Black Bazar
Tudo isso aprendi com as histórias
de fundo de Black Bazar, porque esse não é um livro de história, nem um romance
histórico, nem um livro-reportagem, nem nada do gênero. Trata-se de um romance
ficcional escrito por Alain Mabanckou e publicado em português pela editora
Malê. O enredo é o seguinte: o personagem principal vive em Paris e arranja uma
mulher com quem tem uma filha. Ela o abandona para voltar para o Congo pequeno
com o amante, que é seu primo. Não tem spoiler
nisso, pois desde o início fica claro que essa é a trama. No entanto, nas
páginas que se seguem, o personagem-narrador vai contando o que aconteceu,
desde que conheceu a moça (que é francesa, descendente do Congo), até as brigas
e o fato dele desconfiar que a filha não é fruto do seu relacionamento, mas sim
do caso da mina com o amante, etc. É escrito quase que num formato de coletânea
de crônicas, ou seja, é uma linguagem e um estilo que variam entre o cômico, o
irônico e a contextualização histórica com as explicações que apresentei no
primeiro parágrafo desse texto. O mérito é ter um enredo e um texto leve, para
ser lido para relaxar: não tem nenhuma trama mirabolante, nem jogos temporais,
nem nada que exija muito do leitor para entender o troço todo. Enfim, depois de
ler O som e a fúria, de Faulkner, é como você estar tomando cachaça e passar
para uma cervejinha bem light.
É um bom livro, mas também não tem
nada de espetacular. Claro que se pode fazer uma leitura sob a perspectiva de
que o autor conta o cotidiano de imigrantes africanos em Paris – algo
sociologicamente importante -, bem como as diferenças e até rivalidades entre
os africanos de diferentes países – nigerianos, costa-marfinenses, congoleses,
sul-africanos, angolanos, etc. Ah, outro ponto importante é que o personagem
não chama os outros personagens pelo nome, mas sim, por apelidos. Ele próprio é
o Bundólogo, devido a sua tara por bundas. Ele analisa as mulheres – e suas
personalidades – conforme o formato e o movimento da bunda. Se fosse comparar
com um autor brasileiro, o estilo dele me lembrou um pouco o do David Coimbra
dos velhos tempos (o que falava de relacionamentos, não o atual, que quer se
meter a falar de política e outros assuntos sérios e acaba exagerando nos
clichês e nas bobagens).
Pesquisando sobre o autor, descobri
que ele é do Congo pequeno, da mesma cidade do personagem da obra (mas não
descobri se o livro tenta ser uma autobiografia ou não) e que atualmente ele é
professor de Literatura na Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Para
resumir, mesmo não colocando essa obra numa imaginária lista de 50 melhores
livros que já li, pretendo ler outras obras dele, justamente pelo seu estilo
leve, para descontrair e para refletir sobre relacionamentos (que tem os mesmos
prazeres e problemas no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no Congo, na
China, no Japão, na Groelândia, no Paraguai, no México, no Polo Norte, etc). O
ponto fraco da obra, para mim, são os parênteses muito extensos que ele usa
para contar histórias paralelas que não tem nada a ver com o enredo principal,
como por exemplo, quando ele conta sobre o assassinato de um político antigo do
Congo pequeno que foi assassinado pelo presidente por ter comido a cafetina
amante do chefe de Estado. Acho que ele se estendeu demais nessa história que
não tinha nada a ver com o drama do protagonista. Há uma ou outra historinha
nesse sentido, mas, na literatura nada se perde, tudo se aproveite (nem que
seja para espantar a insônia).
Para concluir, fazendo um parecer
final do livro para o enxerido leitor, meu veredicto final é: indico.
1 Comentários:
Eu quero ler. Traz pra mim em janeiro!
Por Nara Miriam, às 12 de dezembro de 2020 às 04:02
Postar um comentário
<< Home