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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Outro belo poema de minha autoria

Vi uma mulher que não era mulher
Entrando num carro que não era carro
Mas onde havia um homem que era homem
Que julgava possuir a mulher que não era mulher
Mas ninguém consegue possuir a mulher que não é mulher
Simplesmente porque a mulher
Não é mulher

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Olha o palhaço!!

É impressionante como o ser humano, em especial os brasileiros, tem vocação para ser palhaço. Apesar do mega volume de informações que circulam pela internet com denúncias de corrupção, abusos de autoridade, injustiças cometidas pela “Justiça”, falcatruas feitas por debaixo dos panos com os caras de pau mentindo descaradamente para os veículos de comunicação, nada acontece e ninguém faz nada. Prestei-me a comprar uma revista semanal de notícias nessa semana para me informar mais sobre o fantástico mundo tupiniquim. A revista escolhida foi a Época.
Tudo bem, não chego a ser ingênuo ao ponto de dizer que tudo o que está na revista ou na imprensa ou na mídia ou nas redes sociais é verdade. Mas, em alguns textos, há fatos públicos, que todos sabem, com o acréscimo de alguns comentários pertinentes que me fizeram ficar pensando: nossa, como somos palhaços.
Comecemos pelo absurdo do absurdo. Na página 52 da revista tem uma matéria com o título “Extravagância amazônica”, que aponta uma denúncia de que no Amapá, um dos estados mais pobres do país, cada deputado ganha R$100 mil por mês, além do salário, para gastar com seus mandatos. Para se ter uma idéia do absurdo da coisa, o segundo estado que mais gasta é Alagoas, do nosso querido Collor (aquele mesmo que passou a mão na sua poupança descaradamente) com R$39 mil. Já São Paulo, que é onde seria até mais justificável ter um gasto maior, o valor é de R$20 mil. A lista vai até Pernambuco, com R$11.500. O Rio Grande do Sul, por exemplo, nem aparece. Agora, por que diabos um deputado do Amapá precisa de R$100 mil para gastar no seu gabinete?? Não há justificativa para isso. E, na matéria, está estampada a cara deslavada do deputado Moisés Souza, que dobrou a verba, que já era absurda: R$50 mil. Pensem vocês no que vocês fariam com esse dinheiro por mês? Isso que nesse valor não está incluído o salário dos nobres deputados. Agora, pensem no que uma família miserável do Amapá, que conta com seis, sete, dez pessoas, faria com 1/10 desse dinheiro por mês? Pensem em quanto poderia ser elevado os salários dos professores, em quantas obras poderiam ser feitas com esse dinheiro todo em um ano? Ou melhor: não pensem mais. Não pensem senão vocês vão sentir vontade de pegar uma metralhadora e invadir a Assembléia Legislativa do Amapá, atirando em todos os seres engravatados que por lá se encontram.
Outro texto da revista que me fez ter certeza do quanto somos palhaços é o “A CPMF é vital para a saúde (dos companheiros)”, do Guilherme Fiuza, aquele mesmo que escreveu o livro, que virou filme, Meu nome não é Johny. Enfim, ele questiona, em uma grande revista, o óbvio: como o governo tem a cara de pau de dizer aos brasileiros que eles devem contribuir mais com impostos enquanto são gastos milhões em comerciais na rede Globo, como por exemplo, aquele em que o MEC defendia os livros didáticos com erros de português, e enquanto o próprio Tribunal de Contas divulga que foram desviados R$2 bilhões da SAÚDE nos últimos nove anos (como destaca o Johny, isso sem contabilizar o que o Tribunal não contabilizou). Para além desse fato, dias atrás saiu uma matéria na Revista Exame, apontando que são desviados cerca de R$50 bilhões por ano no Brasil...
Enquanto essa zona toda acontece o nosso querido povo tupiniquim enche um estádio com quase 100 mil pessoas para ver 22 caras sem caráter, como o Ronaldinho Gaúcho, correndo atrás de uma bola. E, enquanto esses 100 mil estão no estádio, meia dúzia de gato pingado está protestando todos os dias em Brasília por algum motivo (aliás, motivo é o que não falta). O dia em que 100 mil se mobilizarem para protestar em Brasília e “derrubarem reis”, como diz a letra do Geração Coca-Cola, o mundo termina. E isso nunca vai acontecer porque a geração Coca-Cola está muito ocupada tomando Coca-Cola, vendo novela, coçando o saco, etc.
Mas, como nem tudo está perdido no circo chamado Brasil, temos o futebol para nos desestressar. E, na onda de comprar revistas, comprei a revista da ESPM. Nela tive que rir ao ler o Messi dizendo, em entrevista, que não viu o Pelé jogar e que “não me faz falta”. Coitado. Quando ele pegar o documentário do Pelé Eterno para ver vai descobrir que não joga grande coisa, pois lá tem imagens do Pelé destruindo o Boca e os argentinos na Bombonera. Os gringos arrancam o calção do negão e nada de parar ele, que dribla o time todo e solta uma bomba pra dentro do gol. O que Messi faz é fichinha, comparado com que fez o Pelé.
Porém, o mais engraçado foi na matéria sobre as histórias das chuteiras imortais. É a legítima tragi-comédia dos palhaços brasileiros. O Tupãzinho, por exemplo, conta que ainda tem a chuteira do gol do primeiro título nacional corintiano (1 a 0 no São Paulo em 1990). Porém, como ele está sem grana, ele quer leiloá-la por lance mínimo de R$10 mil. Mas, como o que está pior sempre pode piorar, o ídolo corintiano perdeu a tal chuteira: “Preciso achar a chuteira. Jogador muda muito, vai de um lado para outro e não sei onde a chuteira foi parar. Mas vou achar”.
As bizarrices das chuteiras imortais não param por aí. O nosso Aílton, autor do gol do título nacional do Grêmio em 1996, num chutaço contra a Portuguesa, conta que, após usar várias vezes aquelas chuteiras, acabou dando um fim trágico a elas: “Cheguei a costurar o que estava rasgado, até um dia que não dei mais. Joguei no lixo, infelizmente”. Mas, antes dos colorados darem risada, eles devem ler a história da chuteira do Gabiru, a que ele usou na final do título mundial contra o Barcelona. Ao ser questionado se daria o almejado objeto para o museu do Inter, veja o que ele respondeu: “A chuteira é minha, está na minha casa. Por que eu iria dar para o museu do Inter? Fui eu que comprei com o meu dinheiro”.
A história mais tosca, entretanto, é a da chuteira do Edmundo que ele usou nos históricos 4 a 1 aplicados pelo Vasco contra o Flamengo, na reta final do Brasileirão de 1997. Não vou nem explicar, só vou transcrever o que ele disse: “Eu e a Adriana, minha ex-mulher, que admiro muito, brigávamos bastante. Em uma dessas brigas, eu saí de casa, mas não levei nada porque achei que a gente ia voltar logo. Só que não deu certo. A separação foi definitiva e as chuteiras ficaram com os meus filhos”. Porra. Já o goleiro Galato, que defendeu o pênalti na batalha dos Aflitos contra o Náutico em 2005, conta que estava guardando as suas luvas daquela partida, até que as roubaram em uma pelada. “Me roubaram as luvas. Lavadinhas. Nunca mais vi”. Claro que a matéria também traz algumas histórias de chuteiras históricas bem guardadas, mas essas não têm graça. O que me interessa é o tragi-cômico da história dos palhaços tupiniquins.
Hasta!

Cartola Futebol Clube


A cena é cada dia mais comum. Você está vendo a um jogo do Grêmio ou do Inter em um bar, ou até mesmo no estádio, e o adversário faz um gol. Em meio a lamentações, alguém comenta por perto: “bom, pelo menos eu tenho esse cara no Cartola”. Pois é. Não importa a cidade ou estado, não importa a idade dos torcedores, jogar o Cartola Futebol Clube, um joguinho disponibilizado pela Sportv na internet, virou febre nacional. Não sei em que ano começou, mas eu estou na segunda temporada. Confesso que atualizo meu time toda a rodada, mas não faço as famosas pesquisas de mercado. Na competição nacional, estou na posição 299.133°. Um avanço, pois sempre ficava lá pela 500.000°. Já na liga que os meus alunos da UFPEL criaram, entrei na lanterna, mas já saltei para o 11° lugar, de um total de 20 e poucos. Cheguei a estar em 9°.
Nessa semana, conversei com dois amigos meus que são viciados. Um está na posição cento e alguma coisa na classificação nacional. Tem quase C$300,00 em caixa. Pode comprar quem quiser. Invejo esse cara. Porém, ele faz pesquisas, analisa o mercado, tem conhecimento sobre o assunto. Sabe, por exemplo, que o Leo Gago, do Coritiba, chuta bastante a gol, o que, segundo ele, vale alguns pontos. Por isso não consigo evoluir. Não me especializei no mercado cartoliano. Tem jogadores que, por mais que sob o ponto de vista do torcedor jogam bem, fazem poucos pontos no Cartola. Por isso, é muito difícil ganhar sem investir em conhecimento. Meu time hoje vale míseros C$103,41. A escalação para esse final de semana é: Felipe (Avaí); Ed Carlos (Grêmio), João Filipe (São Paulo) e Micão (América-MG); Paulinho (Corinthians), Escudero (Grêmio), Lucas Zen (Botafogo) e Marquinhos (Grêmio); Borges (Santos), Loco Abreu (Botafogo) e Washington (Ceará). Técnico: Jorginho (Figueirense). Um time fraco, admito, mas o possível de montar com o dinheiro que tenho.
Durante o campeonato cheguei a ter Ronaldinho Gaúcho, Leandro Damião, Montillo, Neymar, Victor e outros. Mas, sempre que tinha as estrelas, o resto do time era pífio. Se eu dedicasse tempo a pesquisar o mercado cartoliano, certamente estaria com um time muito melhor. E é isso que parece acontecer há anos com as sucessivas diretorias do Grêmio: falta de conhecimento de mercado. As contratações feitas a cada início de temporada são de gosto e eficiência duvidosos. Jogadores medianos e falsos craques são contratados e apresentados como os Messias futebolísticos (se fossem meio Messi já estava bom). Entram em campo e decepcionam o torcedor. Digam-me, caros leitores, quem nesse time do Grêmio poderia ser titular no Inter, por exemplo? Victor, um nome incontestável, tem falhado com uma freqüência assustadora. Na zaga, ninguém se salva. O sistema defensivo gremista é um baile de arromba para os adversários. Talvez daria para colocar Mario Fernandes na lateral-direita. Os volantes são tão meia boca quanto os colorados. Os meias gremistas também não estão jogando o suficiente para disputar posição com um D’Alessandro e um Oscar. No ataque, nem se fala. O ataque gremista é uma piada. O segundo pior do campeonato.
De fato, nesse ano o Grêmio está no Brasileirão exatamente como eu estou no Cartola Futebol Clube: jogando por jogar. Sem chances de brigar por vaga na Libertadores ou título, mas também relativamente longe das últimas posições.
Um bom final de semana a todos, de preferência, mais animado do que as campanhas da dupla Gre-Nal no Brasileirão.

* Texto publicado no Jornal das Missões de amanhã.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Sonhos enigmáticos

Às vezes vejo a minha Bilula dormindo e fico pensando no que ela estará sonhando. Às vezes ela faz cara de medo, às vezes fica eufórica, às vezes dá risada. Tudo dormindo. Pois, após dez meses e meio de convivência com ela do lado de fora da barriga, começo a especular sobre os seus sonhos. Imagino que, quando ela fica muito agitada, pulando, feliz da vida, ela está sonhando com um cachorro. Ou au-au, como ela diz. Basta ela ver um ser canino que entra em estado de êxtase, esperneia, grita, pula, faz uma verdadeira festa. De repente, em seus sonhos infantis, ela está cercada por au-aus, de todas as raças e cores, de todos os tamanhos e humores, au-aus brabos, felizes, tristes, alegres, mansos e bravos. Então, em meio ao sonho, ela conversa com todos eles, na Cachorrópolis imagética. Ela brinca, corre atrás deles, puxa o rabo, a orelha, a língua, os dentes, morde, assopra, faz folia, diz au-au... Esse é um sonho feliz para a minha Bilulinha.
Já quando ela chora ou resmunga enquanto dorme, aparentando ter medo, imagino que ela sonha que chegou ao consultório médico. Basta ela entrar na sala da pediatra, que ela abre aquela boquinha e literalmente põe a goela no mundo. Basta ver a médica de longe que chora por 10, 15 minutos, até meia hora, ininterruptamente, a todo o volume. E não se cansa. Não para. Chora, chora e chora. Escorrem litros de lágrimas de seus olhinhos e os seus berros atingem os mais altos níveis de decibéis. Quem sabe, nos seus sonhos fantásticos, ela está comendo brócolis (sim, a comida preferida da minha Bilula, do alto dos seus 10 meses de idade, é brócolis) quando a doutora chega e, após soltar uma risada maquiavélica, ao melhor estilo bruxa de histórias da Disney, toma, sem dó nem piedade, um cacho de brócolis das mãozinhas minúsculas e indefesas dela. Então, ela chora, chora e chora. É um pesadelo...
Outra possibilidade de sonho é justamente a que ela está comendo brócolis. Ou melhor, está em meio a uma plantação infinita de brócolis. É brócolis que não acaba mais. Então, ela engatinha por meio da plantação, dizendo “tatatata, papapapapa, bababababa”, enquanto colhe um brócolis aqui, outro ali, para degustá-los tranquilamente.
Outro sonho recorrente, imagino, é quando ela está andando de caixinha de papelão. Provavelmente, em sua imaginação criativa, ela está em meio a uma corrida de caixas de papelões, com outros bebês. Ela lidera o GP de Cachorrópolis, que conta com milhares de cães nas arquibancadas, quando, de repente, o Bernardo, o vizinho aqui do lado, a ultrapassa na curva antes da reta final. Porém, quando ele assume aponta, ela liga o seu turbo-vovô e saí a mil, ultrapassando o Bernardo na reta final, vencendo o Grande Prêmio de Cachorrópolis. No pódio, ela abre a sua mamadeira cheia de leite e dá um banho nos outros bebês, antes de tomá-lo...
Enfim, enquanto fico tentando adivinhar os sonhos da minha Bilulinha, fico curtindo essa fase maravilhosa, que merece ser aproveitada a cada segundo, pois, o tempo nunca volta atrás. Como sempre, já sinto saudades antes que essa fase passe...
Hasta!

domingo, 18 de setembro de 2011

Altos e baixos de Satolep

Estou morando em Pelotas há dois meses. Já me acostumei com o vento, com a umidade e com o clima mais frio do que o da minha região (as Missões). Também já conheci a torcida Xavante dando espetáculo no Bento Freitas, já vi um Bra-Pel, já senti que o povo daqui gosta muito de pagode e de cães. Também já percebi que os pelotenses valorizam a literatura, inclusive, participei com muita honra da reunião da Academia Pelotense de Letras, na última quinta-feira. Tive a felicidade de conhecer a presidente da entidade, Zenia De Leon Soares, e outros acadêmicos, que me deram uma mini-aula sobre literatura pelotense e literatura e história em geral. Já li o Satolep, do Vitor Ramil, e já estou louco para ler o Pelotas - Casarões Contam Sua História, da própria professora Zenia. Aliás, já admirei os muitos prédios antigos e históricos da cidade, que são encantadores, principalmente para quem gosta de arquitetura e de história.
Enfim, tenho muitos elogios a fazer para Pelotas e aos pelotenses. Entretanto, nem tudo é mar de rosas. Percebi que o comércio da cidade é muito forte, empregando milhares de pessoas que atendem ao borbulho de consumidores que se aglomeram pelo centro diariamente. Porém, talvez pelo excesso de demanda, ou por falta de preparo mesmo, até o momento estou considerando o atendimento em boa parte dos estabelecimentos comerciais como verdadeiras comédias circenses, onde você, consumidor, é o palhaço da história. E o mais curioso: muitos deles têm a cara de pau de descumprir o que está no Código de Defesa do Consumidor exibindo um cartaz onde está escrito: aqui você pode consultar o Código de Defesa do Consumidor.
Inclusive, poucas horas antes de escrever esse texto, aconteceu algo que já tinha ocorrido outras vezes em outros estabelecimentos comerciais da cidade. Cheguei a uma filial de uma grande empresa nacional, que vende antenas para TV e presta serviços de canais de assinatura, e o atendente (era só um) estava conversando sobre assuntos particulares com uma moça. Tudo bem, fiquei ali esperando, com cara de tacho, pensando na vida, até que cansei de ficar em pé, e sentei. Assistia a conversa dos dois. A moça contava sobre o sogro e o cunhado. Parece que não se acertavam muito, mas não consegui entender o motivo. Olhava da cara da cliente para a cara do atendente e da cara do atendente para a cara da cliente. E eles nem aí pra mim. Levantei, dei uma volta, olhei as antenas e aparelhos que estavam na vitrine e voltei a sentar. Nisso, chegou outro homem. Também ficou ali, de telespectador por alguns minutos da conversa entre o atendente e a moça. Fiquei pensando: “nossa, eu poderia marcar uma festa aqui, já que ninguém está me percebendo. Poderia vir aqui para sentar, ler, tomar um chimarrão, fazer exercícios. Enfim, é um local onde você pode chegar, sentar, fazer o que quiser que ninguém da a mínima para você mesmo”. Depois de um bom tempo, acabou o assunto entre os dois e o atendente finalmente me perguntou, meio a contragosto: “e para você”. Confesso que tive vontade de dizer: “Pra mim nada, e pra você?”. Ou senão: “nada não, é que quando eu não tenho nada para fazer em casa gosto de sair por aí, entrar nas lojas e ficar olhando para as paredes...”. Enfim, uma espécie de reencarnação do seu Saraiva. Mas, respirei fundo, contei até mil e conversei civilizadamente.
Essa foi apenas uma situação. Mas houve outras, em outras lojas, com outros vendedores. Não sei se fazem isso porque são donos do próprio negócio, ou se porque ganham pouco e descontam nos clientes, mas o fato é que, da minha parte, só posso orientar a todos para, quando passarem por isso, saírem da loja e ir para a concorrente. Outras vezes eu cheguei a pensar em, de fato, exigir os meus direitos de outra forma, mas não tenho muita paciência pra isso. Por enquanto estou me contentando em só ironizar o que, teoricamente, seria irinorizável (permitam-me criar essa palavra) e a curtir as coisas boas de Pelotas, como os doces, as pelotensas (permitam-me também criar mais essa palavra), a praia do Laranjal, etc.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

A onda Damião

Leandro Damião é craque. Inclusive, é muito mais craque que pseudo-craques, que entraram para a história do futebol sem jogar tanto assim e sem conquistar grandes títulos. Porém, Leandro Damião tem um problema grave, que pode comprometer a sua colocação na lista dos grandes da história do futebol mundial: o nome. Leandro Damião soa feio. Quem não conhece (ou não conhecia, antes da lambreta no argentino) até pensava que fosse um jogador de campeonato citadino. Damião é nome de Frei que deu nome a um tipo de vinho que vinha em uma caixinha que eu tomava escondido dos meus pais na adolescência. Eles compravam uma caixinha de Frei Damião e, quando iam ver, estava no final. Tipo, evaporou dentro da geladeira, sacumé.
Enfim, Damião não é nome de craque, tanto é que, se você digitar Damião no Google, o primeiro link que vai aparecer é o que trata do Cosme e Damião, no Wikipédia: “São Cosme e São Damião, os santos gêmeos, morreram em cerca de 300 d.C. Sua festa é celebrada em 27 de setembro. Somente a igreja Católica comemora no dia 26 de setembro pois, segundo o calendário católico, o dia 27 de setembro é o dia de São Vicente de Paulo“. Vejam vocês.
Por isso, não temo o futuro do centroavante colorado pelo seu futebol, que é incontestável. Temo pelo seu nome. Ele nunca cairá nas graças do Galvão Bueno da mesma forma que os dois Rrrrrronaldinhos caíram. Ou Rrrrromário. Ou Rrrrrivaldo. Ou Zico. Ou Pelé. Ou Bebeto. Esses caras tinham nomes de craques, além de serem craques, obviamente. Já o Damião terá que jogar em dobro. Terá que jogar para provar que é craque e terá que jogar para superar o preconceito que as pessoas têm contra o seu nome. Enfim, terá que fazer miséria nos clubes por onde passar, principalmente na Europa, e com a camisa da Seleção. Mas, admito, eu acredito no Damião. Inclusive, aposto desde já que ele será o centroavante titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do Brasil. Ele terá a responsabilidade de recuperar o prestígio do futebol brasileiro em sua própria terra diante do mundo. Ah, e se ele fizer isso, certamente provará que é craque e superará para além da conta a indisposição da mídia e da massa para com o seu nome. Não será o Leandro Damião com nome de jogador de Citadino nem com nome de vinho de caixinha da promoção. Será o Leandro Damião da Seleção campeã do mundo. Será o€artilheiro da Copa, o herói nacional e o atacante dos gols bonitos. Mas, creio que tudo isso só irá acontecer se o Mano, ou seja lá que técnico estiver treinando o Brasil em 2014, tiver o bom senso de reconhecer que Ronaldinho Gaúcho é ex-jogador, em termos de Seleção. Caso contrário, toda a esperança brasileira e o brilhantismo de Damião e outros craques serão afogados nos copos de cerveja que tornaram o Ronaldinho Gaúcho um craque da noite carioca e num pseudo-craque da mídia futebolística, que não traduz os holofotes emitidos pela Globo em futebol jogado dentro de campo. Aliás, Ronaldo é um só, que é o fenômeno. O resto é ilusão de ótica. E ilusão de ótica é o que basta as tietes flamenguistas, que gostam muito mais de atores do que de craques.
Um bom final de semana a todos.

* Texto publicado no J Missões desse sábado.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Mais uma sobre a morte do autor

Há algum tempo eu me lembro de ter lido textos sobre a morte do autor. Não sobre um autor específico, mas de todos. Praticamente uma chacina. O tempo passou, não pensei muito no assunto, mas agora, lendo “Linguagens líquidas na era da mobilidade“, de Lucia Santaella, fiquei a pensar mais sobre o tema. Lendo o livro da Santaella, com citações e teorias de Foucault e Barthes, acabo tirando minhas humildes, e talvez errôneas, conclusões. Quando digo errôneas, refiro-me ao ponto de vista dos autores citados, afinal, o que é certo e errado?
Santaella, Foucault, Barthes e outros escreveram suas teorias com linguagem rebuscada e, por vezes, inteligíveis. Como diria uma ex-professora minha, em alguns trechos parece que fumaram um. Mas, enfim, como carrego comigo o fado de ser jornalista, vou ir pelo caminho da clareza e da fútil (e inútil) objetividade. Sinteticamente, eu interpreto a morte (homicídio ou suicídio?) do autor da seguinte forma: a idéia de autor está ligada ao individualismo. Mesmo quando se trata de mais de um autor, são vários seres individuais que formam uma representação imagética de coletivo. Ou seja, a autoria coletiva nada mais é do que a soma de várias individualidades. Então, com isso, ainda na era do papel impresso, fica difícil termos autores. Na verdade, temos inventores.
Explico-me. Erico Verissimo é autor de “O tempo e o vento“. Certo? Quem sabe... Talvez ele seja apenas o INVENTOR de “O tempo e o vento“. Tudo porque, após ele escrever a obra, surgiram e continuam surgindo inúmeros textos sobre ela e a partir dela. Ou seja, a obra literária continua sendo escrita por um sem-número de outros autores. Claro que, na cultura impressa, ainda temos claramente essa divisão entre autor/leitor. Mas vejamos agora um caso que começou no impresso e que se estendeu para o mundo virtual: Harry Potter. A princípio, a autora do bruxinho seria J.K.Roling. Mas não é mais a única. Ela está mais para a INVENTORA de Harry Potter. Tudo porque várias crianças escreveram as suas próprias histórias a partir do texto de Roling. Inclusive, uma adolescente lançou um jornal escolar na web, que conta com o trabalho de mais de cem crianças espalhadas pelo mundo inteiro, que constroem diariamente uma obra infinita sobre o Harry Potter. Essas crianças não seriam também autoras de Harry Potter? Tanto são, que a inventora do bruxinho, em uma disputa judicial, teve que voltar atrás e deixar os fãs inventarem seus próprios personagens em textos na internet, senão ela iria perder milhares de leitores (e de dólares). Ou seja, se as teorias não matam o autor, o capital mata...
O mesmo vale para tudo. Com as tecnologias móveis e as redes o criador não tem domínio sobre a criatura. O escritor não tem o domínio de seu texto. Ele o lança na rede e as pessoas fazem o que querem com ele: transformam, copiam, aumentam, inventam, resumem, reduzem, alteram, enfim, usam e abusam dele. É uma zona literária. Acontece mais ou menos como em “O médico e o monstro“, onde o médico perde o controle sobre o seu lado macabro e acaba sendo dominado pela sua invenção, tornando-se um monstro...
Enfim, é como Santaella coloca em seu livro, fazendo uma metáfora com os jogos de vídeo game: uma pessoa inventa e os outros jogam. Ou ainda, como concluiria Foucault em um de seus textos: Que importa quem fala!?

sábado, 10 de setembro de 2011

Sem palavras...

Como já diz aquele velho ditado, que já virou clichê (mas que sempre é válido), existem imagens que valem mais do que mil palavras. Eis alguns exemplos que dispensam a linguagem escrita:















Hasta!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Levante rothiano

Nesse ano comemorou-se o cinqüentenário da Legalidade. Para quem não sabe, sucintamente, o que ficou conhecido como Campanha da Legalidade foi um movimento, liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para garantir a posse do então vice-presidente da República, João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, evitando momentaneamente, assim, o golpe militar. A Campanha foi em 1961 e o golpe acabou ocorrendo três anos depois. Mas, com o movimento Brizola cravou o seu nome na história do Brasil e do Rio Grande do Sul, criando uma rede de rádios para transmitir à população o que estava acontecendo nos bastidores da tentativa de golpe dos militares, que queriam atropelar a Constituição, impedindo a posse do vice-presidente, que, na época, era escolhido em eleição separada da do presidente.
Enfim, através da rede Brizola mobilizou a população a se preparar para uma possível guerra civil contra os militares. Com armas em punho, Brizola fez o que praticamente nenhum político faria hoje em dia: resistir à falcatrua, disposto a morrer em nome do cumprimento da lei. E, naquele momento, Brizola foi vencedor, impedindo o golpe.
A história da Legalidade está muito bem contada pelo professor, jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, em Vozes da Legalidade. Inclusive, a foto da capa, com Brizola carregando uma espingarda com um toco de cigarro na boca, vestindo terno e gravata, demonstra o drama vivido pelos gaúchos e brasileiros naquele agosto de 1961.
Lendo o livro, penso que o Brizola deve ter se sentido mais ou menos como o Celso Roth se sente hoje em dia: apesar de vitórias parciais, sabe que não chegará ao topo no campeonato. Mas, assim como isso bastou para o Brizola na política (ele salvou o golpe em 61, que acabou acontecendo em 64, e, depois tentou ser presidente, sem sucesso), vitórias parciais também estão bastando para o Roth em Campeonatos Brasileiros (salva os clubes do rebaixamento, mas sabe que nunca será um campeão do Brasileirão). Mas esses fatos não desmerecem nem Brizola, nem Roth. Ambos acreditaram em seu tempo tiveram paixão pelo que faziam. No caso do Roth, ainda faz. Podem não ser os melhores do mundo, mas conquistam torcedores e admiradores pelas suas atitudes enérgicas e pela convicção com que tomam suas decisões, mesmo quando são erradas...
Enfim, se por um lado podemos dizer que a Legalidade foi o último levante gaúcho no campo da política, a reação do Roth nas suas sucessivas passagens pelo Grêmio estão sendo o último levante futebolístico. Não tenho dúvidas de que, seja lá por que motivo, qu€ando não tivermos mais o Roth para chamar na hora do €aperto, torcedores de Grêmio e de Inter vão suspirar e resmungar: pena que não se tem mais um Celso Roth da vida no futebol. Exatamente como agora, vendo R$50 bilhões de re€ais serem desviados todos os nos dos cofres públicos no Brasil, também sentimos saudades de um político que pegue uma arma na mão para colocar a sua vida em risco em nome da honestidade e do cumprimento da Constituição Federal. Ainda vamos sentir muitas saudades do Roth, como hoje, sentimos do velho Leonel, que um dia foi Itagiba (para entender melhor, sugiro a leitura do livro do Juremir).
Um bom final de semana a todos. Com muitos levantes e revoluções, pelo menos no campo futebolístico...

sábado, 3 de setembro de 2011

O exército de um homem só

Tenho que concordar com meu primo Alemão: O Exército de um homem só, do Moacyr Scliar, é um excelente livro. E mais: é um livro bom e barato. Não lembro quanto paguei, mas certamente foi menos que 15 pila, pois ele conta com 162 páginas na versão Pocket da LP&M. Eu o li em quatro dias. 30 páginas cada 24 horas nos três primeiros dias e 72 páginas hoje. Acabei de ler agora, às 20 para a uma da madrugada, após mais ou menos uma e meia hora ininterrupta de leitura. Isso é para vocês verem como o livro é de prender a atenção do leitor, pois, dependendo do livro, leio meia hora e fico meio viajando, sentindo-me obrigado a dar uma arejada na cabeça antes de seguir em frente.
Bom, sobre a obra, realmente as minhas impressões das primeiras 27 páginas, mencionadas no outro post, estavam corretas. O livro realmente trata de um judeu-comunista-quixotesco. Aliás, pode-se falar que a história é meio que uma mescla, muito bem feita, diga-se de passagem, de Dom Quixote com A revolução dos bichos. Claro que a história, a narrativa e os personagens são diferentes, tem suas particularidades próprias, mas daria para se formar uma trilogia: Dom Quixote, A revolução dos bichos e O exército de um homem só. Na verdade, os três livros não se imitam, mas sim, complementam-se, mesmo sendo escritos em épocas, países e culturas completamente diferentes. Só para resumir a história do Exército de um homem só, o personagem principal, que é chamado de Capitão Birobidjan, passa por diversas etapas de vida, vendo homenzinhos e fazendo amizades com animais, tentando construir uma nova sociedade mais justa, mais equilibrada, enfim, uma sociedade bem diferente de todas as que tivemos até hoje. Essa sociedade se chamaria Nova Birobidjan. Enfim, vou resumir a vida do capitão em quatro etapas:
1) Birobidjan, que se chamava Mayer Guinzburg, é criança e adolescente rebelde, causando problemas ao seu pai, justamente pelas primeiras idéias comunistas e pela descrença na religião.
2) O capitão se casa, tem filhos e sua loucura vai ficando cada vez mais acentuada, enxergando homenzinhos de 10 centímetros que são o público de seus discursos. Acaba deixando a família para viver em uma casa abandonada, onde resolve fundar a nova sociedade, tendo como aliados os companheiros Porco, Cabra e Galinha, apesar de ele não gostar muito da galinha. Acaba se envolvendo numa confusão com quatro vagabundos e uma mulher, Santinha, até que dá tudo errado e é forçado a voltar para a mulher e os filhos.
3) Devido ao sofrimento que a mulher e os filhos passam pela sua loucura e pela falta de grana, entra no mercado imobiliário e fica rico. Tem um caso com sua secretária e passa de oprimido a opressor, bem como os porcos da Revolução dos bichos, de George Orwell. Mas, em um estilo meio Joseph Klimber, tudo dá errado, vai à falência, a família o abandona e ele abandona a amante, que na verdade é filha de um grande amigo, enfim, mete-se em uma porrada de rolos...
4) Acaba em uma pensão, que é uma espécie de asilo. Lá comanda uma “revolução” com os outros hóspedes, todos idosos e doentes, prendendo a dona da pensão em um quarto. Só que quando tenta fundar uma nova sociedade, os outros moradores da pensão não querem saber de trabalhar pelo coletivo....
O resto não vou contar, pois a idéia é que vocês, preguiçosos leitorinhos, leiam o livro. Vale a pena, isso eu garanto!
Como diria o velho capitão: Hasta, companheiros!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vitória anestésica

A vitória do Grêmio no Gre-Nal do último domingo teve um efeito meramente anestésico. Ou seja, não se eliminou a dor, ela foi apenas amenizada. Explico-me: uma vitória em um clássico faz com que os torcedores esqueçam, ao menos por alguns dias, que há muito não comemoram um título e que dificilmente o clube estará na Libertadores do próximo ano. Enfim, a vitória teve um efeito anestésico ou alucinógeno, pois o efeito do êxtase é curto e passa. No caso do Grêmio, passou muito rápido: na quarta-feira o torcedor voltou a se assombrar com a proximidade da zona do rebaixamento. A torcida do Grêmio há muito tempo quer mais do que uma vitória em Gre-Nal jogando em casa: ela quer os títulos de volta. Mas como pensar em título se o ano de 2011 já praticamente escafedeu-se? Eis a questão.
Assistindo ao empate entre Santos e Inter também percebi que não só a diretoria do Grêmio é burra, como a maioria dos seus torcedores, pois, grande parte deles tinha pavor do Borges. Eu cheguei a discutir asperamente com outro gremista defendendo o Borges. Minha teoria era simples: se a bola não chega nele, como o coitado vai fazer gol? E, a cada rodada que se passa, o Santos prova que eu estava correto. No time paulista a bola chega e ele faz gol atrás de gol. Se ele jogou muita bola no São Paulo e agora joga no Santos, por que não conseguiu desencantar no Grêmio, ora pois? A resposta é fácil: falta time. Falta técnico. Falta diretoria. Falta contratações. Falta tudo, menos torcida.
Já o Inter a cada dia que passa parece querer imitar mais o co-irmão inimigo. Está ficando cada vez mais longe da zona da Libertadores e, pior, enquanto tropeça vê os da ponta de cima dispararem. Essa Recopa Sul-americana parece ter sido a última bala da espingarda colorada. Mesmo com Damião, D’Alessandro, Guiñazu, Índio, Bolívar e outros ídolos da torcida, sem renovação não dá. Antigamente o Índio só fazia gol em Gre-Nal. Agora para cada gol, ele faz um pênalti e da umas outras duas ou três ratiadas. Efeito compensador causado pela idade, que não perdoa ninguém, principalmente aqueles que são atletas e que gostam por demais da vida noturna... E, além disso, a safra colorada parece estar acabando. Começou caindo cedo na Libertadores e pelo jeito vai terminar ficando em uma zona intermediária no Brasileirão, algo entre o 8° e o 12° lugar.
Enfim, os tempos estão difíceis para os torcedores gaúchos. Da minha parte, enquanto gremista, já não sei mais o que fazer, pois apenas torcer não está sendo o suficiente. Alguém aí tem o número de um bom pai de santo para fazer um despacho?
Um bom final de semana a todos.

*Texto do J Missões do próximo sábado.