A gente estava tentando encontrar o
metrô para voltar ao hotel quando vi um grupo de brasileiros (com camisetas da
seleção) parados próximos à torre Eiffel. Fui lá pedir informação e, como o
nosso metrô era o mesmo que pegava para o Parc des Princes, eles perguntaram:
- Também vai no jogo?
- Quê jogo? – questionei.
- Do PSG.
- Sério?
- Sim.
- Que horas?
- Às 21h.
Olhei no relógio: passava um pouco
das 18h. Fiz um cálculo mental rápido e dava tempo. Agora teria que passar essa
informação para a Cris da maneira mais suave possível.
- Está cansada? – perguntei.
- Sim, morta!
Beleza! Falei da maneira mais meiga
possível que a deixaria descansar tranquila no hotel, sem perturbá-la. Aliás,
eu a deixaria sozinha para descansar e repor as energias indo ao jogo do PSG
naquela noite! Não encontrei muita resistência, pois o convite para ir junto foi
prontamente recusado. Pegamos o metrô, chegamos ao hotel, tomei um banho
rápido, tomei duas latinhas de cerveja, coloquei a camiseta do Grêmio por cima
do blusão e parti. Não estava tão frio e, na minha ingenuidade tropical, acreditei
que o clima ficaria naquela faixa dos 9° ou 10°C e não levei casaco.
Ganhei a rua e parti para o metrô.
Lá, dois franceses acompanhados de dois garotinhos de uns 7 ou 8 anos
perguntaram em inglês que camisa era aquela:
- Do Grêmio – respondi.
- Do Brasil? – perguntou um deles.
- Sim!
- Vai no jogo? – questionou o outro
.
- Vou.
- E vai torcer pra quem?
Senti uma certa hostilidade na
pergunta.
- Para o PSG! – respondi.
Começamos a conversar sobre o time
e eles não sabiam se Mbape e Neymar iriam jogar. Tudo era traduzido pelos dois
adultos aos pequenos, que participavam ativamente da conversa. Logo, um
paranaense, que estava acompanhado da namorada, disse que o Neymar tinha ido
para o Brasil passar as festas de final de ano, portanto, apenas Mbape jogaria.
Os franceses não gostaram da informação e só não xingaram o Neymar porque
estavam diante de brasileiros. O paranaense, então, perguntou se eu havia
comprado ingressos. Antes de sair do hotel vi que havia muitos ingressos
disponíveis e deixei para comprar no estádio. Os dois franceses se olharam,
como se dissessem, “mas que burro!” e recomendaram eu chegar lá e correr,
porque era o último jogo antes da parada de final de ano e o estádio certamente
ficaria lotado.
Chegamos ao Parc des Princes e me
indicaram o caminho das bilheterias. Corri, corri e corri. Me perdi umas três
vezes até que cheguei num guichê onde torcedores entravam. Perguntei para um
carinha de colete, funcionário do estádio, onde era a bilheteria.
- Bilheteria? Não tem mais
ingresso, man!
- Sério?
- Sure!
Bah! Duvidei. Segui indo em direção
às bilheterias e, chegando lá, tudo fechado. Sem ingressos. Tudo vendido.
Voltei para o mesmo portão de acesso ao estádio e perguntei para outro
funcionário, já desesperado pensando na viagem perdida, se havia outra
bilheteria. A resposta foi a mesma.
- Os ingressos acabaram, man!
Um senhor negro ouviu a conversa e
me chamou de canto.
- Procurando ingresso?
- Sim! – respondi.
- Eu tenho aqui.
A sirene de alerta tocou na minha
cabeça. Comprei duas vezes ingressos de cambistas na vida e, em uma delas, o
ingresso era falso. Disse para o cara que apenas compraria se ele me
acompanhasse até eu entrar no estádio. Ele topou, apesar de que isso era impossível,
pois no primeiro portão eles apenas checavam se você tinha ingressos, sem
conferir se eram falsos ou não. O cambista queria um dinheiro que eu não tinha
e acabou aceitando tudo o que eu tinha em espécie na carteira, pois já estava
quase na hora do jogo e talvez ele não vendesse se não aceitasse a minha contraproposta.
Entrei e ele me desejou um bom jogo. Fui suando frio, passando por vários
portões onde os funcionários do estádio checavam o meu bilhete com uma
lanterninha. Quando sentei na minha cadeira, imaginei que apareceria outro
torcedor com o mesmo bilhete que eu, e então, eu teria que ficar fugindo dos
fiscais pelos cantos. Mas isso não aconteceu: o ingresso não era falso e pude
assistir ao jogo contra o Nantes, que foi o último do Sala, o atacante do time
francês que morreu poucas semanas depois, num acidente aéreo.
Havia um garotinho acompanhado do
pai ao meu lado. Ele parecia um mini Mbape. E, realmente, ele era fã do craque
francês. Aliás, logo descobri que o maior ídolo do PSG hoje é o Mbape. Não tem
pra Neymar nem Cavagni. O pai do guri não falava inglês e nos comunicávamos por
mímica. Ele mostrou fotos do guri com os craques do PSG e entendi que o garoto,
que devia ter uns 6 anos, jogava na escolinha do clube. Tirei uma foto do
ingresso dele para não esquecer o nome. Disse para o pai dele, numa mistura de
inglês e espanhol que ele parece ter entendido, que se o guri ficar rico e
famoso eu irei procura-los.
Dentro do estádio, me surpreendi,
pois mesmo com o PSG tendo uns 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado,
o estádio estava absolutamente lotado. A torcida cantava o tempo todo e tem uma
espécie de Geral do Grêmio que também fica atrás do gol, fazendo muito barulho,
com bandeirões gigantes e sinalizadores. Um sujeito fica comandando tudo com um
megafone. Mais um mito que desconstruo viajando pelo mundo: a de que as
torcidas sul-americanas são mais fanáticas e fazem mais barulho que as
europeias. O estádio lotado cantava o tempo inteiro e foi uma festa de
arrepiar. Fiquei imaginando um jogo de Champions... No entanto, quando
assistimos aos jogos europeus pela TV no Brasil o som da torcida não chega até
nós e ficamos com a impressão de que fica todo mundo sentadinho, calado. Nada
mais distante da verdade do que isso.
Vibrei muito com o gol da vitória,
marcado pelo Mbape, e foi bonito ver o garotinho feliz da vida pelo gol anotado
pelo seu maior ídolo. Ao deixar o estádio, estava morrendo de frio, e me perdi
mais umas três vezes até encontrar a parada certa do metrô que me levaria até o
hotel. Volta e meia algum brasileiro gritava: “e aí, gremista!”. Cheguei a
parar para conversar com alguns, que disseram ser parentes do Marcelo Oliveira,
do Grêmio. Mostraram fotos com ele, tiradas em uma viagem recente à Israel. Depois
de andar feito barata tonta, finalmente encontrei a parada certa e voltei, são,
salvo e com frio, para o hotel. Tomei um banhão quente e dormi o sono dos
justos, pois no dia seguinte teríamos uma longa viagem pela frente até Burgos,
no norte da Espanha.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home