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domingo, 27 de janeiro de 2019

Le Pistolon!


Duas curtas ainda sobre a viagem de Barcelona a Milão.
Na primeira vez em que tive que abastecer na França, a bomba de gasolina ficava relativamente distante do lugar onde tinha que efetuar o pagamento. Como não sabia como as coisas funcionavam por lá, fui até o balcão de atendimento e perguntei a um senhor calvo, magro, com nariz fino e bigodinho legitimamente francês:
- Como faço para abastecer? – perguntei em inglês.
Ele torceu o nariz e disse.
- No English.
- Spanish?
- No. Frensh.
Falei pausadamente em inglês, gesticulando, se eu tinha que pagar antes de abastecer ou eu abastecia e depois pagava.
- Pay now – ele conseguiu dizer.
Paguei, não lembro exatamente, mas algo em torno de 20 euros. Saí do escritoriozinho do posto e caminhei até onde estava o carro. Era um posto pequeno, apenas com duas bombas. Cheguei lá e me dei conta de que não sabia que gasolina eu tinha que servir, pois estava tudo em francês. Fiquei olhando a porra da bomba por algum tempo. Voltei lá no francês.
- Qual daquelas lá é gasolina para carro? – e citei as quatro possibilidades. Dessa vez ele entendeu e disse, com cara de Garfield:
- B-95.
Voltei ao carro. Peguei o pistolão e encaixei no tanque do carro. Tentei apertar uma vez e nada. Duas e nada. Três e nada. Quando vê, começou a sair a voz do francês por uma caixinha de som ao lado da bomba, que eu entendi da seguinte forma (não sei se faz sentido, pois não falo francês):
- Le pistolon! Le pistolon!! #$@~%&**!@@#!*¨$#*(*@ pistolon!!!!!
Eu comecei a rir. Só entendia pistolon.
- Eu tô apertando a porra do pistolão! – Gritei de volta em claro e bom português.
- LE PISTOLON!!!! LE PISTOLON!!!! – Ele insistia enquanto provavelmente me xingava em francês.
- Porra! Não sai nada, caralho! – eu berrei em resposta.
- #$@~%&**!@@#!*¨$#*(*@! LEEEEE PISTOLOOOOONNNNNNNNN!!!!!
Até que eu tive a brilhante ideia de apertar a porra do gatilho do pistolão e segurar por, sei lá, uns 10 segundos. De repente, começou a sair gasolina. Que côsa. Na Espanha e nos Estados Unidos não precisava segurar tanto tempo... Enfim, consegui me livrar do pistolon.
Outro episódio semelhante foi numa das inúmeras paradas para pagar pedágio. Os protestantes tomaram os postos da maioria deles (e, believe me, são muuuuitos!!!), mas alguns ainda estavam funcionando, mais perto da fronteira com a Itália. Aliás, economizei sei lá, uns 50 euros graças aos protestantes que liberaram quase todos os pedágios. Pensando bem, valeu a pena as cinco horas em Arles em troca desses 50 euros... Enfim, paramos num desses pedágios e eu não achava onde enfiar a porra do dinheiro ou o cartão. Olhava e olhava e olhava e nada. Para a nossa sorte, a estrada estava praticamente vazia. Eu estava variando entre cartão e dinheiro, mas naquela joça não havia alternativas. Apertei a campainha. Um cara atendeu em francês.
- Do you speak English? – perguntei.
Ele respondeu em francês. Silêncio. Apertei de novo. Agora uma mulher, também falando em francês.
- Do you speak English? – insisti.
Resposta em francês. Veio um terceiro carinha falando um inglês pior que o do Joel Santana. Eu só perguntava:
- Where should I put the fucking money?
- Box. In the box – ele respondeu (ou pelo menos foi o que entendi).
Eu olhava para todos os lados e não via caixa nenhuma. E ele ficava repetindo “the box, the box”. Perdi a paciência:
- And where's the fucking box ???
O idiota só repetia:
- THE BOX! THE BOX!
Juro por Nosso senhor que não havia caixa onde botar a merda do dinheiro. Ficamos nessa por uns cinco minutos até que ambos perdemos a paciência e ele abriu a catraca. Passei sem pagar, mesmo sem a ajuda dos protestantes. É, a França é um país complexo.

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