.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Sergio Vilas-Boas: jornalista, pesquisador e escritor por natureza

Como sempre deixei claro nesse espaço desde o primeiro texto, 10 anos atrás, em 2008, esse blog não tem muita lógica e muito menos pé ou cabeça. Assim, sempre misturo textos absurdos, poemas amadores, comentários pessoais, histórias fictícias e/ou autobiográficas etc. E, dessa vez, vou usá-lo para publicar a entrevista que fiz via e-mail com Sergio Vilas-Boas. O troço tudo começou quando a professora Monica Martinez (Uniso-SP) me convidou para escrever um artigo sobre Vilas-Boas para a Revista Observatório. Aceitei o desafio e juntei os livros que eu já tinha dele e encomendei os que faltavam. Depois de meses lendo e me debruçando na vida e obra de Vilas-Boas, algumas perguntas ainda ficavam em aberto. Eis, então, a entrevista (meio amadora, sem muita técnica, para desespero dos acadêmicos eruditos e metodolólogos de plantão). Já o texto na íntegra, apenas depois de publicado na revista. Independentemente de qualquer coisa, peço para que o leitor imaginário leia, pois são respostas que fazem refletirmos sobre a atual situação deste país. (também podem aproveitar o embalo para visitar o site dele - www.sergiovilasboas.com.br ou para ler os textos indicados em alguns links).

1) Em uma entrevista você comentou que no "seu tempo" os pais criavam ordenando, e não dialogando. Você tem algum texto específico em que comenta a sua infância em BH? Como você se define enquanto aluno do período escolar (anos iniciais, ensino fundamental e ensino médio)?

Texto falando disso, não tenho. Mas eu diria assim: eu era um garoto tímido e introspectivo, que aprendia com muita facilidade. Sempre estudei em escolas públicas, e o ensino era de boa qualidade (nos anos 1970). Menciono essas coisas neste texto:
http://www.sergiovilasboas.com.br/2018/04/08/senso-de-privacidade/


2) Em alguns textos você comenta superficialmente o período de graduação. Há algum outro mais específico sobre esse período? Quais eram os seus objetivos quando ingressou na profissão? Você ingressou no curso de Jornalismo com o intuito de ser escritor?


Entrei sem objetivo nenhum além do de ser escritor, embora eu nem soubesse com certeza o que era isso e como se chega “lá”. Veja o que escrevi neste link:
http://www.sergiovilasboas.com.br/2018/04/01/alumbramentos-novos/
"Antes de estudar jornalismo (depois de iniciar e abandonar três cursos - engenharia, economia e sociologia -, fui bancário, topógrafo e projetista de redes de transmissão elétrica.)” “
A partir do final do 3º me ocorreu a ideia de seguir carreira acadêmica, mas muito vagamente.

3) Você organizou o livro "Formação e informação esportiva", no entanto, não encontrei muita coisa sobre esportes escrita por você na internet. Há outras produções de fôlego nessa área? Você já foi repórter esportivo? Para que time você torce? (se for cruzeirense, receba a minha corneta da primeira rodada do Brasileirão em primeira mão pela vitória do meu Grêmio....kkkk).


Eu organizei 4 volumes para aquela coleção. Apenas como coordenador mesmo.
Nunca me interessei por reportagem esportiva, exceto como leitor e como torcedor do Cruzeiro (pois é o Grêmio se deu bem na primeira este ano...).


4) Você foi orientando do professor Edvaldo no mestrado e doutorado. Há algum texto específico que você escreveu sobre ele? Qual a importância de ter trabalhado com ele na pós-graduação?

Nunca escrevi sobre o Edvaldo. A importância do trabalho dele para mim na USP foi ele ter me deixado muito livre para eu fazer quase que exatamente aquilo que eu queria realizar, fazendo apenas interveções de conteúdo (poucas) e de adequação ao protocolo universitário (várias). Eu sou muito informal, diria “anti-cerimonioso”, e a academia (ainda) não é assim. É um lugar onde os recém-chegados precisam mostrar certa prudência.

5) Você trabalha bastante, especialmente na ficção, com personagens tentando encontrar o seu lugar no mundo. Você considera que encontrou o seu? (espiritualmente e geograficamente)

Ainda não encontrei, mas continuo tentando... rs... Costumo me entregar de corpo e alma àquilo que cismo de querer fazer, por alguma razão. Depois que eu domino por completo tudo o que o novo desafio me apresentou, é como se aquilo perdesse a graça, e daí começo a “resmungar”, até chegar o momento de mudar de ares, ou de “voar para outras árvores”. Não sou um homem de ideais fixos (ou ideias fixas), como você deve ter percebido no texto que publiquei no meu site dia 1º de abril (não era o dia da mentira não!... rsss). Gosto mesmo é de aprender. Enquanto estou aprendendo e me sentindo desafiado, dou o melhor de mim.

6) Você tem irmãos? Mais velhos, mais novos, homens, mulheres? Qual a sua relação com eles? E com seus pais?

Tenho um irmão, sete anos mais jovem que eu. Ele se chama Carlos Henrique Vilas Boas e mora em Belo Horizonte com a esposa dele, Raquel, e a minha sobrinha única Gabriela, de 4 anos. Meu pai – Nelson Vilas Boas - faleceu em 2004, aos 65 anos. Minha mãe, Walda, está com 77 anos. Ela também mora em Belo Horizonte, para onde fui quando eu era bebê (na verdade, nasci em Lavras-MG). Minha relação com ambos é boa, fluente, mas não muito próxima. Até os meus 20 anos, mais ou menos, a diferença de idade em relação ao meu irmão pesou muito no nosso relacionamento. Além disso, moro longe deles há 25 anos... Mas a gente se fala toda semana.


7) Se você pudesse medir o nível de autobiografismo dos personagens Hugo e Jaime em porcentagem, quais seriam esses índices?

Hugo: 10%
Jaime: 70%

8) No “Estrangeiros do term N”, pode-se ler a história inteira como realidade (apenas com a troca dos nomes dos personagens) ou há personagens inventados e histórias de personagens totalmente criados? O Angel existiu? E o final dele, é real?

Angel existiu, era (ou é, não sei dizer) catarinense de fato, mas o final da história foi totalmente inventado.
Plínio existiu, era (ou é, não sei dizer) mineiro e a história dele transcorreu sempre paralela à realidade. Jamais tive intenção de contar uma “história real”, tipo Jornalismo Literário ou Jornalismo Narrativo. Na época (início dos anos 1990), eu não conhecia muito bem esse gênero e seus conceitos. Na época, eu só lia ficção e um pouco (bem pouco) de biografia – foi a época em que surgiram biógrafos como Ruy Castro, Fernando Morais e Jorge Caldeira, analisados, aliás, na minha dissertação de mestrado.

9) Qual o autor da literatura que mais te influenciou?

Brasileiro: Sergio Sant’Anna. Estrangeiro: Philip Roth.

10) Qual a obra que você já leu e que pensou: "caraca, esse livro eu queria ter escrito"?

“Cem Anos de Solidão”. Li-o pela 2ª vez quando tinha 22 anos. Olha, esse romance do García Márques me fez pensar que até eu poderia ser escritor... rs... Veja só que presunção.

11) E qual a obra que você sonha em escrever?

No momento (2018), por iniciativa própria, pessoal, autoral, não sonho em escrever mais nada com mais 6 mil caracteres. Como jornalista, me prometo que pelo menos avaliarei os convites, desde que envolvam pagamento em dinheiro. Uma das coisas que estava me irritando profundamente no Brasil nos anos anteriores à minha vinda para a Itália era a cultura do trabalho grátis. Te pedem um trabalho escrito e nem tocam no assunto pagamento, porque já chegamos ao ponto em que “assim é e assim será, você queira ou não”. O mesmo ocorria com palestras: me convidavam para ir, por exemplo, a Belém. Entre esperas, voos, traslados e o evento em si, eu precisava de dois dias da minha vida para poder falar por cerca de uma hora. E nada de cachê. Eu já fiz muito isso, muitas vezes complicando a minha agenda pessoal, mas agora não faço mais.

12) Você já orientou mais de 150 alunos de especialização. Qual a sua avaliação desses novos jornalistas (da geração Hugo)? Você vê alguns deles se destacando no JL?

Infelizmente, não vejo. A maioria dos ex-orientandos meus de Jornalismo Literário que fez (ou está fazendo) “sucesso” atua como professor. Alguns deles como professores daquele mesmo tal Jornalismo Literário que os ensinei duante dez anos. Não é por falta de talento para a escrita não. Conheci alguns bastante talentosos. O problema é que o talento sempre aparecia em estado bruto, e eles/elas não estavam (não estão) dispostos a enfrentar a dureza que é ser autor de narrativas no Brasil. Na minha visão, faltava-lhes o entusiasmo e o descabimento necessários. Faltava-lhes abrir mão da segurança e do conforto material, que, no meu entendimento, bloqueava-os.

13) Pode acrescentar qualquer outra informação ou pensamento que você julgue pertinente. Inclusive, respondo a essa pergunta: você pretende ficar "para sempre" na Itália? Sente saudades do Brasil?

Sobre esta questão você pode confiar também no que escrevi no meu site dia 1/4/2018. Fui bem sincero naquele texto. Completando:

A expressão “para sempre” é uma ideia que paira no cotidiano de todo mundo, acho, e no meu, certamente. Faço o que posso para não permitir que ela se torne um fato obrigatório. Vim para Florença em outubro de 2016. Diria que, no momento (abril – quanto respondo às suas perguntas), quero ficar por “tempo indeterminado”.

Honestamente, não sinto falta do Brasil não. Quando vim para cá, estava infeliz com os meus confortos: morava em um bairro tradicional e elegante (Higienopólis), em um bom apartamento (muito bem localizado e suficientemente grande para mim, Patrícia e nossos gatos); de vez em quando recebia convites para escrever livros pré-pago (patrocinados) por valores às bem razoáveis; e tinha acabado de pedir demissão da Faculdade Cásper Líbero.

Tudo indicava que eu havia atingido um ponto em que ou seria consumido pouco a pouco, dia a dia, pelo sentimento de estagnação; ou que, por outro lado, o meu futuro no curto e médio prazos era nada menos que uma folha em branco, à qual podia preencher como eu quisesse. No momento em que não tinha nem livro para escrever nem aulas para dar me veio à mente a ideia mais óbvia: fazer um pós-doc fora do Brasil, de preferência em Nova York, para onde sempre estive a fim de voltar (desde que morei lá no início dos anos 1990, voltei várias vezes, mas como turista).

Tudo parecia dar certo: 1) escrevi um projeto muito interessante e com uma proposta de pesquisa super bem arquitetada, dando continuidade ao tema Biografismo (agora no nível 3), com o seguinte título: “Philosophy of Biography: Concepts and Practices Between Lives and Arts”; 2) Obtive a aceitação da City University of New York (CUNY); 3) Obtive o “ok” do supervisor que escolhi (o filósofo Nöel Carroll); $) e consegui cumprir os prazos do CNPQ para a solicitação de uma bolsa de 12 meses.

Mas... Nesse meio tempo, o Brasil caiu em desgraça, o impeachment foi aprovado pelo Congresso e começou a espiral rumo ao fundo do poço. Os processos seletivos do CNPQ da época pré e pós, foram todos cancelados e os pesquisadores que já estavam no exterior, realizando as suas pesquisas, ficaram sem receber as parcelas mensais de suas bolsas. Um horror.

Aí fiquei completamente perdido. Eu não tinha Plano B. E o país, por sua vez, cavando buracos cada vez mais no fundo do poço com uma gigantesca broca babando ódio... Entre panelaços e confrontos odiosos entre amigos, entre vizinhos, entre colegas, etc., o país voltou a ser para mim aquela sombria imensidão depressiva dos anos 1980 (tempos do Plínio e do Angel e de hiperinflação), que eu conheci na carne.

Aceitei que não havia nada mais que me segurava no Brasil: nem carreira, nem status quo, nem arte literária, nem qualidade de vida, nem ambição, nada. Até os meus três gatos deixaram de existir: dois deles, ambos bem idosos, haviam morrido de câncer no meio daquelas complicações todas.

Como sou cidadão italiano, por causa da família da minha mãe, resolvi, em conjunto com a minha mulher, a Patrícia, vir para a Itália. Nem sabíamos ao certo para onde na Itália a gente viria (levando a Filó, a gata que restou, e que está com 16 anos). Firenze foi a primeira cidade que nos veio à cabeça. Tínhamos ótimas memórias relacionadas a ela, dos tempos em que tínhamos férias remuneradas e caixa para poder viajar para o exterior. E foi assim. Viemos.

Repetindo: do Brasil não sinto falta, não, mas das pessoas com as quais convivia, sim.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Forza Italia

Já devo ter comentado aqui, em algum momento nessa última década de blog, que tenho uma birra com o futebol italiano. Creio que porque a Itália sempre foi a grande rival europeia da Alemanha e, como meu sobrenome é Ritter e como passei boa parte da infância em Panambi (cidade onde a maioria da população torce mais para os alemães do que para o Brasil) encarnei tal rivalidade desde que me lembro por gente. Na Copa de 90, por exemplo, quando tinha oito anos, lembro-me de vibrar com o título diante dos argentinos. Recordo-me, também, que no meu imaginário a seleção alemã era o equivalente a um Real Madrid em termos de grandeza, enquanto a seleção brasileira equivalia a um modesto Betis. Em 1994, no entanto, eu já tinha caído na real e, morando em Santo Ângelo, torci para o Brasil quase com o mesmo fanatismo com que torço para o Grêmio.
O tempo passou, mas segui antipático ao futebol italiano. Confesso que assisti ao jogo Itália e Suécia, há poucos meses, torcendo para os suecos, na eliminação da azurra para a Copa de 2018. E não canso de repetir que, de todas as copas do mundo que já vi nessa vida, a seleção italiana campeã de 2006 foi disparadamente a pior dentre as que ergueram o caneco: um time medíocre, com jogadores de nome que não jogavam absolutamente nada, apanhando da bola e ganhando na sorte (e nos pênaltis) da fraquíssima França de um Zidane em fim de carreira na final. Porém, quem lê esse texto até aqui não imagina o quanto torci para a Roma no jogo de ontem, contra o Barcelona, e para a Juventus, hoje, contra o Real Madrid, nas partidas pelas quartas-de-final da Champions League. Explico-me.
Primeiro, mais do que anti-Itália, quando falamos de seleção, sou anti Real Madrid e Barcelona quando o papo é clube de futebol. Tudo porque esses são os dois clubes mais ricos do mundo que podem contratar quem eles querem. Aparece um novo Pelé no Santos, eles vão lá e contratam. Um africano desponta num clube mediano da Ucrânia, eles compram. Aparece um novo craque no futebol inglês, eles usurpam o sujeito. Assim é muito fácil! Ter todo o dinheiro do mundo e contratar quem eles querem é covardia! É como jogar o velho elifoot (não sei se é assim que escreve) digitando aqueles comandos ninjas para ter uma fortuna interminável. Assim fica fácil ser o maior campeão da história. Quero ver ganhar no braço, na raça, no amor! E, apesar das diferenças, isso os italianos têm de sobra.
E foi por isso que ontem eu torci muito para a Roma e vibrei por cada gol contra o Barcelona quase como se fossem gols do Grêmio. E, também por isso, hoje vibrei em dobro a cada gol da Juventus e xinguei pra caralho o árbitro ao marcar aquele pênalti duvidoso para o Real Madrid aos 45 do segundo tempo.
A Roma passou, a Juventus ficou. Mas, nessa Champions, estou com os italianos. E, claro, também com os alemães do Bayer e os ingleses do Liverpool. Tiro o chapéu para o Cristiano Ronaldo, disparado o melhor jogador do mundo hoje (e um dos dez mais da história do futebol), mas não tiro o chapéu para o Real Madrid (pois assim que o CR7 envelhecer mais um pouco, eles o dispensam e contratam a nova celebridade que estiver despontando como melhor do mundo). Assim, por ter torcido para dois times italianos por dois dias seguidos, considero que consegui vencer o meu próprio preconceito. Que, aliás, creio que está até terminando, pois ficaria muito feliz se houvesse uma final entre Roma e Bayer e, não estando o Real Madrid em tal disputa, tanto fez tanto faz quem eventualmente levantar o caneco. Forza Roma! Forza Bayer! Força Liverpool! Y abajo Real Madrid! Hasta!