Eu devia ter uns 18 ou 19 anos, não
lembro bem. Isso significa que estávamos lá por 1999. Naquele tempo, as
locadoras de fita em VHS bombavam. Ter uma locadora era um negócio bem
lucrativo. Para conseguir assistir aos lançamentos nos sábados era preciso
reservar com algumas semanas de antecedência. Uma alternativa era alugar filmes
em dia de semana, mas para quem estudava, era quase impossível. De vez em
quando eu encontrava na Max Locadora, em Santo Ângelo, o meu amigo Vinícius
Stein, mais conhecido como Vini. Na verdade, foi por essa época que conheci
ele, jogando futebol e truco com a gurizada que se encontrava no colégio Onofre
Pires. Nesses poucos encontros que houve na locadora ele sempre indicava
filmaços. Era mais ou menos como um guia: perguntava que tipo de filme eu
estava a fim de assistir e, diante da minha resposta, fazia indicações.
Comédia, drama, ação, suspense, etc. Num desses encontros casuais ele disse que
eu tinha que assistir ao Poderoso Chefão (Godfather,
no original). “Mas tem que assistir os três em sequência... São três filmes de
três horas cada”, ele me aconselhou e, ao mesmo tempo, advertiu. Aquilo ficou
gravado em minha massa cinzenta e não foi apagado nem com todos os tragos e
outras substâncias que ingeri ao longo dessas duas décadas.
No decorrer desses vinte anos eu
sempre esperei uma oportunidade pra assistir ao Poderoso Chefão. Porém, toda
vez que aprecia uma brecha, eu adiava pelos mais variados motivos. Veio o DVD no
início dos anos 2000 e, como nem todas as locadoras tinham os clássicos disponibilizados
na nova tecnologia e o vídeo cassete foi aposentado, o Poderoso Chefão foi
ficando pra trás. Surgiu a internet e, novamente aquela conversa lá do final
dos anos 1990 seguidamente voltava à minha memória. E, man, o Vini manjava de filmes! Devo ter alugado, naqueles tempos,
uns seis ou sete filmes com indicação dele e todos me impressionaram. Não
lembro o nome de nenhum (desconfio que o Resgate do Soldado Ryan foi um deles),
mas o fato é que na minha mente ficou associada a imagem do Vini à de um
especialista em bons filmes.
O barco foi andando, nesse tempo me
tornei pai e troquei os longas que eu gostava pelos infantis. Agora, de uns
tempos pra cá, estou voltando a ver filmes (ainda engatinho nas séries). E, no
final das férias e início de confinamento pelo Coronavírus eu tenho feito
algumas maratonas cinematográficas. Assim, finalmente, 20 anos depois daquele
encontro, exatamente HOJE (dia 23 de março de 2020) eu assisti ao terceiro
filme da trilogia Todo Poderoso Chefão. E, man,
valeu a pena esperar.
Primeiro, sinto-me feliz por ter
assistido apenas agora, com 38 anos. Provavelmente não teria aproveitado tanto
se assistisse lá em 1998/99. Claro, seria uma boa ter assistido naquele tempo
para, 20 anos depois, reassisir. Mas confesso que raramente vejo uma película
duas vezes. As exceções são as que a minha nenê assiste, mas aí não tenho
opção. Ela liga na TV e, pá, assisto dez vezes a mesma coisa.
Assisti ao Poderoso Chefão na
quinta-feira (dia 19 de março), na sexta-feira (20 de março) e hoje (23 de
março). Fiquei pensando como foi a espera do pessoal da época entre o
lançamento do segundo (1974) e do terceiro filme (1990). Foi para simular essa
espera que aguardei entre sexta e segunda para ver a última parte. 16 anos em
dois dias.
E quais foram as minhas impressões
sobre a trilogia? Bom, primeiro, foi a melhor trilogia que já assisti (até
porque não vi muitas). Também colocaria o Todo Poderoso Chefão, sei lá, no
mínimo numa lista dos 10 melhores filmes que já vi. Lembro que naquele tempo,
final dos anos 1990, eu fazia listas de melhores filmes num caderno velho.
Sempre que eu via um filme novo, eu a atualizava. Agora não faço ideia de quais
seriam os meus cinco filmes favoritos – nunca mais parei pra pensar no assunto.
Tem filme que eu vi e não lembro nem do título, nem da história. Alguns poucos
ficaram gravados na minha mente sendo que, pessoalmente, o principal foi Forrest
Gump (talvez porque dos filmes que vi naquela época é o que tenho uma lembrança
mais nítida).
Sei que, certamente, a saga da família Corleone, a história de
Vito Corleone contada nos dois primeiros filmes, a matança dos líderes das
outras famílias da máfia em Nova York quando Michael assume a função de Dom
Corleone quando Vito morre no final do primeiro filme, o assassinato do Mão
Negra por Vito Corleone contado em retrospectiva no segundo filme e a ascensão
de Vicenzo no terceiro – entre outras tantas cenas – também vão ficar na minha
lembrança por um bom tempo. Creio que, se eu chegar aos 60 ou 70 anos, ainda
vou lembrar algumas cenas clássicas desse filme.
Chego, então, às duas perguntas que
– penso eu – todos os que viram a trilogia acabam se fazendo em algum momento
da vida. Primeira: qual dos três filmes é o melhor? Eu, particularmente,
descarto o terceiro. Talvez seja pelo longo intervalo entre os dois lançamentos,
ou talvez pela ausência de Dom Vito, mas achei o terceiro o menos empolgante
dos três. O motivo mais óbvio, no entanto, é pelo fato de Michael ficar
querendo sair da máfia enquanto a máfia não sai dele. Achei o mais
melodramático dos três. Ficaria, então, entre os dois primeiros. Qual o melhor?
O primeiro ganhou o Oscar e tem a atuação impecável de Marlon Brando. No
entanto, eu gostei muito da narrativa retrô de Dom Vito quando era jovem.
Assim, cheio de dúvidas e por uma votação interna apertada (43 bilhões + 1
contra 43 bilhões de neurônios duduzianos) eu afirmo que gostei mais do segundo
filme. Possivelmente porque é nele que estão as duas cenas que mais gostei de toda a
trilogia (e essa é a segunda questão: qual a melhor cena dos três filmes?). Primeiro, o trecho que mostra como Dom Vito se tornou mafioso, desde que perdeu
o emprego para o sobrinho do Mão Negra (o principal mafioso da época, início do
século XX) até o momento em que ele mata o velho mandachuvas de Little Italy em Nova York e começa a mandar
no bairro.
Segundo, o momento em que Vito vinga o seu pai matando um Dom Não Sei das Quantas, na Itália. Você realmente sente prazer ao ver ele enfiar a faca na pança do velho gordo pouco depois de ter beijado a sua mão e pedido a benção.
Bom, não vou contar todo o filme
aqui. E, depois de mais de 20 anos, tenho que agradecer ao Vini pela dica,
afinal, se não tivesse vindo dele, provavelmente eu nunca teria assistido. Em
tempos de confinamento, fica a dica. Se não confiam no meu gosto cinematográfico,
confiem no do Vini – que na época devia ter uns 15 anos, mas que aposto que não
mudou de opinião agora, com cerca de 35 (acertei?). Deixo pra ele mesmo
responder, se assim desejar.
Hasta!
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