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quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Las Calles de Madrid

Madrid. A cidade real. A cidade do Real. Real Madrid. Madrid. Acordamos no meio da tarde e qualquer sinal de efeito do Rivotril já havia evaporado de meu cérebro. Queria sair, passear, tirar fotos, explorar as calles de Madrid. “Ayer la vi bailando por ahí, con sus amigas en una calle de Madrid”, como diz a letra de uma música que viria a conhecer na noite de ano novo, em Burgos. Antes de sairmos, apenas confirmei na recepção do hotel o que temia: nenhum sinal de minhas malas. Bueno, o jeito vai ser encarar tudo com a roupa do corpo mesmo: calça jeans, manga curta e o mesmo jaquetão que comprei num outlet em New Jersey anos antes para encarar o inverno americano.
A primeira coisa que gostei em Madrid, aliás, foi o hotel Barajas Plaza. Discreto, pequeno, mas aconchegante e com funcionários receptivos e sorridentes. Fica em uma rua super estreita no bairro de Barajas, perto de uma pracinha em formato oval. Aliás, a recepcionista nos deu um mapinha do tamanho de um cartão de visitas para chegarmos ao metrô. O plano era esse: deixar o carro na garagem por onde passássemos e usá-lo apenas na estrada, pois qualquer estacionamento custa muito mais do que os tickets do metrô. E o mapa do metrô de Madrid é um dos mais lógicos, fáceis e práticos que já vi. Sem querer bancar o convencido, mas para quem praticamente memorizou o mapa de Nova York no um ano em que morei lá, o de Madrid é fichinha. Seguimos o mapinha impresso até a estação: contorna-se a pracinha, segue reto, dobra à esquerda, à direita, chega à outra pracinha e logo na frente está o metrô. Embarcamos e descemos em Nuevos Ministerios. A lógica de Barajas até qualquer parte da cidade é essa: vai até Nuevos Ministérios, última parada, e de lá se vai para qualquer outro lugar. Ou quase. Pegamos mais um trem, que não me recordo o número, e descemos em Tribunal. Dali, estávamos praticamente na Gran Vía. Madrid! Europa! Finalmente cheguei a ti!
Ainda era dia e caminhamos um pouco pela Gran Vía até a fome bater. Critica-se muito os americanos, mas a praticidade das grandes redes de fast food somada ao preço baixo fez com que entrássemos em um Burger King. De estômago cheio, fomos descendo em direção a Plaza Mayor passando por uma espécie de calçadão lotado de lojas. E, lojas, quem conhece sabe, é com a Cris. De cara, já compramos alguns presentinhos para a nenê e para a vovó (da nenê). Para a minha sorte, não estava tão frio. Descemos até a Plaza Mayor.
Eu fotografava tudo o que via: a estátua do figurão no cavalo, o pinheiro de Natal, o urso, Puerta del Sol, o Mr. Been feioso que zanzava por ali com seu ursinho velho, os espanhóis, as espanholas, los niños e las niñas. Nada era poupado pela minha lente. Passeamos por ali, entramos e saímos de algumas lojas, voltamos para a Gran Vía, até o prédio onde está a placa com as letras luminosas Schweppes (que ainda estavam apagadas), andamos mais um pouco, paramos num Starbucks para tomar um café e, quando saímos, estava noite. A questão é que era outro visual.
Assim, aproveitei a intenção da Cris de visitar mais lojas com a minha vontade de fotografar tudo de novo, mas agora com o visual noturno e a iluminação de decoração natalina, e praticamente percorremos o mesmo caminho feito anteriormente até a Plaza Mayor. Fotografei tudo de novo, porém dessa vez com as luzinhas: o pinheiro, Puerta del Sol, o urso, as lojas, a placa do Schweppes, o Mr. Been com o ursinho velho, os espanhóis, as espanholas, los niños e las niñas. Fomos, voltamos, caminhamos mais pela Gran Vía, entramos nas lojas do Corte Inglêz, numa outra galeria sinistra que não sei o nome, fotografei, curti las calles de Madrid até que cansamos. Uma última parada para um jantar: um sanduichão com um pão francês gigante e algumas coisas sem ovo dentro. Resolvemos voltar, pois a ideia era pegar a estrada cedo na manhã seguinte.
Na chegada, uma passada num mercadinho na frente da praça de Barajas que estava aberta e lá abastecemos com suplementos para a viagem: refrigerante, salgadinho, bolachas, água mineral, etc. Não vou ser hipócrita para dizer que compramos frutas e coisas saudáveis, porque não fizemos isso... Mas enfim, poupamos uns bons euros estocando alimentos.
Chegamos ao hotel e, agora sim, a mala havia chegado. Senti-me completamente aliviado. Ali estavam as minhas botas de neves para os alpes suíços! Minha camiseta do Grêmio! Minha camiseta Xavante! Enfim, só coisas importantes que os 200 euros que me pagariam não compensariam, pois não seria possível comprar a tempo relíquias novas, afinal, onde acharia uma camiseta do tricolor gaúcho ou do Brasil de Pelotas na Europa para tirar fotos nos Alpes suíços??? Carajo! Esses espanhóis tem cada ideia... querer compensar isso com 200 euros... O cu deles.... Arrumamos as coisas que desarrumamos em pouco tempo e assim, na manhã seguinte, às seis horas pelo horário espanhol (três da madruga pelo horário de Brasília) acordamos para pegar a estrada rumo a Barcelona.
Para ser sincero, a excitação da viagem não me permite ter sono. O que surpreende a muita gente que me conhece, pois às vezes sou meio Bukowski nesse ponto: gosto de deitar para um cochilo a qualquer hora, não importa se de manhã, de tarde ou de noite. O sono vindo é o que conta. Isso faz com que muitos pensem que sou sempre sonolento... Mas, quando estou viajando, é como se me ligassem na tomada. Lembro, em 2005, num carnaval no Rio em que me disseram que o bloco Bola Preta começava às 8h. Posamos no apartamento de uma finlandesa em Botafogo, que morava com o marido e o filho, depois de chegarmos às quatro da manhã. Eu e meus três ou quatro amigos cariocas que estavam junto dormimos espalhados pelo sofá e pelo chão do apartamento. Acordei para mijar lá por 7h e tratei de fazer com que todo mundo levantasse para ir no Bola Preta. Só ouvia os cariocas falando com sotaque: “Esse gaúcho não dorme não, pow?”. Pois é, quando estou viajando, não durmo.
Carregamos o carro novamente, o fiatizinho 500, e pegamos las calles de Madrid até a autoestrada. A capital espanhola ainda dormia e praticamente não havia movimento. Foi fácil seguir o GPS e deixar a cidade (missão difícil e demorada em outras cidades, como Barcelona e Paris, na hora do rush). A estrada estava vazia e quase fiz o nosso Fiat 500 decolar. Talvez tenha levado alguma multa, não sei ainda. A máxima era de 130, mas, como não tinha praticamente mais ninguém dirigindo pelas vias sem nenhum buraco, com três ou quatro pistas, cheias de espaço, sem que eu percebesse o marcador chegava a 150, 160...
Quando via, diminuía, mas 130 parecia tão devagar naquelas estradas... Dirigindo, viajando e aprendendo, descobri uma peculiaridade da Europa: não há muitos postos de combustível pelo caminho. E eu, acostumado com o Brasil, que tem posto de combustível a cada 10 ou 15 quilômetros (ou bem menos do que isso) esperei o combustível chegar na reserva para abastecer. Passaram-se 10 minutos. 20 minutos. Meia hora e nada. Nenhuma placa, nenhum sinal, nada. Dos três risquinhos da reserva, dois já tinham ido para o espaço. Apelei para o GPS, que me indicou o posto mais próximo. Obviamente, era fora da estrada, numa cidadezinha no caminho. Quando chegamos (após pagar um pedágio que ficava na entrada da porra da cidadezinha) já não tinha mais risco nenhum no painel, que avisava: “peligro, poco combustible”. Completei e, a partir daí, assim que o painel marcasse que o tanque estava cheio pela metade eu já tratava de procurar um posto. E, geralmente ele aparecia quando o sinal entrava na reserva. Em síntese, outra dica: na Europa, pelo menos nos países por onde passei (Espanha, França, Itália e Suíça), é comum você andar 60, 70 ou até 80 quilômetros sem passar por nenhum posto de combustível de beira de estrada.
Depois de aproximadamente seis horas de viagem, chegamos a Barcelona, onde eu havia feito as reservas em um hotelzinho perto de Las Rambas, na parte sul. Era início de tarde e o GPS indicou um caminho que passava justamente na frente do Camp Nou. Assim, antes de chegarmos ao hotel, fizemos a nossa primeira visita na segunda maior cidade espanhola e capital da Cataluña.

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