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terça-feira, 28 de maio de 2019

Chegando em Burgos


No dia 23 de dezembro partimos para Burgos, no norte da Espanha, para passar o Natal com a tia Ella, o tio Chema (não sei como escreve, então coloco como se diz mesmo...) e o primo Alex. Na verdade, são todos parentes da patroa Cris, mas tomo a liberdade de surrupia-los para a minha família também. Para chegar a tempo, tive que tomar uma decisão difícil: cancelar a ida que estava programada para o Palácio de Versalhes. Na minha ingenuidade, eu pensava que daria conta do palácio na manhã do dia 23, mas conversando com diversas pessoas que conhecem o local, desisti, pois é preciso um dia inteiro para aproveitar. E outra: só vale a pena não pagar o ticket e explorar apenas a parte externa na primavera e verão, e estávamos no inverno, o que significava nada de gramados e árvores verdes por todos os lados. No fim, essa decisão foi a mais sábia possível. Dei-me conta disso ao perceber que na véspera da véspera de Natal todo mundo parecia querer deixar Paris. Versalhes fica para a próxima.
Saímos cedo no dia 23, mas levamos mais de duas horas para deixar o engarrafamento parisiense para chegar até a autoestrada. Além disso, houve vários imprevistos. Primeiro, era domingo, e uma das avenidas principais próximas ao hotel estava fechada. Devia haver alguma feira, maratona, atentado, protesto ou algo assim. A única certeza é que fui dobrar numa esquina e dei de cara com um guarda gordinho com testa enrugada e cara de bravo. Perguntei: “está fechada?”, ao que ele confirmou, sem dizer um piu. Vendo que éramos “gringos”, mandou a gente voltar e pegar outra rua. O negócio é que o GPS tinha bugado e o do celular só atualizava quando estava online. Assim, pelo mapa, eu tentava voltar para a rota, mas não tinha jeito. Depois de tanto rodarmos, quando vi que não tinha mais jeito para voltar à rota, acabei entrando na contramão numa ruazinha. Levei uns buzinaços e uns xingamentos em francês, mas depois do susto (meu, da Cris e dos outros motoristas) estávamos de novo na linha rosa do GPS, que indicava a rota a ser seguida!
- Você é louco? – perguntou a Cris.
- Com se você não soubesse... – respondi tranquilamente.
Ora, pois, se não fosse maluco não estaria dirigindo por Paris, entrando na contramão, rumo ao desconhecido. Um pouco de insanidade, às vezes, faz bem.
A viagem demorou mais do que o previsto. Havia engarrafamento, inclusive, nas autoestradas. Como disse, parecia que todos os parisienses estavam indo passar o Natal no interior. Assim, andamos, andamos e andamos. Em algumas paradas, fui me dando conta de que Paris não diz quase nada sobre a França. I mean, no que se refere à França como um todo. Assim como o Brasil é muito mais do que São Paulo, Rio de Janeiro e as capitais, a França é algo totalmente diferente de Paris. No interior, as pessoas praticamente não falavam inglês, nos postos, restaurantes e lanchonetes. O negócio era colocar em prática as habilidades aprendidas quando jogava Imagem e Ação com a Laura, quando ela tinha uns 10 anos... Mímica sempre tem a sua utilidade em terras estrangeiras. Sobrevivemos, almoçamos, jantamos e, já de madrugada, cruzamos a fronteira.
Chegar à Espanha me deu um alívio. As estradas, lá, estavam vazias. Novamente, andamos, andamos e andamos. A cada placa que indicava Burgos, respirávamos aliviados. Até que chegamos. Porém, o acesso ao bairro aonde a tia mora não é lá muito fácil de interpretar e, assim, saí da rota do GPS mais algumas vezes. Dessa vez, para não infringir a lei, a cada erro eu ia até o final da rua para fazer o retorno no lugar certo. Vá que levei multas em Paris, Milão, Zurique, Barcelona, etc. Um pouco de prudência, às vezes, também faz bem... Não queria ir à falência pagando multas para os europeus...
Levamos um pouco mais de tempo, mas lá por volta das duas ou três da manhã do gelado inverno de Burgos finalmente chegamos à frente da casa da tia. Porém, não tínhamos certeza se aquela era a casa certa. A Cris fez o que geralmente as mulheres fazem nessa situação:
- Desce lá e vê!
- E se não for?
Pois é, e se não fosse? Problema meu, uai! Apertei a campainha pronto para ver um espanhol aparecendo na janela com espingarda em punho, xingando-me. Mas, para a minha sorte, quem abriu a porta foi a tia. Depois de, sei lá, mais umas 14 horas de viagem, finalmente chegávamos são e salvos. Àquela altura já estávamos no dia 24 de dezembro. Subimos ao quarto, gentilmente cedido pela tia e pelo tio, e dormimos até tarde no outro dia para passar, pela segunda vez na vida, o Natal longe de terras brasucas... Mas essa já é outra história, que fica para a próxima.

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