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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Respirando Super Bowl

Nessa semana ainda não tinha ido para Downtown aqui em Manhattan. E hoje resolvemos pegar o 1 Train e partir para a Times Square, dar uma olhada, pois daqui uns dias estamos partindo para Miami (eu volto para NY, mas a patroa e as crianças voltam de lá para o Brasil). Enfim, estava acompanhando até então os preparativos para o Super Bowl apenas pela televisão. E hoje pude confirmar o entusiasmo dos americanos, em especial dos nova-iorquinos, com a final de domingo.
Eu não manjo muito de futebol americano, mal sei as regras, e também não estou por dentro dos detalhes de como funciona o campeonato. Apenas sei que o Super Bowl é a final disputado pela vencedora da liga de uma Confederação contra a campeã da outra. E, nesse ano, é o time de Seattle, do estado de Washington, contra o time de Denver, do estado de Denver. E além dos nova-iorquinos, há milhares de pessoas dessas duas cidades e de outras, e de outros países também, que estão entupindo a Time Square, espécie de sede oficial do Super Bowl até domingo, pois o MetLife Stadium fica na vizinha em New Jersey.
A Time Square inteira está com a conhecida super-produção americana. São telões, outdoors, estúdios dos principais canais de televisão do mundo, como a Fox Sports, improvisados no meio da avenida, campos de futebol americano em miniatura para as pessoas jogarem no frio, e aumentou os artistas de rua que ficam ali, zanzando, pedindo tip.
Até essa aí da foto apareceu para esquentar um pouco a temperatura da gélida New York City de final de janeiro...
Sobre os times? Bom, como disse, há torcedores vestindo as camisas de Seattle e Denver por toda a cidade. A cada esquina também há pessoas trabalhando, distribuindo mapas que mostram New York, o rio Hudson e New Jersey. As alternativas para ir até o Met Life Stadium e um mapa até o aeroporto JFK. Também estava exposta hoje a taça do Super Bowl, que consegui capturar graças a minha objetiva, pois havia uma filma gigantesca para chegar perto para tirar uma foto.
Bom, mas voltando a falar dos times, bem, eu vou torcer para o Broncos, que é o time de Denver. Tudo bem, se o time de Seattle ganhar também não ficarei triste. Vou torcer para os broncos porque vou para Denver lá por abril, pois é a capital do Colorado, e terei que ir até lá para seguir até Aspen, cidade adotada por Hunter Thompson e onde ele foi cremado e foi construído o monumento em homenagem ao jornalismo Gonzo. Também pretendo ir a Seattle, para o evento do ICA que vai acontecer na universidade de lá, mas sei lá, achei que meu vínculo com Denver era mais forte – ou menos fraco. Por outro lado, o Broncos já ganhou o Super Bowl, enquanto que o time de Seattle briga pelo título inédito, então, se ganharem estará tudo bem na minha mente...
E, finalizando, como postei no Facebook, vendo a empolgação dos americanos com a final do Super Bowl, sinto saudades dos tempos em que o Brasileirão tinha final. Aqui tudo para, a cidade está respirando o Super Bowl, há produtos de todos os tipos para vender, as pessoas falam disso nas ruas, na televisão, etc. Já no nosso super atrativo brasileiro por pontos corridos, o time é campeão em estádio vazio e os jogadores fazem uma comemoração broxante. Para os mais novos, sugiro que consultem no youtube mesmo os vídeos das finais de campeonato dos anos 1970, 1980 e 1990.... Era estádio lotado, jogos emocionantes, e o Brasil também parava para ver o jogo decisivo. Agora acabou. Optamos pelo caminho europeu, mesmo estando em tudo em desacordo com os europeus em tudo o que diz respeito à sociedade... Mas enfim, aí já é outra discussão....

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Princesa de New York City

Não sou rei mas já proclamei, pelo menos para o meu próprio
Eu, que a minha pequena Larissa é a princesa dessa cidade. Como já comentei aqui textos atrás, a parte mais difícil de ficar um ano nos Estados Unidos seria a saudades da minha pequena, que está com três anos. Foram quase cinco meses até a vinda da patroa e das crianças. Já se passaram quase dois meses, e elas voltam para o Brasil no final de fevereiro, depois de um pulinho em Miami que inicia na semana que vem. Já começo a sentir saudades antecipadamente da minha princesa, essa princesa galega de Nova York, que vou ficar sem ver novamente por mais cinco meses até voltar para o Brasil, no início de agosto.
Só pelas pérolas que ouço diariamente aqui, já fico estremecido de saudades. Dia desses ela queria subir num pequeno armário no quarto. Eu disse que ela não podia fazer aquilo. Ela, do alto dos “porquês” dos três anos, quis saber o motivo de tal proibição. Eu disse, então, que ela era muito pequena. Ela, na sua rebeldia infantil, disse que não era. “Eu sou grande”, retrucou. “Não é não, você é pequena”, insisti. “Não sou não. Não tá vendo o meu tamanho! Olha aqui ó!”, e deu um giro de 360º para eu ver o seu tamanhão.
Mas uma das maiores diversões que tenho aqui, nesse período totalmente família, são os nossos passeios pela neve. Outro dia saí com ela pela beira do Hudson, andando pelas calçadas cheias de neve. Ela começou a juntar um monte de pedaço de gelo para levar pra casa. Parecia o Chaves da televisão tentando levar as caixas de refrigerante: juntava uma, derrubava outra.
Não pode ver uma neve na calçada, mesmo quando quase não há mais nada, que ela corre para pisar em cima, juntar para fazer bolinha e tentar fazer bonecos de neve. Outro dia a patroa abriu a geladeira e ela queria pegar o gelo para “brincar na neve”.
Dias atrás, fui todo entusiasmado contar para ela que daqui uns dias vamos para a praia, para o calor. Ela franziu a testa, tirou o sorriso do rosto, e bufou: “eu não quero praia, eu quero neve!”. E, quando ela está brincando na neve, é uma tarefa quase impossível convencê-la a ir para casa. “Vamos pra casa?”. “Nãããooooo!”, ela resmunga, já fazendo um beiço de choro. Claro que, como já comentei outras vezes, as roupas aqui são todas térmicas e impermeáveis, o que permite as crianças brincarem na neve, mesmo quando está -5 ou -10 graus.
Bom, você pode me achar um pai Corujão, mas quando vejo o seu sorriso e ouço a sua vozinha falando cinco mil palavras por minutos, não tem como não ficar com o coração derretido. E a espertinha sabe disso. Me acorda pulando na minha barriga, pede para eu contar história mesmo quando não aguento mais ficar com os olhos abertos, me convence a brincar de Lego, Barbie, Mickey e todos os brinquedos que ela já acumulou aqui em New York City. E, para finalizar, está muito viajada, essa mocinha. Antes de vir pra cá, ficou uma semana no Rio de Janeiro, na casa da dinda. E, anteriormente, com menos de três anos, ela já tinha morado em Santo Ângelo, Ijuí e Pelotas. Agora Nova York e Miami. Aliás, uma das coisas mais engraçadas aqui é escutar ela falando Cental Pak (Central Park), Tai Escuéi (Times Square), Nova Ióqui e Miami.
Bom, escrevi demais, vou babar mais um pouco e, se tudo der certo, no próximo texto já estaremos todos em Miami!
Um bom final de semana a todos!

* Texto a ser publicado, se Deus e o editor Tiaraju quiserem, no JM dessa semana.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Music

Tenho paixões por diversas coisas, e creio que comento frequentemente sobre a maioria delas nesse humilde espaço, entretanto tem uma que não abro mão, mas sempre deixo de lado na hora de escrever: música. Acho que não escrevo quase nunca sobre isso porque simplesmente gosto de ligar o som e ficar ouvindo, independente da situação: enquanto escrevo, penso na vida, enquanto leio, relaxo, enquanto desestresso a mente ou estou num barzinho qualquer da vida, enquanto converso com alguém, etc...
É algo que me acompanha, que me transporta, que me deixa em alfa, mas que dificilmente eu paro para pensar sobre... Porém, todavia, contudo, comecei a refletir sobre isso há pouco. Por que diabos eu nunca escrevo sobre música, se sou apaixonado por ela? Creio que a resposta mais óbvia é pelo meu gosto eclético – que causa a incompreensão, e às vezes a indignação, de muitos. Ou seja, é um pouco daquilo que comentei no Facebook outro dia: as pessoas gostam de rotular as outras, então se eu comento alguma coisa de um gênero musical, já me taxam disso ou daquilo, ou senão, os fanáticos de tal gênero já acham “uma vergonha um doutorando gostar desse tipo de música ou não gostar de outro”...
Outro motivo é porque dificilmente corro atrás da história dos artistas, músicos, bandas, compositores, etc, como fazem os fanáticos... Simplesmente gosto do som. Até já li algumas biografias muito fodas, como a do Bob Dylan (No direction home) e a do Bob Marley (Queimando tudo), e, realmente, depois de ler a história dos caras você interpreta as suas músicas de maneira diferente... Mas o que quero dizer com essa porra toda é que dificilmente vou atrás, fico fanático por algum músico ou banda, ao ponto de considerar ele ou ela um Deus em forma de ser humano, um ser intocável, que tudo o que proclama está certo, etc...
Historicamente, digo que minha banda de infância foram os Engenheiros do Havaí. Tudo porque meu primo Gérson e eu, quando estávamos na quarta série dos anos iniciais, combinamos de cada um comprar um disco deles, para termos a coleção completa. Então, o outro emprestaria o disco para o um para que gravasse a parada em VHS (!!!!). E acho que os Engenheiros foram a porta de entrada para as outras bandas de rock ou pop brasileiras, principalmente gaúchas, como Papas da Língua, Nenhum de Nós, Cachorro Grande, etc. Gosto de praticamente todas, e mais ainda das nacionais clássicas, como Renato Russo, Raul Seixas, Lobão, Paralamas, Titãs, etc... Ah, e claro, li a autobiografia do Lobão, 50 anos a mil, e fiquei mais fã do cara (apesar de que admito que ele fala muita merda na TV, mas, como disse, não ponho os caras que admiro o trabalho no patamar de Deus intocável).
Por fim, aqui nos States tenho ouvido algumas músicas mais UPs, talvez pelo momento, por estar aqui, realizando um sonho, estando num lugar que nunca imaginei que um dia eu iria estar, e entrando em contato com gente que antes eu só sonhava em ver pela televisão, como a viúva de Hunter Thompson (meu objeto de tese), ou ainda, indo em lugares fodas pacaraí
– e pensando nos que ainda estão por vir. Então, numa dessas, peguei um gosto especial por Pitbull e Florida. Pô, você viaja (hipoteticamente) ouvindo a música dos caras – e principalmente vendo os clipes, cheio de paisagens e gente dançando cheia de swing. Aliás, eu adoro ouvir música, até canto e danço pelado no banho sozinho de vez em quando (principalmente quando recebo excelentes notícias, como quando ganhei a bolsa para vir pra cá...), canto pacaraí (no sentido de quantidade, não de qualidade) mas de todas as possibilidades que a música propõem, creio que o meu ponto mais baixo é dançar na frente dos outros... Até adoro dançar, tento acompanhar os outros e lá pelas tantas mando a vergonha pra puta que lhe pariu, etc... mas sempre acabo dando uma de Ross...
Mas, enfim, o importante é ser feliz... E quando estou feliz, uma das coisas que mais gosto de fazer é ouvir música e dançar..
Bom, talvez eu volte a comentar mais sobre música em breve, mas não quis deixar a música tão isolada dos meus textos que guardo aqui, nessa espécie de arquivo pessoal público que é o blog...
Ah, e para finalizar, espero que a próxima postagem seja a confirmação de Very Good News for me, pois tive uma resposta muito foda hoje por email e espero que se concretize (e que tem tudo a ver com meus textos e, indiretamente, com a porra desse blog). So, see all of you (2 or 3) soon!

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

About snow

Sorry, my friends that speak English, but this text is in portuguese... I can’t write a long text in English yet, so, really sorry...
Porra, quem vê diz que alguém daqui vai entrar no meu blog. Mas às vezes tenho uns surtos e penso que alguém lê isso aqui.. Enfim, como já disse, escrever é uma terapia para não enlouquecer... É como falar sozinho com a mente transcrevendo os pensamentos para o pa... papel porra nenhuma. Para a tela do computador... Poucos entendem...
Bom, a vida inteira eu incomodei meu irmão, Fábio, dizendo que o verão era muito melhor do que o inverno (na verdade ainda digo isso pra zoar). Porém, sinceramente, estando aqui, no inverno nova-iorquino, com neve e temperaturas abaixo de zero todos os dias, e lembrando do calorão que é no Brasil no verão, especialmente nas Missões, onde você pode ser cozido sem se mexer, eu concluo que o inverno é muito melhor. Pelo menos aqui nos States. Já comentei que aqui você não passa frio, pois usa roupa térmica e dentro de qualquer lugar a temperatura é agradável (agora lá fora está -10 e eu estou de calção e sem camisa). Então, você não passa frio. Ao contrário do inverno do Rio Grande do Sul, onde você passa frio na rua e dentro de qualquer estabelecimento. E, a não ser que você gaste uma nota em luz ou em obras arquitetônicas na sua casa, você também passa frio dentro da própria residência. Já no verão brasileiro você não tem muita opção. Você sai para fora e parece que está entrando no inferno. Só falta o capeta te abraçar e te convidar “sente e vamos tomar um copo de água quentinha para derreter ainda mais”.
Mas, além do conforto, ainda estou encontrando na neve uma terapia. Andar pela neve, sentindo a bota afundando no gelo, fazendo um barulho que antes só tinha ouvido em filmes, faz com que eu me sinta zen. Quase da mesma forma que relaxo quando caminho na areia na beira do mar. Talvez só não possa se comparar a andar de noite na beira da praia. Essa, para mim, é a maior terapia. Andar sozinho, numa praia vazia, olhando as luzes dos bares na orla, os prédios ao longe, ouvindo o barulho das ondas, e, de vez em quando, cruzando com grupos de turistas bobo alegres ou casais que acreditam que tudo é possível, é imbatível. Essa é a coisa que mais faz me sentir em outro mundo (ok, excetuando-se a troca de fluências carnais, mas enfim, não vou entrar nesse campo).
Nunca imaginei que fosse gostar tanto da neve e do inverno. Poderia ficar um dia inteiro andando pela neve, olhando a paisagem, sentindo os flocos batendo no rosto, tocando o casaco e caindo no chão, ouvindo o barulho das botas afundando, olhando para trás e vendo as próprias pegadas, observando os corredores malucos que vestem roupas térmicas finas para não perder o treino e o ritmo da vida, cachorros com sapatinhos, madames com casaco de pele, carinhas com só os olhos descobertos, carros derrapando tentando andar e outros estacionados, cobertos sem poder se mover pois estão interrados no gelo, caminhões passando para escavar as ruas, pessoas preocupadas tirando a neve com pá de cima das calçadas e da frente das portas das casas....
Enfim, é a natureza. Acho que por isso a maioria dos escritores, sempre quando podem escolher, vão para lugares paradisíacos, como o litoral ou lugares que são lindos em todas as estações do ano, como Nova York.... Ou, como pode ser chamada agora, Neve York.

Velha Nova York

Esse texto escrevi na semana passada, dando uma geral da literatura nova-iorquina, portanto, tem vários elementos que já usei em outros textos. Mandei para uma revista brasileira, mas como ainda não tive resposta de publicação, antes que ele caia no meu próprio esquecimento, popularizo-o entre eu e o meu leitor imaginário aqui, nesse humilde blog:

Quando cheguei a New York, cinco meses atrás, esperava encontrar uma cidade mais pós-moderna. Na verdade, no imaginário construído na minha mente, como na de muitos brasileiros, formada a partir dos relatos televisivos e dos filmes hollyoodianos que chegam até nós, New York City era praticamente a cidade habitada pelos Jetsons. Porém, aos poucos fui vendo que New York tem muito mais dos relatos feitos por escritores e jornalistas antigos do que pelas imagens futurológicas que vemos toda a hora na TV ou no cinema (ou nos filmes baixados pelo computador, IPad, Tablet e todas as geringonças do gênero).
Andando pelos bairros de Manhattan, passando por pubs irlandeses, como o Mc Sorley's, parece que ainda enxergo o pessoal da geração Beat e sucessores, sentados em seus bancos, tomando canecos de chope irlandês. Aliás, na entrada da taberna já está descrito: “nós estamos aqui bem antes de você nascer”. E o fato é confirmado no texto épico de Joseph Mitchel, que em seu Up in the old hotel (uma coletânea de reportagens e textos do jornalista, que dentre outros, escreveu “O segredo de Joe Gould”) descreve a taberna que foi frequentada por Hunter Thompson, Kerouac e pelo próprio Mitchel. Nesse texto, o jornalista conta a história dos criadores do bar, que funciona até hoje com a mesma decoração de quando foi aberto no século XIX, e descreve as peculiaridades do ambiente, a rudeza de seu dono-fundador, que não tinha nenhuma preocupação em agradar os clientes, como na placa que ele criou, e que também permanece lá, em que está escrito: “be good or be gone”. Entrando no bar, converso com o atendente e digo que Hunter Thompson bebia lá na sua curta passagem por New York City. Ele me olha, franze a testa e pergunta: “quem?”.
A mesma cena se passa em outros bares por onde a geração beat, Hunter Thompson e outros escritores e artistas passaram. Um exemplo é White House, bar também frequentado por toda a geração beat de Nova York dos anos 1950 e 60 e onde nenhum garçom havia ouvido falar de Jack Kerouac, Ginsberg ou Burroughs até eu lhes apresentar em um breve e impaciente discurso...
Mas, apesar do desconhecimento dos atuais garçons, clientes e atendentes, o clima desses bares parece o mesmo de décadas atrás. E, andando pelo metrô e pelas ruas de New York vejo uma série de Joes Goulds andando por aí... Para quem não sabe a história, Joe Gould era um morador de rua que conquistou Joseph Mitchel nos anos 1930 ao descrever ao jornalista o livro que estava escrevendo “A história oral de nosso tempo” e acabou se tornando famoso por isso, inclusive recebendo doações para terminar o seu “livro”. Apenas após a morte de Goe que Mitchel foi descobrir o que já desconfiava: de que “A história oral de nosso tempo”, que tinha como objetivo transcrever diálogos cotidianos de pessoas comuns, estava na verdade apenas na mente de Joe Gould. E, andando por aqui, em 2014, encontro vários caras desse tipo, que são escritores distribuindo pedaços de papéis com poemas, músicos tocando nas estações de metrô para ganhar algum Tip para pagar a bebedeira do final de semana, pintores que podem ser mais talentosos que Leonardo Da Vinci mas que estão ali, vendendo seus quadros por qualquer meia dúzia de dólares, pois há outros mil como ele na cidade fazendo a mesma coisa...
Essa é a cidade que vejo. A cidade onde muitos da geração do New Journalism fizeram carreira, como Tom Wolfe, Norman Mailer e Gay Talese. Aliás, uma das melhores descrições da New York contemporânea está no texto de um dinossauro do jornalismo. "A brief description of New York", escrito por Daniel Denton em 1670, apresenta uma descrição onde já aparecem expressões usadas até hoje, como “a cidade que não dorme” ou "a cidade do glamour". Nesse mesmo sentido, há textos de outros jornalistas que descrevem melhor a cidade do que os filmes ultra-futuristas de Hollyood, como os de Elizabeth Hanson (texto de 1728), James Cooper (1828), Richard Dana (1840), do escritor e fotógrafo Jacob Riis (1890) e, mais contemporaneamente, Joan Didion, e os já mencionados Talese e Wolfe.
Mas aí entramos em outra questão. Por que essa diferença entre a descrição feita por jornalistas antigos, no impresso, ser mais fiel à realidade do que as descrições feitas na Web ou na televisão de hoje? Talvez a resposta possa estar na frase que Gay Talese proferiu durante palestra que ministrou no Departamento de Jornalismo da New York University, no final do segundo semestre de 2013: "O que eu vejo de diferente entre o jornalismo de hoje e o do meu tempo é que antes você tinha mais liberdade para escolher o assunto e sobre como abordá-lo. Agora, por questões políticas e comerciais, o jornalista não escreve tudo. Ninguém fala para ele não escrever, ou não abordar determinados assuntos. Mas ele sabe que não pode escrever certas coisas".
Talvez por isso, posso constatar hoje, em janeiro de 2014, que New York City é muito mais o que está nos livros antigos do que a imagem vendida para turistas brasileiros que sonham em vir aqui para tirar fotos na Time Square e deixar alguns dólares em Tips para os americanos para fazer a máquina seguir rodando e rodando e rodando...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O gelo que se move

Hoje estava um pouco menos frio do que ontem aqui em New York City. Ontem estava -15 e hoje -8 (na média). Então, saí para fazer fotos do Rio Hudson congelado. A paisagem é sensacional. Aliás, acho que nunca falei tantas vezes pra mim mesmo “sensacional”. Eu olhava, clicava, e murmurava “sensacional”. Tanto é que foram mais de 400 cliques. Depois, quando cheguei em casa, com a cabeça mais tranquila, vi que metade das fotos eram iguais. Na empolgação, eu não parava de clicar.
Olhando de alguns ângulos, a imagem fazia com que eu me sentisse no Pólo Norte, Alaska ou Patagônia. Só faltavam os pinguins e ursos polares (o esquimó era eu). Inclusive, como boa parte do rio ficou congelada, os patos abandonaram o gelo e invadiram o parque de Riverside. Eles estavam lá, zanzando pela grama, como cachorro que caiu da mudança.
A imagem era linda e, apesar do frio, com a calça térmica e o blusão de lá por baixo do casaco térmico, a sensação não era tanto de congelamento. Então, fiquei um bom tempo olhando o gelo se movendo: uma imagem que até então só tinha visto na TV, em documentários sobre as regiões geladas do mundo em canais como o National Geograph.
Concluí: a sensação é tão boa quanto a que você sente ao parar numa praia paradisíaca e ficar ali, olhando a natureza e pensando na vida. Pois foi assim que me senti. Fiquei mirando a parte onde o gelo estava duro (joguei uma pinha de longe que saiu quicando nas águas geladas do Hudson), olhando New Jersey do outro lado, os pedaços de gelo soltos se movendo pelas águas que estavam em estado líquido, e as gaivotas dando rasantes nas crateras de gelo. Era uma imagem de filme. E, olhava ao meu redor, e não via absolutamente ninguém. Nem uma alma viva. Nem um dos únicos animais que se autodenominam racionais. O sinal da humanidade só era percebido na ponte que liga Manhattan a New Jersey, nos prédios dos dois lados do rio, e nos carros que andavam pelo lado de Riverside. Fora isso, perto de mim, ou na pracinha de crianças ou no restante do parque de Riverside, eu era o único Homo Sapiens admirando aquela beleza. Pensei: “são quase 10 milhões de habitantes em Nova York, mais milhares de turistas, mas todos estão ocupados em Shopings, na internet, no Facebook, no mercado fazendo compras, trabalhando para ganhar dinheiro para comprar um carro para ostentar diante dos outros, que também estão trabalhando e trapaceando para ganhar mais dinheiro para comprar um carro melhor e uma casa maior do que a do primeiro... E pensei: “como a humanidade é subdesenvolvida...”. Na verdade, no geral, os seres humanos não são muito mais avançados do que os cachorros ou gatos ou porcos ou gaivotas ou pinguins, por exemplo. Não fazem muito mais do que fazer as próprias necessidades, dormir, comer, beber e trepar. A diferença é que acabam inventando mais coisas para ocupar enquanto nascem e esperam a morte... Mas, geralmente são coisas inúteis, como fazer compras nas mega lojas, jogar vídeo game, falar mal dos outros pelas redes sociais, etc...
Pensava nisso tudo enquanto olhava ali, o gelo andando no Rio Hudson. Estava escorado numa grade, olhando para baixo. À meia distância, vi um homem que me olhou com curiosidade e também foi na grade. Olhou pra baixo.
Não conseguiu ver nada. Só viu uma água gelada com crateras de gelo andando, nada de mais. Não viu um carrão importado, um casarão, uma mulher pelada, uma propaganda de TV ou um jogo de baseball. Então, em menos de cinco segundos ele deu meia volta, e foi embora. E eu fiquei ali, apenas olhando o gelo andando nas águas geladas. Eu, meus pensamentos e as gaivotas.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Dos 40 aos -20

Depois de quase um mês, resolvi entrar aqui e me dei conta de que minha última postagem foi em 9 de dezembro. Ou seja, não escrevi mais nada desde a chegada da patroa e das crianças, que passaram o Natal e o ano novo aqui e que ficam até o final de fevereiro. Bom, como agora tenho compromissos familiares (minha Larissa a cada cinco minutos fala "brinca, pai! brinca!", não posso prometer textos frequentes por aqui. Desde a minha visita a Filadélfia muita coisa aconteceu. Mas vou deixar para outros posts. Hoje, o máximo que consigo, é reproduzir esse, que enviei para o Jornal das Missões para ser publicado na próxima semana. Bom, é isso, pois já estou ouvindo a vozinha do meu nenê dizendo "brinca, pai! Brinca!!!".


Enquanto acompanho pelo Facebook as postagens vindas das Missões e do Rio Grande do Sul com as reclamações sobre o calor de praticamente 40 graus que faz no verão brasileiro, sinceramente, eu não tenho muito do que reclamar das nevascas e do frio de praticamente -20 graus que faz em Nova York. Sinceramente, nunca imaginei que um inverno rigoroso como esse fosse tão bom. Explico-me.
Enquanto escrevo essas linhas, está -15 graus lá fora. As ruas e a calçada estão cobertas de neve. É início de madrugada e o vento deve fazer com que a sensação térmica seja de -20 ou menos. Entretanto, estou sentado na frente do computador tomando uma cerveja gelada (que coloquei para gelar no lado de fora da janela), sem camisa e de calção do Grêmio. Tudo pelo simples fato de que aqui todos os lugares fechados (casas, prédios, espaços públicos, etc) tem um sistema central de aquecimento que faz com que você não sinta nenhum pouco de frio. E, do lado de fora, quando você sai para a rua, mesmo com -10 graus, como fiz há pouco, você veste uma calça e uma blusa térmica por baixo da sua roupa, usa um casaco térmico com manga curta por baixo, botas impermeáveis, cachecol e uma toca, e você não sente frio.
Inclusive, é possível até suar, como aconteceu comigo cruzando a ponte do Brooklyn enquanto o relógio do outro lado de Manhattan marcava -11°C. Claro que as partes que estão descobertas, como o nariz, você deixa de sentir... É como se tivesse alguém esfregando um gelo nele... Mas enfim, o que quero dizer, é que você passa mais frio nas casas e prédios despreparados para o frio no Rio Grande do Sul do que no inverno de Nova York. De noite, por exemplo, durmo sem camisa e com uma coberta fina. Nada de três acolchoados e dois cobertores como no RS. Então, não trocaria esse inverno pelo verão de 40 graus que está fazendo agora nas Missões e no RS nem a pau.
Já a minha pequena Larissa também me surpreende, pois ela não quer sair da neve. Se acorda e vê que está tudo branco lá fora ela já diz “vamos lá fazer boneco de neve, pai!”. E, quando levo, ela não quer sair por nada no mundo. “Vamos pra casa nenê? O papai está congelando!!”. “Nãããooooooo!”.
E tenta pegar ela para ver! Acho que ela gosta mais da neve do que da areia... Se você perguntar se ela prefere praia ou neve, ela responde sem pestanejar: “neve”. Ela até encontra outras criancinhas que levam baldinho de praia para brincar na neve... E, apesar de ela não falar inglês, eu vou orientando ela e ela vai repetindo as perguntas e respostas e vai se virando...
Bom, por isso é hoje! Boa sorte para todos com o calor missioneiro!