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terça-feira, 14 de janeiro de 2020

A nenê e o mar


Fui hoje de tarde para Capão da Canoa com a minha nenê, Lary. É chocante as mudanças que ocorreram nela do ano passado, quando ela tinha oito anos recém completos, para agora, que ela está com nove. Porém, uma coisa continua a mesma: a conturbada relação dela com o mar.
Desde bem pequenininha, a minha nenê mantém uma relação de amor e ódio com o mar, com as ondas, com a água salgada e com os seres que vivem lá. Lembro dela com um aninho na praia do Cassino, em Rio Grande: eu tentava levar ela para a água e ela abria o berreiro. Queria ficar apenas fazendo castelinhos com o vovô Nabuco na areia. Porém, de repente, ela aceitava ir até a beiradinha para fazer buracos na areia, esperando as ondas mais fracas chegarem para enchê-los. Um ano depois, em Miami, ela não se intimidou com a praia americana e fez a festa sem muita resistência. De volta à nossa infame pátria, Lary foi crescendo, meus pais se mudaram para Xangri-lá (praia colada em Capão) e nos últimos anos, quando a gente vem passar praticamente as férias inteiras na casa deles, há um ritual que se repente. Nos primeiros dias, a Lary não quer saber nem de molhar os pés na água. Vai lá, olha os bichinhos que se enterram e que servem de iscas para os pescadores, e murmura um “que nojo!”, cheio de caras e caretas. Ano passado ela tinha arranjado uma amiguinha da idade dela. Pensei: “agora a amiguinha nova vai convencê-la a entrar no mar”. O pai da guria disse: “Fulana, convida a Larissa para entrarem na água”. E lá foram as duas, rumo ao oceano. Vi que elas pararam na frente do mar e começaram a conversar. A Lary gesticulava, mexia os braços, palestrava. A guria ouvia tudo, com a testa franzida, atentamente. Em poucos minutos as duas voltaram: a Larissa convenceu a guria de que os bichos eram nojentos e agora a amiguinha também não queria saber da água, para desespero do pai dela.
A cada verão, passados os primeiros dias, ela resolve entrar no mar comigo. Lá vamos nós e, rapidamente ela está pulando ondas. Em seguida mergulha e a partir de então brincamos, rimos, até que eu canso e digo: “vamos sair?”. Que nada. Não quer sair de jeito nenhum. E não quer que eu saia também. O curioso é que o mar, que é ao mesmo tempo herói e vilão, castiga: creio que nos últimos três ou quatro anos, pelo menos uma vez por ano, uma água viva raspou nela. E então é aquela choradeira e a promessa de que nunca mais vai colocar os pés nas águas salgadas do litoral gaúcho. Dessa vez a água viva atacou ontem. Mesmo assim, hoje, depois de passar pelo ritual do nojo dos bichinhos e dos peixinhos que estavam dando o ar da graça para os veranistas, ela esqueceu da água viva e logo estava brincando e pulando sem parar. Volta e meia ela se empolgava e dizia “o mar é legal!”. Porém, se vinha uma onda mais forte, ela se virava para o horizonte azul e berrava: “eu te odeio, mar!!!”. Aproveitei para curtir a minha nenê, pois o tempo passa rápido demais. Duas coisas me fizeram ver como ela está crescendo rápido e como estou ficando velho.
Primeiro, a pracinha. Até o ano passado ela brincava na pracinha do centro de Capão. Agora, quando chegamos lá, eu perguntei: “vai querer brincar na pracinha?”, ao que ela respondeu de bate-pronto: “nem pensar!”. Olhei para as crianças e, realmente, nenhuma era do tamanho dela. Fiquei desolado. Foi-se o tempo de levar a Lary brincar na pracinha... A segunda é que, também até o ano passado, na beira do mar, eu dizia: “olha lá umas crianças, quer brincar com elas?”, e ela respondia “sim, mas tu pede”, e então eu tinha que chegar lá e perguntar se a Lary poderia se juntar ao grupo que se banhava na beira da praia.
Agora ela passou dessa fase de sair brincando com crianças desconhecidas. Eu perguntei isso hoje, ao que ela respondeu: “eu não, nem conheço elas!”. Não me dei por vencido e disse que eu pediria, ao que ela me fitou com olhar de Garfield e respondeu: “vão pensar que tu é maluco!”. Óxi! Que soco no estômago. Ela está crescendo muito rápido! Nove anos! Ano que vem já vai estar com dez!!! Vocês sabem o que é isso? Acho que já comecei a crise dos quarenta com dois anos de antecipação... Poderia a infância dos nossos filhos passar em câmera lenta? Please?

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