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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Quem matou o espetáculo?

Os close-ups que dão no público dos estádios de futebol hiper-modernos mostram que o verdadeiro espetáculo do futebol está morto. Ele ficou definhando, agonizando durante anos, em estádios que até então eram apenas reformados, mas que já elevavam o nível financeiro de seus espectadores (é como se chamam hoje os antigos torcedores), até que as arenas e estádios de padrão Copa do Mundo bateram o último prego no caixão do antigo espetáculo futebolístico. O corpo ainda está morninho, mas já não respira.
Há muito tempo atrás, os ingressos para qualquer jogo em território nacional eram vendidos a preços populares. Algo como R$5 reais a velha e boa coréia do Beira-Rio ou a recém finada geral do Grêmio. As arquibancadas eram algo como R$15, sociais R$30 e cadeiras de R$50 pra cima. Sob o ponto de vista econômico, estou chutando, mas ficava mais ou menos nisso. E o que se tinha nos estádios? Torcedores, meus amigos. Centenas, milhares de TORCEDORES. Pessoas comuns, que recebiam um salário mínimo ou pouco mais. Pedreiros, porteiros, zeladores de prédio, seguranças de bordéis e até desempregados. Pessoas que tinham na ida ao estádio de futebol uma de suas poucas diversões. E lá, no cimento dos velhos estádios, esse torcedor dava espetáculo. Exibia seu repertório de palavrões aos berros. Chamava as mulheres que ousavam invadir o seu espaço, no mínimo, de “gostosa” e “piranha”. Vendia-se cerveja nos estádios, meus amigos! E os jornalistas podiam entrevistar os jogadores dentro do vestiário! Vejam vocês!
Agora não existe mais nada disso. Ao invés de receber torcedores, os estádios hiper-modernos, as arenas, recebem público. Espectadores. Cidadãos de bem e sem graça. Zumbis semi-mortos. Ao invés de receber o pedreiro, o gari, o panfleteiro descarado, os estádios recebem os doutores, os médicos, os juízes, os funcionários públicos que mamam nas tetas do governo. Eles são gordinhos, tem as carnes flácidas pela falta de exercício e usam as camisas oficiais dos times que custam R$200. E quando ousam gritar, parecem umas moças envergonhadas. E por que tudo isso?
A resposta é simples. Tudo isso é em nome do próprio espetáculo! Quer algo mais contraditório do que manter o espetáculo através de um anti-espetáculo. Trocou-se o torcedor que canta e dá show por um gordinho almofadinha que senta numa cadeira confortável e come cachorro-quente com Coca- Cola enquanto assiste ao jogo. Colocam-se dezenas de câmeras no estádio para filmar esse torcedor sem graça de todos os ângulos possíveis e imagináveis! Exclui-se do espetáculo os verdadeiros promotores do próprio espetáculo.
Pois é, meus amigos, o espetáculo morreu. E sabem quem matou o espetáculo? Pois eu lhes digo: o próprio espetáculo. A vontade de transformar o espetáculo em um hiper-espetáculo futebolístico, matou o próprio espetáculo.
Ou seja, o espetáculo se suicidou. No próximo jogo, teremos um minuto de silêncio.
Hasta!
*Texto publicado no JM do próximo sábado.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O ovo assassino - A ressurreição


Meu primeiro texto nesse blog se chamava justamente “Ovo assassino”. Sinceramente, achei que com o passar dos anos e as experiências acumuladas, iria diminuir o número de dramas vividos referente à minha alergia a ovo. Porém, no auge dos meus 31 anos (ou seja, 31 anos de alergia a ovo) eis que hoje quebrei um recorde: comi dois dias seguidos coisas que levavam ovo. Sinceramente, acho que isso nunca tinha acontecido antes.
Primeiro foi ontem. Estava em Porto Alegre e fui da PUC para o Shoping João Pessoa para comprar a minha passagem de volta para Pelotas. Como eram cerca de 16h e meu ônibus era apenas às 18h, resolvi sentar na praça de alimentação. De uns tempos pra cá, peguei o gosto de comer Xix (sem ovo e maionese, obviamente) com batatinha frita. E eis que num dos botecos do shoping tinha estampado num cartaz um belo Xis cercado de batatinhas fritas douradinhas e suculentas. Minhas lombrigas deram sinal de vida e não resisti: fui lá e pedi um Xix com fritas, dando ênfase à necessidade urgente de não colocarem ovo e nem maionese. Sentei e fiquei lá, esperando, olhando para as cadeiras vazias, pois esse é o shoping menos freqüentado da capital gaúcha. Depois de meia hora, serviram-me o Xix. Como estava com uma fome do cão, emendei umas quatro garfadas com muita batatinha. Até que, quando fui dar a quinta, minha boca começou a secar, a língua a arder, e os lábios a inchar. Putaquepariu, eu pedi sem ovo e sem maionese, caralho! Abri o Xix e comecei a fuçar, mas não encontrei nenhum ovo e nenhuma maionese. No entanto, encontrei outra coisa: o bife de frango era à milanesa. Que merda! Comecei a olhar em volta e a pensar no que fazer. Na verdade, não eram muitas opções: Continuar comendo para depois vomitar tudo? Ir lá reclamar e dizer “como vocês não falam que o bife é à milanesa??” e pedir o dinheiro de volta? Ou pedir para embrulhar e dar para o primeiro mendigo que cruzar pela minha frente? Optei pela opção mais social e embrulhei o troço e entreguei para um mendigo na rodoviária. Dessa vez, milagrosamente, não vomitei, mas voltei me remoendo de dor na barriga e com a boca cheia de amargor durante as três horas de viagem.
E, agora há pouquinho, veio o segundo ataque. Fui pegar cacetinho (sim, não-gaúchos, podem rir!) e a patroa disse que não precisava, porque ela tinha comprado pão sanduíche no mercado. Antes de comer, como nunca tinha visto aquela marca, fui verificar nos ingredientes se havia ovo. Nada. Ela fez duas torradas pra mim (que os não-gaúchos chamam de misto-quente) e, quando comecei a comer a segunda começou a mesma coisa: amargor na boca, língua ardendo e beiço inchando. Perguntei pra patroa: “tem certeza que não colocou maionese?”. “Não”, disse ela. Então, não convencido pelo status quo do discurso alimentíceo que se apresentava, peguei novamente o saco de pão e reli os ingredientes. Nada. Porém, logo abaixo, estava escrito: “Atenção para os alérgicos: esse produto é manipulado com derivados de leite, isso, aquilo e... ovo!”. Putaquepariu! Dois dias seguidos ninguém merece! É, amigo, a vida não é fácil. Principalmente pra quem é alérgico a ovo...
Hasta!

sábado, 6 de abril de 2013

Leituras – Texto chato da porra

A maioria dos vagabundos leitores não tem paciência para ler nada sobre outros livros. Aliás, a maioria dos leitores sequer lêem porque tem preguiça e porque são vagabundos mesmo. Por sinal, acredito que nem existem mais leitores, apenas pseudo-leitores que dizem que lêem, mas na verdade não lêem porra nenhuma. Enfim, como é óbvio, não acredito muito na humanidade – e muito menos nos leitores.
De qualquer forma, vou deixar aqui, no vácuo, algumas considerações sobre minhas leituras.
Estou acabando de ler o terceiro livro de uma espécie de trilogia sobre a parresía do Foucault (não é trilogia, mas eu assim denomino, pois é o terceiro livro, de uma série bem maior, de textos escritos a partir de palestras do filosofo realizadas até poucos meses antes de sua morte, em 1984). É um livro muito bom, aliás, pra quem faz qualquer curso na área das Ciências Humanas, é um livro BOM PACARAÍ, e obrigatório para jornalistas... Livro não, livros... A trilogia a que me refiro é “Hermenêutica do sujeito”, “O governo de si e dos outros” e “A coragem da verdade”.
Entrando nessa onda de parresía, do tudo dizer, da franqueza absoluta, confesso que não entendo porque eu continuo comprando livros. Tem pelo menos uns cinco aqui que estou louco pra ler, como “Honra teu pai”, do Gay Talese, “História regional da infâmia”, do Juremir, e outros, mas mesmo assim peguei mais um. Tipo ãnsim (uma gíria mista entre a fala da minha enteada e do barbeiro lá de Santo Ângelo), faz mó tempão que quero muito ler esses livros, que não são pequenos (umas 300, 400 páginas), mas aí me pilhou a idéia de, de repente, se pá, dar um pulo em Kingston na volta dos US para o Brasil, e aí dei um bizu na internet e achei o “Queimando tudo”, uma biografia de 500 páginas do Bob Marley, e numa dessas até posso usar o bagulho na minha tese, e aí foi que, quando vi, tinha encomendado o troço que deve ta chegando...
Até eu ia escrever mais, mas estou entrando na onda dos leitores, e também estou com preguiça, por isso vou dormir, afinal, são 2h20 da madrugada e estou terminando um fardo de long neck de Polar. Portanto, simplesmente, fui!