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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Futebol e amor

Estava lendo outro dia as crônicas do David Coimbra no site do Clicrbs, e me deparei com o texto “Sexo, sexo, apenas sexo!”, onde ele defende a idéia de que as mulheres não gostam que seus namorados, noivos e maridos saiam para jogar bola (principalmente de noite). Analisando as revistas femininas do consultório da dentista, ele descobriu a verdade: as mulheres só pensam em sexo! De início também achei uma graça ingênua na teoria Davidiana, mas acabei lendo todo o texto e, de fato, concordo plenamente com ele.
E, coincidentemente, eu jogo futebol todas as terças das 22h às 23h. Minha noiva já cogitou ir junto: “um dia ainda vou te ver”, me diz ela. “Pode ir, meu amorzinho”, respondo eu. Talvez por isso ela nunca foi. Olha só o que conta o David de um amigo seu:
“A mulher de um amigo meu chegava a ir junto. Era constrangedor. Ele se esfalfando na zaga, esbaforido, marcando os atacantes, e ela roncando no Fusca. Por que fazia aquilo? Por que não ia dormir no recôndito do lar, sobre a maciez do colchão de espuma? Só descobri quando vi as revistas”. E depois disso ele desenvolve a sua teoria, resumida no primeiro parágrafo, mas que vale a pena conferir no texto completo, no blog do David, no site do clic.
Por outra coincidência, nessa mesma semana em que li o texto, um amigo nosso apareceu lá no nosso peladão com a namorada. Só que ela não ficou dormindo no Fusca, como a namorada do amigo do David. Não senhor. Foi pior do que isso. Ela ficou sentada, sozinha, assistindo ao jogo. O resultado de tudo isso? O meu amigo não jogou absolutamente NADA. Não que ele jogue grande coisa, mas enfim, a bola realmente o mordia. Então, lembrei do livro Antropológica do Espelho, de Muniz Sodré. Pois é, aconteceu com esse meu amigo exatamente o que o Sodré citou que acontece com um arqueiro que disputa um prêmio. Pode parecer viagem, mas veja essa citação de Sodré, comentada pela minha pessoa:
“Quando um arqueiro atira sem alvo nem mira, está com toda a sua habilidade” – ou seja, meu amigo quando joga sozinho, com os amigos, sem ninguém vendo ele, sem ninguém esperando nada dele além de um passe simples de lado, ele está no seu ápice. Ele acerta lançamentos milimétricos e chutes fora do alcance do goleiro. Enfim, ele é um Pelé. Segue: “Quando atira para ganhar uma fivela de metal, já fica nervoso” – quer dizer, se alguém já cobra dele um passe errado, se alguém fica gritando “toca! Toca!” enquanto ele avança sobre a defesa, ele já perde aquela habilidade natural. Ele passa a pensar duas vezes antes de colocar o pé na bola, o que resulta em um toque ou chute com menos confiança. “Se atira por um prêmio em ouro, fica cego ou vê dois alvos – está louco!” – essa é a situação de quando a namorada dele foi assisti-lo. Ele simplesmente ficou fora da casinha. Ele vinha com a bola, e jogava a bola na direção da linha de fundo e corria, corria, corria e corria, pensando que era o The Flash, o Euller filho do Vento, mas a bola corria mais que ele, e ele chegava na linha de fundo sem fôlego, e sorria um sorriso neurótico. Depois, ele roubava a bola do marcador, se emocionava, e eu sozinho do lado dele berrando “toca a bola! Toca a bola pô!” e ele nada de tocar a bola. Ele queria passar pelo meio dos adversários, queria fazer o gol que Pelé não fez, mas acabava perdendo a bola, e eu, que não sou de perder a paciência, acabava berrando “toca a bola cavalo!”. Mas ele não ouvia nada. Como disse o Sodré: estava louco. Ele só queria fazer um golaço, um gol de placa para ficar gravado para sempre na memória da namorada. Quem sabe para ela pensar que o fato de ele não ser um jogador profissional milionário, que deixa a dupla grenal para jogar em um país qualquer do Oriente não passa de uma ironia do destino, um azar da vida, uma injustiça do capitalismo e do famoso sistema de “você só entra aqui por Q.I.”. Sim, ele tinha capacidade e precisava provar isso a ela. Precisava marcar um lindo gol em homenagem a sua amada. Precisava matar o outro gladiador e dar a sua cabeça em uma bandeja para a princesa da sua vida. Ele precisava! E tentava, e tentava, e tentava, e eu e os outros já estávamos ficando loucos como ele, porque ele não tocava aquela maldita daquela bola, e tentava driblar, e nos contra-ataques nós levávamos gols atrás de gol, mas para ele não importava que o nosso time estava perdendo, só importava ela. E o pior é que ela piorava mais a situação e a cada erro do nosso amigo ela dizia “ah não Fulano! Eu não deixava! Beiiiiii!”. De início eu me solidarizei com ele, e tentava tocar a bola para dar a chance dele mostrar para ela que era de fato um craque vítima do destino azarento. Mas com o tempo desisti, e acabei resmungando “assim não dá, pô!”.
A loucura do nosso amigo chegou a tal ponto, que numa dividida normal dentro da área, ele pegou a bola com a mão e colocou na marca do pênalti. Todos ficaram atônitos olhando, o pobre do zagueiro do outro time, que por sinal é policial militar, ficou embasbacado, e ainda arriscou a perguntar: “o que foi?”. Ele não respondeu. Sua loucura não deixava ele responder. Ele só fitava o pobre do goleiro, como um psicopata olha para a sua vítima antes de estripá-lo. O goleiro o fitou de volta, com os olhos arregalados, como se perguntasse “o que esse louco vai fazer comigo?”, e ele correu em direção a bola e bateu forte, no canto direito, e dessa vez, a bola entrou. Ele comemorou o gol como uma criança. Foi uma cena comovente. Ninguém teve coragem de dizer ao nosso amigo que não foi pênalti. Deixamos ele ser feliz. E naqueles breves segundos, ele foi um jogador de futebol muito feliz. Foi sim.
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Ah, e por sinal, eu fiz quatro gols nesse jogo. Com isso, contando todos os jogos que já disputei na minha vida, estou com 977 gols. Ou seja, faltam somente 23 para chegar ao gol mil! Tenho todos eles anotados em vários bloquinhos, inclusive os goleiros que sofreram os referidos gols, que podem servir de prova para esse feito histórico. Meu objetivo é chegar ao gol mil até o final do ano. Aguardem.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Perfil - Parte 3

Devido aos milhares de pedidos de participação no espaço inédito na história do jornalismo mundial “Perfil”, criado por mim mesmo em meu próprio blog, tive que fazer um sorteio para definir qual seria o próximo entrevistado. O vencedor foi o meu primo Gérson, natural de Ijuí e que está radicado em Londrina-PR desde 90 e alguma coisa. Ele é bancário e formado em jornalismo e está prestes a integrar a famosa máfia italiana, mas não espalhem por aí, já que ele me pediu sigilo absoluto. Segue a entrevista feita no final de uma dessas tantas tardes vividas por todos nós, feita através do sempre eficiente msn:

O teu, quer responder ao perfil do meu blog?
Pode ser.

Depois disso a tua vida será outra! As portas irão se abrir!
Mas eu quero ver ainda o Jimbo numa sessão espírita.

O que você tocar virará ouro!
Está valendo então...


Valendo quanto?
Valendo um milhão de reais! (Com voz de Sílvio Santos)

Qual é a primeira coisa que pensa ao acordar de manhã?
Depende, dia da semana ou fim de semana?

Viu, escreve certo pra facilitar o meu trabalho de edição depois. Nada de "vc" ou "kde" ou sei lá mais eu o quê, sacas?
Tu çabe ke meu purtugueis é correto.
Ta, responde ai que eu quero ir para o banho.

Mas dia útil ou não útil?
Dia inútil.
Eu penso: "que ressaca, tenho que trabalhar de novo!".

E dia útil?
E no fim de semana: "que ressa, ainda bem que não trabalho!".

E o que você pensa sobre a menstruação?
Eu penso que a menstruação é um alerta de Deus, e sempre agradeço por nascer homem.

E sobre a TPM?
Que perguntinha de revista de adolescente hein?

Não dê palpite sobre as perguntas, apenas responda!
Já algum sábio filósofo disse: "TPM = tensão pré-monstrual".

Como você enfrenta o estresse?
Com o álcool

Em que momento do dia é mais feliz?
No momento em que saio do trabalho, lá pelas 15h. E principalmente no dia do pagamento.

Para qual resposta ainda não encontrou a pergunta (ou seria o contrário?)
Calma aí. Pergunta difícil...

Desculpa, falha nossa. Para qual pergunta ainda não encontrou resposta?
Estou esperando. Digo, estou calmo. Morreu?

Não, os sábios pensam.

Mas eu quero toma banho!
Até o final da entrevista eu respondo aquela pergunta...vamos pra outra...

Está ok. O que vê quando se olha no espelho?
Um cara lindo e modesto. E também umas sujeirinhas que respingam no espelho quando se escova os dentes.

Se você soubesse que o mundo acabaria amanhã, para quem ligaria?
Pro Japão e ficaria 3 horas conversando. No horário de ligação mais caro. Não vou precisar pagar a conta.

O que você pensa sobre seus primos Fábio e Carolina? (te pago duas cervejas para falar mal deles). Morreu?
Calma.

Estou calmo, mas quero tomar banho.
Esse suborno será descrito?
Óbvio que não.

Tenho grandes lembranças de meus primos Fábio e Cartolina, de nossa infância. Depois de crescido não tivemos muito contato. Mas se vc pagar as cervejas que me prometeu eu ainda posso falar mal deles.

Você escreveu vc. Ta bom, eu pago.
Foi mal veio. Beleza, no próximo perfil eu falo mal então.
Então no próximo perfil eu pago as cervejas.
Fechado.

Em que momento da sua vida você desistiu de ser palhaço de circo?
Penso que ainda corro atrás desse sonho.

Você tem medo de errar? Ops...
Eu não erro.

Está errada a pergunta. Você tem medo de que?
Não tenho medo de uma coisa que não tem como acontecer comigo. Eu tenho medo que um dia a lei seca se expanda para o mundo todo em todos os horários e eu tenha que viver como um clandestino pelos becos do mundo.

Você tem fome de quê?
Eu tenho fome de carne, principalmente, que irá me matar de saudades lá na Itália.

O que faria se não fosse proibido?
Se o quê não fosse proibido?
Sei lá, copiei a pergunta do auto-retrato do coronel Mendes da ZH. Ele respondeu: "Não pensei". Um filósofo esse coronel Mendes.

Que falta de imaginação hein?

Então uma pergunta minha. Você entende as mulheres?
Que pergunta você faria se não estivesse colando tudo da ZH?

Essa de antes aiam. A das mulheres. E aquela do Fábio e da Calorina...
O dia que algum homem entender as mulheres, é porque virou uma.

A Calorina está passando pela sala com o dedo no nariz, você tem algum recado para mandar para ela?
A outra narina também está suja, ponha outro dedo. E abraço do primo!

Que lembrança você tem do glorioso Jimbo? Morreu?
Lembro do desenho que originou seu nome (o dele) e de quando ele se chamava Bisteca.

E como você se sente sendo tio?
Bisteca, que aqui no norte do Paraná é o mesmo que Chuleta.

Mas não era Bisteca. Era Bistex. Do salgadinho, sacas?
Dá no mesmo.

Não dá não. Tu vai responder como se sente sendo tio ou não?
Cara, ser tio é uma sensação indescritível. Foi mais ou menos como quando fui irmão com 20 anos. A responsabilidade eu deixo com os pais da criança. Só participo da brincadeira. Até hoje não sei o que é limpar uma fralda.

Por falar em irmão, o cachorrinho de vocês está vivo ainda?
É uma cadela. Ela é Highlander, uma raça de cachorros imortais e nunca se submeterá às reles presunções de todo ser vivo, inclusive a presunção de um dia ter que morrer!

É verdade que você da bebida alcoólica para o bicho?
Não sobra pra ela. Só quando é vinho suave, aí eu dou porque não gosto.

Do que você sente falta do Rio Grande do Sul, tchê?
Na verdade, do Rio Grande do Sul não sinto muita falta (serei apedrejado agora!). Sinto mais dos familiares que aí se encontram, mas sempre que possível, depois de arrumar um emprego na máfia italiana, irei visitá-los trazendo grandes mochilas com vinho italiano.

O que você espera encontrar na Itália?
Uma polonesa

Uma frase.
O importante é o que importa, e vice-versa.

Deu. Finish. Acabou. Fim.
Não, peraí. Tem aquela que fiquei de responder. Como era mesmo?

Qual? Ah, sim. Esqueci.
Volta lá em cima

Eu não. Volta tu. Eu to com preguiça. Morreu? Achou? Já salvei tua foto aqui.
Para qual pergunta ainda não encontrou resposta?

Exatamente.
Para essa pergunta que tu fez. Pronto.

Ponto.
Põe aquela foto que tem duas gurias me beijando no orkut.
Aonde?
No primeiro álbum, de baixo.

Eu ia botar a da trilha dos bêbados.

Ah não.
Não estou achando.
Não esquece da fonte: arquivo pessoal.

É muita areia pro teu caminhão.
Tu ta precisando de um editor de imagens pro teu blog, eu me ofereço. Eu escolho

Ta bom, mas não tem fonte no meu blog. Pode me processa.

Pegou qual?
A que tu disse.

Boa
Agora vou editar a porra toda, postar e tomar banho.
Modestamente, foi o melhor perfil do teu blog.
Fim.

sábado, 26 de julho de 2008

Salvem o Drummond!

Esse texto achei naquela série de arquivos de textos que escrevi quando eu estava na faculdade, antes de me formar. Esse fala da minha ida para o carnaval do Rio, em 2005, e meu encontro com o Drummond. Estou procurando outro, melhor ainda, que saiu no blog do meu amigo Mário, lá do Rio, mas não estou achando. Se achar, juro que publico. Mas esse é curto e legalzinho. Espero que curtam, ai vai:

Cara, quem vai salvar o Drummond?? Tirem-no daquele banco em Copacabana e o coloquem num boteco qualquer! Não digo boteco, mas pelo menos em algum lugar coberto. Eu pude presenciar uma cena muito triste envolvendo o nosso glorioso poeta. Estavam lá, todos aqueles turistas tirando fotos com ele. O velho Drummond estava simplesmente sendo assediado pela massa, quando de repente o tempo fechou e começou a chover. As pessoas evacuaram do local, deixando o pobre diabo lá, sozinho, abandonado. Eu não agüentei ver aquela cena melancólica a distância, e fui lá tomar uma cerveja e trocar uma idéia com o velho. Ele me disse que estava sofrendo muito, que as pessoas o procuravam só por interesse. Disse que só queriam tirar fotos para publicarem nas colunas sociais de suas cidades, e que nos momentos em que ele mais precisava de alguém, como na madrugada ou na chuva, todos o abandonavam . Eu pedi para que se acalmasse, e prometi que me mudaria em breve para lá e moraria em uma barraca na areia, a pouquíssimos metros dele, para lhe fazer companhia 24 horas. Porém, sinto que levarei essa promessa para o túmulo, pois estou ouvindo uma sereia me chamar. O canto dela diz meu nome, e meu cérebro só pensa no rabo dela. Dizem que se eu for eu não voltarei mais. Mas pouco me importa. Se for para ficar com ela durante toda a eternidade, eu pago minhas promessas com a minha própria vida.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Perfil - parte 2


Bom, como prometi, começo a publicar perfis de pessoas ilustres da sociedade global contemporânea do planeta Terra (teremos algumas exceções, obviamente). O primeiro será o meu amigo Arion Fernandes, que foi entrevistado via msn numa dessas tardes qualquer de uma das minhas folgas qualquer. Não vou ficar comentando essa figura, vou deixar que vocês mesmos o conheçam pelas suas respostas, e se quiserem saber mais sobre esse John Travolta ijuiense (eu ainda vou aprender a dançar que nem ele) entrem no blog dele: www.espacodiverso.blogspot.com.

Qual a sua idéia de felicidade?
Estar em pleno contato com os meu amigos e as coisas irem bem no trabalho.

Qual seria a maior das tragédias?
Ficar sem água pra beber.

Alias, esse é um ponto marcante em sua vida. Por que você bebe tanto?
(Risos) Bom eu podia responder: porque é líquido, se fosse sólido eu comia. Mas não, essa resposta não é boa! (espera que não acabou).

Tudo que você disser será publicado, inclusive esse seu comentário estúpido.
Mas eu acho que bebo um monte por influência da minha família, fazer o quê? Já nasci boêmio! Sou feliz assim, diga-se de passagem.

É verdade que é pagão?
É verdade sim, tem algo contra?
Não, não, imagine....

Agora uma difícil: você entende as mulheres?
Claro que não, só se eu tivesse poderes divinos ou sobrenaturais! Mesmo nascendo de uma, é impossível!

Qual é a cantada infalível? (eu já vi as mulheres cercarem o Arion para dançar com ele...)
Antes de qualquer cantada, acho que funciona uma cara de cão-sem-dono e um jeito meio cafajeste (a mulherada vai me odiar).
“(eu já vi as mulheres cercarem o Arion para dançar com ele...)” Esse comentário não vai, né?
Óbvio que sim
Um domingo perfeito? (essa é clássica)
Com uma baita ressaca, pois quer dizer que o sábado foi bom, até porque a segunda é sempre uma merda. Eu gosto de sábado, e sexta também.

E o que o trio Lisi-Lara-Gabi representa na sua vida?
Cada uma tem uma história, mas resumidamente, são algumas das mulheres da minha vida, de amantes (quando era conveniente para mim e para elas) a amigas-irmãs para toda a vida.

Como seria a morte perfeita?
Morreu?

Calma, tô pensando! Bah! Nunca pensei nisso, mas acho que uma morte súbita num momento muito engraçado quando estiver na maior gargalhada e, claro, com um copo de Polar na mão.
Nao vai morre pensando
Já respondi, traste!

Ok, ok. O que te deixa irritado?
Tu, heheh! Capaz. Além de acordar cedo e falar nas primeiras horas da manhã, acho que é injustiça, intolerância e hipocrisia. Ah, computador e internet lenta também.

Qual foi teu pior porre? (putz, caiu um bicho no meu vinho)
O que quer dizer com isso?
Que caiu um bicho no copo de vinho que eu to bebendo, pô, to falando grego por acaso?
Acharia melhor não comentar, é vergonhoso! Mas foi com quatro taças de vinho, depois não lembro mais nada, só comentários dos amigos (o pior, foi na casa do professor P.).

Ah, o professor P.
Tu não fala, tu relincha! hehehe. Tu sabem que é.
Esse comentário poderá ser censurado. E claro que sei quem é o professor P.
Censura é crime!
No meu blog não. O que você pensa do ilustre Eduardo Ritter?
Não tenho uma opinião formada... Capaz. Tenho sim! Mas não se acha! É um grande sujeito, sou fã do Eduardo escritor e jornalista (obs: juro que não editei!). E um grande amigo! Quando conheci, tinha cara de quem não valia um real, mas depois percebi que vale um e cinquenta!

Porra, não dá nem pra uma cerveja! Que miséria...
Eu ajudo com mais um e cinqüenta, já dá uma Polar.

Melhorou. Uma frase?
Essa vai ser o meu epitáfio: "De todos os sentimentos que as pessoas despertaram em mim, a amizade foi o mais sincero".

E qual o seu herói, sem ser eu?
O Zé Carioca! Mas falando sério: meu avô e muitos outros anônimos. O Zé Carioca tem super-poderes. (??!!)

Um dia inesquecível que você viveu?
Peraí, já volto. Não sai daí. É sério.

Mas que bah! Deixar um repórter esperando no meio da entrevista, ora já se viu!
Foi caga?

Voltei.
É horrível, Arion, horrível. Qual foi o maior ensinamento que você teve com o ilustre Teto Pochman?
Se dê por satisfeito por estar dando essa entrevista. Calma, nem respondi a anterior. Um dia inesquecível será o dia 13 de setembro de 2008.

Eu perguntei que tu já viveu, o arigó, não que vai viver!
Ah! Que diferença faz? Tá bom, o primeiro dia na faculdade, oh fase boa!

E o que aconteceu no primeiro dia?
Tive uma aula chata (matérias do básico).

E o Teto?
Aquele cara não deveria ter saído da idade das cavernas!

Eu gosto dele.
Azar é o teu.

Ta bom. Então acabou. Era isso.The End. Fim.
Já?
(Censurado)

domingo, 20 de julho de 2008

Perfil inédito!


Já que nenhum jornal, revista, emissora de rádio ou televisão jamais cogitou a hipótese de incluir a minha pessoa em um perfil ou auto-retrato, eu, que considero o Eduardo Ritter uma pessoa muito importante em minha vida, apesar de classificá-lo em um gênero que fica entre o tímido e o pirado-fora-da-realidade, resolvi entrevistá-lo para um novo quadro no meu blog, que vai sair em uma periodicidade não definida, e que vai depender da minha boa vontade para importunar os outros a responderem uma série de perguntas. Mas enfim, O Rebate apresenta hoje, de forma exclusive e inédita, o meu perfil, por eu mesmo! Devido a falta de inspiração para elaborar perguntas desse que vos escreve (minha capacidade de elaborá-las está ficando toda em meu trabalho oficial) copiei as perguntas feitas ao Tite, no Auto-Retrato da edição de ZH deste domingo. A vantagem que tenho em relação ao técnico colorado, é que aqui eu que vou determinar o espaço que vou dar a mim mesmo.

Qual a sua idéia de felicidade?
Estar feliz para mim é tudo. A vida é ser feliz. Não consigo pensar a vida sem pensar em felicidade. Dentro do que eu posso, faço o possível para ser feliz e tornar as outras pessoas um pouco mais felizes! Nem que seja escrevendo um monte de baboseiras, como essas, que outras pessoas vão ler e, quem sabe, vão se identificar, ou vão achar graça, ou vão simplesmente parar de ler para fazer algo mais interessante e que as torne mais feliz. Penso que a vida é muito curta para não sermos felizes. Mas pensando em momentos que me deixam feliz, posso citar algum gol do Grêmio em alguma decisão importante, como naquela vitória dramática contra o Náutico, ou o gol do Aílton na final do Brasileirão de 96 contra a Portuguesa. Ou senão, quando vejo outra pessoa feliz. A ingrata da minha irmã nem sabe, mas um momento feliz que tive recentemente foi quando vi o nome dela como 3ª colocada na seleção do mestrado da PUC. Mas uma das coisas que mais me deixa feliz hoje é poder ver o sorriso da minha noiva, Cristiane, quando eu lhe preparo alguma surpresa. Ou senão, o sorriso da Lalá, minha filhinha emprestada, quando eu faço alguma brincadeira. Isso não tem preço. Não tem dinheiro no mundo que pague. Também me sinto ótimo quando vejo que alguma matéria que fiz possa ter ajudado alguém, quando percebo que alguém presta atenção no que digo, em relação a idéias... quando consigo fazer alguém ler alguma coisa, qualquer coisa, também me sinto feliz. Quando alguém da minha família se da bem. Quando algum amigo meu se da bem. E óbvio, quando eu me dou bem também. Um exemplo disso foi quando tirei 100 na monografia ou quando ganhei o Iniciacom na minha categoria em 2005 na UERJ. Isso serve de incentivo e enche você de ânimo para correr atrás de outras coisas. Por isso acho tão importante o incentivo à educação. Se as pessoas percebem que alguém acredita nelas, elas se enchem vontade para superar outras adversidades. Às vezes um incentivo mínimo pode mudar uma vida. E essa força de vontade eu penso que é uma forma de felicidade. Você se sente feliz lutando atrás de um objetivo. E quando você cai e consegue se levantar para lutar de novo, e você consegue esse objetivo, o gosto de tê-lo alcançado se torna muito mais saboroso. É, acho que o meu primo Gérson tem razão... vou acabar escrevendo livros de auto-ajuda... Pode parecer clichê, mas é o que penso. E foda-se quem acha clichê também. Ou seja, liguem o foda-se e sejam felizes!

E o que seria a maior das tragédias?
O fim do mundo.

Qual o seu maior medo?
Primeiro, de perder as pessoas que eu amo. Segundo, de morrer.

Em que tipo de ocasião você mente?
E eu tenho cara de quem mente?

Quem são seus heróis?
Herói... Herói.... Tem tantos heróis... Trabalhando no jornalismo você acaba conhecendo pessoas que tem histórias de vida inacreditáveis. Muitas anônimas, em lugares completamente desconhecidos. Pessoas que superam perdas trágicas, que lutam com todas as forças contra doenças, drogas, violência doméstica, cada coisa que romance nenhum e ficção nenhuma conseguiria retratar. Pessoas que estão nem aí para o jogo do Grêmio, do Flamengo, da Seleção, que não sabem nada sobre os escândaldos que estão aparecendo na Globo porque estão preocupadas em estar vivas no outro dia. Esses são super-heróis. E acho que, no fundo, somos todos heróis por estarmos nesse mundo sem termos certeza absoluta de onde iremos depois.

Qual a sua característica mais marcante?
Timidez quando todos acham que eu vou me sair bem, e cara de pau quando todos acham que eu vou ter vergonha. Por isso me identifico de certa forma com a Seleção Italiana (mesmo torcendo contra ela): quando todos acham que vai vencer, perde. E quando todos apostam que vai fracassar, vence.

Qual a sua maior extravagância?
Gastar o que não posso com viagens mirabolantes, como fiz no show dos Rolling Stones em Copacabana e o carnaval em Guarapari, no Espírito Santo (minha mãe fica louca com isso).

Quem você gostaria de ser, se não fosse você mesmo?
Meu cachorro Jimbo, que faleceu há pouco mais de uma semana. Tenho certeza que ele foi muito feliz.

E onde gostaria de viver?
Olha, estava pensando hoje sobre isso. Graças ao meu trabalho, acabei gostando de Santo Ângelo. É sério. Antes eu queria ir embora a qualquer custo. Saí, perambulei por aí, e hoje, podendo conhecer muita gente através do jornalismo, acabei gostando daqui. Conheci minha noiva aqui. Nasci aqui. Não sei quanto tempo permanecerei aqui, se algum dia irei embora ou não, mas hoje concordo com aquela idéia do Erico Verissimo (de novo ele!) de que a geografia não resolve o problema de ninguém. E por isso trato da mesma forma uma pessoa do interior da Buriti, a uma de Macaé, a outra do Rio ou de São Paulo ou de Porto Alegre ou de Nova York. Ninguém é mais do que ninguém por nascer ou morar em determinada cidade. Mas, respondendo a pergunta mais objetivamente eu gostaria de viver em qualquer cidade de qualquer estado de qualquer país em qualquer situação. Simplesmente, gosto de viver.

O que dispara seu lado consumista?
Cara, copio a resposta do Tite: livros – e acrescentaria: presentes para a minha noiva.

Um gosto inusitado.
Pão francês (não vou dar chance dos cariocas fazerem piadas de gaúcho) com salgadinho, como Pingo de Ouro, Cebolitos ou Beconzitos. Nunca achei alguém que simpatizasse com esse gosto.

Que defeito é mais fácil de perdoar?
Cara, o Tite é um filósofo. Também vou copiar a resposta dele nessa: qualquer defeito, desde que a pessoa o reconheça.

Em que situação você perde a elegância?
Quando ofendem ou agem contra alguém da minha família. Podem me xingar, mas não xinguem quem eu gosto, senão o bicho pega.

Um hábito de que você não abre mão.
Ler, ler e ler. Impossível pensar em viver sem ler. Se não leio, me sinto completamente burro. A leitura é meu oxigênio, meu combustível, meu alucinógeno.

Um hábito de que você quer se livrar?
Nenhum. Eu gosto dos meus hábitos.

Como gostaria de morrer? (porra, o repórter da ZH era meio macabro, mas vamos lá...)
Com 100 anos, com a minha legítima esposa segurando a minha mão a beira do leito, implorando: “não vá, não vá”, e eu lhe respondo: “tenho que ir, bybe, mas nunca esqueça que eu te amo muito...”.

Qual o seu atual estado de espírito?
Feliz e apaixonado.

Uma frase
Nada como não fazer nada e depois descansar. (Mário Quintana).

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Viva o CD DVD do centrão!


Estava vendo uma matéria no jornal do SBT há pouco, que me deixou indignado. Apreenderam milhares de mercadorias falsas em várias capitais do país, entre elas, Porto Alegre. Acredito que muitas pessoas acham isso bem bom, e algumas até devem resmungar: “porque essa gente não arruma um emprego descente?”. Olha (suspiro), é complicado. No ano passado eu fui para Porto Alegre, com meu diploma de jornalista debaixo do braço, experiência com carteira assinada, experiência em estágio, prêmio acadêmico de âmbito nacional e por ai afora, e o que consegui? Um estágio não remunerado (que já disse que profissionalmente foi uma ótima experiência) e um emprego remunerado como panfletero. “Ó o empréstimo ai senhô! Um empréstimozinho aê sinhóra! Dinheiro na hora é aqui ó, sem demora!”. Esse era eu me esgoelando no centro de Porto Alegre, no lado dos “CD DVD! CD DVD!” e dos “compro ouro, compro ouro!”.
Como já falei em outro texto, era como se todo mundo se ajudasse ali no centrão, afinal, estávamos todos na mesma. Ou quase na mesma. Eu tinha um diploma, mas que não me garantia nada. Os outros não tinham nada, nem a possibilidade de recuperar o estudo perdido e deixado para trás. Já os mais novos não têm incentivo nenhum para o estudo. Um país que aposta no Bolsa Família e em outros tipos de doações para a comunidade e que não aposta em educação não pode ir muito longe (eu sou um exemplo disso, estou cozinhando meu fígado em uma frigideira sem usar óleo – porque não sobra dinheiro - para tentar fazer um mestrado, quando na verdade deveriam incentivar eu e outras pessoas a seguirem sempre estudando para, juntos, desenvolvermos essa porra toda que chamam Brasil).
Agora, imaginem essas milhares de pessoas que trabalham no mercado informal de Porto Alegre vendendo produtos piratas (camisetas, mochilas, cds, dvds e tudo mais) sem esse emprego. Coloque-se na situação de uma dessas pessoas. Sem qualificação nenhuma, elas vão procurar emprego aonde? Essa infelizmente ainda é a única forma de manter essas pessoas fora do crime armado. E digo isso porque eu estive lá no meio. Eu acordava às cinco horas da manhã de inverno para chegar no trampo às seis e meia para começar o berredo que ecoa todos os dias na capital do Rio Grande. E sei que têm alguns que além desse emprego também trabalham no crime armado, no tráfico e tudo mais, mas muitos não. Como já falei e não cansarei de repetir, você tem lá pai de família ralando para levar um pão para o filho pequeno em casa, você tem lá gurizada trabalhando o dia inteiro e acreditando nos estudos, mesmo sem incentivo NENHUM do governo para o estudo, você tem lá gente trabalhando e vendendo drogas ao mesmo tempo, você tem lá gente que está trabalhando nisso, mas que em outro momento pode pegar uma arma e te assaltar, ou seja, você tem DE TUDO no meio desse mercado todo. Agora, se você deixar umas três, quatro, até cinco mil pessoas sem emprego do dia para a noite, aonde eles vão trabalhar??? Que empresa vai dar emprego para essa gente???? As prefeituras vão abrir vagas para novos funcionários públicos?? Vão trazer mais empresas para o Estado??? Alguém me responda, pelamordeDiós! É foda. É muito foda. Ou, como diria o Zé Simão, se fosse foda ainda era bom. Mas é foda no pior sentido da palavra.
Agora, nova pergunta: em um país como o Brasil, onde não se incentiva em nada a educação, onde você se quebra estudando, e tem que pagar para estudar, onde você não recebe uma passagem de ônibus para se deslocar de onde você mora para a faculdade, onde os professores são desvalorizados, onde quem está lá embaixo não tem nenhum estímulo para continuar a estudar, já que o vizinho estudou e não deu em nada, como um país desses vai se dar ao luxo de se preocupar com direitos autorais?? Como??
Eu não entendo. Queria entender, mas não entendo. Ainda mais se você vê dinheiro público sendo usado para pagar salários astronômicos de alguns políticos, dinheiro sendo jogado fora como se estivesse escorrendo para o esgoto para pagar salários de altos cargos do Exército (enquanto o pobre do soldadinho rala pra ganhar uma merreca – e ao invés de pegarem gente que precisa disso pegam playboys só para sacanear), enfim, dinheiro, dinheiro, dinheiro, que parece que querem canalizar para ele andar em uma direção única, sempre voltando para a mão de quem já tem a porra do dinheiro.
Mas apesar de TUDO isso, certas atitudes de algumas pessoas que ainda lutam para mudar isso me fazem crer que dá para mudar um pouquinho dessa merda toda. E como me disse certa vez um jogador de futebol: “o que parece pouquinho pra gente é muito para outros”.
Eu ia encerrar o texto com essa frase, mas eis que, fuçando no nariz com o dedo indicador tive uma brilhante idéia para amenizar o problema de todos os camelôs que estão querendo exterminar do centro de Porto Alegre: distribuam essas duas, três, quatro mil pessoas na casa dos artistas, dos donos das gravadoras, dos políticos, dos policiais, dos sargentos do exército (não sei porque cargas da água escrevi exército com E maiúsculo lá em cima, mas enfim...), dos moralistas e de toda essa corja que larápios que acreditam que podem desenvolver um país sem investir em educação. Façam me o favor! Às vezes eu penso que querem me deixar louco. Só pode... só pode...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

A revolta de Astrogildo


Astrogildo ia caminhando tranqüilamente por uma praia deserta, olhando as ondas que caíam uma depois da outra, suspirando feliz da vida por ser uma pessoa muito alegre e sem motivos nenhum para reclamar de nada, ia andando e assobiando Please Don’t Stop The Music, catando umas conchinha vezenquando, pensando na Rosália, mulher do Pafúncio, que todas as manhãs ia estender a roupa no varal e dava uma espiadinha para ver se o Astrogildo a espiava, e ele realmente estava lá, com o rabo dos olhos olhando aquele rabo que se exibia naquela sainha minúscula de jeans surrado, e ele tentava enxergar se ela estava usando calcinha, mas não conseguia....

- Porra cara, qual é a tua?
- Como assim? Desde quando você fala?
- Fica falando ai, como se eu fosse um bobo-alegre, tarado e que ainda por cima não respeita a mulher dos outros, meu, ta brincando comigo?
- Porra, Astrogildo, vai se fuder! Eu que criei você!
- Criou o caralho! Eu estava andando tranqüilamente na beira da praia por minha conta, estava assobiando Please Don’t Stop The Music porque eu gosto e o motivo de eu estar pensando na Rosália não é da sua conta, entendeu (?!), mas eu não preciso que um escritorzinho de bosta fique espalhando isso tudo para todo mundo, ta me entendo, ô?
- Escuta aqui, seu merda. Ou você retira tudo isso que você disse, ou eu vou te apagar da história da humanidade, e vai ser como se você nunca tivesse existido, aliás, ninguém sabe que você existe, só eu, e isso porque fui EU quem criou VOCÊ! Sacas, irmãozino?
- Pois se VOCÊ não ME criar, você não será nada! Ninguém vai ler o que VOCÊ escreve. Portanto, VOCÊ depende de MUÁ, estou sendo claro ou quer que eu desenhe?
- Ok, ok, Astrogildo. Estou vendo que criei mesmo um monstro. Vou ir ali no banheiro dar uma boa duma cagada, vou tomar um cafezinho, ligar o rádio e relaxar por uns três minutos para não ter que pegar esse lápis e rasgar essa folha de papel enfiando-a nesse seu rabo! Aliás, vou deixar esse trabalho para o marido da Rosália...
- Vai lá e me deixa em paz. Eu, aqui andando na beira do mar, olhando essa paisagem perfeita, pensando na Rosáliazinha e esse infeliz me importunando. Pois ora vejam vocês. Ninguém merece ir andando numa linda paisagem com alguém buzinando no seu ouvido, narrando o que você está fazendo, pensando, sentindo e tudo mais. E ainda por cima um monte de clichês! Faça-me o favor! Esse idiota que me deixe aqui nesse paraíso e vá escrever histórias de crimes, suicídios, traições, sexo, drogas, fantasmas, monstros, que é disso que o povo gosta.... Acho que ele se afogou na privada.... Imbecil! Espero que não volte mais antes que eu perca a paciência e acabe por...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O natal que durou 16 anos

O natal de 1992. Provavelmente tenha sido o melhor de minha vida. Tinha 11 anos recém completados. Nunca esperei tanto por um natal e por um presente como naquele ano de 1992. Um ano de recuperação, sem dúvida nenhuma. Foi nesse ano que o Grêmio disputou a Segundona pela primeira vez, e após uma falcatrua conseguiu subir. Mas isso já é uma outra história. Estava falando do natal de 1992. Lembro-me que fomos para Cruz Alta para passar a véspera natalina na casa da minha tia Narinha. Como de costume, minha madrinha Niquinha e minha prima Vanessa também iriam lá. Além de nós, é claro. Estava ansioso pelo meu presente. Mas para irmos buscá-lo, teríamos que esperar fechar a padaria que ficava na frente do prédio onde minha tia morava. E era recém 14h! A maldita padaria fecharia era nunca! Eu ia para a sacada, olhava a maldita padaria aberta, olhava no relógio, e eram apenas 14h17. Eu andava pelo apartamento, brigava um pouco com minha irmã e pentelhava um pouco meu irmão, voltava para a sacada, assobiava enquanto observava aquelas cabecinha miúdas andado pela calçada, dava uma espiada na padaria, da padaria para o relógio... e: 14h31! Que tempo que não passa! E foi assim resto da tarde. Eu nervoso, tentava imaginar como era o meu presente. Queria muito aquele presente! Era o presente que minha madrinha ia me dar, e ela havia prometido ele há meses! Que diacho, essa padaria do cão não fecha nunca! Começou a ficar tarde, 17h, 17h30, 17h45, e eu lá, na sacada, esperando a mulher fechar a padaria para eu ir buscar o meu presente. 18h e nada!
- Pai, a mulher não vai fechar a padaria?
- Já vai.
- Pede pra ela ir lá fechar a padaria?
- Não dá.
- Por que não dá?
- Porque não.
- Que horas ela fecha a padaria, pai?
- Daqui há pouco.
- Falta muito?
- Não.
Mas a maldita mulher nunca fechava a padaria. Já eram quase sete horas, e eu estava ali, com a cabeça sobre os braços e os braços sobre a sacada, com os olhos revirados, quando vi aquela criatura morena de cabeços crespos saindo da padaria.
- Pai, vamos lá, ela ta fechando a padaria!
E lá fomos nós. Eu, o pai, e a mulher da padaria.
Alguém me deu uma caixa para colocar o meu presente. Eu fui no banco de trás do carro, olhando aquela caixa, imaginando o meu presente dentro dela. Chegamos na casa da mulher da padaria. Era uma casa de madeira, amarela, com um murinho de tijolo na frente, mas não fechado, qualquer animal podia entrar e sair do pátio a hora que bem entendesse. Ela foi lá e disse:
- É esse aqui.
E me deu meu presente. Coloquei dentro da caixa e fui olhando ele. O diabinho não parava quieto, estava um pouco assustado. Chegamos lá, colocamos ele na sacada. Eu só queria ficar na sacada.
- Dudu, vem jantar!
E eu nada. Até que meu pai foi me buscar e me levou para jantar. Engoli a comida para voltar para a sacada. Ganhei os outros presentes, que a exemplo dos presentes que ganhei em dezenas de natais seguintes, não lembro da maioria, e voltei para a sacada. No outro dia, voltamos para Santo Ângelo. Ele veio dentro da caixa, enquanto eu, minha irmã e meu irmão brigávamos por um motivo qualquer, e minha mãe gritava e meu pai colocava a mão para o lado de trás do carro tentando achar as nossas pernas para biliscá-las. Mas não adiantava. Aquietávamos por alguns minutos, e o tumulto recomeçava, como era de costume. Saudades daquelas brigas.
Chegamos, já era noite. O meu presente estava dentro da caixa. Levei ele até o pátio, enquanto meu pai arrumava o lugar onde ele ficaria. Lembro-me como se fosse hoje que o Urso, nosso falecido pastor-alemão, começou a latir como um louco. O meu presente, no entanto, respondeu com um “grrrrr”, apesar de ter apenas um mês. Aliás, parecia um filhote em miniatura do Urso. A mesma pelagem. Marrom e preto. Era bonito. A minha madrinha tinha me prometido um lingüicinha, mas tinha me dado ele, que não tinha raça definida. “Grande coisa, é bem mais bonito que um lingüicinha”, justificava mentalmente. E hoje acrescento: e muito, mas muito mais esperto.
Depois desse dia, eu teria que escolher o nome dele. Primeiro escolhi Bistex, porque eu gostava de comer aqueles salgadinhos de fritar, que era Bistex, e sei lá porque cargas da água ele me lembrava os Bistex. Mas não pegou. Acho que passou uma semana, e vendo um desenho que passava na TV Cultura, onde um avião passava e todos apontavam para ele gritando: Jimbo! e decidi. O nome dele seria Jimbo. Na época, até ganhei uma camiseta da tia Narinha, azul marinho, em que estava escrito Jimbo. A camiseta não sei que fim levou, mas o adesivo que veio nela ainda está colado no armário do meu quarto.
Durante anos brinquei muito com o Jimbo. Lembro que certa vez peguei um monte de entulho que tinha ali no pátio, tijolos, pedaços de madeira, lenhas e tudo mais, e construí um labirinto no pátio inteiro. Larguei o Jimbo num lado para ver se ele achava a saída. Ele chorou um pouco, mas eu o chamava, e logo ele achou a saída. Na segunda vez eu o larguei, e ele foi reto para a saída. Muito esperto esse cachorro, pensei. Com o tempo ele também aprendeu a abrir o portão do meio do nosso pátio para passar para a parte da frente. Quando saía para a rua e na volta encontrava o portão fechado, ele ficava batendo no portão até que alguém abrisse. Quando o pai e a mãe saiam, eu colocava ele para dentro de casa, ele fazia a maior folia, subia no sofá, corria pela casa, e eu sempre inventava truques para ele fazer, como aquele, do labirinto. Depois, eu ensinei ele a sentar sobre as patas traseiras. Sempre que ele parava, eu dava um pedaço de comida. Em pouco tempo, quando ele queria comida, ele parava na frente da pessoa e sentava com as patinhas. Não foram poucos os “óóó” dos visitantes aqui de casa, principalmente das mulheres. Pena que eu era muito novo naquela época....
Outra vez, numa páscoa, eu, que adoro chocolate branco até hoje, só ganhei uma barra de chocolate branco no ninho que a minha mãe me deu. O pai estava capinando no pátio, eu por ali bocabertiando com a barra de chocolate na mão e o Jimbo correndo pelo pátio, como sempre. Numa das corridas, ele me pegou bocabertiando e roubou meu chocolate. Acho que dei umas chineladas no bicho, mas fiquei sem a barra de chocolate. Lembro ainda que lidei com a casinha dele. Primeiro coloquei embaixo de um pé de limão que tinha ali no pátio. Depois, o pai ajeitou ele num minúsculo galpãozinho que tem até hoje, onde hoje reside a Pretinha. Fiquei indignado. Aquele espaço era muito pequeno para ele. Fiz um vai-e-vem até o pé de limão para ele ter mais espaço.
O tempo foi passando, eu fui crescendo, e o Jimbo também. Sempre brincava com ele. De fato, ele me conhecia melhor do que a maioria das pessoas que já passaram pela minha vida. Certa vez, cheguei de uma festa com uma certa dose de álcool na cabeça, indignado. Fui lá fora, chamei o Jimbo, coloquei a mão no ombro dele e desabafei. “Só tu me entende!”. Minha irmã abriu a janela e viu aquela cena e disse: “pobre do Jimbo”. Mas ele me ouviu, ficou olhando com aqueles olhos de bolita, como se dissesse: “isso não é nada, isso passa, você vai conseguir!”. Acho até que ele falou algo como “au au au au au!”. Compreensivo, o Jimbo.
Mas, há uns dois anos atrás o Jimbo começou a enfraquecer. Não corria mais pelo pátio como antigamente. Não ia mais para a rua dar em cima das cadelinhas com tanta freqüência. Não puxava mais briga com a guaipecada da vizinhança. Não era mais o mesmo Jimbo. Até era, mas estava velho. E de lá para cá ele foi enfraquecendo.. enfraquecendo.. enfraquecendo... até que na última terça-feira perdi o melhor presente de natal que já ganhei. Perdi um dos melhores amigos que já tive. Perdi o Jimbo, 16 anos depois. Mas um dia ainda nos veremos, Jimbo velho...

domingo, 6 de julho de 2008

Leveza


O peso de uma folha seca caindo do alto de uma árvore no outono. O impacto da pena rebelde que separou-se do corpo da pomba e caiu no chão da calçada que foi limpa há poucos instantes pela vassoura de uma senhora gorda viúva que perdeu o marido há 10 anos e que está apaixonada pelo vizinho que perdeu a esposa na semana passada. O último fio de cabelo do mais novo careca que está fresquinho no piso do banheiro. A pluma que caiu do colar da madame que passeia com seu poodle em uma tarde ensolarada de inverno. A semente que voa ao sopro de uma criança, que observa aqueles pontos brancos voando de forma desordenada como se fossem pequenos flocos de neve que não tem peso nenhum. A cabeça de um ser humano no momento em que está tomando o sétimo copo de cerveja. O cérebro de um homem após ter um orgasmo. O cérebro de uma mulher após ter múltiplos orgasmos. Uma bexiga aliviada depois de meia hora de aperto. Um estômago esvaziado após um porre de vinho. A poeira levantada pelo vento e que teima em não baixar nunca. A mãe que pega pela primeira vez aquela pequena criatura que estava em sua barriga há poucos instantes. O nevoeiro que impede o vôo das aeronaves em um aeroporto de alguma metrópole qualquer de um estado qualquer de um país insignificante. Um balão sendo jogado da mão de um pai para a mão do filho. Um movimento preciso e perfeito de uma bailarina. A acrobacia minuciosamente calculada de um artista de teatro circense. A concentração de um jogador de xadrez que vence 12 adversários ao mesmo tempo. O beijo de um casal de noivos apaixonados. O último suspiro de um cachorro agonizante após 20 anos de vida bem vivida. O sorriso de um velho bêbado na porta de um bar por ver a vida se exibir diante de seus olhos. Uma folha de papel carbono que vai ao chão em um escritório de advocacia de uma cidade interiorana. A carta do namorado que está na guerra. O olhar cúmplice da mãe no momento em que o filho recebe o diploma. O sorriso da esposa que após 20 anos de casados recebe um buquê do marido. A alegria do marido ao ver o sorriso da esposa. O entusiasmo da criança que procura o ninho de páscoa na madrugada de domingo. Os nervos do aluno antes de apresentar a monografia e o alívio ao dizer a última palavra de sua explanação. A música que toca no bar. O casal dançando. O gozo na cama. A alegria na vida.
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É mais ou menos assim que estou me sentindo nesse mês de julho após todas as leituras, trabalhos, viagens semanais, apertos no peito, angústias e ansiedades vividas nesse primeiro semestre. Até o final de julho, é assim que vou continuar me sentindo e em agosto tudo recomeça, em um ciclo sem fim. Mas em dezembro tem mais. Ah, tem muito mais. E viva a leveza da vida! E viva o amor! E viva la revolución!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Tu vês!


Tenho um amigo meu carioca, o Vinícius Longo, e ele torce para o Fluminense. Lembrei dele ontem, assistindo a final da Libertadores. Final histórica, diga-se de passagem. Geralmente as finais só são lembradas pelos torcedores dos seus clubes e pelos fanáticos por futebol. Mas a de ontem não. Eu disse NÃO, nobre leitorinho. A de ontem foi realmente histórica, e daqui a muitos anos ainda vai ser lembrada e comentada. A do Grêmio, que eu estava lá, nas cadeiras do Olímpico como picareta, com crachá da Rádio Gaúcha e tudo (cara-crachá-cara-crachá) contra o Boca não foi tão histórica. A do Inter contra o São Paulo, idem. A do Grêmio contra o Nacional, também. As do bi-campeonato do São Paulo, talvez. E a do tri do tricolor paulista, não teve nem graça. Os colorados e são-paulinos que me desculpem, mas decisão de Libertadores tem que ser contra times castelhanos. Por castelhanos entenda-se o resto da América (menos o México, não deve ter graça ganhar uma final contra um time mexicano).
Já a final do Fluminense, ontem, também não seria histórica se o time carioca tivesse vencido. Seria simplesmente comum. O craque do time marca três gols, a equipe se supera, a torcida vibra o tempo inteiro, faz uma linda festa, os jogadores suam sangue para tirar uma vantagem de dois gols e levar o jogo para os pênaltis, mas chega nas penalidades e o mesmo craque do time faz o seu, o artilheiro guarda o seu também, o reserva de luxo também, e os donos da casa são campeões. Não tem graça nenhuma. Mas como o craque do time perdeu o pênalti, como o reserva de luxo também, e o herói das fases anteriores a mesma coisa, ai o jogo tornou-se histórico!
É como a vitória do Uruguai contra o Brasil na final da Copa de 50. Se o Brasil tivesse aplicado uma goleada, tudo bem, até seria lembrado: o título brasileiro conquistado no Maracanã. Mas, seguindo a minha linha de histórias macabras, o histórico fica mais histórico quando entra o inesperado. A surpresa. O inimaginável. O fantasmagórico. A tragédia grega. Enfim, quando se espera tudo dos heróis, e eles chegam lá e simplesmente fazem uma linda cagada que fede mais do que a água do esgoto que alagou a minha segunda casa no sábado passado, exatamente como fez o Tiago Neves.
Por um momento, vou entrar no mérito da partida. Análise simples. A torcida do Fluminense reclamou pênalti em Washington. Bom, vamos analisar com frieza. Levando em conta que na decisão por pênaltis de quatro cobranças feitas o goleiro equatoriano pegou três e só levou um gol, é bem possível que o Fluminense não marcasse naquele momento. Agora, no final da prorrogação, aquele gol anulado da LDU não tem explicação. Seria um gol ultra-histórico. Não lembro de um gol tão importante sendo anotado aos 15 minutos do segundo tempo da prorrogação. Mas tudo bem, tricolores cariocas, incluindo meu amigo Vinicius. Não me xinguem. Eu torci muito para o Fluminense. Vibrei nos gols do tricolor. Sofri nos pênaltis. Xinguei o goleiro da LDU, mas não adiantou. Só uma vez tinha torcido tanto para outro time que não era o Grêmio: quando o Cruzeiro jogou contra o Palmeiras na final da Copa do Brasil de 96. O time paulista eliminou o meu tricolor nas semifinais numa roubalheira sem fim e sem fundamento, e na final torci para o Cruzeiro como se fosse o Grêmio. Pulei, gritei, vibrei, berrei com os gols do time de Minas. Enfim, lavei a alma.
E dessa vez, torci muito para o Flu. Foram épicas as classificações diante de São Paulo e Boca. A LDU era só um figurante no título poético do Fluminense. O problema é que não avisaram os equatorianos, e eles entraram no palco achando que eram os atores principais. E por acreditarem que eram os atores principais, acabaram se tornando as estrelas da final. E agora, enquanto a LDU vai para o Mundial Interclubes, o time de Renato Gaúcho foi literalmente do céu para o inferno. Ficou sem Libertadores, sem estadual, sem Copa do Brasil (pois nem disputou, colunista idiota) e a única coisa que sobrou foi a lanterna do Brasileirão. O time que sonhava em ser campeão do mundo, agora sonha em não cair para a Segunda Divisão. Que coisa. Que coisa.
Ah, e o meu amigo carioca? Esqueci ele lá no primeiro parágrafo. Pois meu amigo carioca, lembrei dele porque é um torcedor do Fluminense, mas não é nenhum daqueles fanáticos. Não me surpreenderia se ele me dissesse que sequer assistiu a final pela televisão. Tem pessoas que não são tão sensíveis com as tragédias futebolísticas. Como disse antes: que coisa, leitorinho, que coisa. Ou como diria meu irmão: tu vês!