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terça-feira, 29 de maio de 2012

Milk

sábado, 26 de maio de 2012

Procura-se

Ontem tive uma experiência traumática. A essa altura da vida, já perdi dinheiro, já perdi guarda-chuva, já esqueci boné em ônibus, já esqueci até um mini-rancho em um táxi, e nunca liguei muito para essas perdas meramente materiais. Também já perdi coisas mais sérias como uma namorada, um ônibus ou um jogo do Grêmio. Mas ontem, exatamente ontem, perdi um livro. Porém, não era um livro qualquer. Trata-se de Opinião Pública, escrito em 1922 pelo jornalista e pesquisador americano Walter Lippmann, e republicado em 2011 pela editora Vozes, com tradução do meu professor Jacques Wainberg. Comprei esse livro no início do ano, na Vanguarda, aqui em Pelotas. Paguei, se não me engano, algo como R$68. Para alguém na situação em que me encontro, isso é uma fortuna. Para terem uma idéia, em Porto Alegre, dia desses, fui pegar um ônibus e quando fui conferir quanto tinha na carteira levei um susto, ou, um cagaço, como dizem aqui no Sul: R$2,80. A passagem é R$2,85. Só que meus R$2,80 eram todos em moedas, e moedas de pouco valor, como de 5 e 10 centavos. Pensei: “O cobrador não vai se dar ao trabalho de contar quanto lhe entreguei”. Pois é, arrisquei e, para minha sorte, o ônibus estava lotado. Dessa forma o cobrador realmente não contou minhas moedas e passei pela roleta devendo 5 centavos. Já noutro dia tive que escolher: ou almoçava com refri e voltava a pé para casa, ou não tomava refri e pegava o busão. Minhas lombrigas falaram mais alto e almocei com refri. Resultado: voltei a pé da PUC, no Partenon, até a Venâncio Aires com José do Patrocínio, na Cidade Baixa. Exatamente uma hora e 20 minutos de caminhada logo depois do meio-dia. Enfim, tudo isso para você, astuto leitor, perceber que não estou em condições de perder um livro de R$68. Isso é praticamente uma tragédia. Ou melhor, no meu caso, foi uma tragédia. Explico-me. Além de perder um livro de valor (tanto no sentido econômico quanto no de conteúdo), eu estava lendo o texto exatamente na página 110 (o livro tem, se não me falha a memória, umas 350 páginas). Tinha acabado de ler o capítulo em que o autor fala sobre “estereótipos”. Só pelo que eu li, sei que usaria esse livro, no mínimo, para: 1) usar nas minhas aulas como professor; 2) usar no meu artigo para a disciplina de Ética e Normatividade; 3) usar na minha resenha crítica para o seminário que eu estava fazendo no momento em que perdi o livro; 4) usar na minha tese de doutorado; 5) usar para futuros trabalhos acadêmicos. Quando vi que tinha perdido o livro, tentei me acalmar, fui à biblioteca ver se tinha alguma edição disponível. Que nada. Tem dois ou três exemplares, todos retirados e todos reservados para as próximas semanas. Pensei em procurar na Estante Virtual uma edição mais barata: nada, o preço mais barato é R$67 para essa edição de 2011. R$1 a menos do que eu paguei na livraria. Enfim, até agora não me conformei com o ocorrido.
Quando olho para a estante com aquele pequeno buraco no meio de outros livros, irmãos seus, meu peito é tomado por um vazio e uma angústia toma conta do meu ser. Fico me perguntando: onde estará? Estará feliz sendo lido por outros olhos? Estarão lhe tratando bem? O seu novo dono vai ler o livro na íntegra como eu iria ler, ou vai apenas colocá-lo na estante para mostrá-lo às visitas? Ou será que seu novo dono vai repassá-lo para algum sebo para tirar algum trocado para comprar crack? Dúvidas, dúvidas, angústias... Encerro, contando como aconteceu o ocorrido. Eu estava sentado nas cadeirinhas que tem perto da entrada do prédio da Famecos, aquelas que ficam ao redor de um círculo de cimento onde as pessoas colocam os pés em cima. Pois é, eu estava exatamente assim: todo esticado, lendo o livro com as pernas estendidas naquele círculo. Foi quando apareceu a minha orientadora do doutorado, Beatriz Dornelles. Eu larguei o livro no banquinho do lado e fiquei conversando com ela. Assim que ela se despediu, tocou o telefone e eram meus pais que estavam chegando para dar uma carona para a minha mala até Pelotas. Sim, eu estava de mala na PUC, e meus pais iriam de carro até Pelotas, então, mandei minha mala por eles para pegar o ônibus mais leve de noite. Pois é, peguei a mala e minha mochila com o material do seminário e fui para a frente da PUC esperá-los. Eles chegaram, despachei a mala e, quando voltei, fui pegar o livro para ler novamente e então me dei conta: cadê o livro? Procurei em todos os lugares possíveis e imagináveis, perguntei para a mulher do bar da Famecos, fui no DA, fui na secretaria da graduação, na secretaria do pós, nos laboratórios, e nada. Ele simplesmente sumiu. Ou seja, certamente alguém se apropriou ilegalmente dele. Pior que tem minha assinatura numa das primeiras páginas. E tem parágrafos sublinhados, marcados, anotações, rabiscos, desenhos... Chega, chega. É muita angústia. Vou tentar esquecê-lo um pouco. Tragam o vinho! Fui!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Popularização ou vulgarização do conhecimento?

Estava contabilizando o número de cursos de jornalismo existentes no Rio Grande do Sul. Contei, sem dificuldades, 21 cursos. Creio que não esqueci nenhum, mas vamos lá: UFRGS, UFSM Santa Maria, UFSM Frederico Wetsphalen, UFSM Palmeira das Missões, PUCRS, IPA, Ulbra, Unisinos, Feevale, UFPEL, UCPEL, Unipampa, Unifra, Univates, Urcamp, UCS, UPF, Unijuí, Unicruz, Uniritter e ESPM. O que me chama a atenção nesses números é que, ao mesmo tempo em que se aumentou bastante o número de cursos e, consequentemente de alunos e de formandos por semestre, o aumento no número de vagas para profissionais no mercado de trabalho e de vagas para pesquisadores com bolsas em cursos de mestrado e doutorado não cresceu nas mesmas proporções. E, diante disso, corre-se o risco de termos no Jornalismo, e em outras áreas do conhecimento, o mesmo fenômeno que há um bom tempo já temos nos cursos de Direito: uma vulgarização do conhecimento e uma desvalorização da profissão e da ciência. Anos atrás, o sujeito que entrava em um curso superior qualquer era O CARA da família. E a maioria procurava o curso de Direito. Até porque, antes do surgimento dos cursos de Jornalismo, as redações eram formadas praticamente por bacharéis em Direito, que também trabalhavam em outras áreas afins. Agora o sujeito procura um curso de Direito para fazer um concurso para qualquer coisa para “estar feito na vida”. Um colega meu do doutorado, que cursa comigo uma disciplina de Filosofia, contou como funciona a coisa. No primeiro dia de aula, o professor pergunta quem está fazendo Direito para atuar na advocacia. Meia dúzia levanta a mão. Pergunta quem pretende seguir no mundo da pesquisa, no meio acadêmico. Dois ou três levantam a mão. Pergunta quem pretende ser procurador, promotor, juiz etc. Outra meia dúzia levanta a mão. E então pergunta quem pretende fazer outro concurso público para ser servidor em qualquer coisa: quase a turma inteira levanta a mão. O sujeito faz Direito para ser policial, para ser investigador, para ser assessor de alguma coisa e até para ser faxineiro do Senado, com salário inicial de uns três paus. Ou seja, cadê a valorização do conhecimento dentro das universidades de Direito? Cadê a pesquisa? Cadê os debates? É claro que esse quadro não é uma unanimidade, mas, sinceramente, através dessa “popularização” do conhecimento e do estudo, tem-se uma falsa massificação do conhecimento, pois o resultado disso é uma formação precária, e em patamar de currículo igual, de alunos que estudam e se preparam com o de alunos que passam, literalmente, “nas coxas”, para trabalhar em qualquer coisa. O aluno alega: “não preciso saber disso, pois estou fazendo Direito para ser policial”, e o professor acaba relevando o argumento do aluno e acaba passando o cara com a nota mínima. Não se tem mais a visão de que se o cara vai ser bacharel em Direito ele tem que saber sobre TUDO relacionado à profissão, assim como não se tem mais a ideia de que o sujeito para ser jornalista, mesmo que ele pretenda trabalhar em TV, deve saber sobre TUDO relacionado ao Jornalismo (história, legislação, normas de redação, etc). No Jornalismo, entretanto, essa popularização acaba não funcionando tão bem na prática, pois se o pessoal do Direito que não estuda ainda consegue passar em um concurso para segurança de alguma Assembleia Legislativa, o pessoal do Jornalismo acaba tendo que abandonar a profissão para ir trabalhar em outras áreas (comércio, panfletagem, cozinha, etc). Enfim, o resultado desse falso-investimento em educação é, dentre outras coisas, uma desvalorização das profissões, uma vulgarização do conhecimento, uma visão distorcida da realidade onde muitos pensam que é melhor fazer um curso X porque paga melhor do que ser um bom profissional em um curso Y. E, voltando à questão do Direito, tem-se um problema ainda maior, pois qualquer reforma política ou social, no Brasil, perpassa pelo Direito. O Brasil é um país extremamente dependente de uma Justiça (que na prática não existe) que acaba atuando, literalmente, como o grande pai da sociedade. Aliás, até nesse processo de escolha do Direito para seguir carreira como servidor público se tem essa relação paternal entre Estado e sujeito. O estudante-padrão da maioria dos cursos é o cara de classe média (ou classe alta) que sempre foi sustentado pelo pai. Se forma, e ganha de presente um carro por ter concluído essa etapa da vida. Cedo ou tarde, o pai se cansa, ou morre, ou coisa parecida, e o sujeito precisa achar um outro pai que lhe sustente. E quem é esse pai substituto? O Estado, obviamente. É por isso que eu não caio nessa lorota de que o Brasil está se tornando a sexta economia, que é um pais “emergente”, “em desenvolvimento”. O Brasil é um país atrasado e que para se tornar em desenvolvimento ainda tem que correr muito atrás da Europa e dos Estados Unidos nesses dois aspectos: 1) substituição do poder do Estado por um poder organização cultural, que esteja na raiz da sociedade, e não em uma Constituição que ninguém respeita; 2) na seriedade da pesquisa e da ciência. Enquanto os cursos de graduação formar jornalistas apenas para serem patetas que querem aparecer na televisão ou bacharéis de direito que querem fazer concurso público para vigia do pai Estado, a coisa não vai evoluir. Enfim, teria muito mais a escrever sobre o assunto, e se o paciente e preguiçoso leitor conseguiu chegar até aqui, por favor, deixe seu comentário. Hasta!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Run, Forrest! Run!

Estava eu de bobeira na minha irmã, segunda de noite, quando na falta do que fazer, peguei o DVD do Forrest Gump para assistir. Eu havia assistido esse filme, se não me engano, em 1995, na casa do Anônimo (aquele mesmo, que tem vergonha de ter o seu nome citado nesse humilde blog). Pois é, há exatos 17 anos. Uma vida, praticamente. Assisti um pouco para treinar o inglês, e outro pouco para ver se a impressão que eu tinha de que esse era um baita filme era verdade ou uma falsa-memória. Estão ligados nas falsas memórias? Aquelas em que você vai mudando a realidade com o tempo até se criar uma memória que não tem nada a ver com o que aconteceu. Então, fui fazer o teste com o Forrest Gump. Foi então que aconteceu um processo curioso em meu cérebro. Eu já cheguei a assistir filmes inteiros e só no final me dar conta de que eu já tinha visto aquilo. E esse não foi o caso com o velho e bom Gump. Nesses 17 anos que separam o longínquo 1995 de 2012 eu não re-assisti ao Forrest Gump. Achei que não ia lembrar patavinas. Mas desde as primeiras cenas eu sabia o que ia acontecer na sequência. Inclusive, lembrava, em alguns casos, de falas inteiras. Tu vês. Foi então que conclui: esse realmente é um baita filme. Um desses que você assiste e, se pegar 20 anos depois para revê-lo, vai se lembrar de cada cena, de cada detalhe. E, depois de assisti-lo novamente, passo a crer que, de fato, esse é o melhor filme que já vi. Está certo, tem algumas cenas criticáveis, alguns clichês hollyoodianos, entretanto, acho que é o melhor por ter sido o que mais me marcou. Também vou poupar vocês de narrações sobre o enredo, pois acredito que praticamente tudo o que tinha para se falar desse filme, em termos de crítica cinematográfica, já foi falado. Enfim, no outro dia, na terça de tarde, enquanto ia de busão para a PUC, fiquei pensando: acho que me identifiquei tanto assim com o filme porque sou meio Forrest Gump. Sou meio desligado, meio ababelado, como diria o Anônimo, e às vezes faço as coisas sem muita noção, ou melhor, faço coisas sem noção. Às vezes isso é bom, pois não enxergo muito limites de até onde posso ir. Às vezes é ruim. Mas não sei quando é ruim. Não consigo pensar em nada muito ruim em não enxergar limites, tipo o Forrest, que saiu para correr por aí por mais de três anos. Se alguém gosta de correr e
consegue resistir tanto tempo, por que não correr? Talvez haja alguma falha biológica em meu cérebro que não me permite ver isso. Enfim, vá saber. Ah, e outra (que não tem nada a ver com o resto do texto): peguei para ler o 1933 foi um ano ruim, do John Fante. Já tinha lido o Pergunte ao Pó e o Sonhos de Banker Hill, que são muito bons. E, assim como os dois primeiros, o 1933 também é um puta livro, e um puta livro de 100 páginas, que você lê em, no máximo dos máximos, três tardes. Por hora é isso. Hasta!

sábado, 5 de maio de 2012

Periquitada maluca

Tenho dois periquitos malucos. Quer dizer, eu não. Dei-os de presente para a minha Bilulinha. Levei ela para escolher os bichos e acabamos pegando os dois que mais se movimentavam na gaiola da loja, pois não queria pegar um bicho velho, que não canta, e que pode bater as botas a qualquer momento. Investi na juventude aviária. Pois eis que, aos poucos, fui percebendo como os dois não batem bem da cabeça. Primeiro, vi a periquita (sim, são um casal), que é a verde com cabeça amarela, querendo fazer um ninho no pote de comida. A desgranida entra no pote e fica lá rebolando, e não descansa enquanto não joga toda a comida para fora. O detalhe é que a gaiola fica pendurada na janela da sala, então, a comida toda cai em cima do carpete. Na primeira vez que vi, peguei o aspirador para limpar o troço todo. Quando acabei o serviço, estava tudo bem limpinho, ela sentou-se bem bela no pote novamente e começou a dançar como uma Valeska Popozuda. Eu a xinguei, mas ela nem deu bola. Depois, foi a vez da casinha deles. Pois é, são chiques, tem uma casinha de madeira e tal e coisa, para curtirem uma privacidade e tal. Os dois malucos ficaram uns três dias sem chegar perto da casinha. Foi então que a patroa teve a brilhante idéia de colocar um lápis como poleiro, em frente ao buraco de entrada do recinto. E eis que eles gostaram e, em pouco tempo, estavam entrando e saindo da casinha, como dois belos pássaros (que aliás, são). Passou o primeiro dia da descoberta da casinha, a periquita até tinha acalmado os ânimos em relação ao pote, quando, no segundo dia, os dois se enfiaram, no meio da tarde, dentro da casinha. Estava eu sentado no sofá da sala, assistindo o Cocoricó, enquanto a Bilula arrastava as panelas da cozinha para o meio da sala para fazer barulho e bagunçar, quando a tal casinha começou a chacoalhar. Ergui uma sobrancelha e fiquei na dúvida: será que deixo eles se divertirem ou bato para pararem com essa sem-vergonhice no meio da minha sala? Acabei deixando. E passou-se um bom tempo, meia hora, uma hora, duas horas... e nada dos dois saírem da casinha. Quer dizer, de vez em quando, de meia em meia hora, eles saíam para tomar água, dar uma ciscada na ração, e literalmente voltar para o seu ninho do amor.
Mas, até para os periquitos a fase do “só love” passa. E eis que hoje, logo depois do almoço, os dois estavam brigando. E o negócio era sério. Bicavam-se raivosamente e um se jogava em cima do outro, tentando atingir o desafeto com as garras. Qual terá sido o motivo da briga? Será que o periquito (o amarelo) olhou para alguma periquita que passou voando graciosamente pela janela? Ou será que a periquita ta na TPM (nesse caso, não precisa haver um motivo para ter uma briga)? Enfim, vá entender esses bichos. Se não entendo nem as mulheres, como vou entender as periquitas? Enfim, o fato é que, apesar da maluquice, a Bilula gosta dos bichos. Na primeira noite, quando estávamos todos prontos para dormir, ela se levantou e foi até a lavanderia (que é onde o casal pernoita) para espiá-los. E no outro dia, ao levantar, a primeira coisa que ela fez foi ir ver os dois. Aliás, por falar nos ditos, estou ouvindo um barulho estranho na lavanderia. Vou lá ver o que é agora...