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sábado, 31 de outubro de 2009

Mais uma curta

Repórter com vestido de oncinha - Tipo assim, todo mundo tem um ídolo, qual é o seu ídolo?
Artista - Eu.
Repórter com vestido de oncinha - Tipo assim, em quem você se inspira, tipo assim, pro teu trabalho, saca?
Artista - Saco. Eu me inspiro na minha própria pessoa, saca?
Repórter com vestido de oncinha- Tipo assim, cara, você é demais. Qual é o par perfeito para você?
Artista - Hmmmm. Difícil essa pergunta... Acho que não existe ninguém do mesmo nível que eu....
Repórter com vestido de oncinha - Pena... Então, não posso ter esperanças?
Artista - Do que, guria?
Repórter com vestido de oncinha - De ser o teu par perfeito....
Artista - Por uma noite, até pode...
Repórter com vestido de oncinha - Hmmm. Bom, então vamos ali resolver a parada....
Não identificável - Hmmmmmm, jonkkkk, chompssss, chupssss, nhoccc, nhocccc, aiiiii, hummmm, ahhhhh, ohhhhhh, uhhhhhhhhhhhhhh, ahhhhhhhhhhh, fsmallahknkabaghhehakdhnsfn asdf wholfengrauerrrrrrrrrrbergggg!!!!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mini-contos

Saiu a lista das datas das sessões de autógrafos na Feira do Livro de Porto Alegre dos autores que tiveram seus contos selecionados para o livro da Nescafé, “Não deixe a vida esfriar”, realizado pela Nestlé em parceria com o grupo RBS. Na verdade estou em duas datas: na segunda-feira do dia 9 de novembro e no sábado do dia 14. Pedi pra trocar o sábado do dia 14, pois não estarei em Porto Alegre, porém, ainda não tenho a resposta (mandei o e-mail há dois minutos). Então, confirmada mesmo, está a minha participação no dia 9 de novembro. Convido a todos os leitorinhos para comparecerem lá, nessa data, apesar do Gérson Alemão, leitor oficial do blog, estar na Itália.
Bom, como eu não achei aqui a cópia do meu conto, que na verdade, como já disse, é um mini-conto de aproximadamente 6 ou 7 linhas, publico aqui outras quatro histórias curtas, inventadas agora, madrugada de sexta-feira.

Quatro mulheres conversando numa mesa de bar. Todas falam ao mesmo tempo:
Mulher 1 – Mas guria, tu viu que o Vicentinho deixou da Martinha e anda com aquela piranha da Vanessa, e tu acredita que eles...
Mulher 2 – Menina do céu, nem te conto... antes de eu vir aqui eu fiquei cinco horas no Marquinhos arrumando meu cabelo, e tu acredita que aquela bicha louca deixou meu cabeço de molho 18 minutos e 59 segundos, ao invés dos 16 minutos e 23 que ele sempre deixa? Olha só – diz ela apontando para o cabelo – meu cabelo está hor-ro-ro-so... todo enrolado... mas a pior foi...
Mulher 3 – Guria, o Vilson me ligou e queria saber onde eu ia hoje, e eu disse que sairia com as gurias, e ele ficou brabo só porque a tia dele ta passeando e ele queria que eu estivesse lá e...
Mulher 4 – Isso não é nada gurias, pior foi a minha tia que disse que estava se masturbando e caiu uma unha lá dentro, e ela teve que...
E o pior: elas se entendem...

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Quatro homens estão numa mesa de bar, bebendo.
Homem 1 – Olhem lá aquela mina – todos olham.
Homem 2 - ............
Homem 3 - ..................
Homem 4 – Que horas é o jogo do Corinthians amanhã?
Eles também se entendem...

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Sujeito está caminhando na beira da praia com o amigo e perde um dos chinelos que estava enrolado na camiseta, que ele segurava embaixo do braço direito. Resolve voltar e vê um grupo de crianças brincando de lançamento de chinelo dentro do mar.
- O guri, esse chinelo é meu. Da pro tio.
Guri nem bola, lança o chinelo para o amiguinho, que lança rapidamente para o terceiro.
- O guri, devolve o chinelo do tio...
Gurizada segue jogando o chinelo.
- O gurizada, o tio precisa ir embora, devolvam o chinelo... Gurizada... por favor gurizada...
Tio sai chorando do mar sem o chinelo, enquanto a gurizada segue o jogo do chinelo...

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Serginho está numa boate e resolve chegar na mina mais espetacular da festa: uma loira bronzeada de vestido de oncinha que vai até a metade das coxas.
- Olá.
- Olá.
- Tudo bem?
- Tudo bem.
- Como é seu nome?
- Alcinda.
- Hmmmm, belo nome.
- Obrigada.
- O que você faz?
- Estudo enfermagem...
- Quero ficar com você – diz o sujeito olhando pra ela.
- Como?
- Quero ficar com você.
- Falasério. Sai pra lá – diz aloira em tom de Sílvio Santos.
- Eu quero.
- Sai pra lá, já disse.
Ele baixa a cabeça, com ar triste. De repente arregala os olhos, ergue as mãos abertas, e grita:
- Pegadinha do Malandro!!!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A dança do amanhã


Uma dança enlouquecida
Um corpo molhado
Malhado
Excitado
Suado pelo calor
Das chamas da cidade
Que pega fogo
Em meio ao frio calórico
Que choca, que racha
Que deslumbra, que encanta
Enfim, uma dança...
Uma dança do ventre
Uma dança no vento
Uma dança que inventa
Inventa uma vida
Inventa um amor
Inventa um sonho
Um sonho que se movimenta
Que se levanta, agita
Que acorda, que grita
Que deixa simplesmente
Sentindo algo muito melhor
Do que o que sentimos ontem.

O Gre-Nal que não aconteceu

No último domingo, disse alguém, que o Inter venceu um Gre-Nal, o que não sei se é verdade. Lembro que saí de casa com o intuito de ver o tal Gre-Nal. Passei correndo na Lara para entregar o gravador que ela havia me emprestado (para entrevistar o Verissimo) e fui reto catar um lugar (longe do Beira-Rio) para ver o tal jogo, no entanto, não achava um puto boteco com espaço para sentar. Absolutamente todos os bares da Cidade Baixa estavam lotados. Peguei a Loureiro da Silva, passei as duas perimetrais, e entrei na Lima e Silva. Pelo movimento que tinha no sentido Lima e Silva – Loureiro da Silva, faltando algo como 15 minutos para começar o jogo, calculei que não houvessem mais lugares. Acabei me instalando num boteco, acho que se chama “Comes”, ou algo assim, para ver a tal partida. Em pé, na calçada, óbvio. Eram dezenas de pessoas, e eu, amontoadas para tentar ver alguma coisa nas duas telas de TV instaladas lá longe. Antes de a partida iniciar, peguei uma latona de cerveja no boteco do lado (tipo lancheria), e fiquei ali, bebericando. O cara que estava no meu lado pediu uma para o garçom, e vi que o preço ali era mais caro do que no boteco do lado. Cutuquei o maluco:
- Bah, aqui do lado é mais barato. Na próxima podemos combinar de pegar duas para tentar um descontinho...
E eis, então, que nasce uma amizade. O cara estava sozinho, e dali a pouco chegou um amigo.
- Ó, esse aqui é o Eduardo, meu brother. Eu ia pega uma ceva aqui, e ele disse que a do lado é mais barata...
Flávio, o nome dele, e algo como Israel, ou Isaias, o nome do amigo. Não me lembro bem. No entanto, logo que o jogo iniciou, disseram que o Inter fez um gol. Os colorados pulavam, festejavam, gritavam. E nós ali, com cara de tacho. O primeiro tempo acabou, e num outro boteco, mais para o lado, não havia jogo nenhum nos aparelhos de TV. Fomos lá tomar umas, e acabamos ficando por ali mesmo. Lá pelas tantas, uma loira e uma morena sentaram-se perto da entrada. Os dois passaram a teorizar:
- A morena, pelo jeito, é garota de programa aposentada. Ainda está conservada... – disse o Ismael, ou Isaias, vá saber.
- É – completou o outro – mas a loira não.
- Não, não – disse o Ismael – a outra é muito feia.
- Muito feia – concordei.
- E a morena – acrescentou o Flávio – deve ter sido tirada da zona por um médico rico.
- É – concordou Ismael – e o marido deve estar viajando para São Paulo e agora estão ali, bebendo chope com o dinheiro dele...
Senti-me numa crônica do David Coimbra. Lá pelas tantas, uma gritaria do lado de fora. Fui espiar, os gremistas davam socos no ar. Gol do Grêmio, disse. Saímos. Que nada, não passava de um pênalti não marcado pelo juiz. E assim acabou o jogo. E assim acabou o domingo. Não vi nada do Gre-Nal. Não vi o Jornal do Almoço, nem o Globo Esporte, tampouco os gols do Fantástico. Ou seja, para mim, não houve Gre-Nal. Afinal, como já prevêem os teóricos da comunicação, a mensagem está na interpretação do receptor, e não na intenção do emissor. Ou seja: não fui atingido pela mensagem. Essa mensagem, para mim, não existe. Ou ainda, em termos mais populares: o que os olhos não vêem, o coração não sente. E, portanto, não houve Gre-Nal. Ponto.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Esse mundo está perdido, seu moço!

Quando começou a esquentar, resolvi deixar o abrigo. Quer dizer, não sei até hoje se fui eu quem decidiu sair do abrigo, ou se foram eles que decidiram sair comigo. O fato é que assim que o frio passou, comecei a chegar de madrugada, bêbado, e era acordado aos berros antes do meio-dia e chutado para a rua. Enfim, chegou um ponto que não dava mais e fui definitivamente para a rua. Todo o início de primavera é assim. Aliás, na minha idade isso não é nada. Em 64 anos de vida já passei por muita coisa, seu moço. Hoje não tenho nada. Mulher e filhos, nunca mais ouvi falar. Provavelmente se me encontrassem, eu seria execrado e crucificado por eles. Com razão ou não? Vá saber. Não preciso de ninguém para dizer o que já sei: que sou um velho bêbado e fracassado. Agora vivo disso: esmola na Rodoviária, no centro, nas portas de restaurantes, e por aí vai. Já quando a noite chega, acho um canto escuro e durmo. Geralmente vou ao mesmo lugar por um tempo, até que o guardinha da rua ou o proprietário da casa ou um dos moradores dos prédios resolve me tocar como um cachorro sarnento. Às vezes o pessoal da prefeitura tenta me levar de volta para o abrigo, mas lá já me conhecem. Vou um dia, no outro estou de volta às ruas. Acho que se pudessem, me mandavam de volta para a cadeia. Já aconteceu comigo, sabe? Acusaram de um crime que não cometi só para me tirar de circulação. Mas, até eu, um vagabundo sem condições de contratar um advogado qualquer, cedo ou tarde acabo liberado. Posso até assumir a culpa, pedir para ficar lá, que eles me soltam. Lá não é muito diferente do que aqui. Pelo menos na minha idade. Chego lá, fico no meu canto, ninguém mexe. Eles estão mais preocupados em comandar os negócios que rolam no lado de cá das grades.
Já vi de tudo nessa vida, seu moço. Presenciei assassinato enquanto tentava dormir na madrugada. Nem dei bola, fingi que não era comigo. Certa vez, dois caras esfaquearam um ruivo num canto escuro onde eu pestanejava. Fugiram. Eu estava completamente bêbado, e segui dormindo. Os policiais me acordaram quando acharam o defunto, todo furado, e me levaram junto para a delegacia. Não tinha muito o quê contar. O morto era um conhecido deles, e sabiam que eu não tinha nada a ver com a história. Chutaram-me para fora da delegacia e ainda disseram: “fique longe de confusões, velho, estamos de olho em você”. Eu heim. E eu sou lá de me meter em confusão? Só quero viver. Ou melhor, sobreviver. Apesar de que às vezes tenho dúvidas do quanto eu quero isso. Estou cansado, sabe? Durante um período eu arranjava uns amigos. Cachorros de rua, óbvio. Só neles é que se pode confiar. Mas sempre algum maldito adolescente desmiolado acabava miseravelmente com a vida de algum deles, e isso me consumia, me deprimia. Desisti. Agora não deixo nem os cachorros me acompanharem. Outro dia, acordei com dois cachorros trepando ao meu lado. Malditos. Porém, coisas desse tipo são comuns. Quando não são os cachorros, são as pessoas. Num lugarzinho que tirei pra dormir durante mais ou menos um mês, toda a noite as prostitutas e travestis das redondezas levavam uns caras lá para fazer o serviço. Eu acordava com aquela gemeção. Saía um, vinha outro. No início até espiava, me empolgava... Mas com o tempo, nem ligava mais. Sempre a mesma história: chomp, chomp, chomp, chomp... ahhh... silêncio, acerto de contas, e segue a noite. Até que um dia o dono do lugar (uma lanchonete que fechava cedo), de saco cheio de chegar toda a manhã e ter que limpar a sujeira que faziam, ficou de tocaia. Eu até vi o desgraçado escondido, mas fingi que não era comigo, e quando a prostituta estava trabalhando legal no cara, o dono do lugar saltou com o revólver em punho e foi grito pra tudo quanto é lado. Confesso que até eu pulei. O cara se assustou comigo, e botou o revólver na minha cabeça. De novo foi parar todo mundo na delegacia: eu, o dono da lanchonete, a prostituta e o gordo que estava com ela, que só dizia “pelo amor de Deus, não me entreguem, pago o que quiserem, eu sou casado, por favor...”. Eu só pensava em sair dali e voltar a dormir.
Mas é isso, seu moço. Assim eu tenho passado meus dias. Se espero que minha vida melhore? Pois olha, seu moço, pra minha vida melhorar só se um anjo baixar aqui e me consagrar. Afinal, Jesus não tinha dito que quem quer ir para o céu deveria doar todos os seus bens materiais e se dedicar só a fazer o bem? Pois o que mais vejo são carrões estacionados na porta da Igreja nos domingos... e o pior é que os mesmos que estão lá, estão depois aqui nos escurinhos com as meninas... Esse mundo está mesmo é perdido, seu moço...Perdidinho da silva... Mas que nada, um dia uma delas cai no meu colo, seu moço!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O alemãozinho do Carrefour

As filas do Carrefour são sempre interessantes. É quase um circo, onde um monte de gente estranha fica com cara de quem está esperando (e realmente estão), enquanto você olha para elas com cara de quem também está esperando (e realmente está) e então você suspira, da uma olhada nos carrinhos dos outros, e fica imaginando o quê aquela loira tatuada de 18 anos com cara de Angeline Jolie faz beijando na boca aquele velho de 69 anos que mal pára de pé, e por ai vai....
Hoje me aconteceu mais uma nessas filas. Estava eu, segurando cinco pãezinhos, um saco de salsichas e um saco de batata palha em uma mão, e uma nota de dez reais amassada na outra, quando comecei a ouvir uma mulher falando em alemão com uma criança. Eu olhei para a criança, ela fez cara de pânico, abriu bem a boca e....
- AAAAAHHHHHHHHHH!
Eu arregalei os olhos, já ia falando “calma, calma, garotinho”, até tentei formular essa frase em alemão, mas não consegui. No entanto, o alemãozinho, que devia ter uns três anos, quatro, no máximo, fechou o seu bocão, olhou para a mãe alemoa, e disse, apontando para mim, com sotaque alemão:
- O pai do Dudu.
Eu olhei para os lados, e realmente era para mim que o pirralho apontava. Pai do Dudu. Eu, um próprio Dudu, pai de outro Dudu... Vejam vocês. Eu olhei para a alemoa e perguntei:
- Pai de quem?
- Ele te achou parecido com o pai de um amiguinho dele – disse ela com sotaque alemão, e completou – E não é que é parecido mesmo?
Tu vês. Eu pareço com o pai de algum Dudu, amigo do alemãozinho, filho da alemoa, que deve ser alemoa da Alemanha casada com algum brasileiro, pois ela fala português com sotaque. E o alemãozinho, vejam vocês, é bilíngüe com menos de quatro anos. Depois dessa paguei a conta, peguei a minha sacola e segui rumo ao apartamento da Rua dos Cubanos, assobiando A Cidade em Chamas, dos Engenheiros...

sábado, 17 de outubro de 2009

Uma noite feliz para seu Anselmo


Dois jovens de aproximadamente 18 anos estão vendo uns vídeos pornôs no computador, em uma ruazinha de um bairro qualquer de uma cidade qualquer do interior do Rio Grande do Sul. Uma janela grande, com uma cortina praticamente transparente, separa o computador com os dois devassos, da calçada completamente deserta. Afinal, já se passa da meia-noite. Seu Anselmo, um senhor de 63 anos, que viu sua mulher fugir de casa com filhos e netos há 20 anos, vem perambulando por ali em ziguezague, agarrado a sua garrafa plástica de canha barata. Depois que foi abandonado pela família, cansada de seus tragos e agressões a todos, ele ainda conseguiu morar na sua pequena casa, pagando aluguel com dificuldades. No entanto, acabou sendo despejado, e dali foi para uma pensão, e da pensão para o abrigo. No abrigo, comparece às vezes. É muito chato, tem hora pra chegar, hora pra sair, tem que ficar cuidando o seu sapato velho e furado, senão roubam, enfim, a rua é mais aconchegante e menos cruel. Comprou a garrafa de canha com as moedas que ganhou naquele dia na estação Rodoviária. Agora estava ali, andando sem rumo pelas ruas daquela cidade deprimente.
Enquanto ziguezagueia na escuridão, seu Anselmo enxerga aquela janela com uma faixa de pano transparente e vê luzes vindas lá de dentro. Com ar curioso, se aproxima, tentando não fazer barulho. Quando cola o rosto na janela, vê dois jovens, um loiro e um moreno, dando risadas e apontando para aquele quadrado estranho, que parece uma televisão. Um deles está na frente, e só vê as luzes que ficam piscando. Quando o loiro sai da frente, ele vê algo que o hipnotiza: uma loira monumental está literalmente mamando num velho... Um velho como ele! Ele fica olhando aquela cena. Olha do monitor para os jovens, que dão muitas risadas, dos jovens para o monitor, do monitor para a canha... toma um longo gole, limpa a boca, e segue olhando aquele espetáculo. Tenta lembrar qual foi a última vez que teve uma mulher... Bem, certa vez ele pegou meio a força uma outra moradora de rua, mas devia fazer uns quatro anos. De comum consentimento foi... foi... putz, foi com a ex-mulher, há mais de 20 anos! Depois disso, chegou até a juntar alguns trocados para gastar no bordel mais barato da cidade. Mas não chegava a ser uma relação igual a que tivera com a mãe de seus filhos. Elas cobravam e ainda por cima reclamavam do cheiro, do bafo de canha, da sujeira. Umas vadias, pensava. Voltou a se concentrar na loira, que agora era penetrada de quatro pelo velho. Por que não era ele aquele velho? Vida injusta. Alguns nascem com tanto, outros com tão pouco. E o tamanho daquele troço? O dele devia medir a metade... Olhou para baixo e abriu as calças para verificar o tamanho. Com a empolgação por ver aquela cena até que estava maior... Começou a passar a mão, enquanto via a loira com os olhos cerrados e a boca aberta, parecendo sentir muito prazer. Seu Anselmo se empolga, começa a mexer mais rápido, mais rápido mais rápido até que... até que, ao gozar, não se agüenta e berra: “ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh”. Os dois jovens tomam um susto. Vêem aquele velho do outro lado da janela se remoendo. Deve estar passando mal, calculam. Os dois correm para fora, para acudi-lo. Ao chegar ele está caído na calçada, com os olhos fechados e a cara mais feliz do mundo, rodeado pela canha, que derramou ao seu redor, fazendo uma poça de felicidade. E naquela noite, seu Anselmo dormiu alegre, como há muito não dormia.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Criatividade carnavalesca

Era carnaval de 2004. Ou seja, já se passaram mais de cinco anos do ocorrido. Eu e meu primo italiano Gérson, que então morava no Paraná, resolvemos, na falta do que fazer, passar o Carnaval em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Eu estava na faculdade, ainda nem tinha começado a pensar em monografia, projeto experimental, quem dirá em mestrado. Minha vida era a seguinte: algumas leituras, algumas ficadas, muitas festas, muitas bebidas, pouco dinheiro, muitas risadas, muitas parcerias, muito estresse no trabalho, muita correria, enfim, uma vida agitada e divertida, regada a muita cerveja, alguns destilados e alguns amores platônicos um tanto Charlie Brown para ocupar a mente. Como já tinha consciência naquela época, sabia que era uma das melhores, se não a melhor, fase da minha vida.
Enfim, em meio a tudo isso, combinamos de passarmos o carnaval de 2004 em Cambiriú. A expectativa era a melhor possível: praia, verão, música, mulheres em biquínis sumários, nenhum compromisso com horário, apenas acordar no meio da tarde, comer algo, dar um mergulho no mar, pegar um futebolzinho no fim da tarde a beira mar, voltar pra casa, tomar um banho, se vestir, e sair para a noite para voltar no outro dia de manhã. No entanto, havia um porém em toda essa questão: a falta de grana, pra variar. Eu estava em férias no meu emprego na Rádio Jornal da Manhã, em Ijuí, e meu primo estava em férias no Banco, em Londrina. Apesar disso, a grana era escassa. Tínhamos para pagar as diárias numa pensão barata que eu conhecia, do início dos anos 2000, quando trabalhei como mensageiro em um hotel. Tinha o telefone do cara, liguei, e fiz as reservas. Pedimos para ficar no mesmo quarto, já que eram quartos coletivos. Aliás, uns 15 quartos no primeiro piso e uns 10 no segundo. Um banheiro para cada piso. Ainda bem que acordávamos de tarde, aí não atrapalhávamos os trabalhadores desse Brasil. Se bem que também éramos trabalhadores, só que estávamos em férias. Enfim. Numa das nossas dormidas, eu acordei ouvindo gritos. Ouvia tudo, enquanto o Gérson roncava na cama dele. Um cara, que dividia o quarto com outro, pegou todas as coisas do colega de quarto e deu no pé. Só ouvi o dono da pensão falando: “bem que me disseram que esse aí tinha saído do presídio há uma semana...”. Tu vês. O Gérson não viu nada, viu apenas as morenas estonteantes que deviam animá-lo em seu sonho, pois uma baba escorria no travesseiro.
Mas essa foi apenas uma das curiosidades. Outra era a nossa criatividade diante das necessidades. Não havia cozinha, frigobar, mesa, cadeira, nada disso na referida pensão. Era simplesmente um quarto pequeno, com um guarda-roupa pequeno e duas camas de solteiro. Nada mas. E, para poupar a grana, a gente tomava Sprite dois litros com vodka Raiska antes de ir para a balada. Só que nos deparamos com um problema: o Sprite a gente podia pegar gelado, mas quando misturávamos a Raiska quente, ficava tudo morno, e a gente tinha que comprar gelo, o que era um absurdo na nossa situação. Com isso, logo de cara tivemos a idéia de ao nos acordarmos, lá pelas duas ou três da tarde, passar no mercado que tinha perto da pensão e colocar a Raiska no freezer dos sorvetes, bem embaixo, escondido. O mercado fechava às 21h, então, lá pelas 20h55 íamos lá pegar a Raiska geladinha e pronta para ser bebida, misturada ao Sprite gelado. Não resolvia por inteiro o problema, pois quando a bebida chegava pela metade já estava morna, e tínhamos que comprar um pouco de gelo, mas já reduzia os gastos com gelo pela metade, e sobrava mais para tomarmos outras bebidas dentro dos recintos festivos. Outra medida drástica era referente à alimentação. Não lembro quanto ao Gérson, mas eu comia uma ou duas torradas no almoço e fazia um lanche de noite. Tudo para não gastar. Mesmo assim, acho que voltei devendo alguns reais para o meu primo, que depositei quando recebi da rádio. Acho que depositei... enfim. Essas foram algumas das histórias daquele Carnaval, naquele longínquo 2004. Isso que eu nem falei do banho de espuma e da dor de barriga que tivemos na chegada... daria um livro, essa viagem!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Alô, alô dona Teresa!

Bom, estou escrevendo aqui, rapidamente, por dois motivos: primeiro, porque recebi um e-mail que literalmente me deixou muito feliz. E segundo, porque fazia tempo que não escrevia aqui, já que estou em Santo Ângelo, fazendo alguns bicos jornalísticos e acadêmicos, e tenho meus compromissos conjugais e futebolísticos. Mas enfim, voltando ao primeiro motivo, é um a-mail que recebi da leitora portuguesa Teresa, que achou meu blog pelo Google, e que morou em Porto Alegre no final dos anos 60 e início dos 70 e era vizinha do Erico! Vejam vocês, que mundo pequeno. E eu que achava que minha irmã e o Gérson eram os únicos leitores do meu blog? Mas, como a comida está pronta e vai começar a esfriar, posto aqui, na íntegra o e-mail, que me deu uma boa injeção de ânimo e de entusiasmo. Obrigado, Teresa! Ah, e não mexi em nada no texto, mantendo o português de Portugal.

Olá Eduardo Ritter. Fui parar ao seu Bloggue deambulando pelo Google, PIPL, etc. para procurar/encontrar nomes, referências, lugares que estão tão lá no fundo de mim, que eu própria me espanto como as consigo puxar para cima, lembrei-me de Érico Veríssimo.Sou portuguesa e tive a felicidade de viver em Porto Alegre com os meus pais, de 1967 a 1973.Era misterioso para mim viver tão perto duma pessoa que eu considerava pertencer a um patamar superior. Eu morava na Rua Ferreira Viana e tantas vezes via o Érico Veríssimo!Assim que comecei a estudar em Porto Alegre, no então Ginásio Estadual Sir Winston Churchill (já não deve existir, pois era um edifício tão velho na Rua da República...), tive logo uma afinidade muito grande com a minha Professora de Português, Laura Sampaio, que foi a minha "madrinha" na iniciação da Literatura Brasileira. Como eu gostei de Clarissa.... e o Tempo e o Vento??Estou decidida a reencontrar estas obras para me fazerem voltar à infancia/adolescência. Bom, lá estou eu a sonhar, a escrever...quem sabe um dia voltarei a Porto Alegre e rever a rua onde vivi e a vizinha casa branca e azul, com flores, onde (fiquei surpreendida!) ainda vive o filho do escritor?? Li um pouco do seu Bloggue, sei que é jornalista, peço desculpa por algum erro ou alguma frase menos correcta.... mas aqui estou eu tão longe, em Portugal, a contactá-lo por causa do Érico Veríssimo, o meu escritor preferido de infância.
Cumprimentos
Teresa

PS: Arion (Zinho), Dom Quixote manda dizer que acredita que vassunce vai pagar o resgate dele.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Besouro ou vagina?

Esses dias fiz uma seleção para emprego. Aliás, fiz sabendo que não teria nenhuma chance de ser chamado, pois me foi explicado na inscrição de que não haveria a possibilidade de negociar os horários de aula. Enfim, tava de bobeira... fiz. Ainda liguei hoje para saber o resultado, no intervalo da aula. Como já sabia, não fui selecionado. Tentei exclamar algum som de surpresa, mas acho que não consegui. “Beleza”, falei para o cara que me atendeu ao telefone... E subi para a aula, assobiando Jingle Bell.
Mas o que eu queria falar mesmo nesse post é sobre os tais testes psicológicos. Já falei aqui que ainda vou cursar psicologia. E, aproveitando essa vontade que tenho de estudar psicologia, também vou tentar aprender o que quer dizer alguns testes meio estranhos que fazem nessas seleções. Numa outra oportunidade, numa seleção, em algum lugar do passado, na qual passei em primeiro lugar no processo seletivo, quase perdi a vaga pelo resultado do teste psicológico, que me foi mostrado depois, quando estava efetivado. Fui classificado de retraído, introvertido e blá, blá, blá, blá. Só faltou ser chamado de retardado. No entanto, trabalhei nesse lugar durante um ano, fiz grandes amizades e, modéstia parte, fiz um bom trabalho. Inclusive, quando falei que iria sair, para ir para outra empresa, todos lamentaram. Enfim, por essas classificações apontadas nesses testes, que aliás são feitos em mais ou menos uma ou duas horas, eu sou um profissional ou uma pessoa melhor ou pior do que aquelas que saem saltitando para falar qualquer coisa, que apresentam uma embalagem sedutora e envolvente, e que às vezes encarnam um personagem para interpretar durante essas duas horas? Um amigo meu, aprovado em um concurso público, certa vez me disse com toda a sinceridade:
- Perguntaram se em tal situação eu faria tal coisa. Eu disse que faria isso...
Como conhecia o sujeito, questionei, estranhando a resposta que ele deu:
- E você faria isso mesmo?
- É óbvio que não, eu faria o contrário. Mas se eu dissesse isso, certamente seria reprovado.
Uma das atividades curiosas nesses testes é aquela onde colocam umas manchas num telão. As psicólogas pedem para você colocar, sem censura, o que te vem à mente ao ver a figura. Dessa vez botaram um objeto que, para mim, à primeira vista parecia, bem... parecia uma vagina. Não tinha como fugir disso. Aquilo era uma vagina. Só poderia ser uma vagina. Mas não poderia escrever isso na prova, certamente aquelas mentes poluídas me classificariam de tarado. Fiquei quebrando a cabeça: “o que mais lembra essa porra além de uma vagina?”. Não me vinha à mente absolutamente mais nada. Bom, pela cor escura, pode até parecer vagamente com um besouro. Os pentelhos da vagina até podem parecer as presas do inseto. Coloquei lá, quando tava quase acabando o tempo: besouro. Tentei dar uma explicação para essa indicação, mas acho que não fui muito convincente, até porque, para mim, aquela mancha ainda era uma vagina. Antes disso, até tentei imaginar uma forma mais delicada para dizer que aquela mancha era efetivamente e indiscutivelmente uma vagina. Órgão genital feminino. Bom, imaginei uma psicóloga olhando para a cara da outra nas quatro paredes onde se tomam as importantes decisões desse mundo, e dizendo: “olha, esse aqui acha que essa mancha é uma boceta”. Enfim, o órgão genital feminino seria depreciado e reduzido por aquelas devassas. Portanto, fiquei com o besouro.
As psicólogas colocaram então outras duas figuras. Na segunda, não me agüentei. Era uma mancha vermelha grande, com duas pequenas manchas verdes ao lado. Era óbvio: Inter x Palmeiras no Beira-Rio. Dã! O vermelho era a torcida do Inter e o verde era a torcida do Palmeiras. Não sei como as psicólogas interpretaram isso, enfim, pelo menos não devem ter me tachado de tarado.
Já a terceira eram duas manchas vermelhas, uma de frente para outra, e várias manchas pequenas, não lembro a cor, ao redor das maiores. Simples: um casal dançando e os filhos brincando ao redor.
Quando fizer psicologia vou reler esse texto e tentar me interpretar. Ou, se alguma psicóloga quiser decifrar as minhas interpretações desenhísticas, sinta-se a vontade e divirta-se.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Rio ganhou! Eu ganhei! Nós ganhamos!


Essa sexta-feira foi mais movimentada do que imaginei que seria, ao acordar sonolento, quase ao meio-dia, para ir para a PUC realizar todos os meus afazeres cotidianos. Para se ter uma idéia, eu nem lembrava que sairia hoje o resultado da sede das Olimpíadas de 2016. Que rico jornalista, não? Porra, se eu estivesse na ativa, até aceitaria a crítica, mas quando você está mais preocupado em contar as moedas para ver o que vai comprar para comer de noite, foda-se as Olimpíadas... Bom, mas não quero falar disso (da falta de grana). Aliás, cansei de chorar o leite derramado. É bola pra frente e vambora!
E literalmente fui. Quer dizer, ainda esperei até quase o fim do Globo Esporte, curioso que estava para saber se o Rio venceria ou não, mas quando disseram que o resultado sairia às 13h55, desliguei a TV e segui para a PUC, onde fiquei sabendo da vitória do Rio. Mui bien. Viva o Brasil! (sem ironias...). Aproveitando o embalo, em seguida fui para a reunião do projeto do MIT, convocada pelo nosso professor Eduardo Campos Pellanda, com todos os alunos de graduação e pós em Comunicação da PUC selecionados (eu sou um deles!) para participar do projeto. Enfim, poderia escrever muito sobre esse projeto, que é simplesmente tão grande quanto criativo, mas vou deixar para outra oportunidade. Resumidamente (o resumo do resumo) o trabalho envolve a PUCRS e a RBS, no Brasil, e outras instituições internacionais, que eu não sei precisamente quais, por isso não vou arriscar dar balão. Nesse primeiro momento o trabalho vai ser mais ou menos esse: o grupo, de aproximadamente 20 alunos selecionados, trabalha durante a segunda quinzena de novembro com jornalistas de rádio, TV, jornal e internet do Grupo RBS em vários pontos de Porto Alegre. Por exemplo: ficarão cinco na redação, e outros 20 na rua, fazendo matérias, no estilo “jornalismo-cidadão”. As matérias serão gravadas por celular (na idéia de repórter-cidadão presente nos acontecimentos cotidianos e imprevisíveis), e esse material será divulgado num site e será utilizado pelos veículos da RBS, numa ação pioneira no campo comunicacional de todo o mundo. Esse trabalho já foi feito em Veneza, através do MIT, na Itália, porém, conforme nos explicou o professor Pellanda, lá o material produzido ficou mais restrito a questão do turismo, enquanto aqui, devido a parceria com a RBS, será um material estritamente jornalístico. Bom, acho que já falei demais, mas quem quiser conferir, pode ver o que foi feito em Veneza no site http://locast.mit.edu/. Bom, sob o ponto de vista que eu ia falar pouco do projeto, já falei demais, apesar de ser pouco em relação a tudo o que envolve esse trabalho.
Mas enfim, para encerrar as grandes notícias do dia, sob o ponto de vista dududiano, eu fiquei entre os 25 vencedores do concurso de contos promovido pela Nescafé, em parceria com o ClicRBS. Meu nome está lá: http://www.hagah.com.br/jsp/interatividade.jsp?uf=1&local=1®ionId=1&template=3300.dwt&source=DYNAMIC,promocoes.PromocoesDataServerV2,ObtemPromocaoEncerrada&pid=7494&oas=
O livro com os 25 contos vencedores será lançado durante a Feira do Livro de Porto Alegre 2009, com autógrafo dos autores e tudo o mais! Portanto, só vou postar o meu conto após o lançamento do livro. Na verdade é um micro-conto, pois trata-se de um texto de, sei lá, umas cinco ou seis linhas, com o tema “não deixe a vida esfriar”. Mas, achei interessante, porque lembro que a minha primeira versão deu umas 15 linhas, sofrendo para não escrever mais. Porém, como o envio era feito direto através do site, não tinha como mandar mais do que o previsto pelo regulamento, e eu, sofregamente, fui cortando as palavras, até ficar dentro do permitido para envio... Lembro que li e reli, e acho que essa “podação” do texto, que inicialmente pode ser visto como uma “fodeção”, acaba se tornando, de certa forma, uma polição (existe essa palavra?), no sentido de polir. Bom, e se não existe, passa a existir a partir de agora. Pelo menos na linguagem dududiana... Paro por aqui, e espero que os próximos dias também sejam de grandes notícias!