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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um cara fodão

Acabei de ler hoje as 734 páginas do No direction home, de Robert Shelton, que, como já falei aqui outra vez, trata da biografia de Bob Dylan. Enfim, poderia escrever um outro livro sobre este livro, mas como sei que o leitor é preguiçoso vou tentar abordar aqui alguns tópicos que me chamaram a atenção.
Primeiro: a biografia pega, principalmente, o período de infância/adolescência de Dylan, abordando toda a história da troca de nome dele, as polêmicas da troca de cidade e da difícil aceitação das primeiras críticas, etc.
Segundo: Shelton pega toda essa construção do mito Bob Dylan como um astro do pop rock/música folk. Gostei muito disso, pois é muita loucura você voltar no tempo e ver como um mito internacional foi construído. Esse trecho começa em 1961, e a descrição mais intensa vai até 1966. Ou seja, 1961 é quando Shelton publica a sua elogiosa crônica sobre Dylan no New York Times, abrindo todas as portas para o sucesso (quando ele tinha 20 anos, pois Dylan é de 1941 – está hoje com 70 anos). E 1966 é quando ele faz uma turnê polêmica incluindo uma banda (The Band) e a guitarra elétrica nos seus shows, causando a ira dos fãs do folk. Enfim, as acusações eram várias, dentre as quais, de que Dylan, no início da carreira, criticava as desigualdades sociais, com letras politizadas e tudo o mais, mas estava comprando carros e mansões pelos Estados Unidos afora. Nesse período da narrativa do nascimento de Dylan até 1966, que acho que ocupa também numericamente a maior parte do livro, estão incluídos alguns casos mais particulares de romances e loucuras vividos por Dylan. Curiosamente, como Dylan se casa, se não me engano em 1965, a partir dessa data o relato passa a ser meramente sobre o trabalho profissional de Dylan, o que é compreensível, porque fica claro nas entrelinhas que Dylan não gostava que o seu casamento (que resultou em cinco filhos) fosse abordado pela mídia, quem dirá ainda por Shelton, que escreveu a biografia com o aval de Dylan. Ou seja, o livro é muito bom em vários sentidos, mas dá para perceber que não tem nada muito bukowskiano na história, creio eu, que por essa parceria do jornalista com o objeto pesquisado.
Mas, analisando agora o Bob Dylan, e não o autor do livro (que faleceu em 1995), também vou elencar alguns pontos, tendo como único critério a minha memória.
Primeiro: Bob Dylan passou por toda aquela confusão mental de um adolescente que se criou em uma cidade no cu do mundo, pequena, formada exclusivamente por classe média e classe A. Inadaptado ao sistema, ele vai buscar sua própria vida em Nova York, entretanto, ele leva consigo muito da sua cidade pequena, que acaba se refletindo em suas atitudes.
Segundo: independente do seu talento, fica claro no livro que ele é (ou pelo menos era) um individualista, que fez de tudo para conquistar a fama, e depois veio com aquele papinho de “ai, eu não entendo as pessoas, sou apenas um ser humano falando coisas sobre a vida”. O caralho! Ele rastejou atrás da fama, fez de tudo para ficar famoso, inclusive, renegou a família e construiu histórias mentirosas para construir um personagem que batesse com o que ele queria dizer, afinal, ele imaginava que as pessoas não curtiriam uma música criticando as desigualdades sociais se soubessem de onde ele vem. Inclusive, num dado momento, alguém comenta sobre Dylan que ele não é capaz de amar outra pessoa como a si mesmo (provavelmente uma ex).
Terceiro: querendo ou não, ele era um mimado. Por mais que tenha feito programa (sexualmente falando) para sobreviver logo que chegou a Nova York, pois não tinha de onde tirar grana, ele ficou de beiço com a imprensa quando ele deu uma entrevista inventando um monte de história sobre o seu passado e o jornalista foi checar as informações e escancarou aos leitores a história inventada x a história real. Depois disso (e aí sim até considero um mérito) ele só passou a dar respostas irônicas para a imprensa, do tipo, o jornalista pergunta “quem te inspirou?” e ele responde “sei lá, acho que o rato de estimação da minha família”. Enfim, isso tudo ajudou a formar o mito que ele é.
Quarto: apesar de ser um mimado e mentiroso, ele foi fodão. Inclusive, ele mentia de forma bem intencionada na maioria das vezes. Não tem como negar a qualidade das letras das suas músicas e o que ela representou para o rock mundial. Ele também pensou lá na frente quando aderiu a guitarra elétrica e, nesse ponto, concordo com ele, pois Dylan queria apenas fazer o seu som, sem agradar ou desagradar ninguém. Ou seja, o grupo folk, que construiu no seu imaginário um santo do gênero, não sacou que na verdade Dylan não encarava a coisa toda dessa forma. É como o cara que se apaixona platonicamente e quer cobrar da amada algo em troca.
Quinto: ele, como a maioria dos homens, caiu nas armadilhas dos relacionamentos. No período em que foi casado com Sara (foto de 1969), de aproximadamente uns 10 anos, ele ficou afastado das turnês, praticamente não lançou nenhum álbum, etc. Enfim, se fudeu, pois no fim levou um pé na bunda e a ex-mulher ficou com os cinco filhos e metade da grana dele. Depois disso ele agendou uma série de shows, e a turnê foi apelidada ironicamente de “turnê da pensão”, já que ele tinha pensão de mulher e cinco filhos para pagar.
Sexto: Porra, tem que considerar ainda os caras que andavam com ele, principalmente Allen Ginsberg. Além disso, ele conheceu outros fodões da música, do cinema e da literatura, como John Lennon e o resto da galera dos Beatles, Eric Clepton, Elvis, Jack Kerouac, Norman Mailler, Jack Nicholson e até o Marshal McLuhan é mencionado no livro! Ou seja, um fodão no meio de outros fodões.
Bom, finalizando, uma última consideração sobre o livro. Como disse antes, Shelton apresenta o troço todo jornalisticamente, mas teve várias vantagens em relação a outros autores: era amigo de Dylan. Com isso, pôde testemunhar várias histórias, como por exemplo, quando ele viaja com Dylan no jatinho particular do cantor em meio a uma turnê. Como jornalista cultural, também apresenta em vários momentos um tom de matéria analítica sobre o conteúdo produzido por Dylan. É um livro que não traz muitas fofocas, no sentido de revelar coisas bizarras sobre Dylan, mas que mesmo assim acaba te prendendo. Quem já curte Bob Dylan talvez aproveite melhor o livro do que eu, mas aqueles que, como eu, não sabiam muita coisa sobre ele, também vão curtir, pois cada história contada acaba sendo uma novidade.
Enfim, já escrevi muito por hoje. Quem quiser saber mais que vá ler o livro, porra!
Hasta!

A alegre divorciada

Assisti hoje, em um canal que tem aqui na mãe que só passa filmes antigos, a tal de “A alegre divorciada”. Peguei o filme no início quando o ator Fred Astaire começou a dar um show de sapateado em uma sala. Trata-se de uma mescla de musical com romance e comédia.
Como sei que o vagabundo leitorinho dificilmente se prestará a ver esse filme, vou contar a história. Mimi é uma loira vistosa que quer se separar do marido. Apesar do filme ser norte-americano, a história se passa em Londres, mas não me pergunte o por quê. Enfim, para se livrar do traste, que praticamente não a vê, pois ele passa viajando, ela procura um advogado. Em meio a tudo isso um maluco chamado Guy, que é interpretado por Fred Astaire, apaixona-se platonicamente por ela, e sai correndo atrás do seu grande amor. Sinceramente, porra, sinto falta desse tempo em que as pessoas se apaixonavam platonicamente por outras.
Como na época o divórcio era um troço muito foda de acontecer, o advogado da Mimi sugere que ela seja vista em público com outro, pois assim seu marido pediria o divórcio. O plano é feito, mas o advogado, que é amigo de Guy, acaba o convidando para acompanhá-lo ao hotel onde toda a trama será posta em prática. Quando estão todos no hotel, o contratado para cumprir o papel de amante de Mimi não consegue a encontrar, e Guy acaba falando sem querer a senha que faz com que Mimi pense que ele é o contratado. Então, ela fica furiosa com Guy, achando que ele tramou tudo só para vê-la, quando na verdade ele não sabe de nada. As coisas vão acontecendo até que a confusão é desfeita, mas, quando no final do filme o marido de Mimi chega e pega ela, primeiro, com o ator e depois com o Guy, o corno acaba surpreendendo a todos e não quer dar o divórcio de jeito nenhum. O troço todo só termina quando um garçom meio atrapalhado, sem querer, acaba contando para todos que o marido de Mimi também tem outra. E, assim, como nos velhos tempos, Mimi e Guy viveram felizes para sempre, cantando, dançando, se amando e se beijando.
É um filme muito bem bolado, com uma narrativa rápida e interessante, que deixa muito filme dos anos 2000 para trás em todos os aspectos. Há pouco fui pesquisar na internet para ver o ano desse filme e, assim como pasmei, acho que vocês também devem pasmar: 1934.
Quem quiser ver o filme, vale a pena. Quem não quiser, que vá pentear macaco.
Hasta!

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma alemoa fodona

Algumas pessoas são foda. E um número menor ainda você percebe que é muito foda logo da primeira vez que a vê. Nunca fui muito ligado em música. Até hoje tem uma porrada de músicas que curto, mas que não faço idéia de quem cante, por mais famosa que a pessoa ou a banda possa ser. Mas, quando encontro essas pessoas fodas, inclusive quando no mundo da música, tento ver se capto um pouco da sua arma fodástica que as tornam tão fodas. Quando é algum maluco, até tento observar algum ponto na personalidade ou no estilo e tento incorporar de alguma forma no meu mundo. No Brasil, pensando em música, curto vários caras fodões e com estilos bem diferentes: Humberto Gessinger, Lobão, Renato Russo, Cazuza, Rodolfo dos Raimundos dos velhos tempos, etc. Dos clássicos, há vários, mas agora estou numa onda Bob Dylan, pois faltam só 100 páginas para terminar o No Direction Home. Ao ver que fiquei tanto tempo sem conhecer a vida de um cara fodão, penso: “bom, antes tarde do que nunca”. O mesmo vale para a literatura, que vai dos clássicos Cervantes e Shakespeare, passando por D.H. Lawrence, Defoe, Poe, Balzac, pela galera beat, pelos contemporâneos, pelos locais, e por aí vai. Tem muita gente fodona no mundo.
E nessa semana descobri uma mulher muito fodona. Não preciso nem conhecer a sua biografia, pois, senti na hora em que a vi na tela da televisão que se trata de uma mulher fodona no sentido puro do termo. E isso a valoriza ainda mais, pois, se pensarmos que vários falsos fodões tentam se lançar goela abaixo para dentro do estômago do público, uma mulher fodona como essa que vi tem o seu valor quadriplicado.
Bom, fazer qualquer elogio quanto a sua beleza física e estética é redundante. O que me chamou a atenção mesmo foi a sua postura. Ela, que inglhttp://www.blogger.com/img/blank.gifesa e só dois anos mais nova do que eu, tem ritmo, coragem, agressividade, firmeza e força combinadas com sutiliza, conectividade, espiritualidade, enfim, acho que todos os adjetivos, inclusive os mais redundantes, como ousadia, podem resumidos a palavra que a define bem: trata-se de uma cantora, pessoa e alemoa fodona. Uma dessas que deve dar gosto de conhecer e (CENSURADO). Não se tem muito sobre ela na internet, só o básico (não vou repetir aqui, o vagabundo leitorinho que vá procurar) e como ela não chega a ser uma hiper-celebridade, acho que tão cedo não vai sair nada biográfico de mais profundo sobre ela. Enfim, com certeza muitos leitorinhos já a conhecem bem melhor do que eu a muito mais tempo, mas sou meio bocaberta nessas coisas, como já falei. Ah, e ia esquecendo de dizer seu nome: Katie White. Ela faz um dueto com um tal de sortudo Jules de Martino. Ah, e ia esquecendo, apesar de ser gostosa ela não apela para isso, pois sua personalidade foda consegue superar até a sua gostosura.
Hasta!

Complementando...

Para complementar o texto anterior, leiam essa matéria:

http://wp.clicrbs.com.br/noroestemissoes/2011/12/28/bebe-teria-sofrido-fraturas-durante-parto-em-hospital-de-santo-angelo/comment-page-1/?topo=77%2C1%2C1#comment-74

Os fatos dispensam comentários (aliás, postei lá meu comentário).

Censura: a eterna assombração

Fiquei sabendo dia desses, quase que por acaso, que o Sindicato Médio do Rio Grande do Sul fez um registro de ocorrência na Polícia Civil contra a Rádio Sepé Tiaraju (!?!?!?!). Como relatei aqui outra vez, no texto “Cadê a minha passagem???”, os próprios policiais civis já me disseram que qualquer um pode ir lá e falar o que quer, pois um registro policial não prova nada, é apenas um indício para o início de uma investigação. Um registro não é a condenação ou a absolvição do denunciado. Como diz o próprio nome, o registro é simplesmente um registro.
Independente de quem tenha razão nessa história toda, o fato envolvendo a rádio e o Sindicato nos leva a pensar sobre dois problemas graves, que acompanham historicamente o nosso lastimável país: a censura e o despreparo profissional nas mais diversas áreas.
Comecemos pela censura. O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul não tem nenhum poder legal para censurar previamente qualquer veículo de comunicação. Os trabalhos dos médicos prestados ao público não pode ficar imune de críticas ou de fiscalização por parte dos órgãos competentes e da própria imprensa. Se os médicos atendem com displicência aos seus pacientes (estou falando hipoteticamente, pois não sei se isso ocorre ou não) esse atendimento desumano deve ser, sim, denunciado e criticado, gostem os médicos ou não. E aí podemos mesclar o ponto um com o ponto dois: devido a um (hipotético) despreparo profissional de alguns médicos, o Sindicato tenta censurar os meios de comunicação (fato).
Sempre falo para os meus alunos que nós e as futuras gerações NÃO PODEM SOB HIPÓTESE ALGUMA esquecer o nosso passado recente de ditadura, pois volta e meia esse fantasma volta a querer nos assombrar com medidas absurdas e descabidas. Se as próximas gerações não conhecerem o que se passou, principalmente após o golpe de 1964, até a retomada parcial da democracia na década de 1980, logo, logo estaremos cometendo os mesmos absurdos que eram cometidos nos tempos de nossos pais, avós e bisavós. Além do que está nos livros de história, todos, aqui em Santo Ângelo mesmo, têm histórias bizarras daquele tempo. Eu, por exemplo, tive um tio que na época foi preso ao falar mal do governo em um bar. Pois medidas como essa do Sindicato, de querer intimidar a imprensa com um registro policial nos remetem a esse período ditatorial (inclusive, queria ler esse registro, mas devido a distância Santo Ângelo-Pelotas, no momento é inviável).
O outro lado, alegado pelos médicos, do despreparo profissional do comunicador, também nos remete a refletir sobre a própria mídia. E é simplesmente por isso que aguardo com expectativa a votação em segundo turno da PEC que prevê a volta da obrigatoriedade do diploma de jornalista para exercício da profissão que ocorrerá nesse início de 2012. Não estou me referindo especificamente ao caso Sepé x Sindicato, mas sim, de maneira geral: os maus profissionais da imprensa em 99,99% dos casos, ou não tem diploma, ou cursaram uma universidade em que a mensalidade garante a aprovação no curso. E isso nos remete a repensarmos o mercado, financeiramente falando, que se tornou boa parte do ensino superior privado em nosso país (e até o público, com cursinhos pré-vestibular, etc). Mas isso já é outra e longa discussão.
Um feliz 2012 a todos. Até lá!

*Texto publicado em A Tribuna Regional

sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL!!!!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mias um belo poema de minha autoria


Essa noite eu sonhei
Que estava na Paraíba
Mas quando eu acordei
Estava de ressaca no Guaíba

Sonhei que estava na beira do mar
Mas na verdade eu estava
Prestes a vomitar
E eu não sabia se vomitava
Ou cantava

Então primeiro cantei
Pensando em ti
E na beira do Guaíba chorei
Enquanto cantava para um lambari

E eu beijei a boca do lambari
Pensando na sua boca
Mas foi então que lembrei
Que você é meio louca

Então larguei o lambari
E antes de voltar a dormir
Eu sorri
Pois sabia que outra vez
Para outro mundo eu ia partir

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A crise dos 7 anos

Antes de completar sete anos de casamento, já prevendo a crise dos sete, o casal resolve procurar um analista especialista em ganhar dinheiro com casais em crise.
- Como é o sexo de vocês?
- Sexo, que sexo? – pergunta ele.
- É. Explique-se doutor?
- Bom... Vocês não fazem mais... sexo?
Os dois se olham com canto de olho e explodem em uma longa gargalhada.
- Ahhhh ahhhh ahhhhh, doutor, o senhor é uma parada... – diz o homem. Retomando o fôlego, ele completa – bem, na verdade faz... deixe-me ver... um mês e.... um mês e cinco dias que não rola nada...
- Um mês e sete dias – corrige a mulher. – A última vez foi no feriado de 20 de setembro, quando o Bernardo foi dormir na casa do tio dele e nós dois bebemos bastante e acabamos tirando a roupa e tal....
- É mesmo, é mesmo – confessa o marido, sem coragem para admitir que não lembra de absolutamente nada disso.
- Bom – interrompe o doutor. – Então vamos começar pelo básico. Para vocês superarem a crise e voltarem a viver como dois pombinhos, primeiro vocês devem voltar a descobrir o prazer carnal um no outro.
Os dois se olham, desconfiados. O doutor já esperava essa surpresa, afinal, é sempre assim. Ele respira fundo e continua.
- Minha metodologia é diferente da maioria dos demais profissionais. Defendi na minha tese de doutorado que um relacionamento depende incondicionalmente de sexo. De nada adianta amizade, carinho, compreensão, se nada acontece debaixo dos lençóis. Então, vamos tratar vocês começando justamente pelo final: partindo do sexo até chegarmos aos outros pontos.
Os dois permanecem calados, olhando seriamente para o doutor.
- Bom, como diria o analista de Bagé, vamos apurar o negócio que a sala de espera ta cheia de louco me aguardando. Como tema de casa quero que vocês tentem fazer sexo e que sejam sinceros um com o outro. Doa a quem doer, falem a verdade sobre o que estão sentindo. Conversem. Não trabalhem para depois simplesmente dormir. Falem sobre o que vocês pensam um para o outro, com sinceridade, sem censura. Essa primeira etapa é a mais difícil. Caso vocês passem por ela, as outras serão fáceis.
O doutor se levanta, abre a porta, e lhes deseja uma boa sorte e um bom trabalho.
- Obrigado, doutor – diz ele.
- Obrigada, doutor – diz ela.
A noite aparece e os dois deitam na cama. Chegou a hora. O homem pensa em ir até a geladeira e abrir uma latinha de cerveja para facilitar o trabalho. “Assim consigo imaginar coisas mais facilmente”, pensa. Acaba desistindo, pois sabe que ela detesta o seu bafo de cerveja. Enquanto isso, ela pensa em inventar que está menstruada ou com dor de cabeça. Mas logo desiste da idéia, pois tem consciência que quanto mais adiar, pior vai ser. Melhor encarar agora. Os dois se olham.
- E aí? – diz ele.
- E aí! – responde ela.
Os dois se beijam. Como diria Humberto Gessinger, beijos sem paixão. Crime sem castigo. Os carinhos com as mãos são mútuos. Como estavam sedentos de carne, logo ele fica de pau duro e ela molhadinha. Ela desce a mão até o seu antigo amigo e começa a acariciá-lo. Ele fecha os olhos e geme baixo. Passa as mãos suavemente nos seus seios e depois desce pela barriga até chegar nas coxas. Puxa habilmente a calcinha para o lado, como nos velhos tempos, e tateia o objeto perseguido suavemente com o dedo médio. Ela geme e morde os lábios. Ele beija o pescoço. Sabe que essa tática não falha. Beija o queixo, e volta para os lábios, segurando-a pela nuca. A paixão está voltando, pelo menos por instantes. Fazia tanto tempo que não faziam absolutamente nada que agora nem sabem por onde começar: ela vai por cima? Ele? Ela vira de costas? Fica de quatro? Chupa? Fazem um 69? 69 é uma boa, pensa ela, que desce até o membro duro, colocando sua preciosidade na frente dos lábios dele, que não resiste e cai de boca. O 69 esquenta. Ficam nessa por um bom tempo, como antigamente. Então, ela larga o brinquedo e monta em cima dele. Dessa posição, partem para todas as possíveis e imagináveis: de quatro, tesoura, candelabro italiano, de pé, e termina com ele sentado na ponta da cama e ela em seu colo rebolando por cima. Em pouco tempo, após longos e furtivos gemidos, os dois caem estatelados no colchão, molhado de suor, sêmen e outras coisas. Deitam. Pensam. E agora? Chegou a hora da verdade.
- E aí? – pergunta ela.
- E aí! – responde ele.
- No que está pensando? – diz ela.
Silêncio.
- Em nada - responde ele.
Ela suspira, decepcionada.
- Se eu disser a verdade você me diz também?
- Claro – responde ela, sem muita certeza.
Ele respira fundo. Ainda está na dúvida entre falar a verdade ou mentir. Porra, depois que eles acabaram e deitaram na cama ele passou imediatamente a pensar em coisas banais. “Bom, mas já que estamos nessa merda, que se foda! vou falar a verdade”.
- Bom, depois que a gente terminou e deitou aqui... eu estava pensando... bom, eu estava pensando... – por um momento ele esquece que ela está no quarto e realmente fala no que estava pensando – estava pensando se esse tal de Moreno realmente vai dar certo jogando ao lado do Cleber, saca. Porque, sei lá, vê o Barcelona contra o Santos. O Santos tinha Neymar, Ganso, etc, mas não adianta ter vários bons jogadores que não são entrosados. Então, estava pensando se vamos terminar 2012 mais uma vez da forma como foram os últimos anos.... Sei lá, é muito triste, não sei se agüentaria...
Ele olha para o lado e ela está chorando.
- Você é um cachorro!
- Calma, meu bem, não é sinceridade que vale?
- Não! – ela explode em fúria – NÃO! NÃO! NÃO!
Ele a abraça e, depois de um longo tempo, pergunta:
- Bom, e você, no que estava pensando?
Ela instantaneamente pára de chorar. “E agora, meu Deus? Como vou falar a verdade? Ele não vai suportar... Bom, mas se eu tive que ouvir que ele estava pensando no time dele, então ele merece. Vou contar...”. Ela respira fundo e, também como se estivesse sozinha no quarto, desata a falar.
- Eu estava pensando no sexo que tivemos.
Ele fica com vergonha de sua própria insensibilidade. Enquanto ele pensava nas contratações de seu time, ela refletia sobre o sexo. Lembrou de um livro que viu uma vez num sebo: Porque os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor. Ou seria o contrário? Bom, pouco importa. De cabeça baixa, sentindo-se como um cachorro sem alma, ele a ouve dizer:
- Estava pensando se conseguiria fazer esse tipo de sexo com você...
Ele a olha com estranheza e mal ouve sua voz dizer: “como assim?”.
- É. Desde o início eu estava pensando no Anselmo. Desde que fechei os olhos e te abracei.
De súbito ele esqueceu Cleber, Moreno, Messi, Neymar e o caralho. Porra! Poderia estar pensando em tudo! Em absolutamente tudo! Em roupas para comprar, na casa que está bagunçada, nas contas do final do mês, enfim, em tudo, menos naquele porra daquele merda daquele Anselmo! Com isso, ele confirmava sua hipótese: ela nunca conseguira esquecer aquele crápula desgraçado. Mesmo com ele interpretando o ex-namorado da mulher, acabou se sentido traído. Ou pior: mais traído do que se realmente tivesse sido traído. Não agüentou a dor e, como uma criança, pôs-se a chorar.
Pouco depois, pegou suas coisas e foi para a sala dormir. No dia seguinte o divórcio foi encaminhado.
Sabendo do caso, o doutor pôs-se a repensar a sua teoria.
FIM

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

E a graça?


Tinha pensado em comentar algo sobre o jogo Barcelona 4x0 Santos, mas vou ficar apenas nas palavras sábias ditas por meu pai, seu Nabuco, quando o jogo estava nuns 15 minutos do primeiro tempo: "Esse jogo não tem graça. Eles não deixam o Santos pegar a bola".
Nada mais.

domingo, 18 de dezembro de 2011

No direction home

Assim que terminaram as aulas comecei a ler No direction home – a vida e a música de Bob Dylan, de Robert Shelton. Como é de se presumir, trata-se da biografia do pai da música pop/folk americana. É um livro de aproximadamente 700 páginas e estou recém na 150, portanto, ainda não tenho uma opinião formada sobre o todo. Só posso adiantar que a linguagem é muito próxima de uma grande reportagem de jornal/revista. Shelton conta as histórias com base nas declarações de amigos, parentes, desavenças, ex-namoradas e outras pessoas que conheceram Dylan, além do próprio músico. Ou seja, é um estilo bem diferente daquele do New Journalism de Capote, Talese, Wolfe e Cia, onde, a partir das entrevistas, eles contavam uma história romanceada, com personagens, narrativas, ação, etc. Resumindo tudo ainda mais, é uma linguagem claramente jornalística, com pequenas narrativas em primeira pessoa, mas no nome de Shelton, não de Dylan.
Por não ter tantos recursos literários, confesso que não era exatamente o que eu esperava, entretanto, o livro fica no meio-termo: não chega a empolgar, daqueles que você devora rapidamente de tão bom que é, mas também não é massivo e cansativo. Se você não tem tempo para lê-lo, não fica com as mãos tremendo em crise de abstinência. Mas se você está com tempo, você consegue ler umas 50 ou 100 páginas tranquialamente, sem se cansar muito.
Sobre a vida de Dylan, bom, ela segue um padrão da maioria dos músicos, como o Lobão, que já comentei aqui, e de outros: era de família de classe média alta conservadora, morava numa cidade pequena do Oeste americano e, assim que terminou o segundo grau, deixou tudo para trás em busca da fama e do sucesso, através de drogas, bebidas e sexo. Tem algumas peculiaridades na personalidade de Dylan, até a sua entrada na casa dos 20 que são interessantes, como por exemplo a fama que ele tinha de mentir para parecer mais do que era, a sua repulsa pela cidade natal, a criação de “personagens” para a sua própria personalidade. Aliás, esse último item, tratado no livro como algo diferente, considero absolutamente normal, pois todos nós assumimos diversas “personagens” conforme a situação/momento da vida. Enfim, o nome dele inicialmente era Bob Zimmerman, que depois virou Bob Dillon, para só depois virar Bob Dylan. A cada novo nome, uma nova personalidade.
Outra característica marcante na vida de Dylan, pelo menos até essa fase dos 20 e poucos anos, é o estilo de vida beat, meio On the Road, meio Hunter Thompson. Logo que chegou a Nova York, por exemplo, ele chegou a se prostituir para ter dinheiro para poder ir aos lugares que eram frequentados pelos músicos semi-famosos da época. Além disso, ele escolheu a dedo músicos, intelectuais, escritores, etc, para tentar sugar o máximo de conhecimento que pudesse deles. O resultado todos sabem, não é preciso ler o livro até o fim para descobrir...
Enfim, trata-se de um grande livro (em tamanho e qualidade) que vale a pena de ser lido quando não se tem muito mais o que se fazer.
Hasta.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O acasalamento do homem-ave

Nós, humanos, não somos muito diferentes das aves. E não digo isso apenas pelas comparações clichês, como por exemplo, o homem que dá em cima de todas as fêmeas da espécie que é chamado de galinha, assim como a mulher que se oferece para muitos homens, ou o goleiro ruim que é chamado de frango, ou ainda o cara corajoso que é chamado de galo e as mulheres que falam muito de caturritas ou papagaios. Além dessas metáforas que fazem parte do conhecimento popular, cheguei à conclusão de que a espécie humana segue rituais parecidos com os das aves ao ver um documentário em um canal como National Geographic ou Animal Planet mostrando como ocorre o processo de acasalamento da bicharada.
Analisem os bichos e depois saiam para a noite que vocês vão entender do que estou falando. O documentário mostrava várias espécies de aves em seus mais diversos rituais de acasalamento. Em uma delas, por exemplo, os machos todos vão dançar ao redor da fêmea, que fica ali, requebrando e analisando os candidatos. Pois é. Na noite, vocês vão ver as fêmeas mais cobiçadas cercadas por machos tentando dançar desengonçadamente, todos a comendo com canto de olho, enfim, todos tentando chamar a atenção e ganhar a disputa que tem a deusa seminua carnuda como prêmio principal. De cara, tanto a fêmea ave quanto a fêmea humana já seleciona dois ou três machos, que são aqueles para quem ela dá uma breve espiadinha. Os outros estão eliminados. Então, os sobreviventes vão até o fim, dançando e, por vezes, até se estranhando, discutindo, se empurrando, quiçá brigando, até que ela se decida por um, que chega à felicidade com a efetivação do acasalamento em uma cama de motel ou ninho de árvore.
Já outras espécies, como o pavão, mostram a sua plumagem para a fêmea. Quem tiver a plumagem mais atraente, leva. Algumas fêmeas gostam de tamanho, outras da combinação das cores. No caso do pavão. Já no caso do ser humano, algumas gostam da beleza física, outras gostam da roupa, outras gostam do estilo, outras gostam do carro, outras do gostam do... bem, você sabe... Enfim, a plumagem do ser humano pode ser tudo isso. Mas, assim como no caso dos pavões, a fêmea mulher também terá uma vasta possibilidade de escolhas, pois vários homens tentam a seduzir com carro do ano, roupa de marca, o estilo descolado, o enchedor de saco da cueca, etc. E, por fim, ela vai escolher só um. Pelo menos um por vez. Ou não, também, hoje em dia, vá saber...
Mas não nos desconcentremos. Seguindo a relação homem-pássaro, tem-se ainda as espécies em que o macho tenta conquistar a fêmea pela voz. É o caso, por exemplo, Pisco de peito azul. Essa metáfora também é infinita. No caso do homem, pode ser um cantor que conquista a fêmea pela voz, de forma idêntica ao pássaro, ou ainda podemos metaforizar o troço dizendo que pode ser o cara que conquista pela conversa, pela lábia, pelo conteúdo, pela mentira ou até mesmo pela voz sexy. Porém, como em todos os outros casos, é uma fêmea tendo vários machos brigando por ela.
Enfim, independente da forma de acasalamento e da espécie (homem ou ave) o fato é que só os melhores sobrevivem. E nas duas espécies, um macho que canta, dança ou se exibe bem vai pegar várias fêmeas, enquanto os outros vão pegar as sobras e olhe lá. É a natureza inexplicável. Alguns tentam se adaptar, outros ficam indignados com o processo, e um terceiro e seleto grupo se consagra sem pensar sobre o assunto.
O fato é que isso tudo é fato e nada mais.