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sábado, 20 de abril de 2019

Cinzas, corcundas e escritores - Paris é demais!!! - Parte 2


Justamente quando dei uma pausa nas memórias da minha primeira ida para a Europa acontece o histórico incêndio que praticamente destrói a Catedral de Notre Dame. Quando defini os lugares que visitaria em Paris durante a curta estadia na cidade, a famosa igreja do corcunda estava no topo da lista, junto com outros pontos imperdíveis, como torre Eiffel e Arco do Triunfo. Nunca imaginava, enquanto admirava a parte externa e interna de uma das catedrais mais famosas do mundo, que aquilo tudo estaria em cinzas poucos meses depois. Lembro que as obras de restauração já estavam acontecendo e havia uma fila imensa para subir às torres quando passei por lá. Como tinha muitos outros lugares para ir, acabei desistindo da fila, tirando algumas fotos à frente da catedral e outras dentro.
É triste pensar que, mesmo em um país riquíssimo se comparado com o Brasil, algo assim acontece. Eu, particularmente, detonei o Brasil quando ocorreu o incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro – e continuo detonando -, então, fico imaginando como alguém que estudou a fundo a basílica e que é apaixonado por ela e toda a sua história esteja se sentindo agora. Já li de tudo na internet sobre o incêndio, inclusive teorias da conspiração que devem fazer todo o sentido para o pessoal do Brasil Paralelo. Mas não vou entrar nesse assunto agora...
Gosto de visitar lugares que conheço um pouco sobre a história para ficar viajando no tempo enquanto admiro a paisagem (natural ou urbana). Sobre a Catedral de Notre Dame, li atentamente o capítulo do livro “Paris”, do Airton Ortiz, em que ele conta de forma contextualizada a construção da basílica sob o comando do bispo Maurice de Sully em 1160, ou seja, cerca de 900 anos atrás. A partir de então, ele especifica as medidas, os estilos e a história da igreja, que não vou repetir aqui (vale a pena ler direto na fonte, ou seja, no livro de Ortiz). Apenas lembro que, conforme aponta o jornalista, Notre Dame já foi parcialmente destruída durante a revolução francesa, sendo restaurada justamente a partir do sucesso do livro de Victor Hugo que criou o personagem corcunda que vivia por lá. E, assim como eu olhava toda a catedral pensando nisso tudo e muito mais, quem for até a catedral daqui a 50, 100 ou 200 anos vai ficar tentando imaginar as chamas que deixaram o mundo inteiro atônito através de filmagens feitas por telefones celulares...
Foi com esse clima de “quero visitar lugares de história” que também sai da catedral indo diretamente para a livraria Shakespeare & Company, uma das mais famosas e históricas de Paris e ponto de encontro de monstros da literatura ao longo da história, inclusive da geração beat, quando Kerouac e seus amigos passaram pela França. Não é permitido tirar fotos na parte interna (sempre lotada), mas vi livros de Bukowski, Henry Miller, George Bataille e muitos outros clássicos do mundo inteiro para vender em francês e inglês e outras línguas. Fiquei tentado a comprar alguma coisa, mas meus euros eram escassos. Ainda nesse clima de intelectualidade (odiada por extremistas e ignorantes que gostam de se informar exclusivamente por vídeos nas redes sociais) passei pelo Pantheon e pela Sorbonne, por onde passaram centenas e centenas de intelectuais clássicos no pensamento universal, tais como Michel Foucault e Edgar Morin.
Também andei pelos gramados seculares dos jardins de Luxemburgo, que imaginava que ficavam afastados da cidade, mas na verdade ficam ali, meio que no centrão do troço todo. Aquele gramado com bancos e o lago ao centro dão um clima interiorano surreal para a capital francesa.
Bom, poderia escrever textos e mais textos sobre Paris (bem como os outros destinos), mas antes de relatar a minha ida a um jogo do PSG e de contar a visita a Torre Eiffel e Arco do Triunfo, finalizo esse relato sobre a cidade das luzes dizendo que ainda fui até os números 113 da Rue Notre-Dame Des Champs, onde morou Hemingway, 58 da Rue Vaugirard, onde moraram Scott e Zelda Fitzgerald, 36 da Rue Bonaparte, e 6 da Rue du Pot de Fer, onde morou George Orwell quando viveu as histórias de “Na pior em Londres e Paris” (foto).
Impossível descrever o que senti ao parar na frente de cada uma dessas casas, voltando no tempo, imaginando os seus moradores ilustres que mudaram a história do pensamento universal e da minha vida passando por aquelas ruas e entrando naquelas residências. Devo a todos eles por me apresentarem o mundo e a humanidade através de uma perspectiva totalmente gauche e imperfeita, como todos nós somos, conscientemente ou não.

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