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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

O desconhecido - o sofrimento antes de decidir a América

Você com certeza já pensou sobre a morte e já ficou com dúvidas sobre o que acontece depois que encerramos nossa passagem pela Terra. Não faço a mínima ideia se é normal, mas penso relativamente bastante sobre isso. Já “estudei” algumas teorias religiosas, como a dos católicos que acreditam no céu e no inferno, ou a dos espíritas, que acreditam que esse é apenas um “plano” e que depois há outros “planos espirituais” para serem vividos. Já levei alguns sustos nesses 36 anos de vida e as perdas que todos que vivem mais tempo acabam acontecendo e nos fazem pensar sobre isso. De onde viemos? Para onde vamos? Sofreremos? Será bom? Ruim? Há os sentimentos terrenos no além? Há prazeres? Bebida? Sexo? Há fogo do inferno, frio de neve? Lágrimas? Desespero? Ou não há nada? Não sei, ão faço ideia. Como todo mundo, acabo escolhendo alguma teoria religiosa mais conveniente para seguir de longe. No meu caso, específico, sou católico por formação e espírita não praticante, com passagens pela igreja Baptista e Evangélica Apostólica Romana.
Poucas vezes tive tanta curiosidade sobre o desconhecido como quando penso na morte. Mas, uma dessas vezes está ocorrendo nessa noite. Agora são exatamente oito horas com cinco minutos da noite do dia 29 de novembro de 2017. Daqui a aproximadamente uma hora e 40 minutos começará o jogo Lanús x Grêmio, na Argentina. É o segundo jogo da final da Libertadores da América. No primeiro jogo, o Grêmio ganhou de 1 a 0. O Grêmio joga por qualquer vitória e qualquer empate. O Lanús precisa vencer por um gol de diferença para levar o jogo para a prorrogação e, talvez, pênaltis. Vitória por dois ou mais gols para o Lanús, dá o título para os argentinos. Eu só tenho pensado nisso desde a semana passada, última quarta-feira, quando acabou o primeiro jogo. Nessa noite, sonhei que não conseguia assistir o jogo, pois estava viajando e a internet falhava. Quando terminou, só visualizei um pôster do Lanús. Presságio? Premonição? Medo? Não sei. No primeiro jogo, sonhei que o time argentino tinha ganho de 1 a 0, e foi o tricolor quem ganhou. Então, encaro isso mais como uma perturbação psicológica. E tenho pensado sobre o desconhecido desse jogo sem ter ideia do que esperar, como quando penso sobre a morte. Tudo pode acontecer. Não faço ideia se o Grêmio vai surpreender e repetir uma atuação como a do Barcelona do Equador, quando goleou por 3 a 0 fora de casa, ou se o Lanús vai ter uma atuação de luxo como a na vitória por 4 a 2 contra o Ríver, no mesmo estádio La Fortaleza. Ou ainda, se árbitro vai foder com tudo para um ou outro time. Também não sei se os argentinos vencerão por um gol e levarão a decisão para a prorrogação, onde qualquer um pode ganhar, ou ainda, pode haver empate e tudo ir para os pênaltis, situação esta em que os Hermanos são francos favoritos. O jogo também pode ficar 0 a 0, o que resultará em uma tortura de 90 minutos. Ou pode ser um jogo cheio de alternativas: Lanús sai ganhando, Grêmio empata e vira, Lanús empata e faz pressão no final... Enfim, já estou sem fôlego. E sem saber o que pensar. Deve ser assim que quem está no corredor da morte se sente antes de ir para a cadeira elétrica para a forca ou guilhotina. O que vai acontecer? Será bom? Será ruim? Se o Grêmio for Tri, será a redenção, o desafogo de quem viu o time ganhar esse título quando tinha 14 anos. Se perder, será a mágoa, a tristeza, a revolta, o sofrimento... O que vai acontecer? O que acontece quando o coração para de bater? O que ocorrerá quando o árbitro apontar o centro do campo, ou quando o último pênalti for batido?
Não sei. Oito e treze. O tempo não passa. É muito sofrimento. É muita angústia e ansiedade. Que Ele esteja convosco. Ele está no meio de nós. Amém.

sábado, 18 de novembro de 2017

Outono

Ontem sonhei
Que estava passeando
Pelo Central Park
Mas acordei suado
Em minha cama
Vazia.
Então tentei dormir de novo
Para que você aparecesse
Ao meu lado
Caminhando de mãos
Dadas
Comigo
Pelas trilhas
E você olhava
Com seus olhos
Verdes
Para as árvores amarelas e vermelhas
Que me faziam lembrar
Como a vida era bela
E cinzenta
Antes de eu
Te conhecer

domingo, 12 de novembro de 2017

Uma aventura sem sair de casa

A festa de 7 anos da minha filha foi uma aventura. Pelo menos para mim. Primeiro, teve toda a pressão psicológica. Ela faz aniversário em novembro mas começa a perguntar se vai demorar muito para a festa desde fevereiro. Isso te coloca na obrigação de organizar uma festa que, no mínimo, não seja um desastre. Quanto mais o tempo passa, aumenta o questionamento: “quanto tempo falta? 3 meses? Isso é muito, pai? Vai demorar? Ah, não... isso é muito!”. Então, chega o dia. No caso, ontem. Levantei relativamente cedo para tirar a Bolinha (a cadelinha dela) que estava acampada na garagem devido ao tempo chuvoso da semana anterior. Aliás, tenho muito a agradecer ao São Pedro por ter colaborado, pois não seria fácil manter 15 crias cheias de energia dentro de casa durante um dia inteiro. Depois de ajeitar a garagem, enquanto a mãe cuidava da comida, meus pais, meu irmão, minha irmã e eu íamos arrastando cadeiras e mesas para seus respectivos lugares. Para ganhar tempo, fui pegar um frango assado com meu pai no mercado para o almoço, pois ninguém teria tempo para cozinhar. Mesmo tendo chegado o dia da festa, as perguntas continuavam?
- Quanto tempo falta, pai?
Eu olhava no relógio e respondia:
- Cinco horas.
- Ah, não! Isso é muito! – e cruzava os braços e fazia beiço.
- E agora, falta muito?
- Duas horas.
- Ah, não! Tudo isso?? É muito!!!
Até que chegou o primeiro convidado. E depois outro. E mais outro e mais outro em ais outro. Quando vi a casa havia sido invadida por crianças de seis e sete anos que corriam rápido demais para que um adulto pudesse acompanhar os seus movimentos. E não ficavam todas juntas. Umas corriam pela sala, outras iam atrás das cadelas, outra apareceu carregando o controle remoto da TV para o pátio, enquanto outro grupo altamente organizado invadia os quartos e os banheiros. Numa dessas, chaveei nosso quarto para não entrarem. Meia hora depois, minha irmã chegou perguntando sobre a chave do quarto, pois eu, sem querer, havia trancado a Laura, irmã mais velha da Larissa, de 16 anos. Nisso, chegam os nossos convidados, adultos, e logo percebo que não vou conseguir ficar sentado para conversar com eles. Lá pelas tantas, a Laura inventa de entrar na piscina. Imediatamente se forma um círculo com as 15 crias ao redor da água batendo com os espaguetes na água tentando acertá-la. Dizer, pedir ou berrar para que se afastassem, pois senão alguém iria cair, era algo inútil. A única alternativa, depois de ver que eles jamais me obedeceriam, foi esperar que o primeiro caísse. Não levou muito para isso acontecer.
Um gurizinho caiu de roupa e tudo para dentro d’água. Detalhe: a piscina inteira é funda. Enquanto eu fotografava, a Laura fazia o resgate e as outras 14 crias que estavam ao redor desataram a rir do pequeno infeliz. Depois, foi duro convencê-lo a usar uma roupa da Larissa. A solução foi emprestar o uniforme, que é unissex. “Mas eu não vou colocar calcinha da Larissa! Nem morto”, dizia ele. “Fica só de calção”, respondi. Enquanto eu abria o porteiro para um pai, a patroa pedia algum favor e a minha irmã vinha avisar que alguma cria fez alguma arte. Nesse meio tempo, chegou um cara para da Corsan para verificar a falta de água que ocorria desde a uma da tarde. Ele examinou tudo e disse que o problema era na casa. Então, veio um senhorzinho ver o que podia fazer e, sinceramente, ele ficou solto no telhado da casa, pois eu não conseguia cuidar do velhinho lá em cima e das crianças aqui embaixo ao mesmo tempo. Sinceramente, fiquei zonzo. E a cerveja que eu bebia me deixava mais confuso.
- Tio, me da um refri?
- Pai da Lari, guarda esse balão pra mim.
- Tio, que horas a Lari vai abrir os presentes?
- Pai da Lari, não da pra abrir os presentes agora?
- Tio, a gente quer ver os presentes da Lari!
Até que dei o braço a torcer e deixei ela abrir os presentes. As crias brigavam entre elas para que a Lari abrisse primeiro o que cada uma tinha dado.
- Abre o meu! O meu! O meu! O meu é melhor! Olha Lari, é aquilo que tu queria!
Falavam todos ao mesmo tempo. Um ou outro passava correndo, fazendo barulho de tiro PUM! PUM! PUM!
Outros seguiam ao redor da piscina. Outros, corriam atrás das cadelas. Uma guriazinha passou carregando a gaiola do hamster e depois voltou sem nada nas mãos. Outras crias pegaram um joguinho de tabuleiro e passaram a jogar no meio da calçada e, pouco depois, abandonaram-no lá mesmo. Enquanto eu juntava, um guri martelava um parafuso numa porta. “NÃOOOOO!”, berrei. Depois, outro passou correndo segurando uma pedra relativamente grande, querendo atirar em alguém. “NÃOOOOOOOO!” gritei de novo, e tomei a pedra da mão dele. Uma guriazinha estava ao redor da piscina, e minha irmã disse:
- Sai dai.
- Eu não.
- Se alguém cair, eu não vou juntar – disse minha irmã.
- Azar o teu, vocês que são os responsáveis – disse a cria.
Depois meu irmão foi mexer com outro gurizinho, dizendo que iria atirar ele na piscina, ao que ele respondeu:
- Não, isso não se faz. Não se pode jogar crianças na piscina.
Quando me dei por conta, estava brincando de bangue-bangue com outros. PA! PA! PA! PUM! TOMA ESSA, eu gritava, enquanto eles retrucavam: ENTÃO SEGURA ESSA BOMBA ATÔMICA!
Aos poucos, os pais começaram a chegar e as crias foram deixando a casa. Eu não achava o controle da TV. Fiquei duas horas procurando até que a Lari achou o troço erguido numa estante. Lembrei que, no meio da confusão, eu o escondi lá. Escondi das crias e de mim mesmo. A noite veio e a Lari queria brincar com todos os brinquedos. Fui dormir depois da meia noite. Exausto. Agora, terei um ano de descanso até a próxima aventura...

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Encontro casual

Poucos sabem, mas às vezes eu canto. Canto enquanto estou dirigindo, canto no chuveiro, canto com o som ligado a mil no computador ou na TV, enfim, canto quando tenho vontade. Porém, fazia dias que não cantava. Até ligava o rádio ou colocava um pen drive no som do carro para tentar embalar, mas não ia. Não fluía. Não evoluía. Faltava aquele gás, aquela energia que torna a censura da vontade de cantar insustentável. Aliás, nos últimos dias nem vontade de ouvir música eu tinha. Colocava sons animados, músicas tristes, rock leve, rock pesado, música eletrônica, axé, reggae, música gaúcha, sertanejo, metal, Galinha Pintadinha, em resumo, de tudo um pouco, e nada me animava. Provavelmente porque você parou de me mandar músicas para elevar as energias positivas do meu dia. Ou, quem sabe – e essa é a principal hipótese – porque eu não te via há anos.
Como nessa vida cada trilha percorrida sem destino nos leva há algum lugar, foi justamente enquanto flanava por uma das ruas mais movimentadas dessa metrópole que cruzei com você, dia desses. Foi aquele encontro sem jeito, inesperado, que me pegou de surpresa. Será que chove? Como anda a vida? O que tem feito? Namorando? Achei que ia rolar até um “Pra ser sincero... prazer em vê-la, até mais...” do Humberto Gessinger, entretanto, nunca vou conseguir te enxergar apenas como a amiga da música, como sempre te falei desde que nossos lábios se encontraram pela primeira vez...
E foi nesse dia que, depois de muito tempo, nossos olhos se encontram por poucos segundos e eles falaram tudo o que nossas bocas não haviam dito em anos de separação. O momento foi atrapalhado por aquele meu amigo sem noção que, em meio a milhões de pessoas dessa cidade e milhares de ruas, foi cruzar por nós justamente naquela hora e naquela avenida. E você, meio sem jeito, puxou o cabelo para trás da orelha, sorriu e disse um “até breve” que me deixou sem palavras, pois te ver em breve é o que mais tenho sonhado nessa vida...
Apesar do encontro rápido, desde então tenho voltado a cantar. Você tem uma boa energia, e parece que ela é contagiosa, pois recarrego a minha positividade estando perto de ti. O problema é que fico perto de ti bem menos do que gostaria. A questão é que o combustível das lembranças não tem força suficiente para manter a minha energia como cantor funcionando a pleno vapor por longos períodos de tempo. Portanto, estou aproveitando o momento para cantar sem parar, e uma das minhas músicas preferidas é “Você me ligou naquela tarde vazia, que me valeu o dia”... Bem, não foi uma ligação, mas sim, um encontro casual, mas que igualmente me valeu não só aquele dia, mas todos os dias posteriores até essa noite vazia. Isso certamente vai durar por um tempo, só espero que eu possa reabastecer essa bateria de positividade tão boa antes que a ela descarregue por completo, como acontece com a moça no fim do clipe do “More than you know”... Aliás, mesmo distante geograficamente e temporalmente, eu penso em ti “more than you know and more than you can imagine”. See you soon, baby. I hope and I dream. After all, a poor dreamer is what I am.