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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A morte da assinatura de um assinante morto

 



            Cancelei a minha assinatura do jornal Dário Popular. Hoje. Está certo, atento leitor, eu sou colunista do Diário Popular, aqui de Pelotas. E, não se espante: sim, como colunista, se eu quiser ter acesso ao jornal, eu tenho que assiná-lo, pagando integralmente a anuidade ou a mensalidade. E vou morrer. Segundo o meu amigo, escritor e médico Sérgio Stangler, eu vou morrer em breve. Para a sorte do Sérgio, talvez ele fique rico por dois motivos: um, ele vai ter acertado a premonição e, portanto, vai poder além de ser médico dizer que é algo como Pai de Santo ou vidente; e, dois, eu tenho um livro escrito, o melhor que já produzi (de todos os quatro) que está nas mãos dele, pois não encontrei nenhuma puta editora que tope publicá-lo me pagando um mínimo percentual das vendas. Assim, pedi para que, quando eu morrer, ele fique responsável de publicar todas as bobagens que são doidas demais para não serem compartilhadas com humanidade. E, na cabecinha dele, isso deve ter algum valor monetário (algo que eu não acredito muito em um país como o Brasil). Mas tudo bem, cadum, cadum.

            E o que uma coisa tem a ver com a outra??? Ora, muito fácil. Primeiro vou explicar os motivos do meu cancelamento da assinatura. Creio que, assim, rapidamente o astuto leitor vai ligar uma coisa com a outra. A minha assinatura semestral venceu dia desses. Veio a cobrança e eu não paguei. Assim, imaginei que parassem de enviar o jornal. A minha ideia era parar com a assinatura no último mês de 2021, pois fico até metade de fevereiro de 2022 fora de Pelotas, assim, voltaria a assinar quando voltasse, normalmente, tudo na paz do Nosso Senhor. No entanto, a cobradora do jornal veio me cobrar. Disse que eu devia para o jornal. Eu quis saber como ãnsim (?!), como perguntam lá nas missões. Ela explicou que eu não havia pago o boleto que tinham me enviado. Então eu expliquei toda essa história da viagem e tals. Ela cagou pra mim e disse que eu não podia fazer isso, pois teria que pagar pelos jornais que recebi, em um tom que me senti um vigarista, um Zeca Urubu, um caloteiro que queria ficar rico dando golpes em inocentes jornais do interior gaúcho. Tentei dizer que eu era assinante e colunista, que eu só queria negociar o troço todo, mas ela cagou pra mim e ponto. Para ela, o negócio se resumia a: VOCÊ DEVE, VOCÊ PAGA! That’s it.

            Achei tudo meio estranho. Estou fazendo um curso de finanças e, além do que já havia estudado sobre administração durante o próprio curso de Jornalismo, eu havia aprendido que as empresas não sobrevivem sem cientes. E um leitor de um jornal, para uma empresa jornalística, é um cliente. Se são 20 mil assinantes, são 20 mil clientes, e se tratar todos assim durante muito tempo, cedo ou tarde a casa cai, mesmo que leve gerações. Então, lembrei de todos os lugares em que trabalhei e que convivi com funcionários que cagavam pra todo mundo. Pensei: “essa é um desses tipos”. Contatei instâncias superiores e obtive o mesmo resultado: cagaram pra mim novamente. Bueno, diante disso, só vi uma solução: cancelar a assinatura para toda a eternidade.

            Entenderam a relação disso com a minha morte?? Não?!?! Está bem, vou desenhar para o burrinho leitor compreender. Imaginemos que eu mantivesse a assinatura do Diário Popular. E, uma semana depois, a premonição do Sérgio Stangler se confirmasse e eu batesse as botas. Eles continuariam com todos os meus dados e seguiriam enviando o jornal para o meu endereço. Tentariam me cobrar no celular, no e-mail, enviariam mil boletos para lotar a caixinha de correspondência, que chegaria para futuros inquilinos desse apartamento e que as colocariam no lixo sem abrir. Eu, como estaria mortinho da Silva, não responderia às mensagens de whatts nem aos e-mails. A cobradora rapidamente concluiria que eu havia sumido para dar golpes em outras cidades interioranas no meu plano de enriquecer rapidamente. Assim, as cobranças viriam e viriam e viriam e viriam até que depois de, sei lá, alguns anos, alguém lá no jornal diria, com ar de Sherlock Holmes:

- Hei! Esse tal de Eduardo Ritter está recebendo o nosso jornal há décadas e nunca nos paga!!! Vamos pegar ele!!!

            Nesse período, a senhora patroa seria viúva e minha filha estaria formada, trabalhando, quando numa bela tarde de sol aparece um sujeito engravatado para entregar uma cobrança judicial. A viúva abriria o papelzinho e cairia dura para todo o sempre ao ver as cifras da cobrança. E minha pobre filha, teria que trabalhar arduamente durante anos e anos para pagar a dívida do velho pai morto, que não quis cancelar a assinatura do jornal que cobra infinitamente aos seus assinantes enquanto eles não procurarem o jornal para efetuar o cancelamento.

            Entenderam agora? Ah, e vocês também devem estar se perguntando: Bueno, o Stangler é um médico conceituado. Ora, se ele dissesse que eu iria morrer, eu procuraria todos os médicos para fazer todos os exames possíveis para evitar a minha partida para ao além. Mas calma, apressado e angustiado leitor. Os motivos não são um câncer ou veias entupidas, gases ou excesso de hemorroidas. Não. Segundo ele, eu vou morrer por causa da neblina que apareceu lá em Araçá, do lado de Capão, e por causa de uma toninha desfalecida encontrada na areia. E, para confirmar, teve o quero-quero que morreu do coração lá nas dunas enquanto perseguia a cadela dele. Eis a frase, ipsis litteris: “De tantos presságios, não pude evitar de entender o que me estava sendo avisado pelos céus: o Eduardo Ritter vai morrer!”. Bueno, diante disso, me sinto mais aliviado em ter encerrado a assinatura do Diário Popular.

Hasta o além!

 

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