Fui
hoje de tarde para Capão da Canoa com a minha nenê, Lary. É chocante as
mudanças que ocorreram nela do ano passado, quando ela tinha oito anos recém completos,
para agora, que ela está com nove. Porém, uma coisa continua a mesma: a
conturbada relação dela com o mar.
Desde
bem pequenininha, a minha nenê mantém uma relação de amor e ódio com o mar, com
as ondas, com a água salgada e com os seres que vivem lá. Lembro dela com um
aninho na praia do Cassino, em Rio Grande: eu tentava levar ela para a água e
ela abria o berreiro. Queria ficar apenas fazendo castelinhos com o vovô Nabuco
na areia. Porém, de repente, ela aceitava ir até a beiradinha para fazer
buracos na areia, esperando as ondas mais fracas chegarem para enchê-los. Um
ano depois, em Miami, ela não se intimidou com a praia americana e fez a festa sem
muita resistência. De volta à nossa infame pátria, Lary foi crescendo, meus
pais se mudaram para Xangri-lá (praia colada em Capão) e nos últimos anos,
quando a gente vem passar praticamente as férias inteiras na casa deles, há um
ritual que se repente. Nos primeiros dias, a Lary não quer saber nem de molhar
os pés na água. Vai lá, olha os bichinhos que se enterram e que servem de iscas
para os pescadores, e murmura um “que nojo!”, cheio de caras e caretas. Ano
passado ela tinha arranjado uma amiguinha da idade dela. Pensei: “agora a
amiguinha nova vai convencê-la a entrar no mar”. O pai da guria disse: “Fulana,
convida a Larissa para entrarem na água”. E lá foram as duas, rumo ao oceano.
Vi que elas pararam na frente do mar e começaram a conversar. A Lary
gesticulava, mexia os braços, palestrava. A guria ouvia tudo, com a testa
franzida, atentamente. Em poucos minutos as duas voltaram: a Larissa convenceu
a guria de que os bichos eram nojentos e agora a amiguinha também não queria
saber da água, para desespero do pai dela.
A
cada verão, passados os primeiros dias, ela resolve entrar no mar comigo. Lá
vamos nós e, rapidamente ela está pulando ondas. Em seguida mergulha e a partir
de então brincamos, rimos, até que eu canso e digo: “vamos sair?”. Que nada.
Não quer sair de jeito nenhum. E não quer que eu saia também. O curioso é que o
mar, que é ao mesmo tempo herói e vilão, castiga: creio que nos últimos três ou
quatro anos, pelo menos uma vez por ano, uma água viva raspou nela. E então é
aquela choradeira e a promessa de que nunca mais vai colocar os pés nas águas
salgadas do litoral gaúcho. Dessa vez a água viva atacou ontem. Mesmo assim,
hoje, depois de passar pelo ritual do nojo dos bichinhos e dos peixinhos que
estavam dando o ar da graça para os veranistas, ela esqueceu da água viva e
logo estava brincando e pulando sem parar. Volta e meia ela se empolgava e
dizia “o mar é legal!”. Porém, se vinha uma onda mais forte, ela se virava para
o horizonte azul e berrava: “eu te odeio, mar!!!”. Aproveitei para curtir a
minha nenê, pois o tempo passa rápido demais. Duas coisas me fizeram ver como
ela está crescendo rápido e como estou ficando velho.
Primeiro,
a pracinha. Até o ano passado ela brincava na pracinha do centro de Capão.
Agora, quando chegamos lá, eu perguntei: “vai querer brincar na pracinha?”, ao
que ela respondeu de bate-pronto: “nem pensar!”. Olhei para as crianças e,
realmente, nenhuma era do tamanho dela. Fiquei desolado. Foi-se o tempo de
levar a Lary brincar na pracinha... A segunda é que, também até o ano passado,
na beira do mar, eu dizia: “olha lá umas crianças, quer brincar com elas?”, e
ela respondia “sim, mas tu pede”, e então eu tinha que chegar lá e perguntar se
a Lary poderia se juntar ao grupo que se banhava na beira da praia.
Agora ela
passou dessa fase de sair brincando com crianças desconhecidas. Eu perguntei
isso hoje, ao que ela respondeu: “eu não, nem conheço elas!”. Não me dei por
vencido e disse que eu pediria, ao que ela me fitou com olhar de Garfield e
respondeu: “vão pensar que tu é maluco!”. Óxi! Que soco no estômago. Ela está
crescendo muito rápido! Nove anos! Ano que vem já vai estar com dez!!! Vocês
sabem o que é isso? Acho que já comecei a crise dos quarenta com dois anos de antecipação...
Poderia a infância dos nossos filhos passar em câmera lenta? Please?
4 Comentários:
😁😁😁😁💖💖
Por Ella, às 16 de janeiro de 2020 às 04:43
Adorei 😎 besazo enorme
Por Ella, às 16 de janeiro de 2020 às 04:44
Muito fofa essa tua filha, amei...
Por Paulo Munhoz, às 16 de janeiro de 2020 às 05:12
🤗😍
Por Unknown, às 26 de janeiro de 2020 às 05:13
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