Middlemarch - Parte 1
Eu cheguei ao livro Middlemarch, de
George Eliot (pseudônimo masculino adotado pela escritora britânica Mary Ann
Evans, no século XIX), através da mesma lista — publicada no Instagram de um
jornalista cultural — que me levou a Lucky Jim e a Contos de Canterbury. Neste
texto, não vou fazer um comparativo entre eles; vou me ater ao mesmo estilo de
resumo comentado para que, daqui a alguns meses ou anos, quando eu não lembrar
da história, eu possa consultar e refrescar a memória.
Bom, Middlemarch é o nome de uma
cidade fictícia da Inglaterra da era vitoriana (século XIX). Para ser mais
específico, a história toda se passa por volta de 1830. Assim como Lucky Jim, é
um bom livro para se ler ouvindo música clássica — embora, até o momento, eu
não tenha feito isso com esta obra, que tem quase mil páginas. Quando ela
chegou às minhas mãos, pelo correio, decidi: essa seria a minha leitura de
férias de verão. E assim tenho feito neste final de 2025, quando terminei de
ler o primeiro capítulo, intitulado A srta. Brooke.
Confesso que, nas primeiras
páginas, temi que o livro fosse muito chato. Logo percebi, porém, que, apesar
da linguagem típica da literatura clássica, tratava-se de uma história leve e
divertida — algo que te tira por alguns instantes da futilidade inculta do
pensamento raso dos vídeos curtos e das postagens das redes sociais. É triste,
mas até a galera “pensadora” está atolada nisso; às vezes acho que nós,
leitores de livros, estamos cada vez mais próximos da extinção — o que só
aumenta o prazer que sinto quando pego esse tipo de narrativa.
Mas chega de papo furado e vamos ao
que interessa. A srta. Brooke, que dá nome ao capítulo, é uma jovem chamada
Dorothea, 19 anos, irmã mais velha de Celia. As duas perderam os pais na infância
(isso é mencionado brevemente) e foram criadas pelo sr. Brooke — não lembro o
primeiro nome —, que está na casa dos 60 anos. Enfim, um aristocrata do
interior da Inglaterra. Boa parte deste primeiro capítulo gira em torno dessa
família para, ao final, o foco mudar para outra que — pelo que pude espiar nas
páginas seguintes — conduz o capítulo seguinte.
Há uma infinidade de personagens
secundários; contudo, a história gira em torno da busca pela mão da jovem
Dorothea que, pela descrição, é bela, mas tem uma personalidade “difícil”.
Lembra levemente Catarina, de A megera domada (vulgo O cravo e a rosa). Ela não
gosta de coisinhas delicadas, de música e arte (como se esperava das jovens
senhoritas do interior inglês do século XIX), e sim de ciências, estudos e,
conforme a narradora, outras “coisas de homens”. Ainda assim, não lhe faltam
pretendentes — e a história acaba girando em torno das relações de dois deles
com a família Brooke.
Aqui entra fortemente a questão do
imaginário: a narradora trabalha com o que se passa na cabeça dos três
envolvidos — Dorothea, Sir James Chettam e o reverendo Edward Casaubon.
Bom, já falamos de Dorothea, então
vamos aos outros dois. Sir James Chettam é descrito como uma espécie de jovem
galã, o sonho de qualquer dama. Ele corteja Dorothea, que se irrita com ele,
mas aproveita para tirar proveito, fazendo com que ele construa casas para os
trabalhadores da região (Dorothea tinha um espírito de preocupação social). Por
outro lado, a irmã dela, Celia, é apaixonada por ele, mas sonha em ser sua
cunhada — ou seja, que Dorothea e Sir James se casem.
Entretanto, surge Casaubon, um
erudito intelectual quarentão. Todo mundo o acha meio detestável e, pelo
espírito rebelde de Dorothea e sua sede por conhecimento, ela logo se apaixona.
Cada um vai agindo conforme o seu quadrado: Sir James faz tudo jurando que
Dorothea está cada vez mais apaixonada por ele; Dorothea nem sonha que Sir
James quer casar com ela e antegoza momentos imaginários com Casaubon que, por
sua vez, também se apaixona por Dodo, como a chamava Celia.
No meio disso tudo, tem o tio, sr.
Brooke — figura icônica e engraçada, com um jeito característico e enrolado de
falar — como dá para perceber neste trecho da conversa dele com Casaubon:
“As jovens senhoras não entendem de
economia política, o senhor sabe [...]. Eu me lembro de quando estávamos todos
lendo Adam Smith. Então, esse é um livro. Então, eu absorvi todas as novas
ideias certa época, a perfectibilidade humana [...]” (p. 33).
Ao longo de suas falas, ele repete
especialmente as expressões “o senhor (a) sabe” e “cousas do gênero”.
Preocupado com o futuro das sobrinhas — a questão da herança está sempre nas
conversas —, ele tenta encontrar alguém de quem elas gostem, mas que também
lhes garanta o futuro financeiramente.
Assim, Casaubon conversa com o tio
e manda uma carta para Dorothea; tornam-se noivos, para espanto — e revolta —
de Sir James, que chega a falar com o pároco para tentar convencer o sr. Brooke
a impedir o casamento, já que na Inglaterra a maioridade era apenas aos 21 anos
— e Dodo tinha 19. Mas ninguém dá trela, o noivado se confirma, e Dodo fica
antegozando os momentos em que poderá ajudar o marido intelectual enquanto
aprende sobre as questões superiores do intelecto humano.
A história é “pausada” justamente
quando eles estão prestes a casar e sair em lua de mel para Roma — onde
Casaubon quer aproveitar para estudar escritos no Vaticano — e então começa uma
narrativa paralela, novamente envolvendo relacionamentos, heranças e tradições
— para ser mais exato: no capítulo XI, página 111.
Resumindo, a história envolve um
jovem médico forasteiro (“protegido” do sr. Brooke), chamado Lydgate, e a filha
do prefeito, sr. Vincy: Rosamond — ou Rosy, para os íntimos. Ela é irmã de
Fred, um jovem rebelde.
Bueno, Rosy é descrita como bela e
sonha em encontrar um forasteiro sem ligações com Middlemarch para se
apaixonar. Então, ela ouve falar de Lydgate. Sabe que ele está tratando de um
tio velho, rico e ranzinza, sr. Featherstone, e assim ela e Fred vão até lá
numa manhã.
Aí rola uma treta com fofoca: o sr.
Featherstone descobre que Fred fez uma dívida contando com a grana da herança
que ele deixaria ao sobrinho e pede que Fred consiga uma carta por escrito do
autor da fofoca — outro tio, chamado Bulstrode — negando tudo. Enquanto isso,
Rosy e Lydgate se conhecem e, pelo visto, se apaixonam. Termina com os dois
voltando para casa, cada um pensando no seu drama: Fred, preocupado em como
sair da enroscada sem perder a herança, e Rosy, sonhando com o casamento.
Fim do primeiro capítulo.
Até a próxima, pessoal!


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