Desde as férias até esse início de
confinamento por conta do Coronavírus, eu tenho dedicado um bom tempo à leitura
e ao cinema visto dentro de casa. Nem cheguei a resenhar tudo o que li e vi
aqui. Acabou passando alguns livros mais acadêmicos, como o Veias Abertas da
América Latina, e outros que sublinhei e rabisquei pra caralho, mas fiquei com
preguiça de sentar e escrever sobre eles, como o “O sequestro dos uruguaios”.
Desse livro-reportagem, escrito pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha, eu parti
direto para o “Longa pétala de mar”, de Isabel Allende, esse sim, devidamente
resenhado anteriormente para o imaginário e existente leitorinho.
Sobre o livro “O sequestro dos
uruguaios”, que terminei há cerca de duas semanas, não tenho muito a dizer a
não ser indicar para todos. Ficar comentando aqui as atrocidades das ditaduras
é desgastante, pois já estou careca de falar, de postar, de berrar aos quatro
ventos. Talvez, o fato “novo”, para quem apenas conhece a ditadura brasileira é
a abordagem sobre a ditadura argentina e uruguaia, especialmente esta última,
que foi uma das mais cruéis de todas. Há inúmeras bizarrices e é espantosa a
semelhança dos discursos dos militares negando o óbvio com as mentiras
descaradas ditas todos os dias pelo presidente Bolsonaro. Vocês sabem: Bolsonaro
diz que inventaram que ele falou uma baboseira. Aí mostram ele negando e em
sequência mostram ele dizendo a baboseira. E assim por diante.
Enfim, o livro
trata da ação conjunta entre as ditaduras uruguaia e brasileira para
sequestrar, em novembro de 1978, um casal de uruguaios e duas crianças, de 3 e
8 anos. Na ocasião, Luiz Cláudio Cunha recebeu uma ligação anônima na sucursal
de Veja em Porto Alegre, onde ele trabalhava e, acompanhado pelo fotógrafo,
tornou-se testemunha do sequestro. Isso mudou tudo, pois fora esses quatro
uruguaios, todos os outros latino-americanos que passaram pela situação de
serem pegos fora do país de origem, foram assassinados. Isso, no entanto, não
impediu a prisão e a tortura dos dois uruguaios sequestrados em Porto Alegre. A
história toda ainda tem a pitoresca presença de um ex-jogador do Inter, Didi
Pedalada: depois de deixar os gramados ele se tornou policial e torturador.
Também tem um puta material sobre a
já comentada ditadura uruguaia e, ao final, um ótimo texto sobre a Operação
Condor, que tratava justamente dessa cooperação internacional entre as
ditaduras latino-americanas com o financiamento e participação direta dos
Estados Unidos. Em síntese, vale muito a leitura. Na primeira parte, Luiz
Cláudio Cunha narra o sequestro e apresenta os personagens. Posteriormente, ele
conta o drama que foi para comprovar o que ele viu com os próprios olhos, tendo
que lutar contra mentiras deslavadas de políticos e militares. Por fim, ele faz
esse apanhado geral do contexto do Uruguai, da América Latina e da Operação
Condor. Vale a leitura.
No final das férias eu ainda
aproveite para colocar parcialmente em dia a minha lista de filmes, já que nos
últimos anos eu não me dediquei muito às telinhas. O resumo da minha dedicação
ao audiovisual recentemente (excetuando o jornalismo e o futebol) abrange nada
muito além de Friends e Californication.
Comecei assistindo ao Coringa.
Achei um puta filme, mas confesso que pelo alarde que fizeram, esperava um
pouco mais. Na verdade, é genial a sacada de relacionar um puta problema social
com um dos personagens mais conhecidos das histórias de super heróis/vilões.
Isso atraiu milhões de pessoas para assistir a um drama que não tem nada de
super-poderes e nem é interplanetário: é terreno, é humano e está nas cidades
de todos os países do mundo. A maneira como as sociedades lidam com os doentes
mentais de todos os tipos é ridícula e o filme tem o mérito de escancarar isso
na fuça do telespectador.
Depois, assisti A história de um
casamento. Outro puta filme. Mostra o drama de milhões de pessoas ao redor do
globo que se separam com filhos pequenos. Claro, tem toda a facilidade da
história toda acontecer nos Estados Unidos, onde os personagens não têm muitas
preocupações financeiras e tudo é facilitado pela grana. Apesar disso, curti
pra caralho, pois a psicologia, as filhas da putice e os procedimentos de uma separação
com filhos pequenos também estão ali, escancarados aos olhos dos espectadores.
Não lembro se essa é exatamente a
ordem dos filmes, mas na mesma semana assisti ao Parasita, vencedor do Oscar.
Achei genial. Também mostra problemas sociais, desigualdades, além de questões
históricas e culturais da Coréia (como a “casa” subterrânea escondida nas
habitações para casos de catástrofes). Para completar, tem um bem refinado,
quase perfeito. No entanto, achei que o banho de sangue do final destoou do
restante do filme. Se eu fosse o roteirista, teria criado outro final. Não sei
qual, mas seria diferente. E bem melhor. Azar dos coreanos. Poderiam ter levado
todos os Oscars comigo.
Também vi Era uma vez em Hollywood.
Comentei com um amigo meu que esse foi um filme feito para especialistas em
fotografia e cinema ou para quem vive a vida paralela de Hollywood. Ele, que é
fotógrafo e especialista, adorou. Já eu, achei o pior dos indicados ao Oscar de
2020. Possivelmente é ignorância minha.
Falta ver os outros indicados a
melhor filme. Estou na caça do 1917, mas não sei onde achar. Depois, vi ainda o
Green Book, vencedor do Oscar 2019. Puta filme. Todo mundo deveria assistir.
Mas cansei, não vou contar agora. Tem no Google.
E ontem e hoje, cumpri uma promessa
antiga. Desde os meus 17 anos eu pretendia assistir às três partes de O
poderoso Chefão. Comecei ontem com a primeira e hoje vi a segunda.
Do jeito que
a coisa anda, vou ter tempo para ver a terceira e comentar aqui. É um classicão
e valeu a pena esperar 21 anos para assistir. Achei até melhor: se tivesse
visto antes não teria aproveitado tanto. Ah, e nessa madrugada assisti ainda a
um documentário na Netflix: A terra é plana. Esse também merece um post a parte.
Bueno, é isso por hoje. Cansei. São
muitas imagens e palavras para serem absorvidas. A diferença é que agora temos
tempo para isso. Só lançar um pouco de vinho no cérebro e tudo se processa claramente.
Hasta!
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