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sexta-feira, 30 de maio de 2008

Amnésia


Antes de começar este texto, quero explicar que todos os textos abaixo foram escritos inspirados na dica do F. Fraser Bond, em Introdução ao Jornalismo (p.65), dizendo que o candidato a bom repórter e escritor deve escrever simplesmente o tempo todo! Eis o pensamento do Bond, que não é o James:
“O jovem repórter deve fazer a caminhada por si mesmo. Deve escrever, escrever, escrever. (...) O jovem repórter deve praticar constantemente, sem limitar-se a seis ou oito horas por dia. Pode trabalhar, se quiser o tempo todo”.
Simples e fácil. Em outro trecho, ele fala sobre o leitor, e constata (isso década de 50, imagina se for pensa agora) que o nobre leitorinho quer textos curtos e... fáceis! Ora, pois, vejam vocês. Como pretendo escrever, escrever, escrever, vou dividir o post de hoje em... vários posts curtos!! Tudo para facilitar a vida de você, nobre leitorinho tupiniquim!
Pois bem, mas a moleza também tem limite, então o primeiro será escrito juntamente com tudo isso que eu vinha falando...
Cheguei hoje de madrugada de mais uma ida e volta de Porto Alegre para a aula de mestrado. Em outros posts vou comentar sobre a aula, os assuntos dela, a entrevista com o José Aldo Pinheiro, e muito mais. Mas vou começar pelo princípio. Ou seria pelo fim? Vou começar pela mensagem que acabo de receber da minha irmã no orkut:
“Malinha, tu esqueceste a tua bermuda, camiseta e cueca aqui huahuahuahauahua”.
Bom, corrigi as imperfeições gramaticais da minha nobre irmã, mas não me dei ao trabalho de alterar os “auhauhauhauhas”. Acho que estou adquirindo um sério problema de memória. Sempre ouvi falar que quem lê demais fica louco, e estou começando a acreditar nisso.
Antes de eu ir para Porto Alegre, quando minha mãe estava me levando na rodoviária aqui de Santo Ângelo, quando ia descer do carro lembrei: “a passagem de volta, caramba!”. Faltavam cinco minutos para o ônibus sair e tive que ir pelo atalho que passa pelo Harmonia (meu bairro vizinho, uma espécie de Cruzeiro ou Rocinha em proporções muito menores, é claro) a mil por hora para pegar a tal passagem, que na verdade é o Vale Plus, que troco na rodoviária de Porto Alegre por uma passagem, mas isso já é outra história. Enfim. E na penúltima vez que fui, se não me engano foi no dia 8, quando a minha namorada foi me levar, aconteceu o mesmo. E todos os dias quando eu vou para o jornal, ando meia quadra, coloco as mãos no bolso e vejo que esqueci o cartão ponto ou o celular ou uma das minhas três agendas em casa, e tenho que voltar.
Minha mãe se indigna, acho que faço de propósito, mas juro que não é. Simplesmente não lembro, pô. Minha memória é curiosa. Guardo palavra por palavra de um diálogo, lembro a história de livros que leio, mas principalmente situações vividas (a maioria banais), porém, não lembro desses detalhes do dia-a-dia. Na aula de quinta, além da sala de aula, passei pela biblioteca, pelo PPGCom da Famecos e pelo bar. Em um desses lugares esqueci meu guarda-chuva. Voltei para o apartamento da minha irmã ensopado e fui para o Carrefur comprar um guarda-chuva. Bom, como não tenho cartão de crédito e confesso que sou analfabeto em questões bancárias (prefiro pagar em cash do que me endividar), minha irmã me deu o cartão dela (já que, para variar, não tinha grana para o meu novo investimento) e ela disse “quando a mulher do caixa perguntar ‘crédito ou débito?’ você responde: ‘põe no crédito’”. Quando eu cheguei no caixa para pagar aconteceu exatamente o que a minha irmã tinha previsto. A caixa levantou a sua cabecinha redonda, sorriu um sorriso colgate amarelado, e me questionou: “crédito ou débito?”.
Deu-me um branco no pensamento, eu raciocinei por um segundo antes de responder, com ar grave: “acho que é débito”. A mulher fez aquela cara clássica que o Garfild faz quando olha para o Odie e tentou uma, duas vezes e nada. Eu ali, assobiando “o tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa”, até que ela me disse:
- Vou tentar no crédito.
- Uhum – respondi com ar de burrinho.
- Deu. Era crédito – disse ela.
Eu ainda desconversei:
- Ah, faz pouco que tenho esse cartão, sabe como é.
Ela riu infantilmente, peguei minhas sacolas com toda a calma do mundo e fui-me rumo a chuva.
Quando cheguei em casa, ou melhor, no apartamento, vi que no cartão estava o nome da minha irmã, então percebi que não tinha colado aquela do “tenho o cartão há pouco tempo”, mas enfim, o importante é que havia chegado em casa são e salvo.

Teve outra vez que cheguei em Porto Alegre e peguei o táxi rumo à residência da minha irmã, e por acaso estava levando um rancho para ela em uma sacola separada. Mas o taxista espertamente puxou assunto sobre a eliminação do Grêmio na Copa do Brasil para o Atlético-GO em pelo Olímpico, e ele me contou que estava lá e havia sido testemunha ocular de tudo o que aconteceu, e quando cheguei no apartamento da minha irmã tirei as coisas do táxi, menos..... bem, você sabe.
E agora essa, esqueci algumas roupas lá. Acontece, sabe como é. Deve ter outras coisas que esqueci nos últimos dias, só que... bem, só que não estou lembrando agora. Daqui a pouco eu lembro. Seguem os outros posts:

Uma praça sinistra... muito sinistra!


Sei que escrevi além do que devia no primeiro post dessa série de posts, mas, como diria o Erico, para o diabo, vou escrever o que render e você que também faça o mínimo de sacrifício para ler tudo, senão não rola.
Mas voltando a minha ida para Porto Alegre, depois da aula eu fui na Rádio Gaúcha fazer uma entrevista com o José Aldo Pinheiro, narrador da Rádio Gaúcha, da Sportv, do Premiere Futebol Clube (não lembro onde vai o acento nessa porra, então fica assim), da TV Com e da RBS TV, e que apresenta o Plantão Gaúcha, e que é o mesmo que disse para mim “você é um cara fudido (no sentido de cara de valor)” como contei em um texto anterior, é só procurar no arquivo, porque também não posso fazer tudo por você, nobre leitorinho. A entrevista na íntegra, depois que for publicada nos órgãos de imprensa que me pagam para ter essas informações, eu a colocarei aqui, nesse não menos nobre espaço (até porque nos outros não terei espaço para colocar toda a conversa, que foi muito interessante, entre outras coisas, o Zé Aldo contou que tudo começou quando ele era locutor da Rodoviária de São Luiz Gonzaga). Então vou me limitar a cena que se passou após a entrevista, já que da rádio eu teria que ir para a rodoviária para pegar o ônibus para retornar a nobre terra missioneira.
- Tem alguma parada de ônibus que dê para pegar um bus para a rodoviária? – perguntei ao Zé Aldo e ao Marco Antônio Pereira, que também estava por ali.
Os dois se olharam, e o Marco respondeu:
- Acho que só tem um na João Pessoa. Mas é perigoso você andar com essa sacola por ai...
Eu pensei por um momento, e respondi:
- Bom, então eu vou até a Venâncio e passo no bar do meu tio, e de lá pego o ônibus na João Pessoa.
O Zé Aldo logo exclamou:
- E passar naquela pracinha (Praça Garibaldi) a essa hora?
- Hmmmm – fiquei sem saber o que responder, já que não tinha outra opção. Não tinha dinheiro para táxi, ora pois! – Bom, eu morava lá no ano passado. Sempre passei por ali quando vinha aqui e voltava para casa.
- Bom (sei que é a terceira vez que uso “bom” em cinco parágrafos, mas fazer o que se a gente falava “bom” mesmo?), tem aquela favela ali perto do Tesourinha. Geralmente assaltam o pessoal por ali – disse o Zé Aldo, que ficou um tempo pensativo antes de concluir, me animando – mas pode ser que dessa vez não assaltem!
- É. Tomara – disse eu, e me despedi deles antes de sair pela Ipiranga, ingressar na Erico Verisimo e caminhar rumo a Praça Garibaldi.
Quando cheguei na praça (como provavelmente você nunca passou pela Praça Garibaldi de noite, eu explico que ela é completamente mal iluminada, se é que dá para dizer que tem alguma iluminação) percebi aquele cenário de filme de terror, e atravessando a avenida em direção a praça veio um rapaz negro (era negro pô, fazer o que, não me chame de racista, só estou descrevendo o sujeito), que visivelmente era um morador de rua, e pelo zigue-zague do seu caminhar, deduzi que estava completamente chapado. “Vai me dar um tiro e levar a sacola e ninguém vai ficar sabendo quem foi, coisa mais normal do mundo”, pensei com um leve frio na barriga. E antes de me encher o saco e insinuar que pensei isso por racismo, já digo que se fosse japonês, alemão, seja lá qual for a origem étnica, pensaria a mesma coisa pela situação toda...
Mas por fim, para a minha alegria, ele entrou na praça, e eu a contornei, até chegar ao bar do meu tio. Lá no bar fiquei sabendo que uma das figuras que eu mais admirava no período em que morei com meu tio no ano passado, morrera. Tratava-se de um sujeito magro, que ficava horas da madrugada lá, conversando, jogando dominó, sinuca, sempre com um papo-cabeça, e que, acreditem, era de muita boa fé. Mas não vou me estender mais nesse post. Era isso.

Eu ronco, tu roncas, ele ronca...

Seguindo a minha mesopotâmica saga de tentar escrever, escrever e escrever pela vida toda, ininterruptamente, para quando morrer entrar para o Guines como o escritor que mais escreveu em toda a história da humanidade, sigo eu a digitar essas palavras de forma com que faça algum sentido para você, nobre leitorinho tupiniquim.
Mas esse post será curto, mais curto do que você imagina. Só vou comentar o seguinte: é incrível como as pessoas gostam de roncar em ônibus.
É curioso isso. Refleti acerca desse assunto durante um precioso tempo das minhas seis horas de ida para Porto Alegre nessa semana. Sempre tem um sujeito que ronca. Mas é sempre UM! Nunca são dois, nem três. Nunca aconteceu de um roncar na frente, outro responder no meio, e um terceiro retrucar lá atrás. Não, nobre leitorinho. Sempre tem um por viagem. Também nunca falta alguém que ronque. Eu sempre tento observar a cara do sujeito quando o ônibus para em Soledade (não vou mencionar o nome daquele restaurante formado por aquela corja que cobra 200% sobre o produto vendido). O interessante é que sempre a criatura roncante desce do ônibus com ar bestial, como se nada tivesse acontecido. Geralmente com cara de sono, e às vezes te olha e te cumprimenta com a cabeça. “Cara de pau”, penso eu. Pois bem, só espero que eu não faça isso inconscientemente com os outros passageiros. Apesar que, como eu não durmo por conta desses tenores do sono, acho difícil que eu emita algum barulho semelhante ao que os porcos fazem.

O que o gordo faz, o magro já fez


Segue a minha série de posts curtos para que você, nobre leitorinho, siga lendo os meus textos. Também informo que quem comentar os meus posts concorrerá ao sorteio de um carro no final do ano. E para garantir a isenção do sorteio, o meu cachorro Jimbo (se ele estiver vivo até lá) é quem vai retirar o nome do vencedor de dentro de uma bacia, que estará recheada de papéis com os nomes de todos aqueles que fizeram o seu comentário.
Ah, importante: quanto mais você comentar, mais chances têm de ganhar! Se você comentar 50 vezes, terá 50 papeizinhos com seu nome na bacia do Dudu.
Agora chega de comercial, e vamos ao que interessa. Arrá! Por essa você não esperava. Trouxe dessa vez na bagagem uma série de fofocas e babados de gente da alta sociedade porto-alegrense que não estão mais em Porto Alegre! Gente graúda, como diria o meu primo Gérson, citando o grande filósofo Didi Mocó Sonrisol Colesterol.
A primeira é de um importante jogador de futebol que começou jogando no Grêmio e que agora não sabe mais para onde vai, depois de perder o título mundial para o outro time de Porto Alegre. Enfim, esse renomado jogador andou fazendo umas travessuras parecidas com a que o seu xará mais velho fez no Rio de Janeiro (só que o equipamento do xará gordo tinha algo a mais, como todos estão carecas de saber). Era uma dessas travessuras que os grandes jogadores de futebol fazem, uma festinha aqui, outra ali, chamam umas meninas para animar de uma zona de luxo, e por ai vai.
Mas eis que essas meninas estão ficando cada vez mais espertas, vejam vocês (se quiserem saber mais sobre a vida das meninas, é só aguardar um livro que está para ser lançado sobre o assunto pela Editora Unijuí – um dia ainda há de sair!), e eis que um dia elas perceberam que o renomado jogador de futebol, além de renomado, era milionário! E elas ganhando uma ninharia em cima dele. Então, uma delas teve a brilhante idéia de aumentar o valor dos seus cachês. E esse valor foi subindo, cada vez mais e mais e mais e mais. Até que o jogador pensou: “opa! Essas meninas travessas estão me tirando para bobo”.
Apesar de, teoricamente, vir de família pobre, esse jogador tem um irmão que já tinha jogado no mesmo clube que ele, e que talvez o tenha mimado quando este estava em fase de formação da sua personalidade como pessoa extraterrestre (é assim que o tratam). E esse lado do mimo, que foi mais adoçado pela IMPRENSA e pela torcida, despertou com toda a força nesse jogador. “Pois se as meninas daquela casa de tolerância estão querendo me passar a perna, então que mandem comprar aquele recinto, ora pois!” (ordenou o rei aos seus súditos). E foi assim que o irmão desse jogador, que também é o seu empresário, adquiriu esse novo investimento para o renomado jogador de futebol, que, a exemplo do sonho de todo o brasileiro que sonha em ser árabe para ter mil mulheres a sua disposição, passou a ter a sua criação de beldades na capital gaúcha.
Essa é a versão que me contaram. Mas sei que existem outras. Quem tiver mais informações sobre esse caso pode escrever, desde que tenha fundamento. Essa história quem me contou foram várias pessoas de crédito (só para esclarecer, nenhuma da Gaúcha, isso eu garanto). Mas, assim como Bob Woodward fez, manterei em off até derrubar o rei! Rará! É mole? Pergunta lá pro Simão...

terça-feira, 20 de maio de 2008

O dia em que a Martha Medeiros me chamou de paranóico


Atendendo aos milhões de pedidos que recebi de três antontem para hoje que ultra-lotaram a minha pequena caixa de e-mails, vou contar rapidamente como foi que a Martha Medeiros me chamou de paranóico.
Era uma manhã cinzenta e obscura de um dia que saía a coluna da Marta na ZH (terça, quarta? Não lembro agora). Parecia que estava escrito em algum lugar que aquela tragédia grega iria acontecer. Levantei indisposto, com dores de cabeça e um embrulho no estômago, mas segui para o jornal, fazer o quê? Chegando na redação, abri minha caixa de e-mail, e havia milhões de mails de leitores que estavam reclamando que eu havia esquecido de colocar acento na palavra “doméstica”. Depois, tocou o telefone e estavam cobrando uma parcela atrasada de uma chaleira que comprei em 12 vezes. Em seguida, derrubei o copo aqui na redação, que se espatifou no chão, virando mil pequenos cacos de vidro. Quando achei que não tinha mais o que acontecer de errado, minha barriga fez um URGHGHGHG e tive que ir correndo para o banheiro. Ao voltar, resolvi ler a coluna da Martha Medeiros na Zero Hora para tentar melhorar o meu dia, e eis que a coluna dela estava ótima. Não lembro agora sobre o que era, mas era sobre algo muito importante e que mudou a minha vida para todo o sempre.
Foi então, nesse exato momento, às 10 horas 24 minutos e 58 segundos que tive a infeliz idéia de escrever um e-mail elogiando o grandioso texto. Mas, fui ver o endereço dela na página da ZH, e ele era do Terra. “Como assim do Terra?”, pensei comigo mesmo. Fiquei desconfiado. Escrevi o e-mail sem a certeza de que ela mesma iria recebê-lo. Hoje em dia tem produção para tudo, para todo o tipo de programa de rádio, para colunistas de jornais, para missas, para padres, para curandeiros, enfim, para tudo mesmo. Então, quem me garante que aquele e-mail seria recebido por ela? Escrevi essas minhas dúvidas no e-mail, ao mesmo tempo em que a elogiei e mandei link dessa graciosa coluna, que provavelmente ela não abriu (talvez a conclusão final dela não esteja completamente errada...). Ela respondeu dizendo que eu errei, que era ela mesma que lia e respondia todos os e-mails e que não contava com nenhum tipo de produção ou assessoria. All right. Respondi feliz da vida que ficava muito lisonjeado em ter recebido um e-mail dela, escrito com os dedos compridos daquela mulher alta e de sorriso e carranca fáceis, mesmo sem ter certeza de que ela era ela. Foi então que recebi a seguinte resposta, escrita pelos mesmos dedos compridos e unhudos:
“Quanta paranóia Eduardo, te liga”. Tu vês. É assim que os escritores de hoje em dia tratam os seus nobres leitorinhos tupiniquins. Mas é a vida.

Aliás, aproveito para responder algumas poucas críticas que recebi por ter comparado a minha amiga com a Martha. Bom, vou usar a mesma resposta que a aclamada Martha me deu: “se liguem”. E se não gostaram, reclamem pra Marthinha!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

A Martha Medeiros Capixaba


Depois do que aconteceu nos últimos dias, eu posso me considerar um Mansueto Bernardi do século XXI (que colocou o Erico Verissimo na Editora e Revista do Globo). Pois eu tenho uma amiga que eu sabia que escrevia bem, mas não imaginei que escrevia tão bem! Agora só me falta comprar a Editora Globo e contratá-la!
Mas enfim, eu a apelidei de Martha Medeiros Capixaba,já que ela mora em Vitória, no Espírito Santo (mesmo estando brigado com a Martha Medeiros, sem ela saber, porque ela me chamou de paranóico por e-mail, ora vejam vocês! - outro dia conto essa história). O nome dela é Bárbara, é formada em direito e tem 24 anos. Bom, não tenho muito o que dizer sobre o texto, já que ele fala por si próprio! Apenas um conselho: deliciem-se. A foto da autora é essa ai, e a das amigas ela achou melhor não publicar, mas podem crer que nada do que ela escreveu foi exagero...
Eis o texto:

Same Mistake Again

Sábado à noite, num dia meio frio e sem grandes expectativas de uma balada daquelas, resolvi me reunir com três amigas em casa. Era só um aquecimento, mas que depois da primeira garrafa de champagne devidamente acompanhada de um pacote de Doritos, acabou virando o programa da noite. E, obedecendo a máxima absoluta de que quando a bebida entra a verdade sai, o papo acabou sendo conduzido para o mais complexo dos temas, pelo menos para nós mulheres: o incompreensível universo masculino. Logo a primeira das amigas resolveu quebrar o gelo. Tinha acabado de terminar um namoro. Motivos não faltavam para tal. O principal? A menina passava muito mais tempo sofrendo com as atitudes egoístas do sujeitinho do que feliz ao lado dele. Mas mesmo assim, estava ali, agoniada, se perguntando se havia mesmo tomado a decisão certa e nos confessando a sua recaída no dia anterior. Porém, em questão de minutos, foi solenemente interrompida pelas reclamações de nossa segunda amiga. Ele não era namorado dela, mas ficavam com uma certa freqüência há meses. Só que ele era um apreciador dos famosos "chás-de-sumiço" e passava dias sem dar as caras. Quando finalmente aparecia, era aquela confusão que sempre acabava em... pizza! A garota, com a cabeça cheia de champagne e minhocas, queria saber até quando aquela situação era aceitável. Ou será que nunca foi? Minha terceira amiga? Bem, esta está às voltas com um galinha convicto, e isso resume as coisas. E, quanto a mim...o meu momento de revolta não permite que eu me manifeste da maneira como se espera de uma moça bem educada.
Nessa altura do meu texto, provavelmente algum leitor machista e engraçadinho já terá interpretado o quadro acima como uma típica reunião de mulheres mal-amadas e encalhadas, que vivem de culpar os pobres homens pela própria incompetência. Antes fosse!!!!
Essas garotas, e falo com propriedade sobre as minhas amigas, são mulheres lindas e inteligentes. Meninas de família, educadas, divertidas e com a vida profissional encaminhada. Dificilmente saem para a balada sem serem abordadas por algum homem. São sim, "partidões", garotas para namorar! Mas isso não impede que passem horas e horas à espera de um telefonema DAQUELE cara, ou de um planejado encontro "casual" naquele barzinho que todo mundo vai. Isso sem falar das noites mal dormidas, das lágrimas intermináveis e das conversas confessionais como a daquele sábado à noite. E quantas vezes abrem mão do que acreditam ou perdoam o imperdoável?E aquele "não quero vê-lo nem pintado de ouro" gritado aos quatros ventos se dilui no ar, como se nunca tivesse sido dito.
Não, mulheres feministas de plantão, isso não quer dizer que elas sejam fracas, com auto-estima baixa ou incapazes de saber o que é melhor para elas. Elas sabem. E lutam por isso. E talvez por esse exato motivo estejam todas nessa barca furada que afunda a olhos vistos.
Mulher tem mania de acreditar que o sujeito pode mudar. Ou que talvez ele estivesse mesmo num curso naquele dia. Ou quem sabe, ainda seja cedo para dizer adeus. Ele pode perceber o quão especial ela é..! "E se eu desistir do cara certo”? Acho louvável essa característica feminina. Gosto da nossa persistência, da nossa lealdade a quem amamos e, principalmente, dessa coisa bonita de sermos assim, meio sonhadoras. E quem não quer o final lindo daquela comédia romântica da sessão da tarde? Entretanto, eu já percebi faz tempo, lá pela minha 14ª decepção amorosa, que essa nossa teimosia barata infelizmente não costuma levar a lugar nenhum. E, ainda pior, nos deixa estagnada numa relação nitidamente fadada ao fracasso, enquanto poderíamos estar nos permitindo um novo começo com alguém muito mais bacana. Perdemos preciosos momentos de nossas vidas lutando contra o inevitável, e perdoando incontáveis mancadas, só para no final perceber o que todo mundo já sabia: "ele não é o cara para você!". Fácil, então! É só cair fora!
Bem... mas como seguir em frente sem ficar com aquela incômoda sensação de que se desistiu fácil demais ou com aquela dúvida arrasadora sobre a sinceridade daquele lindo sorriso que parecia ser só para você? Como ignorar essa característica tão feminina de sentir, em detalhes tão sutis, que ele é a pessoa certa? Como declarar, solenemente, o veredicto final - "culpado!", sem o menor sinal de remorso ou insegurança? Isso, meus caros amigos, eu não saberia responder... O dia em que eu descobrir, escrevo um livro que indubitavelmente irá virar um best-seller e eu sei, meninas... sei que vocês todas irão comprar! Enquanto isso, fico aqui, tentando fazer dar certo mais uma vez, ou quem sabe mais duas vezes. Pego outra taça de champagne e cantarolo, incansável, aquela grudenta e profética musiquinha romântica da novela das 8, "cause I'll just make the saaaaaaaaaaame mistake again"!And again!

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Salve salve a piração da cachorrada!


Faz pouco mais de uma semana que não escrevo aqui, e estou com a consciência pesada. Já que fiz esse filho, sinto-me na obrigação de cuidá-lo. O problema, como sempre, está sendo as muitas coisas que tenho que fazer, como por exemplo, ler toda a obra de Erico Verissimo (45 livros), além de outros de Teoria do Jornalismo, até o final do semestre, como já tinha dito. Mas como comentou alguém outro dia (se não me engano a Lara), ainda bem que eu gosto. E é verdade. No momento estou relendo o Incidente em Antares, claro, que não integralmente, mas sim com atenção especial às peripécias de Lucas Faia, ou Lucas Lesma, e acabo rindo sozinho no quarto, como se estivesse lendo o Incidente pela primeira vez.
Aliás, é comum eu fazer isso enquanto leio. Certa vez, lendo um livro do Charles Bukowki, não lembro o trecho, mas certamente era muito pirado, comecei a chorar de rir no quarto e minha irmã abriu a porta apavorada achando que alguém tinha morrido. E eu, com os olhos vermelhos e em lágrimas, dizia: “esse Bukowski é muito sem noção”. E por falar em sem noção, a pouco estava conversando aqui no MSN com meu amigo e ex-colega de Rádio Jornal da Manhã (de Ijuí) Célio sobre um cachorro maluco que tinha lá em Ijuí, e que, acreditem, acabou sendo preso. Certa vez a Eliane Brum fez uma matéria em uma cidade da região metropolitana de Porto Alegre sobre uma galinha que tinha sido presa, e a matéria foi, se não me engano, contracapa da Zero Hora. Pois é. E o nosso amigo cachorro foi preso e não recebeu nem uma linha nos três jornais de Ijuí da época (agora são quatro). Mas ele não foi para o presídio, mas sim para um canil. Tenho suspeitas de que apagaram o cara. Isso seria horrível, e mereceria punições. O cachorro era muito maluco. Ele saía correndo atrás dos carros, tentando morde-los, e isso estava causando algum transtorno no trânsito local (como se precisasse de cachorro para o trânsito de Ijuí ser bagunçado. Afinal, como já diria um filósofo baiano do Axé, o que nasce torto nunca se endireita). Enfim, o cachorro já estava ficando famoso por isso, porque ele ficava no centro, e quando passava um carro ele saía em disparada, e tentava morder valendo. Às vezes alguém chegava na aula e falava “bah, vi um cachorro maluco que...” e outro já dizia de cara “ah, eu também vi esse cachorro”. E eu e o Célio víamos ele em vários pontos da cidade, sempre perseguindo os carros. A minha teoria é que a mãe dele morreu atropelada, e até hoje ele tenta se vingar.
Lembro de certa vez, em que estava esperando o ônibus perto do jornal, e o cachorro estava deitado exatamente no local onde os ônibus chegavam. Como em Ijuí às vezes leva meia hora para passar um maldito dum ônibus (pensamento meu da época, mas que me vem claramente à cabeça agora, lembrando disso) o cusco pôde ficar lá vários minutos descansando. Mas de repente apareceu um busão amarelo, e ele nada. O ônibus parou, businou, a parada lotada, todo mundo olhando para o cachorro, ele olhando para o ônibus, do ônibus para todo mundo, até que se levantou contrariado, resmungando um “grrrrr”. Foi para a calçada e ficou rosnando para o ônibus, que quando foi sair carregado de passageiros, acabou sendo perseguido ferozmente pelo nosso herói, que apesar de acompanhar o veículo por meia quadra, não conseguiu segurá-lo, veja você.
Ele aprontou muitas dessas, até que fiquei um tempo sem vê-lo, e o Célio acabou me contando que o dito cujo havia sido preso pela Coordenadoria Municipal de Trânsito. Fico pensando em como o mundo é injusto. Como diz o David Coimbra, estão proibindo tudo, que nem um mísero dum cachorro de rua não pode mais perseguir os carros em paz. O que mais falta proibir?
Como o mundo anda em círculos e o povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la, não duvido que no futuro o “cala a boca jornalista” termine por voltar. Aliás, agora viajando nas teorias do jornalismo, a Teoria Organizacional que o diga. E dá-lhe colírio alucinógeno do Zé Simão, que eu já estou indo pingar umas gotinhas para enxergar melhor toda essa babaquice que estão defecando em nossas cabeças! Viva o Raul! E tenho dito!

quarta-feira, 7 de maio de 2008

O sonho vivido na janela


A única coisa que ele queria era vê-la passar todos os dias, em frente da sua casa. Era ainda menino, não tinha dez anos completos. Mas mesmo assim, todos os dias, naquela mesma hora, lá ia ele para a janela e ficava com os olhinhos fitos na esquina, esperando o momento em que ela dobrasse. E quando a avistava, o mundo parava, seus olhos brilhavam, sentia um leve tremor por todo o corpo, a boca secava, o frio na barriga chegava, mas mesmo assim, vendo aquele corpo cinco anos mais velho do que o seu, aquela mulher que na sua concepção já era mais do que feita, com coxas grossas, dois seios que pareciam duas gelatinas saborosas saltando pelo decote da blusa, ele se enchia de coragem, um calorão tomava conta do seu corpo, e ele assobiava.
A garota mais velha balançava a cabeça tentando esconder o sorriso malicioso que escapava pelo canto dos lábios, e ela resmungava em tom quase inaudível: “boboca”. Ele tentava adivinhar o que ela teria dito, mas desconfiava que era algum tipo de xingamento. Às vezes ela se atrasava, demorava, e enquanto ele fitava a esquina via imagens estranhas, como um garoto vestido de anjo, andando de skate e fumando um cigarro, ou senão um cachorro de três patas, mancando. Mas o pior era quando vinha um grupo de garotos que estavam saindo do colégio na sua frente, ou uma dupla de gordas que ocupavam a calçada inteira, e ele perdia preciosos segundos para vê-la. E quando tinha alguém por perto, aquela coragem, aquele calor que lhe fazia puxar o ar, encher os pulmões e soltar o assobio malicioso, iam todos pelos ares. Quando isso acontecia, seu corpo se enchia de angústia e odiava mortalmente quem estivesse por perto. Tinha vontade de saltar da janela e estripar todos aqueles corpos. Porém, enquanto estava com os olhos fitos no seu caminhar, que vinha rebolando na sua direção, ele conseguia mandar o ódio para o espaço e ficava tomado de satisfação, misturado a tristeza, misturado com desejo, angústia e uma dosezinha de algo que ele ainda não sabia definir o que era.
Outras vezes ela aparecia com um grupo de amigas, e elas passavam conversando animadamente pela sua frente, soltando gargalhadas e conversando coisas que ele não conseguia entender. Geralmente ouvia algum nome masculino em meio aos murmúrios. E quando elas passavam dando “bobeira” para outros garotos, ele se odiava por ser mais novo. Era como se ele mesmo fosse culpado por ela não lhe colocar os olhos.
No entanto, certa vez ela passou acompanhada de outro garoto. Dessa vez a raiva que ele sentiu não foi de si mesmo, e sim, bem no fundo, a raiva era dela. Como ela poderia estar andando com aquele garoto de cabelos longos, calças largas, na frente da sua casa? Era um desrespeito mortal para com seus sentimentos. Lastimável, lastimável. Mesmo assim, ele a perdoava. E quando em determinado dia ela passou cabisbaixa enquanto duas meninas caçoavam dela, a vontade que teve foi de ir até a rua, esganar as duas e resgata-la para dentro de casa, para dentro de seu sonho, onde ninguém nunca poderia machucá-la nem magoá-la. Nesse sonho, ele, com 9 anos, e ela, com 14, seriam felizes para sempre, ambos com a mesma idade, sem ficar velho. Ele ficaria olhando a sua beleza e descobriria todos os segredos ocultos que se escondiam atrás daquele rosto lindo, e ela também descobriria os seus, e acharia graça de seus medos e seus fantasmas, e os dois ririam juntos caminhando por um gramado de mãos dadas.
Porém, a realidade era dura. Era crua. Não permitia sonhos. Não permitia amores. Pelo menos para um garoto da sua idade.
E numa tarde fria de inverno, ela não passou. E também não passou no segundo dia, nem no terceiro. O que teria acontecido com o seu anjo? Com a sua inspiração? Com a sua alegria em vê-la passando todos os dias na frente de sua casa? A quem esperaria agora??? João Guilherme não sabia. Com nove anos, ele não tinha mais idéia de que rumo tomaria a sua vida. E foi com esse pensamento, que ele pegou tristemente o cobertor no seu quarto gelado e ficou deitado durante algumas horas com um nó sufocando a sua garganta enquanto as lágrimas escorriam-lhe pelo rosto antes de adormecer e voltar a ser feliz em seus sonhos.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Retro - Azar


O texto a seguir, é dos meus arquivos do tempo de faculdade. Como faz muito tempo que não os leio, me mato rindo lendo-os, porque nem lembrava o que tinha escrito. E assim também me recordo dessa, que possivelmente foi a melhor fase da minha vida. No final de semana revi alguns desses meus amigos lá em Ijuí, e, porra, foi bom relembrar as velhas histórias (e construir umas novas).
Nesse texto tem umas partes pesadas, bom, eu não ia censurar nada, mas tem uns trechos que são absolutamente impublicáveis (já falei que divulgo tudo somente quando estiver rico e famoso, e como isso dificilmente vai acontecer, então, eles vão ficar guardados aqui). Bom, mas as partes publicáveis também são divertidas (pelo menos para mim). Foi um tempo difícil, acho que por isso eu tenho pavio curto algumas vezes com pessoas que acham que tudo que tenho ganhei de graça, sem sacrifício. Eu vivia ferrado, mas estava sempre feliz (acho que isso não mudou muito). Mas enfim, ai vai mais uma história da facul:

O cúmulo do azar

Agora são dez horas da noite e estou caindo de sono. Ou melhor, estava. Acontece que me deitei às nove e meia da noite, e assim que coloquei a cabeça no travesseiro um gato estúpido começou a berrar aqui perto de casa e a vizinha maluca inventou de cozinhar. Para piorar, o cheiro da comida dela invadiu todo meu quarto. Eu na mais pura secura, sem grana para comprar comida e me acontece isso. Daqui a pouco vou catar o dito gato para fazer churrasquinho. Desgraçado. Assim que eu liguei o computador ele parou com a gritaria. Fiquei imaginando se era uma gata dando o rabo, se era um gato que estava sendo torturado, ou se fora atropelado (toda semana atropelam um gato aqui na minha rua). Ou de repente era uma gata parindo. Havia uma grávida andando por aqui esses dias, mas a dita anda sumida. Vai ver era ela. Vagabunda. Dá o rabo sem saber pra quem, e depois fica gritando não deixando os outros dormirem. Não sei quem incomoda mais, se é a gata ou a doida da vizinha. Hoje ela já bateu aqui umas três vezes só para incomodar. Não me dá a mínima, tira uma onda e vai embora. Cadela, qualquer hora dessas... (CENSURADO).
Hoje comi a metade do meio pacote de pão sanduíche, e agora só me sobrou umas cinco fatias. Amanhã é terça-feira e acho que vai acabar o estoque. Ando pensando seriamente em assaltar um banco ou algo assim. Pelo menos se me prendessem não teria que me preocupar com comida, conta de luz, aluguel e outras coisas. Mas por outro lado ficaria com a retaguarda ameaçada. É, acho que não é um bom negócio. A não ser que o assalto desse certo, mas é pouco provável. Ijuí é uma cidade pequena, tem muito policial para pouca gente.
O sono está ficando cada vez mais forte e já nem sei mais o que estou escrevendo. Mas voltando à idéia do assalto, seria legal se desse certo. A primeira coisa que faria, seria... (CENSURADO) e esquecer o resto do mundo. (CENSURADO).
Falando em merda, lembrei do último sábado. Saímos lá em Santo Ângelo (o Dante que bancou tudo, eu estava sem grana) e enchemos a cara em um barzinho perto do posto que é o “point” da galera. Lá a cerveja é mais barata. Sentaram conosco o Jorginho e o Oregano. Os dois são muito doidos. O Oregano uma vez tomou um trago com a gente e queria se atirar pela sacada, mas a galera foi mais rápida que ele, e conseguiram segurá-lo e amarrá-lo em uma cadeira. Eu fiquei só observando, afinal, se ele se atirasse ia sobrar mais cachaça com refrigerante para nós. Eu devia ter 18, no máximo 19.
Já o Jorginho não me traz nenhuma lembrança, porém, as histórias que ele conta são sinistras. Pra começar, ele diz que quando está bêbado come todo mundo. O Oregano confirmou, dizendo que ele tinha comido uma gordona em cima de uma mesa de sinuca de um barzinho lá de Santo Ângelo. O Jorginho tentou justificar dizendo que ela que se “abriu” para ele e o Oregano emendou: “claro, você não parava de incomodar a coitada por um minuto. Parecia que ia trepar nela enquanto falava”. O Jorginho retrucou brabo, ressaltando que ela que quis ficar com ele. Afirmou ainda que depois disso pegou outra mina e meteu ela no carro. Segundo ele, quando ele foi comer ela, enfiou o celular naquele lugar que você está pensando. O Oregano não resistiu e disparou: “só falta dizer que o celular tocou!”. O Jorginho deu um pulo da cadeira, um soco na mesa e gritou: “TOCOU! PIOR QUE TOCOU MESMO”. Perguntamos ainda o que ele fez, e ele respondeu sem hesitar que simplesmente deu o telefone para a mina atender.
O Oregano também contou uma história interessante. Estava rolando um festerê no apartamento dele, e depois que todos foram embora só ficou ele com uma mina e o Goela com outra. Na hora eu não entedi porque o apelido do Goela era Goela, mas agora eu sei. O Oregano foi num quarto, enquanto o Goela foi no recinto ao lado. Quando tudo ia bem, rolando o maior clima, o Oregano ouviu um grito que vinha do quarto ao lado: “PUTA QUE PARIU! ESTOUROU! NÃO ACREDITO, ESTOUROU MESMO!”. Deu um minuto e uma mão batia na porta, parecendo que ia derrubar o prédio e matar todo mundo. Quando o Oegano abriu a porta, o Goela entrou aos berros:
- O MEU! TU NEM SABE O QUE ACONTECEU?
- Pois nem me conte - respondeu o Oregano.
No fim ninguém comeu ninguém, e o Oregano teve que largar a mina dele para consolar o Goela, que achava que ia ser pai. Dessa vez não passou de um susto. O problema foi que nas outras vezes o Goela não teve a mesma sorte e hoje tem duas filhas.
O interessante da conversa foi os planos da gurizada, mais especificamente do Jorginho. Ele perguntou o que cada um estava fazendo. Eu e o Dante falamos que estávamos trabalhando e estudando em Ijuí. Ele olhou com a cara mais séria do mundo e largou um: “hmmmmm, interessante” e ficou com o olhar perdido como se estivesse planejando o mais diabólico dos crimes. Depois o Oregano contou que estava trabalhando lá em Santo Ângelo mesmo, além de beber muito e comer muita mina (palavras dele). Então o Jorginho resmungou “mentira desse larápio”. O Oregano ouviu e perguntou: “e tu seu doente? O que anda fazendo?”. O Jorginho ficou sério, e depois de uns 30 segundos decidindo se pulava no pescoço do amigo ou não, ele respondeu com um leve sorriso no rosto, como se tivesse achado a solução para todos os problemas da humanidade: “eu? Eu vou fazer faculdade de Física na Universidade Federal de Santa Maria”. Eu e o Dante nos entreolhamos surpreendidos. “Vejam só: por trás de todas aquelas maluquices poderia existir um futuro Einstein!”, pensei. Mas o Oregano, conhecendo a figura, tratou de perguntar logo: “e pra que você quer fazer Física, o animal?”. O Jorginho, pensando mais profundamente ainda, respondeu: “pra fazer concurso na Polícia Federal e matar cinco mil pau por mês. Ai só vou sentar num barzinho com duas pistolas na cintura e ficar esperando”(??). A resposta veio em tom de profecia. Só não me perguntem o que tem a ver a faculdade de Física com o concurso da Polícia Federal. Já o que ele ia ficar esperando sentado em um barzinho dá até para imaginar. Eu mais ouvia a conversa do que falava, afinal, não é todo o dia que aparecem caras mais loucos que você. Imagina se eles fossem escrever um livro. Quantas histórias! Na verdade no meu passado existe um monte delas, algumas até mais macabras que estas. Acho que na verdade eu ando muito bitolado e saindo pouco. Ainda por cima sem grana. Espero sair logo dessa. Na metade do ano que vem pretendo me formar. Estarei com 24 anos. Até lá tem muita bola pra rolar. Depois disso será vida nova. Pelo menos assim espero”.
***
Agora voltando a atualidade, só mais uma da galera lá na Pastelaria no último final de semana: me criticaram que eu troquei os nomes mas coloquei a foto da galera! Mas que cosa. É que na verdade não é a galera, são todos atores contratados para essas histórias de ficção.... (acho que não convenceu muito, mas tudo bem...)