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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Barcelona: uma mistura de ranço com bagunça


Barcelona. Barcelona boêmia. Barcelona artística. Barcelona bagunçada. Barcelona alegre, ranzinza e gritona. Meu imaginário se mistura e se choca com a realidade. No pouquíssimo tempo em que estive em Barcelona, vi mais o lado ranzinza, bagunçado e separatista-catalão do que a boemia, a arte e a alegria que eu esperava. Decepção? Não chega a tanto, pois não posso resumir a cidade a dois dias de inverno. Entretanto, confesso que a primeira impressão de Madrid foi muito melhor do que a de Barcelona. E isso que começamos o passeio pelo Camp Nou.
O GPS indicava o trajeto até o hotel, quando de repente olhei para o lado e vi: a casa de Messi, Suarez e Arthur e que já foi dos Ronaldinhos, Romário e Rivaldo. Falei para a Cris:
- Vou achar um lugar para estacionar e vamos descer.
Para a minha sorte, era perto das duas da tarde: hora da famosa siesta espanhola. E daí? Daí que havia lugares para estacionar. E o melhor: segundo um carinha que estava num armazém na frente de onde estacionei, das 14h às 16h não precisava pagar nada. Deixei o nosso mini carro parado lá e andamos até o Campo Nou. Grande, magnífico, extraordinário. Porém, como não teríamos muito tempo na cidade, só o visitei por fora e entrei na loja, não fazendo o tour, ao contrário do que mais tarde fiz em Madrid, no Santiago Bernabéu. Portanto, não posso comparar. Apenas digo que a loja do Barcelona é muito mais impactante e tem muito mais coisas do que a loja do Real Madrid em seu estádio. Acabei comprando o Campo Nou em miniatura...
Clic, clic, clic. Fotos, fotos, fotos. Voltamos para o carro.
Eu sabia que o Park Guell também ficava longe do hotel, então aproveitei para emendarmos. E, assim, seguimos pelas ruas estreitíssimas de Barcelona, passando por prédios e mais prédios que exibiam dezenas e dezenas de bandeiras da Catalunha em suas janelas. Barcelona, para quem vive lá, penso eu, não pertence a Espanha, mas sim a Catalunha. Porém, para o mundo todo, Barcelona e Madrid são sinônimos de Espanha. Não sei como seria pensar em um país catalão. Como turista que está por fora e leu minimamente sobre o tema, sou contra a separação. Aliás, eu sempre fui a favor de uma comunidade o mais internacional possível, sem fronteiras, com todo mundo tendo o direito de ir e vir pelo planeta inteiro sem burocracias e sem barreiras. Sonho utópico que nunca vai se realizar. Unir Deus, Alá, Jesus Cristo e Maomé. Impossível.
Momento dica: o caminho para chegar até o Park Guell não é fácil. Pelo menos de carro. E creio que de metrô, ônibus ou a pé também não. Fica lá nos confins de Barcelona, lá no alto não sei de onde. Longe pra dedéu. São ruelas e ruelas onde só passa um carro, então tem que ficar muito atento às preferenciais e mãos. Obviamente, cada uma só vai ou só vem. E tem mais os pedestres que ficam zanzando de um lado para o outro. Parece que têm o bicho carpinteiro no corpo, não param quietos. E há as faixas de segurança que, assim como em Frederico Westphael, e diferentemente das grandes cidades brasileiras, respeitam-nas. E os espanhóis, pelo menos os de Barcelona, são bravos. Se você não for diminuindo quando chegar perto da faixa já te olham de cara feia. Franzem a testa e fazem um movimento com o rosto que indica um “humpf!”.
Depois de penarmos para achar o Park Guell, sofri mais um pouco para achar uma vaga para estacionar. Fui até o fim da subida e havia um mini espaço. Um mini espaço perfeito para um carro mini. Se estivesse com um sedan, SUV ou coisa parecida, não teria como estacionar. Mas com o meu mini Fiat 500, coloquei-o lá, atrás de um carro e na frente da corrente que indicava que logo ali havia um penhasco. Senti-me o Mr. Benn manobrando. Mas no fim, tudo deu certo. Sempre dá. Pelo menos quando não dá errado.
Estacionamos e partimos para o Park Guell. Eu queria achar o lugar que havia visto nos blogs, com aquela arquitetura mística e histórica que me fazia lembrar a aldeia dos Smurfs. Fui seguindo as plaquinhas até que chegamos. Havia uma fila razoável para comprar ingresso. Entramos e, todo o sacrifício, valeu a pena. O lugar é fantástico. Não vou contar sobre a história dele, nem nada parecido, pois há infinitos sites e blogs que fazem isso, inclusive o site do parque...
Clic. Clic. Clic. Clic. Muitas fotos. Lembro de quando viajava sem câmera ou com as compactas que tinham filme 12 ou 24 poses. Nem pensava em fotos. Não havia redes sociais. Agora, somos escravos da rede. Porém, como fotógrafo amador apaixonado por fotografia, não poupo clics. Ajudam a rememorar tudo depois. Fazem lembrar coisas que a memória, depois de certa idade, já teria deletado do escaninho de nosso cérebro. Por exemplo: para escrever esse texto, vou olhando as fotos. Se não as tivesse, não lembraria de metade do que aconteceu. Lá em cima, além de toda a arquitetura impressionante, você tem uma vista do caralho de toda a cidade. Você enxerga, por exemplo, o templo da Sagrada Família, majestoso, com suas torres que se destacam dos prédios e casas de toda a cidade. Muitos e muitos cliques. Mais vários minutos para apreciar tudo.
Turistas por todo o lado. Espanhois, argentinos, argelinos, americanos, alemães, chineses, iraquianos, brasileiros, africanos. Muitos idiomas a céu aberto. Começa a escurecer e resolvemos partir. Agora sim, o hotel.
Volta pelas ruelas, sou xingado mais algumas vezes em espanhol por motoristas e pedestres, chego ano centrinho confuso de Barcelona, que confunde ruas e calçadas (você fica em dúvidas ao entrar naquelas ruinhas se você pode ou não estar lá até começar a ouvir os primeiros buzinaços...). Depois de zanzar, acho um estacionamento próximo ao hotel. Pegamos as malas e vamos. Há indianos por todos os lados. Penso que estou na Índia e que o Apu vai aparecer na minha frente a qualquer hora. Pergunto para dois policiais o nome da rua em que estamos. Eles respondem e dizem para cuidar com as malas, como se dissessem: “você é louco de ficar andando com malas e sacolas por essas ruas?”. Insegurança na Europa. Chegamos ao hotel. Alba, o nome. A grande atração desse hotel é o recepcionista, que imagino que também seja o proprietário. Trata-se de um velhinho caduco. Ele fala, fala e fala. E quando você tentar dizer algo, ele te repreende como se fosse o teu pai. Ou te corrige ou pede para não interrompê-lo. Cometo o erro de perguntar para ele como faço para chegar em Las Rambas, a famosa rua que liga o porto velho e a Praça da Catalunha. Eu sabia que era ali perto, mas queria apenas que ele me dissesse em que direção ir. No entanto, ele puxou um mapão de papel e falou e falou e falou. Acho que foi uma palestra de 10 minutos sobre como ir do hotel até Las Rambas. Tentei agradecer para subirmos ao quarto umas três ou quatro vezes mas ele sempre tinha algo mais a falar. E pior: em espanhol. Não entendia metade. Eu tentava falar com ele em inglês. Ele começava no english, mas daqui a pouco já estava no espanhol de novo. Era rir para não chorar. Quando finalmente nos livramos do velho, subimos, tomamos banho e fomos para Las Rambas.
Aí outra diferença que senti entre Barcelona e outras cidades. As pessoas pareciam estar de mau humor. Carrancudas. Nada de risadas. Sempre imaginei Barcelona uma cidade alegre. Os vendedores das lojinhas e feirinhas pareciam estar de mal com a vida. Claro, deviam estar de saco cheio de todo dia ver turistas que viajam pelo mundo enquanto eles têm que ficar ali, trabalhando diariamente para ganhar o pão... Enfim. Não lembro o que comemos pelo caminho até que chegamos à Praça da Catalunha. Apaixonados por Barcelona, podem se implicar comigo. Mas achei feia. Penso que porque era inverno, a grama estava seca e era noite. Parecia uma praça velha e abandonada. Comparada com a Plaza Mayor, de Madrid, era um potreirinho mau cuidado. Mesmo assim, clic, clic e clic. Subimos no Corte Inglés, pois tinha lido num blog que do último andar havia uma vista linda para a praça da Catalunha. Andamos, andamos e andamos. Cheguei até a comprar uma bolsinha para a minha máquina fotográfica. Achei o tal lugar. Nada de espetacular. Descemos. A essa altura, a Cris já estava com os bofes pra fora. Não aguentava mais andar. E eu estava elétrico.
Ainda queria ir até a Sagrada Família. Propus leva-la de volta ao hotel e seguir sozinho, mas não aceitou. Pegamos um metrô e descemos lá. Essa sim, faz jus à fama. Grandiosa e espetacular. Clic, clic, clic. Minutos de meditação e contemplação. E, para encerrar a noite, uma cerveza gelada em Plaza Real, que também ficava perto do hotel. Dessa vez não cometei o erro de perguntar para o velhinho da recepção.
Ao final da noite, resolvi abortar o passeio da manhã seguinte para dormirmos. Teríamos que sair por volta do meio dia do hotel e havia uma viagem com previsão de umas 11 horas até Milão pela frenet. Meu plano, antes de viajar, era passear esse segundo dia em Barcelona, mas viajando a gente vai mudando os planos. Pensei nas minhas pernas e nos meus pés e decidi dormirmos até mais tarde para pegarmos a estrada ainda antes do meio-dia. Sábia decisão, pois eu nem imaginava o que estava por vir...

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