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terça-feira, 13 de maio de 2025

Lucky Jim


 (ALERTA! CONTÉM SPOILER)

Meu filho achou que eu havia enlouquecido quando me pegou na sala ouvindo música clássica, tomando um vinho e lendo Lucky Jim. “É para me sentir no interior da Inglaterra dos anos 1950”, expliquei. Ele não entendeu nada e continuou achando que eu tinha pirado. De qualquer forma, achei Lucky Jim, do escritor britânico Kingsley Amis (1922–1995), um excelente e autenticamente britânico livro. Descobri a obra em uma lista divulgada por um escritor no Instagram do Estadão, em celebração ao Dia do Leitor. Li a sinopse, gostei e comprei. Não me arrependi.

Para falar do enredo, é preciso entender os personagens. O principal é Jim Dixon, um professor universitário em uma pequena cidade do interior da Inglaterra. Como está em uma espécie de estágio probatório, ele precisa agradar a todos, especialmente ao professor Welch, um senhor que, indiretamente, dá a entender que está começando a apresentar sintomas de demência. Dixon, contudo, mesmo atrapalhado, tenta de tudo para agradar ao chefe — que, no fundo, ele odeia.

Ao longo da história, Dixon se envolve, meio sem querer, com Margaret, outra professora que tentou cometer suicídio após romper com um namorado e que Welch leva para sua casa para que seja bem cuidada. No entanto, logo Dixon percebe que ela é extremamente geniosa — com sintomas de bipolaridade aguda — e, mesmo tentando agradá-la de todas as formas, sempre acaba se dando mal. A mulher de Welch é aquela típica senhora inglesa, estilo sargentona, que manda no marido e tenta manter tudo sob controle. É nesse cenário que surge o filho do casal, Bertrand, um pintor barbudo e mulherengo, que namora Christine, mas mantém um caso com Carol, colega de Dixon e também professora, casada com outro personagem.

Resumindo: o enredo todo se passa no ambiente universitário, com várias intrigas e mesquinharias cômicas que eu, como professor, obviamente achei o máximo. Na edição da Todavia que comprei, porém, há um erro na sinopse: diz que Dixon tenta conquistar Margaret. Na verdade, não. Ele é amigo dela, enquanto ela acredita que são um casal. Dixon passa a maior parte do tempo tentando desfazer esse mal-entendido para manter apenas a amizade, mas não consegue. Romanticamente, ele acaba se envolvendo com Christine, a namorada de Bertrand, com quem desenvolve uma acirrada rivalidade que culmina em uma briga física antes da grande palestra — já no final do livro — que definiria o futuro de Dixon na universidade. Bertrand, por sua vez, nem gosta tanto da namorada, mas quer ficar com ela para conseguir um emprego através do tio dela, que (atenção ao spoiler!) acaba contratando Dixon após este fazer uma palestra horrorosa sobre Happy England e não ser efetivado pela universidade.

Mas, para o leitor entender o estilo de Kingsley, quando disse que é autenticamente britânico, coloco abaixo um trecho de uma cena cômica. Dixon havia sido convidado (e ido por obrigação) em um evento cultural promovido por Welch na sua residência, que ficava em uma região mais afastada da cidade e que, assim, fez com que os convidados pernoitassem na sua amplíssima mansão. Acontece que Dixon tomou um porre e adormeceu em sua cama, mas como o cigarro estava aceso, acabou queimando parte da colha e da mobília do quarto. Contudo, ao acordar, ele não lembrava de nada. Ao contrário de um estilo cru e bukowskiano, Kingsley adota o que chamei anteriormente de um estilo autenticamente britânico, quase formal, para descrever a cena cômica:

“Ele próprio teria feito tudo aquilo? Ou um viajante, um ladrão, acampara em seu quarto? Ou fora vítima de algum ser estranho como o Horla de Maupassant, apreciador de tabaco? Pensou que, de modo geral, devia ser mesmo o responsável por tudo, e desejou que não fosse assim. Certamente isso significaria a perda do emprego, em particulares deixasse de procurar a sra. Welch e confessasse o malfeito sabendo de antemão que seria incapaz de fazê-lo. Não havia desculpa que não consistisse no indesculpável: um incendiário não merecia mais perdão quando se soubesse que era também um bêbado – e tão viciado que suas obrigações para com os anfitriões e os outros convidados, sem falar na atração de um concerto de câmara, nada representava comparadas à tentação da bebida” (p.79).

Aliás, foi após esse incidente que Dixon começa a se aproximar da namorada de Bertrand, que o ajuda a se safar dessa. Mais adiante, também há um baile que reúne toda a comunidade universitária – incluindo a família Welch e Dixon – que ocupa boa parte da trama e que acaba por aproximar ainda mais Dixon e Catharine.

Enfim, encerro aqui esse pequeno resumo pessoal para que, no futuro, quando eu quiser relembrar a história desse livro, eu possa consultar e ler tal sinopse novamente tomando um vinho e ouvindo música clássica para me aproximar um pouco mais do romântico e charmoso interior da Inglaterra dos anos 1950. 

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