Nos últimos meses, tenho mergulhado
nas narrativas de viagem do jornalista e escritor gaúcho Airton Ortiz. Desde
1999, quando começou o seu projeto literário e profissional, Ortiz lançou um
livro por ano, atingindo, até o momento, a publicação de 19 livros, entre
crônicas, romance-reportagem e narrativa de ficção. Ler a obra de Ortiz é
viajar pelo mundo com ele, conhecendo diferentes culturas, diferentes povos e
diferentes pessoas. Mas uma das curiosidades que eu tinha desde que descobri
esse autor que ainda não tem o devido reconhecimento no cenário da literatura
nacional era: quem é esse sujeito? Quem é esse cara que consegue viver de
literatura e de viagens? Será um milionário sem ter o que fazer que passa
torrando o seu dinheiro para viajar pelo mundo e escrever sobre ele? Será um
filho de alguma família rica do Rio Grande do Sul que é patrocinado pelos seus
antecedentes? Ou será um jornalista que conseguiu meter a cara e conquistar
patrocinadores e o público que bancam essa carreira invejável? Bingo para quem
apostou na última alternativa. Mas, antes de chegar lá, vou contar um pouco da
história dele, que tive acesso com entrevistas informais feitas por whattsapp e
por e-mail em diversos e diferentes dias deste ano de 2019, além de leituras e
pesquisas sobre material já escrito por ele e sobre ele.
Airton
Ortiz nasceu em Rio Pardo em novembro de 1954. Desde a infância, sempre foi um
apaixonado por rádio. Foi ouvindo as grandes reportagens radiofônicas, ainda na
infância, vivida em parte no município de Candelária-RS, que ele teve desperta
a vontade de viajar e conhecer o mundo. Em 1968, por exemplo, ele ganhou um
prêmio literário na escola ao escrever sobre a amizade de Brasil e Portugal. Além
disso, ele passou a trabalhar na Rádio Cachoeira, ode estreitou ainda mais os seus
laços com o jornalismo quando começou a contribuir para a editoria de esportes
do Jornal do Povo. Em 1975, mudou-se para Porto Alegre onde encontrou no jornalismo
uma forma de conhecer o mundo.
Formou-se na PUCRS no início dos anos 1980 e,
dentre outros trabalhos, criou a editora Tchê! (eu já li alguns livros dessa
editora, como o Erico Verissimo, escrito pelo meu orientador de mestrado,
Antonio Hohlfeldt, mas nem sonhava que fosse dele). Nesse meio tempo, também
concluiu um curso de pós-graduação em Administração de Empresas pela UFRGS, onde,
também ampliou o seu conhecimento sobre outras línguas, dentre as quais o
espanhol e o inglês. Na capital, atuou também na Rádio Farroupilha, onde
trabalhou com Flávio Alcaraz Goms, que já escreveu livros fantásticos de viagem,
como Um repórter na China (vale muito a pena!).
Admirador da
música e da cultura gaúcha, ele também participou do programa Galpão do
Nativismo, da Rádio Gaúcha, como comentarista, e mais tarde do programa Mapa
Mundi, da Rádio Bandeirantes, dessa vez falando sobre turismo.
Além de criara editora, Ortiz também lançou e editou o Jornal
Tchê, focado justamente na cultura gaúcha. Tudo isso durou até 1997, quando ele
encerrou as suas atividades na editora para trabalhar como freelancer e focar no seu projeto de jornalismo literário de
viagem. Chegamos, então, a reposta da pergunta apresentada no primeiro
parágrafo.
Já sendo um jornalista relativamente
conhecido no Rio Grande do Sul, Ortiz encontrou em grandes editoras (como a
Record e a Saraiva) e em uma grande empresa do estado (o Zaffari) a
viabilização para colocar o seu projeto em prática. Ele já estava com 45 anos
quando estreou, em 1999, no gênero lançando “Aventura no topo da África”, o seu
primeiro livro-reportagem de viagem. Desde então, ele lança um livro por ano,
dentre crônicas, livros-reportagens e ficção. E qual o segredo para esse
sucesso? “É preciso ter paciência,
dedicação e convicção de que é isso que se quer”, conta.
“Desde a primeira
viagem que eu fiz para produzir o primeiro livro, a viagem foi bancada pelo
Zaffari e desde então todas as viagens são bancadas pelo Zaffari. É verba de
publicidade deles e eles têm um bom retorno com isso”, explica. No total, o escritor
já viajou para mais de 80 países e, além de publicar as narrativas de viagem,
ele também já lançou livros infantis, infanto-juvenis e contribuiu para
diversas coletâneas.
Curioso sobre as duas obras de
ficção escritas por ele, pedi para que me enviasse um áudio comentando os dois
livros do gênero, “Cartas do Everest” e “Gringo”. Coloco aqui, na íntegra, as
respostas.
Sobre
Cartas do Everest:
“É baseado em fatos reais porque eu
juntei em uma única história fatos que aconteceram, alguns comigo, e outros
aconteceram com outros alpinistas. Tudo aquilo que está relatado ali, ou quase
tudo, aconteceu, não na mesma montanha e não na mesma temporada. Mas são coisas
que foram acontecendo com os alpinistas e que eu fiquei sabendo, por estudar
muito alpinismo e as grandes escaladas. Então, tudo que está ali foi inspirado
em fatos reais. Claro, não aconteceu exatamente como está ali, porque senão não
seria ficção. Mas é uma ficção baseada em fatos que realmente aconteceram pelas
montanhas, alguns comigo, outros com meus amigos, outros com relatos que eu
ouvi nos acampamentos nas montanhas e outros que eu li nas biografias dos caras
e nas grandes reportagens. Isso serviu de pano de fundo para contar a história
que eu queria contar, que é como pessoas reagem de maneira diferente diante da
mesma situação. Coloquei os três personagens, um brasileiro, um americano e um
alemão, mostrando que diante da mesma situação cada um deles reage de maneira
diferente. A ideia era mostrar a diversidade das pessoas, a diversidade da
cultura de onde eles vem, e a diversidade das nossas reações diante das mesmas
situações”.
Já sobre Gringo:
“Criei a história, o personagem
passando pelos lugares que eu já tinha passado antes. Todas as locações do
Gringo são conhecidas por mim. Isso é um projeto meu, pessoal, do meu projeto
literário, que os meus livros só vão acontecer em lugares que eu conheço, mesmo
os de ficção. E o que o Gringo tem de diferente, é que depois de ter construído
toda a história eu peguei a mochila e refiz a viagem do gringo, aí no ritmo e
na sequência que está descrita no livro. Eu queria ver se há grandes
modificações entre a história que eu imaginei naqueles lugares que eu passei em
tempos diferentes e em épocas diferentes para uma viagem que eu passei por
todos os lugares numa sequência cronológica. A grande diferença do Gringo,
talvez única no mundo, é que depois do ficcionista ter inventado uma viagem,
ele foi lá na vida real e fez aquele roteiro. Muitas das coisas que aconteceram
durante a viagem já estavam no Gringo. Depois de fazer tantas viagens pelo
mundo e ter tanta experiência a gente já tem ideia do que vai acontecer. Quebra
um pouco aquela expectativa porque eu já sei, dependendo de onde eu chegar no
mundo, eu já sei como vou ser recebido. O objetivo do Gringo é mostrar o
amadurecimento de uma pessoa. Geralmente quando uma pessoa passar por uma
situação de tragédia, de quase morte, elas repensam a vida delas ou dão um novo
rumo para a vida delas. Eu acho que não precisa chegar a uma situação dessas
para a gente repensar a vida da gente. Uma viagem é a melhor oportunidade par
aa gente repensar a vida da gente e ver o que a gente quer ou não quer. O
Gringo é uma experiência de autoconhecimento,, um romance de formação e de
aventura, em que conta o amadurecimento de um cara a partir das experiências
que ele vai tendo na viagem. Incluí a troca com outros viajantes e com os
nativos em que a pessoa vai amadurecimento. Ela é também toda inspirada em
fatos reais”.
Em síntese, para quem gosta de
viajar e de ler, Airton Ortiz oferece um prato cheio! E isso que nem falei dos
diversos prêmios que ele ganhou, além de ser patrono de variados eventos
literários, tendo já sido patrono da Feira do Livro de Porto Alegre. E
esperamos que muitas outras obras do autor ainda sejam lançadas, pois esse mundo
é grande e bom, Sebastião!
1 Comentários:
Fuck German! Interessante
Por Zaratustra, às 29 de maio de 2019 às 18:33
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