. E por várias vezes quase o comprei. Nas últimas feiras do livro de Porto Alegre, sempre o via lá, nas bancas, mas sempre pensava “esse eu compro quando me der na telha, não corro o risco de esquecer. Vou deixar para outra hora”, e acabava comprando alguma novidade ou relíquia não tão famosa, como o Martin Eden, do Jack London. Depois, cheguei a procurar A Sangue Frio em livrarias, mas nunca tinha dinheiro. O mais barato que achei, em Porto Alegre, era 50 reais em um sebo. Sempre pensava a mesma coisa: “esse livro com certeza um dia vou ler, é obrigatório para mim, mas agora vou ver outro...”, e adiava sempre pra depois. Ano passado, quando fui procurar na biblioteca da PUCRS, os mais de 10 exemplares estavam retirados, possivelmente porque algum professor mandou os alunos lerem. O tempo passou, e dessa vez, finalmente, peguei o livro na biblioteca. Lembro que em certa ocasião, alguém, que já leu A Sangue Frio, comentou que era um livro chato. Aquilo tinha ficado na minha cabeça. Até assisti ao filme, que não lembro agora se leva o título de A Sangue Frio, ou de Truman Capote, mas o fato é que gostei do filme, mas seguia com a impressão de que o livro era chato.
No entanto, não vou me ater a falar muito sobre o livro, vou contar apenas o seguinte: abri a primeira página por volta das 15h30 da tarde de hoje. Agora são 00h18. Estou na página 156 e sem a mínima vontade de dormir, louco para saber o que tem na página seguinte. Trata-se, realmente, de uma história com um enredo que daria tudo para ser o mais sensacional romance de ficção, porém, o pai do New Journalism (que é um filho bastardo, pois o próprio Capote não gostava de denominar assim o seu livro) realmente conseguiu transformar essa história verídica numa narrativa ultra-completa, contada de uma maneira envolvente e hipnotizadora. Capote realmente conseguiu dar voz com profundidade psicológica, com tal realismo, a todos os personagens envolvidos (desde os principais, até os mais obscuros) que eu fiquei agradavelmente surpreso ao constatar que o livro mais célebre dos chamados “livros-reportagens” é, de fato, uma obra prima digna de receber tal denominação. Inclusive, ao ler a frase de Capote sobre o Kerouac, pensei: “esse cara se acha demais, mas tudo bem, não vou julgar antes de lê-lo. Aposto que as primeiras páginas irão demonstrar que é um fanfarrão arrogante”... Ledo engano. O cara falou isso porque realmente tem cacife pra falar isso. Agora, não o considero mais um arrogante. Trata-se simplesmente de um cara que dizia ser o melhor, porque realmente era o melhor. Inclusive, encerro esse texto, citando o primeiro parágrafo da apresentação de A Sangue Frio, escrito por Ivan Lessa, só para vocês ficarem com a impressão inicial de que Capote é um arrogante filho da puta, mas, depois de lerem o livro, se darem conta que estavam completamente enganados (apesar que depois que eu escrevi isso, vocês possivelmente já peguem o livro sabendo o que lhes aguarda, e portanto, o que aconteceu comigo não ocorrerá com vocês e... ), porra, chega de papo e vamos lá:

Está no lendário das colunas sociais: Truman Capote, Gore Vidal e Norman Mailer, em sarau literário, discutiam livros. Cada qual, evidentemente, falando de seus próprios livros. Capote, o mais baixinho e fisicamente frágil dos três, assim como de longe o mais venenoso, virou-se e disse (Capote era uma das poucas pessoas no mundo capazes de “virar-se” e dizer uma coisa): “Tudo isso que vocês estão dizendo pode ser muito interessante, mas a verdade é que eu escrevi uma obra-prima, e vocês não”.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Foto Novelão Mexicano – Uma terrível noite de inverno (kkkk)

Eis que, noite dessas, tomei um trago e não faço idéia de como dormi. Só lembro de eu andando em zigue e zague pelas ruas geladas, em meio à escuridão, ouvindo o uivo dos ventos e levando bofetadas de gelo. Porém, de repente, acordei e misteriosamente não estava com frio nem com dor de cabeça. Fui abrindo os olhos aos poucos, e quando tirei a última remela deles, enxerguei algo assustador: um velho com a cabeça resplandecendo fogo. “É o coisa ruim”, pensei comigo mesmo. O quê foi que eu fiz pra merecer isso? E, quando realmente me dei conta que estava acordado, não resisti, e gritei:

AAAAAHHH! Sai pra lá, coisa ruim! De onde você vem?? Saia! Saia! – Gritava eu, fazendo o sinal da cruz sem parar, pedindo para São Jorge, São Bento, São Nicolau, São não sei mais o quê, enfim, para que todos os santos me ajudassem naquele momento de terror em que me encontrava, naquela gélida noite de inverno, onde uma cabeça de um senhor iluminada por uma fogueira misteriosa aparecia em minha frente, como a mais terrível das assombrações....

E de repente, o velho sumiu, e diante de meus olhos eu só enxergava a fogueira, tudo vermelho, preto e amarelo, parecia que o mundo tinha acabado. Tentava forçar os olhos, mas o calor era muito intenso, e não conseguia ver nada além daquela lenha queimando, e as brasas saltando em minha direção, acompanhadas de uma fumaça misteriosa, que parecia que ia me puxar em direção da fogueira. “O quê foi que eu fiz?”, perguntava de mim para mim, tentando obter alguma resposta... E enquanto pensava nisso tudo ouvi uma voz, que me fez gritar novamente:

AAAAHHH! O quê você quer? O quê você quer? Está certo, eu cometi muitos pecados em vida, não sou digno de coisas boas nesse pós-morte, porém, também não cheguei a ser uma pessoa má, nunca fiz mal a ninguém, exceto àquelas pessoas que mereceram. Tudo bem, tudo bem, era um julgamento meu, mas elas mereciam aquilo naquele momento... E quem é você para me julgar, para me levar para o calor dessa fogueira??? Está pensando que é quem? Primeiro vai ter que se ver comigo e....

E nesse instante, vi que na verdade o velho que estava diante de mim, nada mais era do que um velho ancião acompanhado de seu cachorro. Na verdade, tratava-se de um ser meigo e inofensivo, incapaz de fazer mal a uma barata. Tinha poucos cabelos, um olhar triste e distante, a pele enrugada. E o seu cachorro tinha o mesmo jeito e o mesmo olhar que o velho. Na verdade, formavam uma admirável dupla de seres que apanharam do mundo, mas que persistiam em ficar ali, parados, olhando a Terra se mexer sem saber para onde essa porra toda vai...

E enquanto ele contava o que tinha me acontecido, eu refletia diante do fogo. Na verdade, eu estava na minha sala, na frente da lareira. Segundo o velho, ele estava passeando com seu cachorro, quando me encontrou deitado em frente à minha casa. Diz ele que eu lhe dei as chaves, e então ele abriu, e assim que adentrei o recinto, me atirei em frente a lareira apagada. Foi então que ele fez um fogo com as lenhas que ali estavam, e ficou sentado, na minha frente, esperando que eu me acordasse. Segundo ele, eu roncava bastante, e às vezes falava coisas inteligíveis.

Foi assim que eu descobri como fui parar na frente desse fogo! Despedi-me do velho, e fiquei sentado em frente da lareira, tomando cafezinho, curando a ressaca, esperando o dia passar para chegar mais uma noite, quando mais coisas loucas vão acontecer.

FIM

terça-feira, 13 de julho de 2010

O rei de Havana

Sigo na minha onda desenfreada de leituras. Após concluir o livro de D.H. Lawrence, atraquei-me a ler O Rei de Havana, de Pedro Juan Gutierrez. Já falei desse autor cubano em um post do ano passado, quando comprei A triologia suja de Havana. No caso do Rei de Havana, eu retirei na biblioteca da PUCRS, junto com Jack London, Lawrence e outros doidos. Porém, assim como Bukowski, Gutierrez também não tem nada do romantismo de Lawrence. É curto e grosso. A diferença desse livro, para a Triologia Suja, é que aqui é um romance com um personagem fictício. Mas o fundo é o mesmo: a sujeira desumana e pornográfica que Cuba viveu em sua crise na década de 1990. Algumas narrativas se assemelham ao primeiro livro, mas outra diferença é que na Triologia, Juan narrava em primeira pessoa, autobiograficamente. Já em O Rei de Havana, a narrativa ocorre em terceira pessoa, e o personagem principal é Rey, um garoto que perde tragicamente o irmão e a mãe, e vai levado para uma espécie de Febem cubana, onde, após algum sofrimento, foge e passa a ser mendigo, esmoleiro, golpista, ladrão de pequenas coisas, e, principalmente, gigolô - não no sentido de manter um prostíbulo, mas sim, no de ser sustentado por várias mulheres, no entanto, nenhuma tem grandes recursos. Uma dessas mulheres, inclusive, é na realidade um travesti, que dá um tom de comicidade à tragédia de Rey, que se auto-intitula o Rei de Havana.
Mas não vou contar todo o livro aqui, afinal, estou na página 186, e são 224. Entretanto, retiro aqui o último trecho que li, onde ele narra a trepada que teve com uma dessas mulheres que lhe sustenta (mas que, como as outras, enche o saco). Trata-se de Daisy, uma viúva de 63 anos:

- Ai, papi, pelo amor de Deus, isso sim é que é pau... ai, falecido, me desculpe, mas isto sim é que é pau, isto é que é pau. Mete até o fundo, mete.
Três voyeurs se aproximaram a poucos metros e se masturbaram vendo aquela foda genial. Rey controlou o orgasmo. Queria que Daisy gozasse e se aliviasse. Estava fora da realidade. Gritava, suspirava, mordia a mão. A velhota de sessenta e três anos voltou aos seus quinze anos. Até que afinal ele soltou a porra. Os punheteiros também. Todos acabaram ao mesmo tempo. Uma coisa antológica na história sexual da humanidade. Quando Daisy e Rey abriram os olhos, os punheteiros já haviam se retirado a uma distância prudente. E todos foram felizes.


Genial.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

D. H. Lawrence

Depois de ter lido autores de todos os tipos (Bukowski, Erico Verissimo, Shakespeare, Jack Keroac, Jack London, Machado de Assim, Luis Fernando Verissimo, Juremir Machado da Silva, Pedro Juan Gutierres, Nietzsche, Dante Alighieri, Kafka, Miguel de Cervantes, John Fante, Thomas Mann, Nelson Rodrigues, Gabriel Garcia Márquez, Vladimir Nabokov, Graciliano Ramos, Raymond Chandler etc, etc, etc) finalmente conheci o fabulo mundo lawrenciano! Estou por terminar de ler “O amante de Lady Chatterley”. Como hei de explicar o estilo de D. H. Lawrence? Sinceramente, não sei. Talvez fosse como se o cara escrevesse algumas coisas parecidas com as do velho Buk, só que de uma forma estética e romantizada fora do comum. Porém, se você for ler esse livro, de início, pode achar que é um romance ao melhor estilo novelão, porém, com o desenrolar dos acontecimentos e com as descrições feitas por Lawrence, você fica embasbacado com a profundidade que o autor tem em escancarar o consciente de espécies tão diferentes de seres humanos.
Veja por exemplo a descrição que Lady Chatterley dá para o amante, analisando o membro (na linguagem lawrenciana) ou caralho (na linguagem bukowskiana) que apresenta-se ereto na sua frente:

“- Tão orgulhoso! Tão senhoril! Exclamou Constance [que é o nome da Lady] inquieta. Agora compreendo porque os homens são arrogantes. No fundo, é belo! Um ser diferente de nós! Um pouco amedrontador mas belo! E é a mim que ele quer!
Constance mordia o lábio inferior, tímida eperturbada e Mellors [o amante] contemplava em silêncio o falo sempre ereto.
- Sim, disse afinal em patoá [dialeto]; sim, meu filho [o pênis], tu estas aí. Podes levantar a cabeça! Estás aí e não prestas contas a ninguém. O dono, não é? O meu dono? Tens razão. És mais vivo que eu e falas menos. John Thomas! [o nome que ele dá ao seu pênis] É a ela que queres? Queres a Lady Jane [nome que ele dá à boceta de Lady Chatterly] Tu me fizeste recair, podes vangloriar-te disso. Sim, ergues a cabeça e sorris. Pois toma-a! Entra em Lady Jane! Dize: ‘Portas, abri e a glória do rei entrará!’ Ah! Que escândalo! Um cono! Eis o que queres. Dize a Lady Jane que queres como um cono! Joh Thomas e o cono de Lady Jane!
- Não judie com ele! Exclamou Constance, avançando de joelhos na cama, abraçando a cintura do amante e atraindo-o de modo que os seus seios lhe acariciassem a cabeça do falo ereto. E apertou o abraço.
- Deite-se, disse ele. Deixe-me montar.
Mellor não resistia à urgência.
Depois que voltaram à tranqüilidade, a mulher quis novamente examinar o misterioso falo do homem.
- Oh! Estás agora pequenino e meigo como um broto murcho de vida! Mas como é belo! Tão independente, tão estranho! É tão inocente! E penetra em mim tão fundo! É preciso nunca ofendê-lo, sabe? Ele é meu também, não seu só! Meu, meu! Tão belo e inocente. E Constance acariciava o pênis abatido.
Mellors riase
- Bendito seja o laço que uno os corações num mesmo amor.
- Sem dúvida! Concordou ela Mesmo quando fica pequenino e murcho, sinto meu coração encadeado a ele. E como são lindos os pêlos aqui. Tudo diferente dos outros!
- É o cabelo de John Thomas, não o meu, acentuou ele.
- Oh! John Thomas! John Thomas! Exclamou. Constance beijou o pênis que recomeçava a fremir.
- Sim, concordou o homem estirando-se quase dolorosamente. Ele tem a raiz na minha alma. Às vezes não sei que fazer dele. Teimoso e difícil de contentar-se – mas de nenhum modo eu quereria perdê-lo.
- Compreendo porque os homens têm medo disto, observou Constance. É terrível, sim.
Um frêmito percorreu o corpo de Mellors, com uma onda de vida acumulando-se embaixo. Sentia-se sem forças, enquanto o pênis, às golfadas, inchava, subia, endurecia, até ficar rijo e presunçoso, curiosamente no ar como uma torre. A mulher tremia ao contemplá-lo.
- Tome-o! É seu, disse ele”.

Genial, genial. Vou parar por aqui, senão acabo copiando o livro inteiro. Chega de internet, vou acabar de lê-lo de uma vez.

Frases de MSN

É curioso observar as frases no MSN das pessoas. Hoje de tarde, por exemplo, me prestei a copiar todas as frases do pessoal que estava online, e, vejam vocês, a variedade de frases, que vão desde propagandas, até frases sem sentido. Comecemos pela minha:

Texto novo (Sr. Wilson na final da Copa): http://orebate-eduardoritter.blogspot.com/

Govinda, Jaya, Jaya!!!

NO AR: Rádio Idéia Participe da Promoção Palpite premiado. Acesse www.unijui.tche.br

O que fazer sem jogo até sábado??? rs

JOB Comunicação Integrada

“soy un honbre muy honrado q me gusta lo mejor las mujeres no me faltan, ni el dinero, ni el amor”.

Contagem regressiva... Só falta UM!!!!!!!!!

É pela porta da frente que entra a luz de uma nova oportunidade! (estudando)

Desliguem as Vuvuzelas

Em londres... sai

“O livro que ela compro para fugir de si mesma”

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Hoje é dia de Maria :p

www.terravernelha.com

“O sofrimento é passageiro. Desistir é para sempre!!!”.

Prefeitura Municipal de Doutor Maurício Cardoso – RS

Monografando

Na www.privatto.com.br

“Diga o que você pensa com esperança. Pense no que você faz com fé. Faça o que você deve fazer com amor!”.

UNIJUÍ no twitter! @PortalUnijuí – CAMPANHA PARA DOAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA, HOJE, NA UNIJUÍ

Tecnólogo em Gestão de Recursos Humanos na FEMA. Inscreva-se em www.fema.com.br

Sabe txururu...

Nosso servidor está passando por atualização – sistemas deverão estar disponíveis a partir das 18h

Mas pra quem tem pensamento forte...

Don't remember where I was...

...

Vai animando a gauderiada no bolicho... enquanto eu sigo detonando o hardcore.

Twitter: tvvp

Bem na bouaaaaa...

Quinta – Sertanejo Universitário é no Farm’s

Organizando a vida.

Manchete: Júlio César aprende com goleiro da Espanha a sair do gol... opa, esse a imprensa escalou, então ninguém culpa!

NA MINHA ESTRADA AINDA CONTINUO PERDIDO, EM BUSCA DO MEU TESOURO, DEIXO TUDO DE LADO POR ESSE TESOURO

Tudo que vai, volta

BONÉS, CAMISETAS E BRINDES PROMOCIONAIS

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sr. Wilson na final da Copa

Lembro-me que uma vez uma guria disse que eu parecia o Dênis o Pimentinha. Não foi pela semelhança física, segundo ela, mas sim pelo jeito de agir. E ela me chamou um tempão de o Pimentinha. Faz tempo, mas recordo que achava muita graça disso, e justamente por eu achar graça que ela dizia: "viu só: você tem o jeito igualzinho ao do Pimentinha". Vejam vocês. Mas, os anos passam, e agora, vendo a seleção da Espanha jogar, vejo que o técnico Vicente Del Bosque é a cara do Sr. Wilson. Vejam vocês:



Senhooooooooooor Wilsooooooooooooooooooooooooooooooooooooooonnnnn!!!!!!!!!

Um laranja em meio aos celestes

Tive uma experiência diferente nessa semana: assisti a um jogo do Uruguai no meio de vários uruguaios. Não é todo o dia que a gente faz isso, afinal, eu duvidava da existência de vários uruguaios, e eles estavam lá, em um bar da Lima e Silva em Porto Alegre. Como o dono do bar é uruguaio, a maioria das pessoas que assistiam ao jogo eram uruguaios. E mais: minha amiga Lara, que estava me acompanhando com seu namorado, disse que existem muitos uruguaios no mundo. Pois é, pois é, pois é, ela garante. Tu vês.
No entanto, nem tudo foi alegria nessa experiência extraordinária. Para começo de conversa, não me liguei que o jogo era contra a Holanda e fui com a minha camisa laranja do Manchester City, ex-time do Robinho. Os uruguaios logo desconfiaram da minha presença. Decerto achavam que eu tinha o controle remoto do CQC para desligar a TV quando eles estivessem atacando, algo do tipo. E não adiantava eu dizer “puuu” quando o Uruguai perdia gol, que as pessoas continuavam me olhando com desconfiança. Inclusive, o dono do bar, que usava um avental com a bandeira do Uruguai, recusava-se a me atender. Chamei-o diversas vezes, e ele nem bola. Depois, ele fez sinal que viria, mas foi atender a mesa que estava atrás da nossa. Até que desisti de chamá-lo e fiquei apenas assistindo ao jogo, bebericando nossa Patrícia.
E eis que estávamos lá, Lara, o namorado e eu, assistindo ao jogo, quando aparece a Mabel, uma antropóloga, com uma câmera na mão, perguntando se eu falava português ou espanhol.
- Como?
- Você fala português ou espanhol? – repetiu, com sotaque castelhano.
- Ah, português.
- E o que está achando do jogo? – a essas alturas o jogo estava em 1 a 0 para a Holanda.
- O Uruguai vai virar: 2 a 1, dois gols do Furlan.
E, parece que a partir daí, as pessoas passaram a me olhar com menos desconfiança. O uruguaio dono do bar até nos atendeu, e eu experimental o tal do “pancho”, uma espécie de cachorro-quente castelhano. Para a nossa felicidade, Furlan empatou ainda no primeiro tempo. Cheguei a pensar que eu tinha os mesmos poderes do polvo mágico da Alemanha, e que o uruguai viraria, com mais um gol de Furlan. Mas, como você já sabe, infelizmente não foi o que aconteceu. No fim, estava todo mundo empolgado com o segundo gol do Uruguai e a pressão exercida nos descontos da partida, e eu torcia como se naquele instante eu realmente fosse um uruguaio (que fala português). Antes de ir embora, ainda fomos beber uma saidera no bar do Afonso (pois lá a cerveja era mais barata), com patrocínio do casal Nasi, que tanto insistiu por mais uma gelada para espantar o calor e afogar as nossas magoas futebolísticas. E foi exatamente isso que aconteceu na abafada tarde de terça-feira de Porto Alegre, onde uruguaios choraram, mas choraram com orgulho da sua seleção.
Ah, e só para lembrar, acertei os finalistas, é só olhar ali embaixo. Disse que seria Espanha e Holanda, apesar de ter torcido para Alemanha e Uruguai. É que os poderes do polvo mágico às vezes são transmitidos para a minha pessoa, e essa voz acaba falando mais alto na hora das apostas. E volto a repetir: vou torcer para a Holanda, mas acho que a Espanha será campeã. Já na decisão do terceiro lugar entre Alemanha e Uruguai, deixo que o polvo mágico informe o resultado.

(PS: A Mabel ficou de mandar fotos por e-mail do bar, assim que chegar eu posto junto).

Circo dos horrores

Infelizmente, passa ano entra ano, e caras como o goleiro Bruno continuam a habitar o mundo. E o pior: fazem discípulos. Nessa semana, tanto circulou na internet a notícia do envolvimento de um filho de um dos diretores da RBS de Santa Catarina em um caso de estupro em Florianópolis, que o Grupo acabou se manifestando, timidamente, sobre o caso, e o pior: tomando as dores de seu diretor. No meu modesto entendimento, não está em discussão se o cara é ou não filho do diretor da RBS, do delegado, de um político, mas sim, a discussão tem que ser feita em torno do acontecimento, e do que gerou esse acontecimento. As informações que se têm foram obtidas através da escola onde os adolescentes estudam e das informações que circularam pela internet, essa mídia incontrolável, mas que abre um verdadeiro espaço para a discussão e formação da opinião pública, na essência do que termo significa. E, partindo dessas informações, resumidamente, temos a seguinte história: a garota, de 14 anos, terminou o namoro com o filho de um delegado de Florianópolis, que, inconformado, chamou dois “amigões” para se vingar dela. Um desses camaradas era o filho de um dos diretores da RBS, que colocaram um “boa noite cinderela” na bebida e a levaram para o apartamento dos pais de um dos adolescentes, onde fizeram de tudo com ela.
Bom, seguindo a lógica dos adolescentes e de caras como o Bruno, não só os pais, como a sociedade inteira, também teriam o pleno direito de fazer justiça com as próprias mãos com eles, afinal, em uma sociedade onde a impunidade dá margens para margineis endinheirados passarem por cima da lei, sem que nada lhes aconteça, voltemos ao estado de natureza de Thomas Hobbes e John Locke, onde cada indivíduo pode fazer o papel de juiz e aplicar a pena que considera justa ao infrator. Nesse sentido, o que poderia impedir do pai, ou do irmão da garota estuprada fazer justiça com as próprias mãos: pegar esses três garotos e levar para um porão, ao melhor estilo máfia italiana ou favela da Rocinha, e fazer o mesmo e mais um pouco do que eles fizeram com ela? Absolutamente nada.
Partindo disso, voltemos ao princípio, e novamente batemos na mesma tecla de sempre: a única coisa que pode inibir uma pessoa de fazer atrocidades como as cometidas por Bruno e pelos adolescentes de Florianópolis não é a ameaça de punição, mas sim, é a educação, a informação e a religião. Abrimos um parêntese destacando a velha máxima de quando a persuasão não é efetiva, parte-se para a coerção, ou seja, o porão da máfia italiana ou a ala vascaína de Bangu 1. Porém, o astuto leitor vai se questionar: mas esses adolescentes não eram de classe alta e estudavam na “melhor” escola de Florianópolis? Pois é, nobre leitor. A partir dessa questão é possível levantar algumas hipóteses, tais como: 1) a melhor escola não é sempre a mais cara; 2) a escola tem responsabilidade parcial na educação da criança e do adolescente, porém, os principais agentes do processo educacional são os pais; 3) eles se sentiram impunes pelo “status” que os seus pais ocupavam na sociedade; 4) eles não têm irmã e receberam uma educação machista dos pais e acham que podem fazer o que querem com uma pessoa do sexo feminino. Enfim, são inúmeras as hipóteses, e, independentemente de qual é a correta (salientando que uma não elimina a outra), o fato é que em semanas com acontecimentos como esses, parece que estamos vivendo, de fato, em um circo de horrores, onde uma besta tenta superar a outra em palhaçadas revoltantes e sem graça.

Texto escrito para A Tribuna Regional da próxima sexta-feira.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Disciplina de Dunga naufraga no mar das Vuvuzelas

Aconteceu ontem o óbvio imprevisível: a Seleção perdeu para a Holanda e está fora da Copa. Era óbvio, porque tudo aquilo que foi dito desde a convocação de Dunga, aconteceu: faltou gente de qualidade ofensiva no banco e equilíbrio psicológico para os jogadores, afinal, como atletas trancafiados em uma concentração isolada do mundo vão ter equilíbrio psicológico? Futebol é alegria, é entretenimento. Não é guerra, não é prisão. E se você trata um time de futebol querendo dar aula de moral e cívica, o resultado é o que vimos ontem: um time nervoso. Porém, o final da história também era imprevisível, pois a Holanda também não tinha jogado lá grande coisa até ontem. Ou seja, havia esperança pelas limitações da Holanda, esse país tão surpreendente, que apresenta torcedoras em mini-saias laranjas sumárias, que tem o consumo da marijuana liberado e possui vacas supervalorizadas no agronegócio. E no fim, aconteceu o óbvio imprevisível: a Seleção Brasileira está voltando para a terra tupiniquim, naufragando em meio ao mar de vuvuzelas africanas que marcaram essa Copa.
Candidatos a estopim do fracasso brasileiro não faltam: Dunga, Felipe Melo, Kaká, Mick Jagger, Jabulani, Júlio César, e até a própria vuvuzela, que não tem nada a ver com o negócio.
Aliás, o Dunga foi treinado para ser treinador. Mostrou que leva jeito, porém, para comandar um clube de futebol, não uma seleção. Seleção, como o próprio nome já diz, é para selecionáveis, ou seja, os melhores. E esse time levado para a África do Sul, como eu disse desde a convocação de Dunga, estava longe de ser o que o Brasil tem de melhor. É uma pena o Brasil ter ficado de fora dessa que é a melhor Copa dos últimos tempos, com grandes seleções, grandes craques jogando bem e torcedores incomparáveis que promovem um show de diversidade cultural. Está sendo, de longe, a maior festa popular-futebolística de todos os tempos.
Para 2014 o Brasil vai ter dois desafios: ser campeão jogando em casa e promover uma festa popular ainda mais encantadora que a da África do Sul. Coisas difíceis, mas não impossíveis. Sobre o time, não basta corrigir os erros desta Copa, como se eles fossem buracos a serem tapados. É preciso criar uma filosofia nova, que por ser nova, é antiga: convocar os melhores. Foi assim com Garrincha. Foi assim com Romário. Foi assim com Ronaldo. E foi assim com Pelé.
URUGUAI – A seleção uruguaia conseguiu ontem uma façanha do tamanho da Copa. Não há como não dizer que o final dramático, com o pênalti para Gana no fim, e a decisão da vaga ocorrendo nas penalidades, não lembrou algumas vitórias homéricas conquistadas ao longo da história pela dupla Gre-Nal. Admito que torci por Gana, mas é impossível não reconhecer a raça uruguaia com cara latina que gremistas e colorados tanto adoram.
JOGOS DE SÁBADO – Palpites rápidos para os jogos de hoje. Acredito que a Alemanha passa pela Argentina, apesar de gostar muito do futebol do time de Maradona. Os argentinos jogam ofensivamente e tem uma defesa não lá muito forte, enquanto os alemães gostam de adversários que tenham exatamente essa postura para vencer no contra-ataque. Já no outro jogo, torço pelo Paraguai, mas acho que a Espanha passa. Já antecipo aqui minha aposta para a final: Espanha e Holanda, com a Fúria Epanhola erguendo o caneco.

Texto publicado no Jornal das Missões desse sábado.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Seleção brasileira e outras bandalheiras

A Seleção Brasileira joga hoje. Isso é tudo. É o assunto das conversas, dos jornais, dos noticiários da televisão, dos debates radiofônicos, dos e-mails, enfim, é tudo. Alguns até se esforçaram durante essa semana para aparecer mais que a Seleção Brasileira, mas os brasileiros de fato são muito apaixonados por futebol. Sobre os outros assuntos apenas alguns comentários rápidos ou irônicos.
Enquanto o Brasil se preparava para o jogo de hoje, o Grêmio fez fiasco e perdeu para o Coritiba por 2 a 0 em um jogo válido por algum torneio qualquer. Não satisfeito com o fiasco gremista, o Guarani de Campinas tentou superar o time gaúcho e teve um quebra pau lindo de ver durante um treino.
Mas o maior fiasco de todos é a quase comprovação do envolvimento do goleiro Bruno, do Flamengo, no desaparecimento de sua ex-amante (existe ex-amante?). Meses atrás, ele já havia saído com uma frase em defesa do atacante Adriano, quando conseguiu dizer a maior asneira que um homem público pode falar: “e quem é que nunca deu porrada na mulher?”. De fato, ele se superou, e pelo que tudo indica, dessa vez ele exagerou na dose da porrada. Caso se confirme o óbvio (o seu envolvimento no crime) ele deveria ser colocado na ala vascaína do Bangu 1. Homem que bate em mulher não tem culhões. Homem que bate em mulher não merece o respeito nem de um rato. Homem que bate em mulher não é homem suficiente para se meter com outro homem, pois sabe que levará uma surra e chorará feito uma bonequinha. Enfim, homem que bate em mulher é covarde sem valor moral nenhum.
Mas, não foram só acontecimentos futebolísticos e policiais que apareceram em segundo plano na mídia em meio à Copa. Enquanto o time de Dunga treinava em solo africano, acharam um vice para José Serra. Eu já estava até pensando em mandar meu currículo para concorrer à vaga. Minha ficha é limpa e tenho experiência em jornalismo e serviços gerais de hotéis. Ah, e já fui panfleteiro em Porto Alegre, na Otávio Rocha, onde fiquei rouco gritando “Empréstimo na hora sem demora é só aqui senhora!”. Enfim, acho que é mais fácil convencer alguém a votar em mim do que os aposentados do Exército a tirarem um empréstimo que renda uma comissão aceitável.
Por fim, chegamos aqui, ao nosso sempre amado Rio Grande, onde em Passo Fundo, terra do Felipão, vereadores aprovaram toque de recolher para menores de 16 anos. Tentei me lembrar da minha turma de quando eu tinha meus 15 anos. Época áurea, onde as festas de debutantes nos permitiam encher a cara e ficar até o dia amanhecer nos clubes da cidade. Tentei lembrar de algum colega meu do colégio que não freqüentasse festas e casas noturnas. De um grupo de mais ou menos 15, no máximo dois ou três não saíam. No entanto, até onde eu sei, todos estão razoavelmente bem sucedidos, trabalhando, alguns com mulher e filhos. Nenhum virou traficante, dependente de drogas ou bandido por conta das festas que fazíamos. Teve um que até virou vereador, vejam vocês. Será que uma lei vai segurar os hormônios da gurizada? Acho muito difícil. Os vereadores de Passo Fundo terão que distribuir algumas Playboys e vídeo-games para a rapaziada. Mas não precisam esquentar, o Lasier Martins dá uma mão. Um bom jogo a todos.

Texto publicado em A Tribuna Regional desta sexta-feira.

O Solista em meio à Copa

Os dois últimos dias foram estranhos. Após uma overdose futebolística, foi difícil passar dois dias sem jogos da Copa. A solução para preencher esse vazio? Filmes. Foi o que fiz. Assisti “Quem quer ser um milionário” na tarde de quarta-feira. Filme vencedor do Oscar de 2008, se não me engano. Acabei criando uma expectativa excepcional para esse filme e, talvez por isso, não achei tão bom quanto imaginei que fosse. A história é boa, o enredo é bom, os atores são bons, as atrizes também, só que em alguns momentos achei que o filme descambou para uma exacerbação de sensacionalismo. Ou seja, alguns clichês poderiam ter ficado de fora. Mas, sem dúvida, trata-se de um ótimo filme. Já de noite, de quebra, assisti ao filme brasileiro Verônica, que passou na Globo, no Festival Nacional. Uma boa idéia, essa do Festival. Gostei do filme, porém, ficou aquela sensação de que a história continua, portanto, aguardo o Verônica II, ou algo assim.
Mas o melhor de todos os filmes foi o que assisti hoje: O Solista. Esperei o mês inteiro a chegada desse filme na locadora. De semana em semana, eu ia lá, e perguntava: “chegou O Solista?”. Não. Senti-me um garotinho indo comprar figurinhas para o seu álbum, na expectativa de encontrar aquela figura mais difícil, a que ninguém tem. E hoje, finalmente, chegou o filme. No entanto, esse não só confirmou como também superou minhas expectativas. O termo que vou usar agora pode parecer meio gay, mas que se foda, o fato é que se trata de um filme realmente lindo. Resumidamente, é uma história real, onde um jornalista cria uma fortíssima amizade com a personagem das histórias que ele passou a abordar em sua coluna, no Los Angeles Times: um músico com um potencial espetacular, que teve passagem por uma universidade famosa, e que estava morando nas ruas, tocando um violino de duas cordas. Gostei muito desse filme porque me identifiquei com as duas personagens. O jornalista, que mostra que, antes de ser jornalista, ele é um ser humano, ou seja, ele quebra essa barreira de distância entre ele e a fonte, e demonstra como o jornalismo pode realmente ser positivo, sem ser positivista. E também gostei do solista, pois o cara tem umas frases curtas e simples, mas muito interessantes, como, quando o jornalista pergunta como ele consegue tocar em uma rua barulhenta e movimentadíssima, e ele responde mais ou menos o seguinte: “isso é a música, o barulho é a música, eu toca a música e as pombas me aplaudem”, e nisso, passa uma pomba voando. O músico, que é esquizofrênico, também levanta questões sobre o mundo onde todo mundo vive preso em apartamentos, com a vida focada para o trabalho. Em outra cena, em que ele está tocando na frente do Los Angeles Times, o jornalista pede para que o músico pare de tocar ali, e ele começa a resmungar: “Está certo, ele está trabalhando, as pessoas trabalham, elas precisam trabalhar, ele trabalha, ele não quer ser incomodado, está certo, as pessoas precisam trabalhar, elas trabalham, ele também trabalha, e eu estou incomodando quem trabalha...”, até que ele fala, dirigindo-se para o jornalista: “eu vou tocar ali” – diz, apontando para o outro lado da rua – “se precisar de mim, estarei lá”. E pega seu carrinho com todos os seus pertences e vai lá, tocar sua música.
Enfim, já falei demais, não vou contar o filme inteiro. Última dica: assistam também ao makin-of, em que aparece o jornalista verdadeiro e o solista falando. Bom, amanhã volta tudo a sua normalidade, com o jogo da Seleção às 11h e Gana e Uruguai às 15h30, e sábado tem mais. Espero que todo o mundo durma bem, como diz, de forma infantil e filosófica, o solista.