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domingo, 24 de janeiro de 2021

A garota de Cassidy

 Pouco antes do Natal, zanzando por uma livraria, encontrei “A garota de Cassady”, de David Goodis. Li o resuminho na contracapa e gostei: o texto da edição da L&PM dava a entender que era um estilo meio beat, meio Bukowski, meio maldito e meio suspense. Terminei de ler hoje as suas 215 páginas da edição pocket. Considerei razoável, porém, com um final decepcionante.



Apesar de ser uma boa história, a linguagem é bem diferente do texto cru de Bukowski, por exemplo. Cenas de sexo são descritas sem palavrões. A única semelhança é a bebedeira: praticamente todos os personagens são alcóolatras. O protagonista é um desgraçado sob o ponto de vista da sorte. Resumindo, dificilmente possa existir alguém tão azarado quanto ele no mundo real. Cassidy – esse é o seu nome - era um piloto de avião que se mete numa enrascada e é preso algumas vezes até que acaba se escondendo no interior americano. Lá, refaz a vida, casando-se com uma megera bêbada, agressiva e possessiva. Então, há uma dúvida de quem é a garota de Cassady: a esposa ou Doris, uma alcóolatra igualmente azarada na vida por quem ele se apaixona. Para resumir, ele se mete em uma confusão parecida com a que tirou ele da avaliação, mas agora dirigindo um ônibus. Aí começa todo o suspense que caracteriza Goodis como autor noir. Porém, dessa vez, não darei spoiler nem para o eu do futuro.

Limito-me a dizer que é um romance bonzinho, que fica lançando mil perguntas para você seguir lendo, atiçando a curiosidade, mas que beira ao extraordinário. Ou seja, a sequência de acontecimentos não são muito verossímeis. Faltava apenas super poderes, como voar ou atravessar paredes, para ser um romance de super herói, apesar de que o herói, nesse caso, é um anti herói azarado ao extremo. E temos ainda o final do livro, que me decepcionou demais. Eu esperava uma coisa e aconteceu o oposto. Porém, é um oposto meio happy end que reverte o caráter que alguns personagens demonstravam na narrativa até ali. Senti-me enganado, no mau sentido.

Acabei lendo esse romancezinho intercalando com a coletânea de reportagens “Fama e Anonimato”, do Gay Talese. Já tinha lido “Frank Sinatra has a cold” (que aparece nesse livro), porém, nunca tinha lido essa obra na íntegra. Agora estou lendo e devo acabar na próxima semana. Voltei a intercalar dois livros depois de bastante tempo e, vou confessar, foi uma bela repetição de experiência, pois assim como as histórias de Talese pegam os Estados Unidos dos anos 1950, 60 e 70, o texto de Goodis acontece no mesmo país nos anos 1940/50. Ou seja, mesmo sem querer, parece que os personagens de um livro se relacionam com os do outro. Claro que, para você fazer todo esse paralelo, uns latões de cerveja ajudam. Enfim, não me atrevo a indicar ou não “A mulher de Cassidy”, pois penso que alguns provavelmente vão adorar, enquanto outros vão odiar. Para mim, foi um livrinho interessante, mas que não chegou a me surpreender – uma boa história com final decepcionante. E isso é tudo.

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