David Copperfild – Parte 3 - Contém spoiler
Novamente, desgraçado e enxerido leitor, abandone esse texto. Como já disse nos anteriores, é apenas para consulta pessoal futura para lembrar sobre a história/enredo dessa obra prima escrita por Dickens no século XIX. Bom, terminada a leitura, quando minha massa cinzenta já tiver deletado todas as impressões que agora sinto acerca dessa narrativa, vale lembrar inicialmente que se trata de uma obra prima com uma linguagem muito tranquila e que pode ser lida da mesma forma que pode ser assistida uma novela ou uma série. Repetindo: são várias tramas que se desenrolam paralelamente, com muito drama, amor, casos mal resolvidos, intrigas e trajetórias de variados personagens que se cruzam. A narrativa é em primeira pessoa, na voz de David Copperfield, mas isso não impede que se tenham narrativas secundárias, como acontecem nas telenovelas.
Mas vamos às lembranças para o
futuro e spoilers para o enxerido leitor que ainda não abandonou esse texto.
Comecemos pelo protagonista. David Copperfield se casa primeiro com Dora, após
a morte do pai dela. As três tias da pequena mimada autorizam o namoro à moda
antiga, depois o noivado e depois o casamento. Dora é super frágil, tanto
física quanto emocionalmente. Qualquer “não” dito por Copperfield faz com que
ela caia em prantos e grite “então por que você casou comigo, se me odeia
tanto?”. Enfim, Copperfield acaba sempre fazendo as vontades dela, que pede
para que ele a chame de “filhesposa”, numa referência a uma mistura de filha
com esposa. A tia de Copperfield também mima ela e se torna uma senhora rígida
mas de coração muito bondoso. Porém, para ficar apenas na história do
protagonista nesse momento, Dora fica doente e morre (claro que isso implica
num puta drama que consome páginas e páginas). Copperfield viaja pela Europa,
fica três anos longe (a maior parte do tempo na Suíça) e quando volta se dá
conta de que ama Agnes. Aí começa um longo trecho em que ele alimenta um amor
platônico pela amiga de infância mas não tem coragem de declarar. A tia dele
faz a intermediação até que numa cena marcante ele declara o seu amor enquanto
Agnes complementa dizendo que sempre o amou e que Dora havia autorizado o
relacionamento antes de morrer (de certa forma, percebe-se em vários trechos do
livro um moralismo típico da época, tipo, o viúvo só pode casar de novo se ele
imaginar que a morta autorize). No fim do livro eles estão casados há dez anos
e com três filhos. Copperfield se torna um famoso escritor com muita grana. Em
síntese, após vários dramas e perdas, o protagonista tem um final feliz.
Agora vamos aos outros personagens.
Bueno, com Dora e Agnes – em síntese - o destino é o relatado acima. Tradles, o
amigo dele, continua fiel até o fim e também se casa, tem filhos e atinge
sucesso profissional. A tia de Copperfield também o acompanha até o fim e
quando a narrativa termina ela está com mais de 80 anos, firme e forte ao lado
de Peggotty, a babá do protagonista, com quem ela havia tido problemas lá no início
da história. O irmão de Peggotty, que é chamado pelo mesmo sobrenome, acaba
encontrando Emily – a filha adotiva que havia fugido com o amante – e ambos
emigram para a Austrália. Lá eles são felizes até o fim da narrativa. Junto com
eles, partem a família do senhor Micawber, depois que esse entrega todas as
falcatruas de Uriah Heep (o grande vilão do romance). Não tenho como transcrever
todo o enredo, que tem mais de mil páginas, mas é uma cena digna do maior drama
hollywoodiano a cena em que a máscara de Uriah cai. Em síntese, ele era um
golpista profissional que se passava por coitado para conquistar a confiança
dos outros e depois aprontava para eles. No caso do pai de Agnes, o sr.
Wickfield, sua principal vítima, ele se aproveitou da idade dele para fazer com
que se metesse em negócios obscuros. Se passando por bonzinho, ele ajudou o
sujeito a sair dessa (mas sempre se endividando mais), mas sempre chantageando
para não contar para ninguém. E assim ele fez com muitos outros, como por
exemplo, coma tia de Copperfield. Ao final, ele é preso e todos aqueles que
foram enganados têm seus bens e finanças restituídos.
E Ham, o noivo abandonado de Emily?
Ele fica trabalhando duro no porto até que vem uma tempestade e, curiosamente,
ele e Steerthorth acabam morrendo em barcos diferentes no mesmo dia. O ex-amigo
de Coppefield abandonou Emily quando eles estavam morando na Suíça e volta a
aparecer na cena em que morre. Enfim, há outros personagens secundários no
meio, como a mãe e a babá de Steerthorth, mas não vou me ater a eles, senão
esse texto ficará deveras longo. Já o Sr. e a Srta. Murdstone (irmãos
responsáveis pela morte da mãe de Copperfield) conseguem dar o golpe do baú em
outra pobre moça que também está definhando devido às torturas psicológicas
impostas pela dupla. São os únicos vilões que se dão relativamente bem no fim
do romance. Claro que fica subentendido que, mesmo conseguindo dar golpes, eles
são podres de coração e alma e isso por si só já é uma punição. Há vários
outros elementos que nos fazem pensar acerca de fatos e acontecimentos contemporâneos,
mas isso fica para outro momento, pois certamente por um bom tempo, enquanto
estiver com a narrativa fresca na memória estarei fazendo essas relações. Uma
delas é o discurso de Uriah Heep, inclusive quando ele está na cadeia, de se
passar por bonzinho sempre tentando colocar a culpa nas vítimas, tentando tirar
proveito delas até a última possibilidade. Algo facilmente percebido no
discurso político ao longo dos séculos. A questão é que, isso não é nem do tempo
de Dickens, nem do nosso, é algo já abordado nas obras dos filósofos gregos
sobre discurso de séculos antes de Cristo. Ou seja, pessoas sem escrúpulos como
os atuais fanáticos por partidos e políticos sempre existiram e, infelizmente,
sempre existirão.
Bueno, com isso finalizo essa
síntese pessoal que, provavelmente, nunca mais irei consultar e também não será
lida por ninguém. Isso me leva a concluir que, in fact, esse texto nunca existiu.
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