Barcelona. Barcelona boêmia.
Barcelona artística. Barcelona bagunçada. Barcelona alegre, ranzinza e gritona.
Meu imaginário se mistura e se choca com a realidade. No pouquíssimo tempo em que
estive em Barcelona, vi mais o lado ranzinza, bagunçado e separatista-catalão
do que a boemia, a arte e a alegria que eu esperava. Decepção? Não chega a
tanto, pois não posso resumir a cidade a dois dias de inverno. Entretanto,
confesso que a primeira impressão de Madrid foi muito melhor do que a de
Barcelona. E isso que começamos o passeio pelo Camp Nou.
O GPS indicava o trajeto até o
hotel, quando de repente olhei para o lado e vi: a casa de Messi, Suarez e
Arthur e que já foi dos Ronaldinhos, Romário e Rivaldo. Falei para a Cris:
- Vou achar um lugar para estacionar
e vamos descer.
Para a minha sorte, era perto das
duas da tarde: hora da famosa siesta espanhola. E daí? Daí que havia lugares
para estacionar. E o melhor: segundo um carinha que estava num armazém na
frente de onde estacionei, das 14h às 16h não precisava pagar nada. Deixei o
nosso mini carro parado lá e andamos até o Campo Nou. Grande, magnífico,
extraordinário. Porém, como não teríamos muito tempo na cidade, só o visitei
por fora e entrei na loja, não fazendo o tour, ao contrário do que mais tarde
fiz em Madrid, no Santiago Bernabéu. Portanto, não posso comparar. Apenas digo
que a loja do Barcelona é muito mais impactante e tem muito mais coisas do que
a loja do Real Madrid em seu estádio. Acabei comprando o Campo Nou em
miniatura...
Clic, clic, clic. Fotos, fotos,
fotos. Voltamos para o carro.
Eu sabia que o Park Guell também ficava longe do
hotel, então aproveitei para emendarmos. E, assim, seguimos pelas ruas estreitíssimas
de Barcelona, passando por prédios e mais prédios que exibiam dezenas e dezenas
de bandeiras da Catalunha em suas janelas. Barcelona, para quem vive lá, penso
eu, não pertence a Espanha, mas sim a Catalunha. Porém, para o mundo todo,
Barcelona e Madrid são sinônimos de Espanha. Não sei como seria pensar em um
país catalão. Como turista que está por fora e leu minimamente sobre o tema,
sou contra a separação. Aliás, eu sempre fui a favor de uma comunidade o mais
internacional possível, sem fronteiras, com todo mundo tendo o direito de ir e
vir pelo planeta inteiro sem burocracias e sem barreiras. Sonho utópico que
nunca vai se realizar. Unir Deus, Alá, Jesus Cristo e Maomé. Impossível.
Momento dica: o caminho para chegar
até o Park Guell não é fácil. Pelo menos de carro. E creio que de metrô, ônibus
ou a pé também não. Fica lá nos confins de Barcelona, lá no alto não sei de
onde. Longe pra dedéu. São ruelas e ruelas onde só passa um carro, então tem
que ficar muito atento às preferenciais e mãos. Obviamente, cada uma só vai ou só
vem. E tem mais os pedestres que ficam zanzando de um lado para o outro. Parece
que têm o bicho carpinteiro no corpo, não param quietos. E há as faixas de
segurança que, assim como em Frederico Westphael, e diferentemente das grandes
cidades brasileiras, respeitam-nas. E os espanhóis, pelo menos os de Barcelona,
são bravos. Se você não for diminuindo quando chegar perto da faixa já te olham
de cara feia. Franzem a testa e fazem um movimento com o rosto que indica um “humpf!”.
Depois de penarmos para achar o
Park Guell, sofri mais um pouco para achar uma vaga para estacionar. Fui até o
fim da subida e havia um mini espaço. Um mini espaço perfeito para um carro
mini. Se estivesse com um sedan, SUV ou coisa parecida, não teria como
estacionar. Mas com o meu mini Fiat 500, coloquei-o lá, atrás de um carro e na
frente da corrente que indicava que logo ali havia um penhasco. Senti-me o Mr.
Benn manobrando. Mas no fim, tudo deu certo. Sempre dá. Pelo menos quando não
dá errado.
Estacionamos e partimos para o Park
Guell. Eu queria achar o lugar que havia visto nos blogs, com aquela
arquitetura mística e histórica que me fazia lembrar a aldeia dos Smurfs. Fui
seguindo as plaquinhas até que chegamos. Havia uma fila razoável para comprar
ingresso. Entramos e, todo o sacrifício, valeu a pena. O lugar é fantástico.
Não vou contar sobre a história dele, nem nada parecido, pois há infinitos
sites e blogs que fazem isso, inclusive o site do parque...
Clic. Clic. Clic. Clic. Muitas
fotos. Lembro de quando viajava sem câmera ou com as compactas que tinham filme
12 ou 24 poses. Nem pensava em fotos. Não havia redes sociais. Agora, somos
escravos da rede. Porém, como fotógrafo amador apaixonado por fotografia, não
poupo clics. Ajudam a rememorar tudo depois. Fazem lembrar coisas que a
memória, depois de certa idade, já teria deletado do escaninho de nosso
cérebro. Por exemplo: para escrever esse texto, vou olhando as fotos. Se não as
tivesse, não lembraria de metade do que aconteceu. Lá em cima, além de toda a
arquitetura impressionante, você tem uma vista do caralho de toda a cidade. Você
enxerga, por exemplo, o templo da Sagrada Família, majestoso, com suas torres
que se destacam dos prédios e casas de toda a cidade. Muitos e muitos cliques.
Mais vários minutos para apreciar tudo.
Turistas por todo o lado. Espanhois,
argentinos, argelinos, americanos, alemães, chineses, iraquianos, brasileiros,
africanos. Muitos idiomas a céu aberto. Começa a escurecer e resolvemos partir.
Agora sim, o hotel.
Volta pelas ruelas, sou xingado
mais algumas vezes em espanhol por motoristas e pedestres, chego ano centrinho
confuso de Barcelona, que confunde ruas e calçadas (você fica em dúvidas ao
entrar naquelas ruinhas se você pode ou não estar lá até começar a ouvir os
primeiros buzinaços...). Depois de zanzar, acho um estacionamento próximo ao hotel.
Pegamos as malas e vamos. Há indianos por todos os lados. Penso que estou na
Índia e que o Apu vai aparecer na minha frente a qualquer hora. Pergunto para
dois policiais o nome da rua em que estamos. Eles respondem e dizem para cuidar
com as malas, como se dissessem: “você é louco de ficar andando com malas e
sacolas por essas ruas?”. Insegurança na Europa. Chegamos ao hotel. Alba, o
nome. A grande atração desse hotel é o recepcionista, que imagino que também
seja o proprietário. Trata-se de um velhinho caduco. Ele fala, fala e fala. E
quando você tentar dizer algo, ele te repreende como se fosse o teu pai. Ou te
corrige ou pede para não interrompê-lo. Cometo o erro de perguntar para ele
como faço para chegar em Las Rambas, a famosa rua que liga o porto velho e a
Praça da Catalunha. Eu sabia que era ali perto, mas queria apenas que ele me
dissesse em que direção ir. No entanto, ele puxou um mapão de papel e falou e
falou e falou. Acho que foi uma palestra de 10 minutos sobre como ir do hotel
até Las Rambas. Tentei agradecer para subirmos ao quarto umas três ou quatro vezes
mas ele sempre tinha algo mais a falar. E pior: em espanhol. Não entendia
metade. Eu tentava falar com ele em inglês. Ele começava no english, mas daqui a pouco já estava no
espanhol de novo. Era rir para não chorar. Quando finalmente nos livramos do
velho, subimos, tomamos banho e fomos para Las Rambas.
Aí outra diferença que senti entre
Barcelona e outras cidades. As pessoas pareciam estar de mau humor.
Carrancudas. Nada de risadas. Sempre imaginei Barcelona uma cidade alegre. Os
vendedores das lojinhas e feirinhas pareciam estar de mal com a vida. Claro,
deviam estar de saco cheio de todo dia ver turistas que viajam pelo mundo
enquanto eles têm que ficar ali, trabalhando diariamente para ganhar o pão...
Enfim. Não lembro o que comemos pelo caminho até que chegamos à Praça da
Catalunha. Apaixonados por Barcelona, podem se implicar comigo. Mas achei feia.
Penso que porque era inverno, a grama estava seca e era noite. Parecia uma
praça velha e abandonada. Comparada com a Plaza Mayor, de Madrid, era um
potreirinho mau cuidado. Mesmo assim, clic, clic e clic. Subimos no Corte
Inglés, pois tinha lido num blog que do último andar havia uma vista linda para
a praça da Catalunha. Andamos, andamos e andamos. Cheguei até a comprar uma
bolsinha para a minha máquina fotográfica. Achei o tal lugar. Nada de
espetacular. Descemos. A essa altura, a Cris já estava com os bofes pra fora.
Não aguentava mais andar. E eu estava elétrico.
Ainda queria ir até a Sagrada
Família. Propus leva-la de volta ao hotel e seguir sozinho, mas não aceitou.
Pegamos um metrô e descemos lá. Essa sim, faz jus à fama. Grandiosa e
espetacular. Clic, clic, clic. Minutos de meditação e contemplação. E, para
encerrar a noite, uma cerveza gelada em Plaza Real, que também ficava perto do
hotel. Dessa vez não cometei o erro de perguntar para o velhinho da recepção.
Ao final da noite, resolvi abortar
o passeio da manhã seguinte para dormirmos. Teríamos que sair por volta do meio
dia do hotel e havia uma viagem com previsão de umas 11 horas até Milão pela
frenet. Meu plano, antes de viajar, era passear esse segundo dia em Barcelona,
mas viajando a gente vai mudando os planos. Pensei nas minhas pernas e nos meus
pés e decidi dormirmos até mais tarde para pegarmos a estrada ainda antes do
meio-dia. Sábia decisão, pois eu nem imaginava o que estava por vir...
3 Comentários:
sinto muito a tua experiencia em Barcelona , vamos ter que levar voces novamente! faltou dias para vcs cobhecerem Barcelona, eu conheço muito bem , e na volta de voces iremos e vais ter que reescrever o texto kkkk
Por Ella, às 24 de janeiro de 2019 às 10:35
Eu vou viajando junto, a cada texto ... rsrsrs
Por Nara Miriam, às 24 de janeiro de 2019 às 12:36
Viajei junto, poha alemão!
Por Marcos, às 25 de janeiro de 2019 às 08:56
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