Antes de falar sobre o filme 1964:
o Brasil entre armas e livros, quero fazer um esclarecimento.
Caso tivesse nascido em Cuba,
certamente eu seria um dos milhares que fugiu para Miami. Bem como se eu
tivesse nascido na China comunista, também faria de tudo para fugir para o
Ocidente. Da mesma maneira, se tivesse nascido em qualquer ditadura, de direita
ou esquerda, eu tentaria escapar, pois espíritos livres não nasceram para ser
controlados por governos.
Dito isso, quero dizer que fiquei
exatamente as duas horas e sete minutos assistindo ao referido filme. Para quem
é da área da Comunicação, como eu, fica fácil perceber as estratégias
persuasivas e a tentativa de dar uma roupagem jornalística a um conteúdo completamente
propagandístico. No entanto, é óbvio que o filme não foi feito para agradar a
pessoas como eu, mas sim, a milhões de sujeitos que nunca leram nada ou se
informaram minimante sobre o assunto. Aí, você coloca um monte de cara
desqualificando historiadores e pesquisadores e forma uma massa acrítica que
vai acreditar em uma única história, como bem critica a escritora nigeriana
Chimamanda Adichie.
Em meu livro sobre o jornalismo
Gonzo, estudei o conceito de parresía,
que trata justamente sobre a questão do dizer a verdade. Quem quiser saber
mais, pode ler. Em determinado trecho, falo justamente isso: é possível mentir
falando verdades. Um exemplo bem banal: estou com um amigo meu, passa uma linda
morena por nós, e eu digo “uau! Caso não fosse casado, eu convidaria aquela
morena para sair”. Meu amigo ouve isso e, dias depois, ao avistar a mesma
morena, fala para uma terceira pessoa: “Tá vendo aquela morena? O Eduardo disse
que convidaria ela para sair”. Ele mentiu? A rigor, não, eu realmente disse que
a convidaria para sair. Porém, apenas se não fosse casado. Com essa omissão,
meu amigo contou uma mentira falando um pedaço da verdade. É mais ou menos isso
que o documentário faz. E vou lhes dizer como.
Primeiro, o documentário não cumpre
qualquer função jornalística. Apenas são ouvidas fontes que partilham de uma
mesma visão de mundo para tentar reescrever a história a partir dos
interessados nessa nova perspectiva (o atual governo Bolsonaro). Para piorar,
geralmente são fontes citadas apenas como “filósofo”, “jornalista” ou
“ensaísta”. Por que não ouvir pesquisadores que foram a fundo na temática
durante anos?? Ou as vítimas ou filhos das vítimas da ditadura?? É legítimo
entrevistar os sujeitos que eles entrevistaram, mas faltou o outro lado. É um
filme que aponta uma única história como se fosse a verdade absoluta. E, claro,
vacina o telespectador ao dizer que os especialistas na área foram marionetes
do comunismo.
Se você é um fã do filme deve estar
achando esses meus comentários bem genéricos, né? Pois então vamos esmiuçar
melhor.
O filme começa abordando a Guerra
Fria com depoimentos de “especialistas” que apresentam os comunistas como o mal
supremo e os Estados Unidos como a sociedade mais bem sucedida da humanidade.
Mencionam a ascensão de Fidel ao governo de Cuba, sem falar sobre a ditadura
ferrenha de Fulgêncio Batista que imperava na ilha até então, e que foi contra
ela que Fidel lutou.
Também não menciona que toda a pobreza de Cuba e do
comunismo cubano se deu justamente devido as sanções econômicas desumanas
aplicadas a Cuba pelos Estados Unidos que historicamente há séculos sonha em
agregar Cuba ao seu mapa, como já fez com Porto Rico. Em outras palavras,
usando um exemplo citado pelo próprio filme, assim como a União Soviética tentou
dominar todo o leste europeu, os Estados Unidos quis com a América Latina. O
sonho de todos os presidentes americanos, republicanos ou democratas, foi conquistar
Cuba. Nesse sentido, Fidel tem uma importância significativa de resistência.
Ele acabou encontrando nos russos uma forma de apoio de lutar contra o avanço
americano. Tanto é que, como geralmente ocorre, a população apoiou Fidel
durante o seu golpe/revolução mas, depois que ele chegou ao poder, muitos se
arrependem pois percebem que outra ditadura estava por vir.
A tecla da tentativa do comunismo
em dominar o mundo segue sendo batida insistentemente, já para antecipar a
justificativa do golpe. Aliás, é mencionado que a União Soviética impôs ao
leste europeu o comunismo, sem democracia, sendo que o mesmo feito com os
golpes militares na América do Sul, impondo-se um governo, e não deixando que o
povo escolhesse. Fala de uma conspiração soviética para tentar se inserir na
América do Sul, mas não menciona, por exemplo, o Repórter Esso, criado pelos
americanos para difundir notícias favoráveis ao seu país em toda a América
Latina durante a Guerra Fria, bem como a existência de agentes americanos no
país. Também não menciona que militares da América Latina e do mundo foram aos
Estados Unidos nesse período para aprender técnicas de tortura.
As fontes consultadas no filme
dizem que havia agentes soviéticos infiltrados no coração do FBI, mas não
menciona as ações de inteligência americana em Cuba, também com mercenários
cubanos, contratados pelos Estados Unidos para fazer atentados terroristas na
ilha desde a revolução. Coloca as revoluções históricas dos operários como algo
negativo, quando na verdade foi graças a essas rebeliões incentivadas, sim,
pelos comunistas, que nasceram questões como: jornada de trabalho com horas
limitadas, teto salarial, inserção da mulher no mercado de trabalho, direito
dos negros, etc. Sem revoluções e rebeldes, estaríamos exatamente como no
início do século XX, cumprindo jornadas de 15 horas com crianças de 8 anos
trabalhando nas fábricas.
O filme também coloca a criação do
Partido Comunista Brasileiro como algo do diabo, sendo que, em uma democracia
pode, sim, haver ideias comunistas e capitalistas para disputar a preferência
do eleitorado. Cita, também, Luiz Carlos Prestes como um representante maligno
dos comunistas, mas não menciona que a Coluna Prestes ocorreu, por exemplo,
para derrubar o governo corrupto de Arthur Bernardes. Questiona o direito de
Prestes de se candidatar e ser eleito senador. São apresentadas falas
distorcidas e descontextualizadas de Prestes para o “incriminar”. É mencionado
que é caçado o registro do PCB, ou seja, passava a ser ilegal, a ser criminoso pertencer
ao partido, mas não questiona tal decisão. Menciona de maneira bizarra uma
“conspiração da União Soviética e China” para transformar o Brasil em uma
república socialista. Mais adiante, há uma parte em que fala que a história
conta somente o lado da infiltração americana no Brasil e não menciona uma
infiltração comunista, como se isso justificasse as atrocidades do regime
militar. Algo como: nós erramos porque eles também erraram.
Também é mostrada mais
detalhadamente toda a infiltração comunista no Brasil, com fontes que tiveram
acesso a documentos que compravam isso. Mas fica a questão: a Guerra Fria, como
o nome diz, foi uma guerra e havia, reconhecidamente, agentes americanos no
país. Pois então não é normal que também houvessem soviéticos, tchecos, etc? Ou
queriam que os soviéticos ficassem de braços cruzados venço os avanços
americanos? Para ser mais claro: havia gente dos dois lados da guerra
infiltrados no país.
Bom, no entanto, nem tudo é
esquizofrenia total. O trecho que menciona a construção de Brasília, na minha
humilde opinião, é um dos que mais faz sentido. Eu, historicamente, sempre
critiquei tal construção. E, de fato, não foi a toa que a nova capital ficou
isolada do resto do país. O modelo pode até ter sido inspirado nos comunistas, no
entanto, a Casa Branca e Washington não são tão diferentes. Já estive lá e digo
que também não é nenhum Palácio do Catete no meio da muvuca do povão....
Chama a atenção a crítica feita ao
plano de desenvolver 50 anos em 5 de JK. Realmente é ridículo, no entanto, é o
mesmo estilo iniciado com Temer e seguido por Bolsonaro, congelando salários e
fazendo a reforma da previdência, tudo em nome de uma aceleração no crescimento
econômico do país. O filme também faz uma crítica a condecoração de Che Guevara
pelo governo brasileiro (Jânio Quadros), como se Che Guevara não tivesse atuado
nas revoluções sul-americanas que derrubaram ditaduras, inclusive em Cuba. No
entanto, o que talvez ele não imaginasse, é que os novos governos se tornassem
ditaduras tão ferrenhas quanto as anteriores, como aconteceu com Fidel. É a
revolução dos bichos em prática.
Em seguida, é contada toda a
história da renúncia de Jânio, que estava isolado politicamente e pensava que o
povo sairia às ruas para pedir a sua volta. Assim, assume João Goulart,
apresentado como ministro do trabalho de Vargas, deputado federal e vice de JK
(que anteriormente tinha sido caracterizado como o comunista construtor de
Brasília). Tenta mostrar Jango como um sujeito ligado às ditaduras populistas
do mundo, tudo para justificar o golpe. Haveria um interesse comunista em
apoiar João Goulart. Aí iniciou a história de evitar que Jango assumisse a
presidência por questão de segurança nacional. Quando Jânio renuncia, Jango
está na China de Mao Tse Tung estreitando o relacionamento entre os dois
países. Isso tudo é apresentado como justificativa do golpe, pois haveria uma
conspiração em andamento. Mostra a campanha da legalidade de maneira distorcida,
como se fosse uma ação dos comunistas contra os militares salvadores da pátria.
Há vários livros mais sérios que esse filme que falam sobre isso. Indicaria
aqui o do Juremir Machado da Silva, que não só é jornalista professor e
pesquisador, mas também viveu essa época. Assim, o filme questiona a legalidade
da posse de Jango, sendo que ela estava na constituição.
Na narrativa do filme, a chegada ao
poder do Jango, com o vínculo de Prestes, seria a forma do Brasil se tornar
comunista. Segundo um dos entrevistados: “Eram indicativos que a esquerda
estava se reinventando”, como se isso fosse uma crime demoníaco. Também cria-se
a justificativa econômica: governo Jango chega a inflação de 100% ao ano, com
greves e problemas sociais. Jango seria o promotor das greves, incitando o povo
a pressionar o congresso. Fala de brasileiros que faziam curso de guerrilha em
Cuba, mas não menciona os cursos de torturadores que os militares faziam nos
Estados Unidos.
Outro tema abordado é a possível
conspiração de se usar sindicatos e ligas campesianas para revoluções,
movimentos, etc, e se critica muito isso, mas sem abordar as condições dos
trabalhadores nessa época nem das pessoas no campo. Ou seja, se marginaliza
qualquer movimento popular que reivindique melhorias, como se todos os
sindicatos, movimentos, revoluções, greves não tivessem na origem uma
necessidade de mudança, a injustiça social e busca por melhorias de maneira
geral. Como disse, se não fosse isso, estaríamos ainda na era da revolução
industrial com as pessoas trabalhando 15 horas por dia ganhando um salário,
além de ter crianças e mulheres grávidas fazendo trabalho pesado.
Coloca-se para baixo do tapete toda
a carreira de nomes como Jânio Quadros e Leonel Brizola, como se fossem
conspiradores comunistas malvados. Como mencionei, não conta a história de
Cuba. Apenas coloca Fidel como vilão, sem fazer menção que ele, bem como Mao
Tse Tung, na China, derrubaram ditaduras piores que as deles. Óbvio que isso
não torna a ditaduras deles menos ruins, no entanto, para as fontes, o golpe é
justificado por um governo ruim de Jango. Eu diria mais: o golpe poderia ter
sido chamado de revolução se fosse para derrubar uma ditadura comunista que já
estivesse implementada no Brasil. Mas o que aconteceu foi que os militares
tocaram Jango de Brasília para assumir o poder. Em outras palavras: golpe!
Para os produtores do filme (usando
as fontes como marionetes, como eles bem gostam de dizer), comunistas e
militares insubordinados estariam bolando um possível golpe comunista, usando
Jango para tomar o poder e transformar o Brasil em uma nova China ou Cuba. Ao
invés de colocar a voz de Jango e Brizola discursando, um entrevistado fala, de
maneira descontextualizada e com as próprias palavras (conforme lhe convém), os
discursos dos dois. Conforme venho ressaltando, em nenhum momento se ouviu o
outro lado da história, muito pelo contrário, tenta se desqualificar tudo que
vá contra essa teoria da conspiração. É esquizofrenia total.
Para piorar, fala da Marcha da
Família com Deus pela Liberdade, como um movimento do bem contra a ameaça
comunista do mal. Também menciona que esses movimentos anti-comunistas eram
gigantescamente maior do que os de esquerda: então por que não tirar o Jango e
fazer novas eleições? Ou por que então os militares não ficaram dois ou três
anos, antes de reconduzir o governo aos civis através de eleições??
A leitura do Cid Moreira numa
reportagem televisiva da época é cômica: é como o anúncio da chegada do
Chapolim Colorado para salvar a população indefesa que estava sendo ameaçada
pelos comunistas vilões que comem criancinhas. Nas falas dos militares ou dos
apoiadores, como Carlos Lacerda, se coloca o áudio do discurso deles,
diferentemente das falas de Prestes, Brizola e outros, que são lançadas na boca
das fontes, que modificam as palavras e fazem uma voz para ridicularizar qualquer
pessoa de esquerda... Aliás, o maior pecado do filme: tentar colocar qualquer
ideia de esquerda na panela do comunismo. É o mesmo que fazer um documentário
tentando colocar qualquer pensamento de direita na panela do nazismo ou do
fascismo.
Diante da movimentação dos
militares, João Goulart parte para o exílio. Isso também não é aprofundado e
não se ouve ninguém do outro lado. As fontes são “escritor e jornalista”,
“presidente de centro de tradições” (!?!), “filósofo”, etc. Como disse: por que
não entrevistaram professores de história?? Pesquisadores?? Pessoas que viveram
o outro lado na época? Há uma edição na escolha das fontes que lhes favorecem,
sem o contraponto. Típico da propaganda.
Considerando que a chegada dos
militares no poder foi uma resposta ao caos, como Fidel chegou ao poder para
derrubar uma ditadura, não se admite que os militares derrubaram uma
possibilidade de ditadura de esquerda para implementar uma ditadura militar de
direita. Nesse sentido, se fala em forjar
cartas que comprovariam a ligação da CIA com o golpe, porém, as fontes
apresentadas ao longo do filme são totalmente questionáveis, inclusive as
estrangeiras.
Olavo de Carvalho chama as
pesquisas e livros de história como “um massacre publicitário” (como nomear
esse filme, então? Charlatanismo?). Em nenhum momento se aprofunda isso, apenas
são apresentados com descrédito e ironia. Obviamente que, como mencionei, esse
filme não foi feito para pessoa que leram sobre as temáticas ou consultaram
outras fontes, ele é voltado justamente para o sujeito que usa a internet e se
informa por memes, desenhos e vídeos.
Em seguida, Castelo Branco é
apresentado como um grande militar, primeiro militar escolhido presidente, eleito
“democraticamente” pelo congresso. Inicialmente era para ser uma intervenção
militar por um período curto para se realizar novas eleições, e não um regime
militar. Começa a caça aos “subversivos”. Todo mundo era subversivo (mas isso o
filme não mostra, obviamente). Foi feita uma caça às bruxas no congresso e
vários políticos foram expulsos do governo e de todas as esferas políticas sem
nenhum tipo de julgamento. Se isso não é ditadura, não sei mais o que é...
Mostra que os militares agora
tinham uma missão importante para o país: tirar da vida política os “agentes”
comunistas. Começa a se justificar, com metáforas toscas (primeiro era uma
intervenção cirúrgica, mas depois viram que tinha que internar, sedar, etc) a
permanência dos milicos no poder, obviamente, sem destacar as atrocidades que
fizeram. Muito pelo contrário, tenta se justificar cada uma delas.
Criticavam que o João Goulart
queria governar por decretos, impondo uma ditadura, mas os militares passaram a
governar por atos institucionais. O n° 2 estende o governo de Castelo Branco.
Limita-se a dois partidos e ainda quem vota é apenas o congresso. Assim, ficou
a Arena, dos militares, e o MDB, que era uma oposição de faixada. Costa e Silva
é “eleito” o sucessor de Castelo Branco, sendo o primeiro “linha dura” a chegar
ao poder. Começa a se justificar as perseguições, falando em terrorismo
comunista de guerrilhas (contra uma ditadura, a guerrilha é totalmente
justificável). Tenta ridicularizar a oposição armada feita ao regime, como
Araguaia e a participação de Dilma em outros movimentos que, para eles, seriam
todos grupos terroristas para tomar o poder para os comunistas. É o ápice da
esquizofrenia.
Qualquer um contra o governo era agente comunista. Não menciona
nenhum dos tantos mortos e desaparecidos, vítimas do próprio governo. Pelo
contrário, mostram toda a luta contra a ditadura como uma ação criminosa,
novamente sem ouvir o outro lado, apenas mostrando o pessoal de esquerda como
se fosse um noticiário policial. Não faz menção ao filme “O que é isso
companheiro”, que conta a história do sequestro do embaixador americano, filme
que concorreu ao Oscar e que tem muito mais credibilidade do que esse.
Nega que a tortura era uma política
de estado, no entanto, comprovadamente o governo mandava torturadores treinarem
nos Estados Unidos e também há os arquivos abertos recentemente que mostram que
a alta cúpula do governo (incluindo presidentes) ordenou execuções e torturas.
Chamam isso de “publicidade” da esquerda e “exagero”. Esses elementos tiram
totalmente qualquer credibilidade que o documentário pudesse reivindicar.
Claramente é um produto com fins de enterrar a esquerda e tentar garantir que
partidos como o PT nunca mais voltem ao poder. É publicidade política
disfarçada de jornalismo. Querem dizer que foi feita fraude para aumentar o
número de desaparecidos, pois eles teriam se auto exilado ou mudado de nome. Vai
falar isso para os órfãos das vítimas da ditadura...
No entanto, a maioria das fontes admite
que houve uma ditadura militar no Brasil a partir de 1968, com o AI-5. É uma
“mea culpa” para deixar a mensagem: “ok, nós admitimos alguns erros, mas nem se
compara com os comunistas”. Tem uma imagem do Médici com Nixon que mereceria um
aprofundamento maior, pois Nixon sim foi o demônio disfarçado de gente.
Há estratégias que certamente vão
enganar os menos avisados. Por exemplo, mostra-se vídeos da época para
exemplificar que o apoio do povo aos militares era evidente, como se a TV não
estivesse sendo controlada por eles, por bem ou por mal, pois em 1968 é
instaurado o AI-5 que dá total poder de censura ao governo.
Mas o mais bizarro de tudo é a
demonização da geração hippie, da contracultura, do maio de 68. Tudo isso é
mostrado como se os jovens fosse uma massa de manobra dos comunistas!!!!
Fiquei
imaginando a geração beat, Kerouac (foto) e Thompson, sendo tachados de comunistas.
Tudo isso é apresentado como se fosse uma estratégia marxista. Ao invés de
fazer a revolução das armas seria a revolução pela cultura com a rebeldia. Em
síntese, ou você é um cristão “cidadão de bem” ou é comunista ou é ingênuo
sendo usado como massa de manobra. Eles dividem as pessoas dessa forma.
Inclusive, há uma relativização do discurso de homofobia, racismo e machismo,
como se isso fosse conceitos comunistas para tentar tomar o poder. Haja
paciência!!
Em síntese, as pessoas medíocres
(no sentido de média intelectual da população) terminará de ver o filme
pensando que a cultura da esquerda é do mau e que a história escrita até hoje
está deturpada. Isso tudo renderia um baita estudo sobre persuasão. Aliás, se
os mulas muçulmanos conseguem convencer pessoas a se tornarem homens bombas, por
que não lançar produtos que vão convencer as pessoas de que qualquer ideia de
esquerda vem do demônio??
Outro ponto bizarro é a tentativa
de relativizar a censura. Ao invés de ouvir jornalistas que viveram isso,
colocaram Olavo de Carvalho e outros comentaristas de direita dizer que era uma
censura de faixada. Leiam “Cale a boca jornalista”, do Fernando Jorge, que não
tem nenhuma conotação política, apenas apresenta casos de perseguição de
jornalistas ao longo da história do Brasil e tirem suas próprias conclusões.
Para completar, é feito todo o
descrédito a historiadores e pesquisadores, se combate o intelectualismo,
exatamente nas características do fascismo apresentadas nos museus do
holocausto. Eu vi essa placa, por exemplo, no museu de Washington D.C. Todas as
ditaduras têm horror aos intelectuais e tentam demoniza-los, tanto nas
Américas, quanto na Europa e no Oriente Médio. De esquerda e de direita. “O
terror da repressão era exagerado”, chega a dizer um dos entrevistados. Outro
sujeito, apresentado como ensaísta e jornalista, que pela idade não viveu o
período, tem a cara de pau de dizer que não houve perseguição. Geralmente são
argumentos rasos. Um show de avereza cognitiva e intelectual, tentando
simplificar questões complexas.
O intuito do filme fica claro no
final, quando se faz toda a ligação dos políticos do PT na atualidade com os
agentes que tentavam implementar o comunismo no Brasil nos anos 1960. PT, Dilma
e Lula são demonizados, obviamente. Para fechar com chave de latão, chamam o
exército de quarto poder e criticam ferrenhamente a constituição. Parece já
estarem criando um argumento para, em breve, acabar com as eleições e colocarem
novamente militares no poder até não sobrar nada do PT. Isso tudo mostra a
obviedade dessa produção: é um amontoado de ideais propagandísticas e
esquizofrênicas tentando conquistar o coração de pessoas que, certamente, nunca
leram um sequer livro sobre o tema. E que, com certeza, depois de verem esse
filme não o farão.
1 Comentários:
Meu Caro Eduardo, excelente texto! Fico pensando no meu avô paterno que foi amigo pessoal de Prestes, que lutou com ele, todo o tempo. Que o recebia em casa (escondido). Se ele pudesse ver o que acontece por aqui... alguns de seus descendentes apoiando a ditadura, falando mal dos "comunistas" sem sequer saber o que é comunismo. Há meu caro, tá difícil, entretanto mesmo que consigam acabar com o "pt", um dia todos precisarão de um partido de esquerda para lutar por suas lutas, eles não entenderam AINDA que foi sempre, em toda história a esquerda que conquistou TODOS os direitos que temos... mas como sabemos o povo é gado que se deixa guiar.
Por Unknown, às 9 de abril de 2019 às 03:13
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