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quinta-feira, 31 de março de 2011

Sugestão


Após golear o supertime do seu Jorge na quarta-feira, gostaria de sugerir aos colorados para que eles mandem um ofício à Fifa solicitando um intercâmbio. Ao invés de disputar a Libertadores, que é um campeonato muito fácil para a máquina colorada, que atropela todo mundo sem pena nem piedade, o Inter passaria a disputar a Copa da África, pois o continente africano tem times mais competitivos do que os sul-americanos, como ficou comprovado no último Mundial Interclubes.
É impressionante o otimismo dos colorados. Mesmo tendo empatado com o excelente time do São Luiz, que está comendo a bola nesse Gauchão (sic) no Beira-Rio, e com um jogador a mais, o Inter não se abalou e, dando a volta por cima da carne seca, calando a boca dos críticos do injustiçado Roth, ele foi lá e venceu bravamente o poderoso seu Jorge. Combinado com a derrota do pífio time do Grêmio para o não menos medíocre time do Juventude, os colorados foram às estrelas nessa semana. Já são campeões de tudo, novamente. É impressionante. Ouvi dizer que estão estudando cancelar a disputa da Libertadores para enviar, em uma bandeja, o troféu direto para a beira do Guaíba. Por isso, insisto com a minha sugestão: ao invés de jogar a Libertadores de 2012, o Inter deveria disputar a Copa da África. E, ao invés de jogar do Brasileirão, deveria disputar o campeonato do Congo. A partir de então, se criará um novo clássico: o Mas-Nal. A maior rivalidade da história futebolística do globo terrestre.
E, enquanto os colorados estiverem disputando a Copa da África, que daqui a alguns anos será mais valorizada que a Liga dos Campeões da Europa (sic), os pobres gremistas, tão sofridos, tão judiados, tão massacrados e oprimidos, estarão disputando o nefasto campeonato Gaúcho. É, meus amigos, pelo que estamos vendo, a América será vermelha novamente. Entretanto, a África segue preta e branca, com o Mazembe louco para fazer o crime novamente no Mundial.

* Parte do texto que será publicado no J Missões de sábado.

Sobre a censura e a cultura do processo

Quando foi por terra a ditadura militar, jornalistas e escritores vibraram. “Estamos livres! Viva a democracia!”, exclamaram uns aos outros. Entretanto, os anos se passaram e cria-se, dia a dia, um outro tipo de censura, talvez mais grave do que a militar: a censura do processo. Jornalistas, comentaristas, analistas ou escritores. Todos os dias uma pilha de processos contra a liberdade de expressão e de opinião entra no nosso judiciário, aumentando mais a pilha de processos a serem julgados, enquanto aqueles, mais urgentes e graves, ficam para trás. Daqui a alguns dias, ao invés de um censor da ditadura militar ficar presente na redação, como ocorria na década de 1970, teremos um advogado plantado atrás dos jornalistas. Ele lerá as matérias e textos opinativos e censurará metade do jornal. Ou, mais grave ainda, assim como os exilados políticos tinham que escrever seus textos do exterior, para não serem presos pelas críticas ao governo, os jornalistas e escritores contemporâneos terão que deixar o país para não serem processados. Conquistarão a cidadania alemã, italiana, russa, belga, e do outro lado do oceano mandarão suas críticas aos governos, aos deputados, aos senadores, aos vereadores e aos partidos.
Pois, esquecem os carrascos dos processos, que o direito de liberdade de expressão está na Constituição. Portanto, qualquer medida contrária a isso é, antes de tudo, inconstitucional. Portanto, qualquer erro de INFORMAÇÃO pode ser retratada no mesmo espaço, com ou sem decisão judicial. Entretanto, ninguém pode obrigar outrem a mudar de OPINIÃO via processo judicial. Aliás, como ressaltou Stuart Mill, em Sobre a Liberdade (não canso de citar o velho e bom Mill), enquanto houver uma opinião divergente das demais, esse um terá direito de se manifestar.
Estou escrevendo tudo isso, meus amigos, porque recebi uma ameaça de processo de um partido político de Santo Ângelo, que não vou citar o nome porque o seu suposto “representante jurídico” fez o contato comigo via MSN, e nada garante que ele é realmente representante da tal sigla que tem, no mínimo, um passado um tanto quanto obscuro. Algo, no mínimo, estranho. Além disso, ele pediu meu endereço que, obviamente, não dei. Pensei até em imprimir a conversa e fazer um Boletim de Ocorrência na Brigada Militar, mas não vou fazer os PMs e a Justiça perder tempo com isso. Sou um cidadão consciente.
Aliás, ao suposto advogado desse partido, que só poderia ser um filho da ditadura, cito Alexis de Tocqueville (se não sabem quem é, vão estudar), que em Dialética do Esclarecimento, diz: “O mestre não diz mais: você pensará como eu ou morrerá. Ele diz: você é livre de não pensar como eu”.
Além disso tudo, ainda achei aqui, lendo o “Notícias do Planalto”, uma situação vivida pelo dono do jornal Estado de São Paulo, na época da ditadura, o falecido Mesquita Filho. Eis o trecho:
“Entre 1968 e 1972, censores telefonavam para as redações do Jornal da Tarde e do Estado e proibiam a divulgação de certas notícias. A autocensura durou até 24 de agosto de 1972, quando a empresa foi invadida por policiais armados que procuraram um editorial, inexistente, em que o Estadão lançaria a candidatura de Ernesto Geisel à sucessão de Médici. Ruy e Julio de Mesquita Neto não aceitaram a autocensura, e o governo passou a censurar ele próprio as publicações do grupo. E fizeram mais: como o pai deles havia sofrido o exílio, contrataram jornalistas brasileiros exilados para colaborar nos jornais. Até janeiro de 1975, censores cortaram, no todo ou em parte, 1.136 reportagens de O Estado de São Paulo. No lugar das matérias vetadas, o jornal publicava trechos de Os Lusíadas, de Camões, e o Jornal da Tarde, receitas culinárias, para que os leitores percebessem as marcas do arbítrio” (CONTI, 1999, p.616).
Ou seja, caros leitores, se por acaso, algum dia aparecer aqui algo como um trecho de um livro literário ou receitas do Anonymus Gourmet, já sabem o que está rolando. E, caso aconteça alguma coisa comigo, os editores também já sabem a sigla que está me perseguindo. Hasta, amigos!

*Texto encaminhado aos três jornais de Santo City.

terça-feira, 29 de março de 2011

Viva o Jamelão! Viva a Pretinha!

Sinceramente, não sei onde estava com a cabeça quando fui me meter em assuntos políticos. São, literalmente, todos iguais: esquerda, direita, extrema-direita, extrema-direita, centro, centro-esquerda, centro-direita, são todos fanáticos que NÃO SABEM E NÃO QUEREM ouvir opiniões divergentes. São cegos. Conseguem ser MAIS CHATOS do que torcedores de futebol fanáticos. Por isso estou largando de mão de escrever qualquer coisa relacionada a política partidária nesse blog. Ao menos, temporariamente, porque as falcatruas que continuarão acontecendo continuarão dando embrulho no meu estômago, que é o que me leva a escrever sobre tais baixarias.
Enfim, da próxima vez vou escrever sobre o Jamelão e a Pretinha, meus dois cuscos, que ficaram em Santo Ângelo. Eles são mais limpos do que qualquer partido político. Eles têm mais caráter do que qualquer político e filiado a partido.
Ademais, nada mais a declarar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Obrigado, PC do B!

Tenho que agradecer ao Partido Comunista Brasileiro (PC do B) por abrir os meus olhos: sou um burro, incompetente, ignorante e que, vejam vocês, não gosto de ler e estudo pouco a história do Brasil! Além disso, sou um péssimo jornalista que escreve mega mal. Sou um Ruy Cabeção das letras. Lembram do Ruy Cabeção, lateral-direito que não acertava um cruzamento? Pois é. Talvez se tivesse um censor na redação do jornal onde trabalho eu seria bom, sacumé. Mas, enfim, descobri tudo isso ao ler um texto intitulado Circo Mídia. Veja só o que escrevem sobre a minha burra e humilde pessoa:
“O texto é grosseiro e dá a impressão de que não passou por uma revisão. A ‘matéria’ não é assinada, mas é possível afirmar duas coisas sobre o escritor [esse sou eu]: não leu o estatuto do PCdoB e não conhece a história do Brasil. Existe ainda um indício: demonstra sem constrangimento sua filosofia política, ao chamar o presidente cubano Fidel Castro de ditador. Apaixonado militante conservador, deixou-se levar, desnudou o jornal. Ofendeu, caluniou e difamou 89 anos de história. Fez isso ao partido e a cada um de seus militantes”.
Bom, primeiro, descobri algo que me deixou boquiaberto: sou um APAIXONADO MILITANTE e, pasmem, CONSERVADOR! Que cosa. Pra vocês verem como eu não me conheço. Sempre achei que, mesmo sendo um apartidário, tinha mais tendências para a esquerda liberal do que pela direita conservadora. Mas enfim, vivendo a aprendendo. Graças aos comunistas, descobri que sou um conservador. Vai ver é pelo fato de eu ter me tornado pai e tal... E, além disso, descobri que sou militante! Que cosa de novo! A última coisa que quero na minha vida (ou, ao menos, achava que não queria) é assinar ficha em partido político! Como diz o fotógrafo aqui do jornal, Panchinho: não sirvo para político, não sei mentir.
Já sobre o fato de eu não ter lido o estatuto, realmente, eu fui pelo wikipédia, mas, consultando agora, não encontro lá o termo “pelego”, reclamado no texto. Desculpem-me. Afinal, sou burro, esqueceram? Burros fazem essas burrices. Agora, sobre a parte do ditador, não hay negociação. Se o Fidel Castro não é ditador, quem é? Jornalistas presos e mortos pelo governo. Imprensa censurada. Escritores saindo do país para poderem se expressar livremente. Isso não é ditadura? Porra. Aí, façam-me o favor. Se Fidel não é ditador, então Kadafi, Hussein, Hugo Chavez, e tantos outros também não são. mas, enfim, agradeço novamente aos comunistas por me abrirem os olhos e me apresentar meu raio-x psicológico e político.
Entretanto, mesmo sendo burro, ignorante e tudo o mais, meus dois neurônios que estão trabalhando agora não estão concordando com a seguinte frase do tal blog: “Desenvolvem a técnica [ctrl C + ctrl V] logo que começam a trabalhar nos veículos de comunicação, orientados e pressionados por chefes ignorantes que prezam o sensacionalismo e a notícia volátil, acima de tudo e todos’. Ninguém me pressionou a nada na referida nota. O foda desses partidos de extrema-esquerda é que eles desenvolvem algo que chamo de “paranoia dos híbridos humanos capitalistas”, ou seja, de que há uma conspiração no mundo, que envolve a todos, de maneira sobrenatural, para que os capitalistas exterminem os comunistas (UUUU-AAA-RÁÁÁÁ-RÁÁÁÁÁ – risada de Mun-Rá).
Entretanto, fica uma dica para o partido: contratem uma assessoria de imprensa, pois, se dependesse realmente só desse, que vos escreve, não teria saído absolutamente nada, nem do PC do B, nem de nenhuma partido, referente a aniversários com números quebrados. Isso não é notícia para jornal. 88 anos, 89 anos, 83 anos. Número quebrado não é notícia. Ano que vem, sim, quando fizer 90 anos, caso o editor de política esteja de bom humor, aí sim serão dignos de uma matéria. Mas 44, 89 ou 29 anos de uma instituição não é motivo para matéria jornalística. Divulgações institucionais, do tipo, “89 anos lutando contra o capitalismo” não é jornalismo. É propaganda e deveria ser paga para ser publicada. Mas, enfim, como sou burro, não discuti com ninguém e aceitei publicar a ação “propagandística” do PC do B. Certamente, se o jornal fosse meu, não teria saído absolutamente nada. Nem do PC do B, nem do PP, nem do PDT, nem do PSB, nem de ninguém. Porém, como o jornal não é meu.... Melhor deixar pra lá.
... Enfim, mesmo descobrindo que eu não estudo, também quero aconselhar esse povo a ler Triologia Suja de Havana, do Pedro Juan Gutierrez. Já Revolução dos Bixos é desnecessário, pois certamente eles já devem ter lidso. Agora, se entenderam, é outra história...
Ah, agora sim, para encerrar, uma autocrítica. Vejam o título tosco que usei na matéria: Solidariedade marca 89 anos do PC do B. Completamente propagandístico. Não, não. Sinceramente, com um título desses, tenho que me envergonhar dessa nota pelo resto da minha carreira. Hunter Thompson deve estar se revirando no túmulo.

Hasta!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Reflexões, divagações e indignações

Minha guria, Larissa, está prestes a completar cinco meses. Desde a gravidez, até agora, a cada dia vivo sensações indescritíveis, que não troco por absolutamente nada. Não tem gol em Gre-Nal, dinheiro, viagem, nada que se compare a alegria de vê-la fazendo folia no berço, brincando e dando risada. Até a carinha dela, quando pego-a no colo para passear pelo apartamento, é indescritível. Ela fica ali, com aquela carinha de anjo, os dois olhinhos arregalados, tentando ver tudo que está a sua volta, com a testa franzida igual a do vô Nabuco. Não tem como não se apaixonar por uma criaturinha tão fofa e inocente.
Porém, sentindo tudo o que sinto em relação a minha filha, fico pensando como têm pais e avós que não querem saber dos filhos e netos. Eu juro que tento entender, me esforço, tento me colocar no lugar deles, mas não consigo. Tem um cara que conheço, por exemplo, que teve um filho fora do casamento e nunca foi vê-lo, mesmo com a esposa e todos que o conhecem sabendo de suas falcatruas. Mas enfim, ele nunca se preocupou em saber como o guri está. Fiquei pensando: e quando era bebê, como ele não se preocupou com o pequeno? Como não teve a curiosidade em saber como era o seu rosto? Quando minha noiva estava grávida, por exemplo, eu ficava imaginando como seria o rostinho da minha guria. Quando ela nasceu, e vi aquela criaturinha miúda, esforçando os olhinhos para ver se enxergava alguma coisa, ficava imaginando como seria quando ela estivesse com uns dois meses. E quando ela chegou nos dois meses, fiquei imaginando como seria quando tivesse quatro. E, agora que ela tem quatro, fico imaginando como será quando ela estiver gatinhando pelo apartamento. Claro que não quero que todo mundo seja assim, entretanto, tem um mínimo aceitável de atenção que os pais devem dar aos filhos. E o mesmo vale para os avós.
Mas, ao mesmo tempo em que fico imaginando tudo isso, também tento imaginar o que se passa na cabeça de avós que estão nem aí para os netos; de pais que estão nem aí para os filhos; de pais que não assumem a paternidade do filho, mesmo reconhecido em exame de DNA, etecétera e tal. Quando penso nisso, só consigo raciocinar a seguinte lógica: um avô que renega a neta, um pai que não quer saber do filho, que nunca quis vê-lo, que largou ele no mundo de forma irresponsável (e que ainda por cima quer dar moral de cueca dizendo que “quem faz que se vire”), é pior do que qualquer bandido, assaltante ou traficante. E mais ainda: consegue ser pior e mais cruel que qualquer político corrupto. Quem toma essa atitude, pode não ser condenado pela nossa JUSTIÇA terrena, mas, pode crer, vai pagar caro cada atitude em algum lugar, em algum tempo. Um homem que faz isso, não merece ser chamado de HOMEM. Um homem que faz isso é um energúmeno inútil.
Mas, como me considero um privilegiado, pois minha guria nasceu com toda a saúde do mundo, e meus pais e irmãos a amam tanto quanto eu, tenho só que agradecer por tudo que tem ocorrido desde a gravidez, passando pelo seu nascimento, até a chegada do seu quinto mês, que será no próximo dia 8. Talvez por estar tudo certo comigo, minha guria, a mana dela e minha patroa é que não consigo imaginar porquê alguns pais não estão nem aí para filhos e netos. Na minha cabeça, isso é incompreensível. Não importa se o filho ou filha foi com uma amante, foi resultado de uma transa de uma noite ou se foi com uma criatura que você nem conhece. É teu filho (a) pô! Seja HOMEM uma vez na vida e assuma a bronca! É uma criança que merece atenção e precisa de ALGUM TIPO DE EDUCAÇÃO, justamente para não se formar mais um sujeito sem caráter nesse mundo!
Enfim, como acho que nunca vou entender essas pessoas, encerro minha coluna de hoje por aqui, desejando que todos os pais sejam tão felizes quanto eu e minha patroa somos com a nossa baby.
Hasta!

quinta-feira, 24 de março de 2011

DEM e outras falcatruas

Analisando alguns acontecimentos políticos, fico pensando como o Brasil seria diferente se a população se interessasse por política 30% do que se interessa por futebol. A maioria dos torcedores da dupla Gre-Nal sabe de cabo a rabo a escalação de Grêmio e Inter, a história dos dois, de onde vieram seus treinadores, seus jogadores e, alguns um pouco mais fanáticos, sabem até do passado de seus dirigentes. Entretanto, no campo político, isso não ocorre.
Estou lendo Notícias do Planalto, de Mario Sérgio Conti, que detalha minuciosamente todo o trajeto de Fernando Collor de Mello, da campanha ao impeachment, em quase 700 páginas. Já li aproximadamente 400 e, concluo antecipadamente, que esse é um livro que deveria ser lido por todos os brasileiros. Poderia se considerar uma espécie de bíblia da política brasileira. Entretanto, lendo tal obra, e descobrindo milhares de falcatruas que, apesar do impeachment de Collor, eu nem imaginava que tivessem acontecido, lembrei-me de outros acontecimentos históricos esquecidos pelos brasileiros. Um deles diz respeito aos Democratas, mais conhecido como DEM, fundado em 2007.
Mas vamos esmiuçar um pouco essa história. O problema desses partidos (re) fundados recentemente é que, para limpar o nome sujo de falcatruas do passado, muda-se o nome da sigla, afinal, sabe-se que o pobre eleitor está mais preocupado com o resultado do jogo entre Inter e Mazembe e nem perceberá tal manobra política. Então, muda-se o nome, ganha-se espaço na mídia e, aí, tenta-se criar a imagem do novo partido bonzinho que veio para combater os velhos corruptos da política brasileira e por aí vai. Sei, nobre leitor, isso tudo deve dar embrulho no seu estômago, mas aguente.
Peguemos, aleatoriamente, o caso do DEM. O primeiro nome que o DEM teve foi Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Isso mesmo, astuto leitor, aquele velho partido da ditadura militar. Veja um trecho do que diz o programa do partido, escrito em 1975: "Expressão política da Revolução de Março de 1964, que uniu os brasileiros em geral, contra a ameaça do caos econômico, da corrupção administrativa e da ação radical das minorias ativistas, a ARENA é uma aliança de nosso povo, uma coligação de correntes de opinião, uma aliança nacional". Traduzindo: esse partido defendia a tortura para quem pensasse diferentemente dos militares, a ditadura, a censura à imprensa, a não liberdade de expressão, o pensamento uniforme. Pensamento uniforme no mesmo sentido político adotado pelos ditadores mais cruéis, como Mussolini e Hitler, mas com outros fins. Entretanto, quando a ditadura caiu por terra, fez-se o que se faz até hoje: mudou-se o nome do troço todo. E, assim, o ARENA virou PDS, que depois virou PFL, que, por sua vez, virou DEM em 2007. Tivemos recentemente o mensalão do DEM, que resultou, entre outras coisas, na expulsão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do partido. Aliás, primeiro se faz isso: expulsa aqueles corruptos desatentos que caem nas redes da mídia e, não resolvendo o problema, muda-se o nome da sigla.
Agora, assim como fico me perguntando quem ganhará o Gre-Nal da Libertadores, também me pergunto: qual será o próximo nome do atual DEM? OFD (Os Filhos da Ditadura)? PUB (Pensamento Único Brasileiro)? ADB (Abaixo a Democracia no Brasil)? Enfim, só o tempo dirá. Assim como só o tempo dirá quem se consagrará no Gre-Nal da Libertadores...
*Texto publicado no Jornal da Manhã do próximo sábado.

terça-feira, 22 de março de 2011

É fogo, meu povo! - O retorno

Esteve na região, mais especificamente em Ijuí, nessa semana, o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Ari Pargendler. O sujeito, nascido em Passo Fundo e que disse não conhecer a cidade que estava visitando em seu discurso, recebeu o título de “cidadão ijuiense”. Agora fica a pergunta: e a moral? Por que um cara que nunca pisou em Ijuí antes é considerado cidadão ijuiense?? O quê ele fez para isso? E eu, que nasci em Santo Ângelo e já morei em Ijuí durante anos, não posso ser cidadão ijuiense?? E a servente, o pedreiro, o garçom, e todos os outros profissionais que nasceram em outras cidades e viveram as suas vidas em Ijuí, não podem ser considerados cidadãos ijuienses? Pois é. Coisas que só a política explica. Aqui, entenda-se “política” por “interesses financeiras”. Dim-dim. Cash. $$$$. Assim como isso acontece em Ijuí, sabemos que já ocorreu outras vezes em Santo Ângelo.
Entretanto, para piorar a vinda do ministro a Ijuí, o cara não deu entrevistas à imprensa. Ou, melhor, deu uma, para uma emissora de rádio local, desde que o repórter não lhe fizesse perguntas sobre os dois temas que o tornaram famoso: o escândalo do estagiário e os supersalários do STJ. Explicarei os dois, já que o ministro se negou a falar sobre isso em sua passagem pela região.
Em outubro de 2010, Ari Pargendler proferiu a seguinte frase para um estagiário do STJ: “Sou Ari Pargendler, presidente do STJ. Você está demitido”. Conforme o blog do jornalista Ricardo Noblat, um dos mais respeitados no campo da política em todo o Brasil, o episódio foi registrado na 5ª delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal às 21h05 de ontem, quinta-feira (20). “O boletim de ocorrência (BO) que tem como motivo ‘injúria real’, recebeu o número 5019/10. Ele é assinado pelo delegado Laércio Rossetto”, informa o blog, que procurou o ministro, sem sucesso. Ainda conforme o blog, o autor do BO e alvo da demissão era Marco Paulo dos Santos, de 24 anos, até então estagiário do curso de administração na Coordenadoria de Pagamento do STJ. Ele foi demitido por estar imediatamente atrás do presidente do Tribunal no momento em que o ministro usava um caixa rápido, localizado no interior da Corte. Ari fazia uma transação em uma das máquinas do Banco do Brasil, quando, no mesmo momento, Marco se encaminhou a outro caixa, próximo de Pargendler, para depositar um cheque de uma colega de trabalho. Ao ver uma mensagem de erro na tela da máquina, o estagiário foi informado por um funcionário da agência, que o único caixa disponível para depósito era exatamente o que o ministro estava usando.
Segundo Marco, ele deslocou-se até a linha marcada no chão, atrás do ministro, local indicado para o próximo cliente. Incomodado com a proximidade de Marco, ocorreu o seguinte diálogo:
- Você quer sair daqui porque estou fazendo uma transação pessoal – disse o ministro.
- Mas estou atrás da linha de espera – respondeu o estagiário.
- Sai daqui. Vai fazer o que você tem quer fazer em outro lugar.
Então, Marco tentou explicar ao ministro que o único caixa para depósito disponível era aquele e que por isso aguardaria no local. Diante da resposta, Pargendler perdeu a calma e disse: “Sou Ari Pargendler, presidente do STJ, e você está demitido, está fora daqui”.
Já o segundo episódio é a denúncia de que o STJ não respeitou o piso salarial imposto pela Constituição, que é de R$26.700, pagando, em média, R$31 mil no ano passado, além de que, alguns ministros do STJ chegaram a receber até R$93 mil. E esse carinha recebeu o título de cidadão ijuiense com um monte de AUTORIDADES ENGRAVATADAS bajulando o seu EGO. Imaginem só, R$26.700 de salário é muito pouco, como eles vão viver só com isso?? Naim, naim. É fogo, meu povo!
Por que quem mais tem dinheiro tenta tirar sempre de quem não tem? Perguntem, novamente, ao mestre dos magos. Quem sabe, ele sabe.

* Texto publicado em A Tribuna Regional.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Só o Mestre dos Magos salva

Sempre ouvi dos escritores já consagrados a seguinte dica para quem pretende ser escritor: ler muito e praticar. Seria uma espécie de treino, você lê os clássicos, ou aqueles autores que se consagraram no estilo e gênero que você pretende ingressar e, após muita leitura, pratica bastante, escrevendo diariamente, na medida do possível, para aprimorar o seu estilo com a prática. É a teoria e a prática com um objetivo: gerar um autor com um estilo próprio. Ou seja, você lê, por exemplo, autores como Charles Bukowski, David Coimbra, Hunter Thompson, Gay Talese, Jack Kerouac, dentre outros, e vai pegando um pouco de cada, até você encontrar o próprio estilo através da leitura e prática. Porém, desenvolvendo essa espécie de treino, há um detalhe: você terá que fazer tudo isso mera e simplesmente por amor. Não há remuneração.
Vendo o jogo de quinta-feira do Grêmio contra o León do Peru eu pensei sobre isso. Os jogadores fazem praticamente o mesmo processo, só que recebendo milhares de reais, buscando uma espécie de perfeição, que nunca virá. Porém, não se exige a perfeição, mas sim, um resultado minimamente aceitável. Quem não escreve minimamente bem, nunca será publicado, a não ser que invista somas consideráveis de dinheiro para bancar uma publicação por conta própria. Mas sua carreira como escritor, nesse caso, perecerá. Entretanto, não dá para entender como jogadores que erram passes de meio metro, como os do Grêmio no jogo de quinta, recebem salários astronômicos. Eles fazem o mesmo que aqueles que querem ser escritor: treinam, estudam e praticam. Aliás, vendo jogos da Liga dos Campeões da Europa, eu acho que falta estudo para os jogadores do Grêmio e para o Renato. Eles deveriam sentar e assistir a jogos como Bayer de Monique e Inter de Milão para aprender como se faz. O Renato deveria colocar o time inteiro a assistir esses jogos, ou aos teipes de jogos clássicos da história do futebol mundial, como aquela final da Copa de 1970 (Brasil 4x1 Itália) e dizer: é assim ó. Então, eles terão tudo para serem bons jogadores: prática e teoria.
Mas, mesmo sem a teoria, é difícil entender como alguém que pratica a sua atividade todos os dias, durante todas as semanas, consegue fazer um trabalho pífio, errando passes de meio metro. Na quinta-feira, vez ou outra um jogador qualquer, digamos, o Viçosa, estava com a bola e, ao seu lado, livre de marcação, estava o Borges ou o Douglas, ou qualquer outro, em condições de realizar uma boa jogada, com liberdade, espaço e tudo o mais. Porém, ao invés dele tocar no lado, rasteirinha, simplesinho, ele tentava fazer uma jogada de craque, um lançamento mirabolante, e entregava bizarramente a bola ao adversário. É muito estressante ter que ver isso.
Sinceramente, jogando do jeito que está, não sei se não é melhor o Grêmio cair já na primeira fase. Jogando essa bolinha, no caso de um Gre-Nal na Libertadores, o Inter passará pelo maior rival com a mesma facilidade que passa por um Jorge Wistermann: com goleada. É como tirar doce de criança.
E mais: qual a explicação para o Renato colocar o Viçosa naquele time? E de manter o Escudero no banco??? Alguém pode me explicar? O Mestre dos Magos, quem sabe? Ou o Renato está forçando a barra para ir embora para o Fluminense, onde vai ganhar bem mais e vai morar com a família no Rio, ou ele está escondendo o jogo, o que é muito improvável. Com um time desses, o quê que eu faço, meus amigos?
Um bom final de semana a todos.

* Texto que será publicado no Jornal das Missões de sábado.

A máquina

A máquina é uma máquina: completa com todas as peças no lugar. O que era para estar na direita, está na direita. O que era para estar na esquerda, está na esquerda. O que era para estar em cima. Adivinhem? Está em baixo. A máquina é tão perfeita que até o que não é perfeito, torna-se perfeito. A máquina tem a altura e a largura em proporções mais que perfeitas. Mas é um mais que perfeito no sentido popular do termo, ao contrário do pretérito mais que perfeito. Aliás, quem colocou o “mais que perfeito” na nomenclatura desse tipo de pretérito? Vejam só o exemplo: ele comprou a máquina com o dinheiro que ganhara. Nessa frase, para aquém da máquina, nada é mais que perfeito. Apenas a máquina é mais que perfeita.
Agora, o melhor da máquina, é quando você se torna o maquinista. Inclusive, com a máquina acontece o seguinte:
Você primeiro olha e constata: é uma máquina. Melhor, é A MÁQUINA. Depois, você baba. Em seguida você olha para as outras máquinas e pensa: “as outras são apenas maquinhas, máquinas comuns, não são A MÁQUINA”. Então, você passa a analisar: comparar A MÁQUINA com as outras máquinas é como comparar o Santos de Pelé com os outros bons times. Os outros times que marcaram época, como o Botafogo de Garrincha, o Flamengo de Zico, o Grêmio de Renato, são apenas bons times. Entretanto, o Santos de Pelé é o Santos de Pelé, e nada mais precisa ser dito. É isso que você pensa quando olha A MÁQUINA. Você pensa: “a máquina basta por ela mesma. Não preciso dizer mais nada”. E, então, o cara que está ao seu lado, que ouve o seu comentário, apenas balança a cabeça afirmativamente e concorda, com cara de Chapolim Colorado: “urrum”.
Mas, depois de você olhar A MÁQUINA, você decide que quer tê-la. Acontece com todos. Por incrível que pareça a máquina é mais acessível do que vocês pensa. Basta você ter a manha. Então, usando artifícios mágicos, você se torna o maquinista. Quando você se torna o maquinista você se sente poderoso. Ou melhor, você FICA poderoso. Qualquer pessoa que tenha A MÁQUINA é uma pessoa poderosa. É uma pessoa feliz. Após ser o maquinista, o sujeito pode ter uma vida miserável, pobre, trágica, entretanto, ele será feliz, pois, um dia, ele foi o maquinista. E o maquinista está condenado a ser feliz pelo resto da vida, independente do quão miserável e rastejante seja a sua passagem pelo planeta.

Enfim, chega de falar na máquina. Quem quiser saber mais, que a procure. Onde? Também não sei. Pergunte ao Mestre dos Magos.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Maria Bethânia: que qué isso?

Vejam vocês. Estava eu aqui, na Famecos, esperando o tempo passar até ter gente em casa no local onde serei hospedado, quando de repente encontro a seguinte notícia no site de Zero Hora: “Maria Bethânia teria autorização do governo para captar R$ 1,3 milhão para site”. Caraca. R$1,3 milhão para manter um blog, tipo esse aqui, sacam? Quequé isso? A partir de uma notícia dessas, penso em reunir os blogueiros de plantão (aqueles que postam textos continuamente e contam com um número regular de leitores) para fatiar esse bolo. Não é justo uma cantora ganhar tudo e, nós, blogueiros marginalizados pela elite, ficarmos sem nada!
Agora, sem me estender, vejam o texto da matéria:
“A cantora Maria Bethânia teria conseguido autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão e criar um blog, informou nesta quarta-feira (16) o jornal Folha de S. Paulo.
O site O Mundo Precisa de Poesia traria um vídeo por dia da cantora interpretando grandes obras, sob direção de Andrucha Waddington. De acordo com a publicação, o Ministério da Cultura e a assessoria da cantora não quiseram se pronunciar sobre o assunto. A notícia teve grande repercussão na internet e, em redes sociais, já foram criados perfis falsos da cantora”.
Que côsa. Eu, que particularmente descubro a cada dia que tenho mais e mais leitores pelo universo afora, também quero recursos! Inclusive, tem gente que lê meu blog e se dá ao trabalho para ligar para a minha noiva e ler os textos! E não é um trecho não, é o texto inteirinho, na íntegra! PoiZé! Pode pasmar, apavorado leitorinho. Agora, ligue para ela e diga isso: EU SOU UMA ANTA ACÉFALA QUE SÓ PENSA MERDA – CHUTE O MEU TRASEIRO!
Leu? Só não vou botar mais lenha na fogueira (via blog e jornais missioneiros) porque ela pediu para que eu desse uma trégua aos... aos... como se pode chamar um filho da puta que faz isso? Enfim, deixa pra lá... Ah, e também descobri que algumas AUTORIDADES lêem esses textos. Talvez, achem que eu deva me calar. Quem sabe está chegando na hora de se dar um novo golpe (militar, empresarial, jurídico, guerrilheiro, revolucionário?) para fechar a matraca de todo mundo, não acham? Bom, vou parando por aqui porque quando passo a falar disso meus dedos começam a querer falar mais e mais e mais... Será que quando proibirem que meus dedos toquem os teclados eles [os dedos] não vão procurar outras formas de dizer o que penso?

PS: Pode ligar para a Dilma e para o Papa, mas vou continuar colocando as fotos que dão audiência. Ó pra ti ó (unindo o útil ao agradável):

segunda-feira, 14 de março de 2011

Bilula

Minha guria, chamada Larissa Aguiar Ritter, já tem um apelido. Sacumé, apelidos que os pais dão para os seus filhos. Eu tive vários. O primeiro e único que perdura até hoje é o mais simples: Dudu. A história do Dudu é simples. Na família sempre fui chamado de Dudu: por pais, tios, etc. Pelos mais velhos, obviamente. Entre os primos da mesma idade que eu, como o Alemão, eu era simplesmente Eduardo. Entretanto, quando fui trabalhar pela primeira vez em Ijuí, em 2002, tinha como colega o meu primo mais velho, Sandro Silvello, que é um dos que me chamam de Dudu. E, assim, o Dudu se alastrou pelos quatro cantos de Ijuí: trabalho, universidade, etc., sobrevivendo até os dias de hoje.
Já meu segundo apelido é uma honra: Zizinho. Esse, só minha mãe me chama até hoje e é uma honra porque quando eu estava naquela idade de ser 100% fanático por futebol, descobri que um dos maiores nomes da história do futebol também era Zizinho, ou, simplesmente, Mestre Ziza. Além disso, quando eu queria alguma coisa até apelava: “dá cinco pila pro Zizinho comprar um pacote figurinhas.E, assim, completei o álbum do Campeonato Brasileiro de 1993. O Nevada, do Náutico, foi a última figurinha que faltava e consegui ela, toda rasgada e remendada com duréx, em uma árdua negociação com um colega meu. No fim, fiz um ótimo negócio: troquei umas 50figurinhas repetidas pelo Nevada.
O último apelido que tive, também foi dado pela minha mãe (não sei o motivo da obseção que as mães têm em dar apelidos para os filhos pequenos). Esse é um pouco mais complexo, tanto é que não sei dar explicações até hoje. Vejam vocês: Pintinho. Eu lembro que quando me escondia dos meus pais para não ir à psicóloga (eles resolveram levar meu irmão e eu em uma profissional da mente humana, depois da 100ª briga em que quase nos matamos), eu ouvia-a chamando: “cadê você, pintinho?”. E eu ficava lá, escondido atrás de algum balcão, esperando o tempo passar para perder o horário na psicóloga... Entretanto, como não era muito esperto, eu comia Chips enquanto esperava, e a mãe ouvia o barulho ROC ROC ROC e me achava...
Depois, ainda tive mais dois apelidos no colégio. Não me incomodava com nenhum. O primeiro foi quando estava na 4ª série: Nabuquinho. Quando meus colegas descobriram que meu pai se chamava Nabuco, foi automático: virei Nabuquinho na mesma hora.E fiz jus ao apelido: bati em uns três ou quatro, exatamente como contavam que meu pai fazia quando era pequeno. Assim, chamavam-me respeitosamente de Nabuinho. Caso alguém me chamasse de Nabuquinho eu franzia a testa e retrucava: “Nabuquinho não! Para você é senhor Nabuquinho!”. E, o último apelido que tive foi Hitler, no segundo grau. O velho trocadilho “Ritter” com “Hitler”. Também não ligava, pois todo mundo tinha apelidos naquela turma que iam desde Cabelo, passando por Nerd e Beiço, até chegar no Orelhano.
Mas chega de falar de mim. O apelido da minha filhinha foi dado pelo vovô Nabuco e, por enquanto, é o que mais pegou: Bilula. Outro tio meu, o tio Gringo, que sempre apelidou as crianças da família, a chama de Titinha. Ah, lembrei-me de outro apelido que tive, o que o tio Gringo me deu quando eu era cria: Fuinha. Também sempre achei graça desse apelido. Mas, como ia dizendo, o apelido que pegou na minha guria até agora é Bilula. Acho que ela vai ter que conviver com isso, pois eu gosto de a chamar de Bilula. É a Bilulinha do papai! Hasta!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Fazendo justiça com os próprios pés

Sei que futebol não tem dado muita audiência aqui no blog, mas foda-se, segue o texto que mandei pro Jornal das Missões de sábado:



A decisão do primeiro turno do Gauchão na última quarta-feira representou a derrota do antijogo, da catimba, do jogo sujo, da covardia, enfim, do golpe baixo. O Grêmio foi campeão, não porque mereceu ganhar, mas sim, porque o Caxias pediu para perder. Para cada dividida, os jogadores do Caxias se atiravam e saiam de maca de campo para, logo em seguida, voltar. Até os jogadores que eram substituídos se atiravam escandalosamente antes de sair de campo para sair de maca. O goleiro grená, então, nem se fala. Fez tanta marra que mereceria ter sido expulso por antijogo. O Caxias deu um baile na primeira meia hora de jogo do Olímpico e foi pouco para superar um clube que, mesmo tendo um time tecnicamente horrível, tem a tradição de um dos clubes mais guerreiros e peleadores do mundo. Os caxienses abriram o placar, ampliaram, e aí, ao invés de jogar dignamente, de continuar colocando o Grêmio na roda, o time da Serra, sentindo o cansaço e a pressão de um Olímpico lotado, não quis ganhar lealmente. Quis ganhar na covardia. Quis apelar. Fez com que a bola simplesmente não rolasse no segundo tempo. É como no futebol do Playstation você ficar tocando a bola de um lado para o outro perto da linha de fundo até o tempo passar. É covardia.
Inclusive, vendo o Caxias jogar, lembrei de algumas pessoas que agem assim no cotidiano: quando sentem que vão perder, jogam sujo, apelam, usam golpe baixo, atropelam a tudo e a todos, doa quem doer, achando que estão acima do bem e do mal e da Justiça. Passam por cima do que é ético e do que é legal judicialmente. Fazem chantagem emocional barata, sem se importar nas consequências que tal atitude pode ter na vida dos outros. Só que, no final das contas, assim como o Caxias, acabam se dando mal (na vida). E sabem por que se dão mal? Porque são BURRAS, assim como foi o Caxias, na quarta-feira. Tivesse ficado tocando a bola de lado ou, simplesmente, demorando para cobrar um tiro de meta ou um lateral, ainda seria admissível. Todos fazem isso quando estão ganhando em uma decisão. Mas o que o Caxias fez foi algo sujo. Um jogador que, claramente não apresenta nenhum sinal de lesão ou câimbra não pode simplesmente se jogar no chão ao ser substituído e parar o jogo por quase dois minutos, como aconteceu. Agora, pior do que um, são quando dois ou três jogadores fazem a mesma cena! Não é admissível, também, jogadores desesperados, impedindo uma cobrança de falta. PO...A! Antijogo puro! Aí o cara arranja uma confusão enorme e, além de ele ser expulso, que é completamente justo, ainda leva um do adversário.
Mas, como nem tudo está perdido em termos de JUSTIÇA nesse mundo, o Grêmio fez colocou os pingos nos is ao seu melhor estilo: com garra, com raça, com vibração da torcida, aos 50 minutos, um gol apoteótico, um gol de time historicamente sempre copero, um gol heróico. Só o Grêmio consegue vitórias como essas. Por isso as festas da torcida gremista sempre são maiores nas suas conquistas. Por isso um título de turno do Gauchão é mais comemorado do que título de Libertadores de muitos clubes por ai. O Grêmio é épico e ponto final.

PS: A loira é pra dar audiência...

terça-feira, 8 de março de 2011

Genial

Acabei de ler ontem de noite, finalmente, A Grande Caçada aos Tubarões, de Hunter Thompson. Resumindo, o cara é foda, no bom sentido do termo. Olha que eu já li Bukowski, Jack Kerouac, Jack London, Norman Mailer, Truman Capote, Gay Talese, e outros, mas nunca tinha lido alguém com o estilo de Thompson. É simplesmente genial. As matérias que ele escrevia para a Rolling Stone, Playboy, e outras revistas norte-americanas, dão vontade de ler ainda hoje, mesmo sabendo que foram escritas na década de 1970. Vejam um trecho genial de uma matéria dele, se queixando que entrou um anúncio na sua página. Sinceramente, várias vezes tive vontade de escrever isso nos jornais por onde passei, mas sei que nenhum teria culhão para publicar. Segue o texto:

"Bom...esta é a minha aventura final no jornalismo de embrulhar peixe, e francamente estou pouco me fodendo se faz ou não sentido para os leitores... especialmente já que vocês, seus ganciosos sovinas, tentaram colocar um anúncio colorido de página dupla da H___ bem no meio desta matéria.Em algum lugar dos meus arquivos tenho uma carta da agência de propaganda americana da Honda que afirma que eles preferem evitar qualquer identificação de imagem com a Rolling Stone... e aqueles filhos-da-mãe meia boca já despejaram ofensas suficientes em cima de mim ao longo dos anos para me fazer imaginar com que tipo de mentalidade estamos lidando para as coisas mudarem tanto que agora eles querem colocar um gigantesco anúncio da Honda bem no meio do meu artigo.
Foda-se essa gente. Eu não andaria numa Honda nem se fosse para ir ao funeral do Richard Nixon... [...]". (segue).

Simplesmente genial. Fica mais uma dica de leitura. Agora terei que me decidir entre começar mais um do Gay Talese ou o Notícias do Planalto, que estão me esperando lá em casa.
Hasta!

segunda-feira, 7 de março de 2011

As guerras do Brasil - Ferrovias já!

No Brasil, teoricamente, não há guerra. Porém, na prática temos dois tipos de guerra: a do tráfico de drogas e a do trânsito. A meu ver, o problema mais urgente e que atinge a todos os brasileiros, do Oiapoque ao Chuí, é a guerra no trânsito. Infelizmente, entra ano e sai ano, e milhares de brasileiros perdem a vida nas estradas anualmente. Entretanto, o acidente do último final de semana, que resultou em 27 vítimas fatais, foi a gota d’água. É preciso, urgentemente, que se tirem os caminhões das estradas. Um caminhão andando na estrada é um tubarão a solta no mar, cheio de peixes. Não da mais. A tragédia de Santo Cristo comprovou o óbvio: os caminhões não podem conviver pacificamente com outros veículos. Lembro-me que, certa vez, viajando de madrugada rumo ao litoral, passamos por um caminhão virado no meio da pista em Santa Catarina. Eu era pequeno, devia ter uns 10, 12 anos, mas lembro-me como se fosse hoje que fiquei pensando: poxa, se a gente tivesse passado naquele local na hora que o caminhão virou, ele poderia ter esmagado todos nós!
E foi isso que aconteceu no acidente que arrasou, não só Santo Cristo e as Missões, mas todo o Estado. O ônibus estava passando exatamente pelo local onde, mais uma vez, um caminhão perdeu o controle devastando tudo que via pela frente.
De minha parte, nas próximas eleições, já tenho a fórmula que o candidato a presidente terá que usar para conquistar meu voto: apresentar um bom projeto, ou para se investir na construção de redes de trem, ou para criar estradas exclusivas para caminhões, e, então, eles que se acertem na estrada deles. Sei que isso exigiria obras faraônicas, mas, no caso, é completamente necessário. Que aumentem os impostos, que criem pedágios ou, simplesmente, que parem de roubar, mas façam essa obra! Ou ainda, que criem condições para que empresas invistam no transporte ferroviário. Que incentivem a construção de ferrovias. Que coloquem dinheiro público em algum programa nesse sentido. É urgente! Milhões de vidas serão poupadas com uma obra dessas.
Claro que, simplesmente criando isso não resolveríamos o problema 100%. Além de obras, também é preciso revolucionar a cabeça do brasileiro. As pessoas agem como se estivessem em guerra: uma quer ultrapassar a outra, não importa se é em local proibido ou não, jovens querem ir exibir seus carros, como se fossem a extensão de seus pênis, podre de bêbados e, depois de conquistar uma Maria-gasolina não consegume levantar nada de tanto que beberam na noite... Infelizmente o homem criou uma ferramenta que não sabe como usá-la.
Acho que, assim como eu, praticamente todos os leitores já perderam pessoas próximas ou conhecidas em acidentes. Eu já vi amigos meus, colegas e conhecidos se envolverem em acidentes, mas dois, em especial, posso dizer que mudou a minha vida.
O primeiro foi em um ano novo, dia 1° de janeiro de 1995. Meu primo Gilberto Silvello estava voltando de um passeio na Fonte Ijuí. Além dele, estavam no carro a esposa, Lígia, o filho Luciano, de 3 anos, e dois sobrinhos de Lígia, irmãos, adolescentes, um guri e uma guria. Era por volta das 17h quando meu primo viu um carro vindo na contramão. Ele foi com o carro para o acostamento, mas não adiantou. O outro carro, conduzido por um motorista bêbado, chocou-se frontalmente com o carro do meu primo. Ninguém sobreviveu. Meu primo e a esposa, que eram médicos, estavam começando a colher as frutas de tudo que tinham plantado arduamente durante anos. A tragédia mudou bruscamente a vida de toda a família: meus tios, meus primos, minha mãe, meu pai, meu irmão, minha irmã, ninguém nunca se recuperou do choque. Passaram-se mais de 15 anos e, sempre que alguém viaja de carro, fica um clima de apreensão no ar.
O segundo também foi traumatizante. Meu colega Felipe Brem, conhecido como Aranha, que se formaria comigo no mesmo semestre, também envolveu-se em um acidente. O amigo dele, que estava dirigindo, perdeu o controle do carro, que saiu da pista e capotou. Ele foi o único a morrer no acidente. Poucos dias antes estávamos tomando cerveja no bar, planejando a nossa formatura e a nossa vida de formados. Assim como no primeiro caso, também nunca me recuperei dessa perda, por mais que a gente não fique dizendo isso a toda hora para todo mundo.
Resolvi contar essas histórias porque sei que muitos leitores passaram pelo mesmo e, infelizmente, muitos ainda vão passar por isso. A tragédia de Santo Cristo não pode passar batida. Não é possível seguir como está. Essa guerra tem que parar, e já! Coloquem uma viatura em cada canto das rodovias, tirem os caminhões das estradas, façam o que for necessário, mas não destruam mais milhares de lares todos os anos. Uma perda em acidente de trânsito é uma perda irreversível e, por mais que a imprensa esqueça anos depois o quê se passou, aqueles que perderam seus entes jamais vão voltar a ter a vida que tinham antes. Eu digo isso por mim e por todos que passaram por isso. Juízo para todos. E que os políticos parem para pensar no que eles podem fazer para reduzir isso. Do simples vereador ao presidente da República. Por favor.
* Texto publicado em A Tribuna Regional

Para os leitores do blog, coloco a foto, publicada em Zero Hora, do enterro das vítimas de Santo Cristo. Imagens desse tipo tinham que ser coladas em Brasília para ver se os políticos criam vergonha na cara para tirar os caminhões das estradas. É triste.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ácido gremista


No meio da pressa de uma sexta-feira punk, achei um tempinho para viajar na maionese e escrever o seguinte texto, sobre o jogo de ontem:

Quando começou o jogo na noite de quinta-feira no estádio Olimpico, Leopoldo abria uma latinha de cerveja. A bola rolou e quando o León começou a envolver o Grêmio, Leopoldo, ou simplesmente Léo, como era chamado pelos amigos, passou a beber mais rápido. A angústia começava a tomar conta da sua cabeça. A cada passe errado, três goles grandes de cerveja iam goela abaixo. Quando, antes dos cinco minutos do primeiro tempo, de fora da área, Vigil arriscou ao gol de Victor, Léo já estava semi-bêbado e, quando Orejuela ficou cara a cara com Victor na área, tentou driblar o goleiro, mas demorou para concluir e, Léo já estava podre de bêbado. Foi um trago recorde. Em toda a sua vida, Léo nunca tinha ficado bêbado tão rapidamente na vida.
O Grêmio não conseguia chegar e Léo bebida. Quando ele achou que a bebida já não estava mais fazendo efeito, ele lembrou que tinha um pote de ácido que ganhara do seu bisavô, um velho beat da geração de 1950, que viveu o auge da última grande revolução cultural em pleno solo norte-americano. Nervoso e bêbado, Léo passou a revirar a casa a procura do ácido. Enquanto isso, ele ouvia pela TV o sofrimento tricolor para vencer um time que, até a manhã de quinta-feira, ele sequer havia conseguido decorar o nome. Aquilo era enlouquecedor. Léo precisava do ácido, ou não suportaria tanta ruindade diante de seus olhos. E, quando ele achou o tesouro que ganhara do bisavô, no Olímpico, Douglas levantou a bola na área em cobrança de falta e André Lima subiu para acertar uma cabeçada: 1 a 0.
Léo resolveu respirar. Ficou olhando para o pote de ácido, enquanto lembrava, como se fosse hoje, a tarde em que ganhou do bisavô o presente. O velho, que mal conseguia falar, murmurou, com voz rouca, o seguinte conselho: “Essa aqui é minha relíquia. Ganhei-a de um grande amigo meu, o mestre Kerouac. Agora você ainda é pequeno, mas você ainda vai ouvir esse nome. Quero que você use isso em algum momento de desespero, de muito sofrimento...” e, ao concluir o conselho, o velho apagou, agonizando.
O time de Léo estava ganhando, portanto, ele julgou não ser esse o momento certo para beber o ácido. Entretanto, veio o segundo tempo. E, mesmo ganhando, quanto mais o tempo passava, mais ele se desesperava com a ruindade de seu time. Nem mesmo o pênalti inventado aos nove minutos, e a bela cobrança de Borges amenizou os ânimos de Léo. Quando o jogo estava aos 40 minutos ele decidiu: usaria o ácido. Léo abriu o pote e tomou tudo de um gole só. E, na manhã ensolarada de sexta-feira, ele leu nos jornais o resultado do jogo: 2 a 0. Sem lembrar de nada que tinha visto na noite anterior, ele ficou satisfeito, afinal, seu Grêmio havia ganho o jogo e conquistado os três pontos. A vida voltava a ser bela.

Texto publicado no Jornal das Missões deste sábado.

quarta-feira, 2 de março de 2011

É foda

Assisti ontem à noite ao Tropa de Elite 2. O filme é bom, mas o sistema é foda. Assim como acordar cedo é foda. Bater punheta depois do almoço é foda. Acordar de pau duro de madrugada é foda. Ver seu time perder um Gre-Nal é foda. Ser eliminado pelo Mazembe ou pelo Junior de Barranquilha também é foda. Cortar a unha até sair sangue e depois espremer limão é foda. Ressaca de vinho é foda. Deprê pós-baseado é foda. Brochar é foda. Gozar antes da hora é foda. Levar uma bolada no saco é foda. Beijar uma mina com bafo é foda. Várias coisas são foda, no sentido degenerativo do termo. Mas há também o foda positivo. Entretanto, para diferenciar o foda degenerativo e o foda positivo, vamos usar o termo fodão. O Romário dentro de campo é fodão. O Bukowski escrevendo é fodão. Uma foda com a Juliana Paes deve ser fodona. A loira da foto ao lado é fodona. Uma felação com a Claudia Leite é fodona. Ganhar de goleada um Gre-Nal é fodão. Porém, pensando bem, o termo fodão também pode representar dificuldade, como por exemplo: passar em primeiro lugar em um concurso é fodão. Recuperar-se de uma doença grave é fodão. Ir a pé trabalhar todo o dia é fodão (ou foda, se estiver reclamando). Enfim, nunca tinha parado para pensar na infinidade de significados que o termo foda tem. Existe também o termo fodinha. Eu, por exemplo, estou em uma comunidade no Orkut que se chama algo como “Meu pai é fodão, eu sou fodinha”.
Mas, mudando de assunto, comprei nessa semana a revista Cult. Nunca tinha lido a Cult. Até o momento, li só o editorial e gostei. É uma revista fodona. Lendo a Cult, descobri que o Pedro Juan Gutierrez, aquele escritor cubano desbocado que já referi aqui, autor de Triologia Suja de Havana, estará em São Paulo lá pelo dia 20 de maio em um Congresso de Jornalismo Cultural. Fiquei louco para ir, mas não vai rolar. E vai ser foda não poder ir numa palestra fodona de um cara fodão. É, amigo, o capitão Nascimento tem razão: o sistema todo é foda!

terça-feira, 1 de março de 2011

Tributo ao mestre

No dia 9 de fevereiro postei aqui, nesse humilde blog, o texto “Um grande escritor, um grande homem”. Naquela ocasião, Moacyr Scliar já estava internado em estado grave. Ali, naquele texto, contei tudo o que tinha para contar em relação ao Scliar (entrevista que fiz, palestras que assisti, livros que li e troca de e-mails), portanto, não repetirei tudo novamente. Entretanto, senti-me na obrigação de deixar aqui alguma espécie de homenagem ao grande homem e grande escritor que, inclusive, foi um dos gatos pingados que já leu esse blog.
Agora, após sua morte física, fico pensando que está acontecendo com ele o que já aconteceu com muitos outros: depois de seu desencarnamento vão triplicar a venda de seus livros, cadernos especiais, DVDs, produtos multimídia, etc. E, sinceramente, considero isso ao mesmo tempo bom e muito triste. Por que Scliar não estava nas capas dos jornais, não era lido por todos (tinha muitos leitores, sim, mas muitos vão ler seus livros agora, devido à curiosidade causada pela sua morte), enfim, por que não era lido por todos quando era vivo? Por que não era tema de entrevistas com presidentes, governadores, senadores, quando era vivo? Por que nas entrevistas feitas com o Lula e a Dilma nunca se perguntou: “escuta, senhora presidente, que livros de literatura você gosta? O que a senhora acha dos grandes escritores da contemporaneidade, como o Verissimo e o Scliar?". Digam-me, caros leitores!? Por que depois que a criatura morre, todo mundo pára tudo e vai lá ver o que ela escreveu e, se embasbacando com a qualidade da obra, arregalam os olhos e exclamam: “Nossa, ele era um gênio!”. Carajo! Ele sempre foi gênio, sua obra sempre esteve ali, a disposição de todos, nas livrarias, nos jornais, entretanto, depois que o cara morre até aqueles que nunca leram um livro, ao ver um monte de matérias na televisão e na internet, murmuram para si mesmos: “mas eu preciso ler esse cara”. Tudo bem, vá ler o cara que morreu, que é muito bom, mas leia também os vivos enquanto são vivos.
Dentre as experiências que tive com a obra do Scliar, lembro-me que, quando o vi falar na Feira do Livro de Porto Alegre de 2009, no Centro Cultural Erico Verissimo, mudei todo o meu dia para ir vê-lo. Na época eu morava com a minha irmã no bairro Partenon. A palestra era numa segunda-feira à noite. Saí do nosso apartamento no Partenon no final da tarde somente com o objetivo de ir ver a palestra do Scliar. E, após vê-lo falar sobre Euclides da Cunha e Gustave Le Bom, concluí, esperando o ônibus de volta para o Partenon: valeu a pena. E, enquanto isso, também criticava mentalmente a população porto-alegrense, pois, em uma cidade com quase dois milhões de habitantes não é admissível que apenas umas 50 pessoas reservem algumas horas de um dia qualquer para ir assistir ao Scliar falando sobre outros mestres da literatura e do pensamento universal. Entretanto, aposto que agora que ele morreu, se ele voltasse do além para dar uma palestra sobre qualquer assunto, os porto-alegrenses lotariam um Olímpico ou um Beira-Rio para vê-lo falar. São coisas da vida. São coisas da morte. Sorte de quem se ligou em se inteirar da sua obra e da sua vida enquanto ele ainda estava aqui, porque a partir de agora todas as homenagens são póstumas.