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sexta-feira, 20 de março de 2020

Sobre livros, filmes e o confinamento


Desde as férias até esse início de confinamento por conta do Coronavírus, eu tenho dedicado um bom tempo à leitura e ao cinema visto dentro de casa. Nem cheguei a resenhar tudo o que li e vi aqui. Acabou passando alguns livros mais acadêmicos, como o Veias Abertas da América Latina, e outros que sublinhei e rabisquei pra caralho, mas fiquei com preguiça de sentar e escrever sobre eles, como o “O sequestro dos uruguaios”. Desse livro-reportagem, escrito pelo jornalista Luiz Cláudio Cunha, eu parti direto para o “Longa pétala de mar”, de Isabel Allende, esse sim, devidamente resenhado anteriormente para o imaginário e existente leitorinho.
Sobre o livro “O sequestro dos uruguaios”, que terminei há cerca de duas semanas, não tenho muito a dizer a não ser indicar para todos. Ficar comentando aqui as atrocidades das ditaduras é desgastante, pois já estou careca de falar, de postar, de berrar aos quatro ventos. Talvez, o fato “novo”, para quem apenas conhece a ditadura brasileira é a abordagem sobre a ditadura argentina e uruguaia, especialmente esta última, que foi uma das mais cruéis de todas. Há inúmeras bizarrices e é espantosa a semelhança dos discursos dos militares negando o óbvio com as mentiras descaradas ditas todos os dias pelo presidente Bolsonaro. Vocês sabem: Bolsonaro diz que inventaram que ele falou uma baboseira. Aí mostram ele negando e em sequência mostram ele dizendo a baboseira. E assim por diante.
Enfim, o livro trata da ação conjunta entre as ditaduras uruguaia e brasileira para sequestrar, em novembro de 1978, um casal de uruguaios e duas crianças, de 3 e 8 anos. Na ocasião, Luiz Cláudio Cunha recebeu uma ligação anônima na sucursal de Veja em Porto Alegre, onde ele trabalhava e, acompanhado pelo fotógrafo, tornou-se testemunha do sequestro. Isso mudou tudo, pois fora esses quatro uruguaios, todos os outros latino-americanos que passaram pela situação de serem pegos fora do país de origem, foram assassinados. Isso, no entanto, não impediu a prisão e a tortura dos dois uruguaios sequestrados em Porto Alegre. A história toda ainda tem a pitoresca presença de um ex-jogador do Inter, Didi Pedalada: depois de deixar os gramados ele se tornou policial e torturador.
Também tem um puta material sobre a já comentada ditadura uruguaia e, ao final, um ótimo texto sobre a Operação Condor, que tratava justamente dessa cooperação internacional entre as ditaduras latino-americanas com o financiamento e participação direta dos Estados Unidos. Em síntese, vale muito a leitura. Na primeira parte, Luiz Cláudio Cunha narra o sequestro e apresenta os personagens. Posteriormente, ele conta o drama que foi para comprovar o que ele viu com os próprios olhos, tendo que lutar contra mentiras deslavadas de políticos e militares. Por fim, ele faz esse apanhado geral do contexto do Uruguai, da América Latina e da Operação Condor. Vale a leitura.
No final das férias eu ainda aproveite para colocar parcialmente em dia a minha lista de filmes, já que nos últimos anos eu não me dediquei muito às telinhas. O resumo da minha dedicação ao audiovisual recentemente (excetuando o jornalismo e o futebol) abrange nada muito além de Friends e Californication.
Comecei assistindo ao Coringa. Achei um puta filme, mas confesso que pelo alarde que fizeram, esperava um pouco mais. Na verdade, é genial a sacada de relacionar um puta problema social com um dos personagens mais conhecidos das histórias de super heróis/vilões. Isso atraiu milhões de pessoas para assistir a um drama que não tem nada de super-poderes e nem é interplanetário: é terreno, é humano e está nas cidades de todos os países do mundo. A maneira como as sociedades lidam com os doentes mentais de todos os tipos é ridícula e o filme tem o mérito de escancarar isso na fuça do telespectador.
Depois, assisti A história de um casamento. Outro puta filme. Mostra o drama de milhões de pessoas ao redor do globo que se separam com filhos pequenos. Claro, tem toda a facilidade da história toda acontecer nos Estados Unidos, onde os personagens não têm muitas preocupações financeiras e tudo é facilitado pela grana. Apesar disso, curti pra caralho, pois a psicologia, as filhas da putice e os procedimentos de uma separação com filhos pequenos também estão ali, escancarados aos olhos dos espectadores.
Não lembro se essa é exatamente a ordem dos filmes, mas na mesma semana assisti ao Parasita, vencedor do Oscar. Achei genial. Também mostra problemas sociais, desigualdades, além de questões históricas e culturais da Coréia (como a “casa” subterrânea escondida nas habitações para casos de catástrofes). Para completar, tem um bem refinado, quase perfeito. No entanto, achei que o banho de sangue do final destoou do restante do filme. Se eu fosse o roteirista, teria criado outro final. Não sei qual, mas seria diferente. E bem melhor. Azar dos coreanos. Poderiam ter levado todos os Oscars comigo.
Também vi Era uma vez em Hollywood. Comentei com um amigo meu que esse foi um filme feito para especialistas em fotografia e cinema ou para quem vive a vida paralela de Hollywood. Ele, que é fotógrafo e especialista, adorou. Já eu, achei o pior dos indicados ao Oscar de 2020. Possivelmente é ignorância minha.
Falta ver os outros indicados a melhor filme. Estou na caça do 1917, mas não sei onde achar. Depois, vi ainda o Green Book, vencedor do Oscar 2019. Puta filme. Todo mundo deveria assistir. Mas cansei, não vou contar agora. Tem no Google.
E ontem e hoje, cumpri uma promessa antiga. Desde os meus 17 anos eu pretendia assistir às três partes de O poderoso Chefão. Comecei ontem com a primeira e hoje vi a segunda.
Do jeito que a coisa anda, vou ter tempo para ver a terceira e comentar aqui. É um classicão e valeu a pena esperar 21 anos para assistir. Achei até melhor: se tivesse visto antes não teria aproveitado tanto. Ah, e nessa madrugada assisti ainda a um documentário na Netflix: A terra é plana. Esse também merece um post a parte.
Bueno, é isso por hoje. Cansei. São muitas imagens e palavras para serem absorvidas. A diferença é que agora temos tempo para isso. Só lançar um pouco de vinho no cérebro e tudo se processa claramente. Hasta!

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