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sexta-feira, 21 de julho de 2017

How knows, baby...

Hoje à tarde fui abrir o meu email e vi que tinha uma mensagem “Who knows, baby”, de um tal de Brad. Achei que fosse vírus, mas o título me chamou a atenção e acabei clicando. Não havia nenhum anexo e, correndo os olhos pelo texto em inglês, não identifiquei meu nome em nenhum momento. Então, simplesmente passei a ler o tal email que, sei lá como, veio parar na minha caixa de entrada. Não vou tentar explicar o que esse cara escreveu para uma moça, que não entendi bem se é alguma namorada, crush ou coisa parecida, mas sim, vou postá-lo na íntegra. Bom, quando terminei de ler acabei apenas clicando em responder e escrevi: “força, man! Vocês dois serão felizes, juntos ou não”. E, há pouco, acabei de traduzir tal texto para postar no blog, pois me identifiquei com a parte do “dinossauro das tecnologias” desse sujeito que, como fica claro, mostra que não é só no interior do Brasil que resistimos... Há gente como a gente em New York, por exemplo. Chega de enrolation e vamos ao email:


Hey honey. É no mínimo contraditório eu usar o email para dizer o que tenho que lhe dizer, mas é a única maneira eficaz que encontrei para chegar até você, pois, como sabe, sou um daqueles dinossauros da tecnologia: não uso redes sociais, não tenho celular e sequer sei o número do seu telefone para te ligar do meu aparelho convencional. Poderia ter te procurado pessoalmente, mas mesmo morando na mesma cidade que você, sinto-me como se morássemos em países diferentes, pois nunca conseguimos nos ver. Acho que nos víamos mais quando eu morava em Louisville e você em Chicago e reclamávamos da distância em cartas e telefonemas, afinal, são só seis horas de Megabus. Mas agora, nem mesmo o fato de morarmos em uma das maiores cidades do mundo justificaria todo esse tempo sem nos cruzarmos, pois o Harlem não é tão grande e, afinal, seu apartamento fica a apenas três quadras do meu. E é justamente por isso que hoje resolvi sentar diante do meu velho computador para abrir o email e lhe escrever, afinal, faz tanto tempo que a gente não se fala, não é?
Estou te escrevendo para dizer que tenho pensado em você. Como sempre, muito mais do que gostaria ou imaginaria. Você sabe que mexe comigo. Você sabe que meus olhos são só seus, que minha boca é só tua e que meus carinhos são guardados só para você. Ou pelo menos eram, pois não nos vemos mais e não tenho como fazer isso por email. Você sabe que eu simplesmente adorava quando íamos ali no dogão da esquina fazer um lanche e conversar ou quando nos encontrávamos em um café em downtown e passávamos horas jogando conversa fora, ou ainda, quando fazíamos aquele happy hour no Smithfield, enquanto você brigava comigo porque estava presentando atenção no jogo dos Yankees na televisão e não no que você estava falando... Ainda hoje, eu gosto disso tudo. E seria hipocrisia de minha parte negar que sinto falta. Mas acho que isso não vai mais acontecer, por motivos óbvios. Somos diferentes. E a diferença nos distanciou. Como sempre conversamos, sou o cara que você nunca apresentaria para a sua família. Bebo muito, falo alto, digo palavrões sem parar, odeio fingir ser outra pessoa, tenho um emprego de merda mas faço o que gosto e não pretendo mudar, além disso, já casei três vezes, tenho quase o dobro da sua idade, um casal de filhos para criar, ex-mulheres para brigar que não largam do meu pé e que te odeiam, detesto tecnologia e amo estar na rua (principalmente à noite). Já você, vem de boa família, é uma princesa, linda, inteligente, esperta, com um futuro brilhante pela frente, viciada em telefone celular e em netflix (que eu nem sei exatamente o que é, mas que deixa as pessoas meio estranhas). Justamente por gostar de ti, percebo que só iria te atrapalhar ficando na sua vida.
Aliás, provavelmente você já saiba disso tudo, e por isso tem evitado me ver pessoalmente.
Lembro da última vez que nos vimos e assistimos a um episódio daquela série que você ama, Californication (isso é na tal da Netflix, certo?), e você me comparou ao Hank, dizendo que eu estava com você por fetiche, por ser mais nova e por não querer que ninguém ficasse sabendo sobre a gente. Well, honey, nem preciso lembrar você que odiei a palavra “fetiche”, pois a última coisa que eu penso quando penso em você ou quando estou (ou estava) com você é em “fetiche”. Fetiche é um sentimento muito pequeno para ser comparado ao que sinto quando te encontrava e quando lembro de nossos momentos juntos. E, sempre que quis ficar longe de amigos e parentes quando estamos juntos foi justamente para evitar que todo mundo caia de pau na sua cabeça por estar com um cara como eu. Mas te entendo, baby, te entendo... E você tem toda a razão em não querer mais me ver. O fato é que eu simplesmente precisava te falar isso, pois não tenho como aderir à vida virtual para te encontrar, e sei que provavelmente você vai encontrar outro cara mais parecido com você, que vai te tratar bem, que vai te amar, que vai ficar horas falando contigo pelas redes sociais quando você estiver longe e que, provavelmente, eu vou cruzar com vocês dois no final de um domingo deprimente qualquer e, possivelmente, depois de ver vocês, eu vá ligar para o Jack e dizer: “hey budy, passa aqui que estou precisando encher a cara hoje” e, então, o Jack vai lá com meia dúzia de garrafas de cerveja, e vamos beber até de madrugada, comentando sobre tudo aquilo que gostaríamos de ter e que não temos e, em especial, vou dizer que o que eu mais queria era você, mas que te perdi porque simplesmente não consigo mudar e levar uma vida online que não me pertence. Então, vou olhar para ele e vou dizer:
“hey, motherfucker, vamos catar um boteco e ver gente” e aí nós vamos ao Harlem Pub beber mais e comer as pipocas de graça que você gostava e eu vou lembrar que você gostava das pipocas e vou tentar encontrar o teu rosto no rosto das outras garotas, a tua voz na voz delas e o teu beijo em outras bocas. Possivelmente eu faça isso pelo resto da vida, mas fazer o quê, não consigo imaginar a minha vida com a única perspectiva de te beijar através da tela de um computador..
Mas não me leve a mal, baby, sei que você tem anticorpos que não te deixam gostar de alguém (especialmente alguém como eu e na minha situação) e acho que combinando os seus anticorpos com os meus (que não me permitem pensar em algo majoritariamente online, fora da vida real, de carne, osso e calor de peles e bocas e corpos) não há muito o quê se fazer a não ser guardar bem as lembranças do que passou e, como você disse naquela noite de dia dos namorados em que te pedi em namoro: “relaxa, não vamos estragar tudo.. vamos levando a vida na boa que quem sabe o destino nos conecta novamente mais pra frente”... Quem sabe, baby, quem sabe um ano depois de cruzar com você e o seu crush, quando eu já estiver morando na Califórnia, não nos encontramos em um cassino em Las Vegas e, então, voltamos a acreditar que não somos tão diferentes e percebemos que nós somos feitos de carne, ossos, sentimentos e amor. Quem sabe, baby, quem sabe...

domingo, 9 de julho de 2017

More unanswered questions

Existem pessoas, conselhos, frases, palavras, que nunca esquecemos. Pela minha situação atual, veio-me à mente um conselho que o professor Juremir Machado da Silva deu durante uma aula de Sociologia da Comunicação no mestrado da PUCRS há mais de oito anos atrás. Eu lembrava que tinha escrito sobre isso no passado, e consegui recuperar o texto “Estranho no ninho”, publicado nesse blog, em abril de 2009. Apresento aqui um trecho do que contei: “Ele [Juremir] disse que, quando não está inspirado para escrever as suas colunas diárias no Correio do Povo, ele expõe o seu cérebro e as suas ideias ao maior número de estímulos possíveis, e esses estímulos são o combustível para as novas ideias e inspirações”. Naquela ocasião, eu radicalizei: fui para o Beira-Rio assistir a final do Gauchão entre Inter x Caxias (8x1) e quase apanhei. Agora, apesar de ter viajado durante uma semana recentemente, nos últimos dias tenho me sentido um pouco assim: estou tomando um banho de produção cultural com leituras, séries, filmes, produções de artigos, correções de provas e trabalhos, etc, mas tenho sentido falta do vento no rosto, da multidão, das pessoas, do mar, de paisagens, etc. Sei que é momentâneo, que logo vou voltar para as ruas como um flânuer qualquer, mas senti a necessidade de escrever isso. E senti essa necessidade, possivelmente porque, ou quando eu leio muito e vejo filmes, ou quando fico semanas envolvido em andanças por aí, preciso escrever... Sei lá.. cada com seus vícios...
De sexta para cá, consegui a proeza de assistir a dois filmes (o que é bem difícil de se fazer quando há crianças em casa). Moonlight, o vencedor do Oscar de melhor filme, e Uma longa jornada, adaptação do livro que já comentei aqui outra vez. Também assisti a vários episódios que ainda não tinha visto de Friends, Two and half man (com Charlie) e até de Um maluco no pedaço.. (Yes, I like Will Smith). E, ao mesmo tempo, escrevi um artigo inteiro, brinquei com a Larissa, corrigi trabalhos, preparei provas, levei a Bolinha passear e estou quase terminando de ler Gringo (um romance sobre um mochileiro que cruza a América Latina e que te deixa louco para cair na estrada) e Sobre o amor, livro de poesias do velho Bukowski.
Também tenho ouvido algumas músicas diferentes, que eu nem conhecia, como Beirut (que toca nesse momento, enquanto escrevo) e Outro Eu. Sei lá, acho que tudo isso mais as viagens mais os sentimentos vão nos transformando com o tempo e penso que isso só termina quando a nossa passagem por esse planeta chega ao fim...
Com certeza posso dizer que hoje não sou mais o mesmo de um ano atrás, nem de cinco, nem de oito, quando estava na sala de aula ouvindo atentamente o professor Juremir. E muito menos sou o mesmo dos tempos de graduação e, menos ainda, de antes disso, quando eu vivia no meio de um monte de gente que pensava que a cidade em que morávamos era o centro do universo. Para o bem ou para o mal, mudamos: viajamos, lemos, nos apaixonamos, deixamos de ter aquele sentimento que pensaríamos que seria eterno (thanks, God!), assistimos a filmes, revemos e relemos aquilo tudo que nos marcou, lembramos de conselhos feitos por pessoas que nos marcam como, no meu caso, o professor Juremir, que por sinal me mandou ontem um puta prefácio para o meu segundo livro que terá como tema o Jornalismo Gonzo e que será publicado, talvez, ainda nesse ano (\o/).
Mas, em meio a tudo isso, a essa espécie de fuga da realidade na literatura, no cinema, nos artigos, nas brincadeiras de criança e nas lembranças, como num filme, numa saída sem maiores pretensões, eu me deparo com a imagem que talvez mais tenha me mudado e me feito acreditar que tudo é possível (algo que sempre levei comigo, mas que é reforçado quando me deparo em uma situação como a que vivenciei esses dias). Foram poucos minutos (talvez segundos), mas que me tocaram lá no fundo: aquela imagem não me saiu da mente por praticamente nenhum instante durante os últimos dias e, enquanto eu lia, assistia a vídeos, escrevia artigos, passeava com a cachorra, brincava com as crianças, aquele brilho, aquela energia, aquela sensação de tirar o fôlego por ver o que eu vi, esteve sempre presente. E, justamente por ter tido essa experiência simples, rápida, mas marcante, de um simples encontro casual, de ver uma bela paisagem, é que bateu novamente essa vontade de sair de casa e voltar a tentar conhecer e entender o desconhecido. Como escreveu o personagem do livro que estou lendo: “Antes desta viagem, eu tinha respostas para tudo, agora não sei mais nada; só tenho perguntas”. E é essa sensação que essa bela imagem que ficou gravada em minha mente causa quando penso nela: eu não sei nada sobre tudo aquilo que eu pensava que sabia.
É algo único. Mágico. Inesquecível. Para tentar entender o incompreensível, uma dose de álcool pode ser útil, como diria o velho Buk. Portanto, garçom, traga uma caipirinha, afinal, eu amo caipira!