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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

I'm back!

 

Atendendo ao pedido de milhões de leitores (imaginários) dessa bagaça, e de um de carne e osso (meu amigo, escritor e professor Francisco Dandão) volto a escrever aqui. Passaram-se mais de três meses desde o último post. De lá para cá, tomei a segunda dose da vacina contra a Covid, peguei Covid, vi o Grêmio ser rebaixado, bebi um monte, vi o Galo ser campeão de quase tudo, vi o Menguinho tomar uma linda surra do Palmeiras e cair das tamancas na final da Libertadores, virei faixa cinza de judô e, mais recentemente, li um livro e assisti a três filmes. Foi para falar de um desses três filmes que fui intimado pelo professor Dandão a escrever sobre. No entanto, deixo essa película para o final.


Vou começar pelo livro. Terminei de ler ontem “Capitães da areia”, de Jorge Amado. Difícil escrever sobre essa obra, pois há inúmeras boas resenhas sobre ela na internet. O que me impressiona é o tempo em que foi produzida: década de 1930, sendo publicada, censurada e queimada pela ditadura de Getúlio Vargas em 1937. Dois fatos interessantes: essa obra prima, que trata da vida de órfãos de seis a 16 anos que viviam nas ruas de Salvador, foi escrita quando Jorge Amado tinha 25 anos. Um guri! Um gênio. Segundo consta na edição da Companhia das Letras, o escritor baiano foi viver um tempo com as crianças de rua para embasar a narrativa, dando um “quê” jornalístico ao texto. E outra: um ano depois da publicação, Lampião foi capturado e morto, sendo que ele é um dos personagens secundários da obra. Em síntese, não tem como não embarcar nas histórias e aventuras e dramas de Pedro Bala, Sem Pernas, Gato, Professor, Boa-Vida e toda a rapaziada. Mas não vou abordar o enredo pois, quem quiser, pode ler o livro ou, senão, pelo menos o resumo nos sites literários que habitam a internet.


Sobre os filmes, vou ir de trás para frente. Começo pelo que assisti hoje, indicação do meu amigo e colega Fábio Cruz: Rush – no limite da emoção. É uma produção de 2013 que trata da rivalidade histórica entre dois pilotos de Fórmula 1 dos anos 1970: Niki Lauda e James Hunt. Confesso que nunca tinha ouvido falar deles, mas o Fábio falou tão bem (mas tããããooooo bem) do filme que fiquei curioso. E não me decepcionei, pois nunca mais vou esquecer do bizarro, metódico, disciplinado, teimoso e corajoso Niki Lauda (tri-campeão mundial) e do irreverente, irresponsável, provocador, galã e igualmente corajoso James Hunt (campeão em 1976, campeonato abordado no filme). Também não vou comentar sobre o enredo para não dar spoiler, mas adianto que esse campeonato de 1976 (especialmente a última corrida) foi uma espécie de Batalha dos Aflitos da Fórmula 1. Ah, e os dois, apesar de terem personalidades antagônicas, são muito cômicos, com ótimas e hilariantes tiradas em diálogos entre eles e com outros personagens.

Já no domingo de noite, assisti na Globo News um documentário sobre o Chacrinha. Também muito bom. Conheci mais sobre esse fenômeno da TV brasileira que, na minha humilde opinião, junto com Sílvio Santos, foi o apresentador mais emblemático da história de nossos populares canais abertos, apesar de cada um ter seus defeitos (Chacrinha ser um bitolado por Ibope e Sílvio Santos apoiar a versão brasileira mal acabada de Hitler).


Por fim, chego ao comentário solicitado pelo professor Dandão. Ele também tem uma coluna e escreveu sobre dois filmes: Marighella e Pixinguinha, ambos com Seu Jorge como ator principal. Ao terminar de ler o texto, imediatamente coloquei o Marighella para assistir. São duas horas e meia de muita ação, suspense, luta, sonhos e história. Muita história. Trata-se também de um filmaço que reforça o que, de certa forma, quem já estudou o assunto sabe: o absurdo que foi a ditadura militar implementada no Brasil com o golpe de 1964. Difícil tentar pensar em um ponto específico para comentar aqui, pois são milhares de pontos que se relacionam dando sentido ao todo. Então, para não dar spoiler, vou me limitar a destacar a atuação perfeita de Seu Jorge como ator, interpretando Marighella.

E depois de tanto ouvir falar sobre o filme e sobre Marighella (uns criticando por transformar um terrorista em herói, outros aclamando a luta do herói diante da opressão), tiro minha própria conclusão para a pergunta crucial: afinal, Marighela foi terrorista ou herói? O próprio Marighella dá a primeira pista para a resposta no filme, quando ele berra com emoção: “sim, sou terrorista, sim!!!!”. Afinal, o “terrorismo” era a única forma de lutar em desvantagem contra um sistema fortemente armado, cruel, opressor, calculista e sanguinário. Um sistema mais terrorista do que o próprio “terrorismo” dos protestantes. Portanto, respondendo à questão, depois de ver o filme e pesquisar mais sobre ele, creio que Marighella foi os dois: terrorista e herói. Ou melhor, um terrorista criado pelo próprio sistema para lutar heroicamente contra as crueldades e desumanidades praticadas pelo seu próprio criador. Um terrorista-herói formado pelo sistema para lutar contra ele. Exatamente como fez o pequeno Pedro Bala, em Capitães da Areia.

Por hoje é isso. Um dia, talvez, eu volte again. Hasta!