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domingo, 29 de setembro de 2013

Literatura (e influência) nova-iorquina

PS: texto enviado para o J Missões para essa semana

Quando surgiu a oportunidade de tentar uma bolsa de estágio doutoral fora do país, em razão da minha pesquisa e das minhas influências literárias, a minha primeira opção, obviamente, era os Estados Unidos. Porém, confesso que, apesar de aqui ter as duas universidades que me atraíam (Columbia e New York University, onde estou), a maioria dos autores, escritores e jornalistas que pesquiso e leio são de outras regiões dos Estados Unidos: a maioria é, ou fez a sua carreira, em Los Angeles. Claro, estou excluindo aqui algumas estrelas da geração beat, que se criaram aqui, como Jack Kerouak. Hunter Thompson, como já comentei outra vez, também nasceu em Louisville mas teve uma passagem considerável por Nova York. Ainda tem por aqui muita gente do New Journalsim, como Tom Wolfe, que nasceu eem Norman Mailer, m Virgínia mas fez parte da carreira por aqui, e Gay Talese, que nasceu na vizinha New Jersey e também buscou a consagração literária em NY.
Porém, agora, estando em New York, estou descobrindo um outro universo de escritores locais. Na verdade eu diria que são os cronistas e romancistas de Nova York que, durante décadas e séculos, tornaram a cidade no espetáculo para todos os gostos que é hoje em dia. E muitos deles, séculos antes, já usavam as mesmas expressões que as pessoas usam hoje, como "a cidade que não dorme" ou "a capital do mundo". Aliás, tirando um ou outro detalhe histórico exposto em seu texto, se pegarmos o texto "A brief description of New York", escrito por Daniel Denton em 1670, poderíamos pensar que ele estava se referindo a New York de 2013 (pelas expressões usadas, como "centro financeiro do mundo" e "cidade do glamour". Então, na verdade, todo esse imaginário que se formou da cidade é resultado de séculos e séculos de textos e produtos culturais que firmaram a cidade tal como ela hoje é conhecida. Nesse sentido, seguiram Denton: Elizabeth Hanson (texto de 1728), James Cooper (1828), Richard Dana (1840), o escritor e fotógrafo Jacob Riis (1890) e daí começam a aparecer os mais conhecidos, como Joseph Mitchell, que tem obras traduzidas para o português, mas que só estou descobrindo agora, lendo o gigantesco "Up in the old hotel",
em que ele conta, por exemplo, a história do "Professor gaivota", um andarilho que queria escrever a "História oral do mundo" lá pelos anos 1920, em NYC. E, claro, ainda tem Joan Didion e Norman Mailer.
Enfim, como o espaço está acabando, só posso dizer que a influência nova-iorquina sobre o restante dos Estados Unidos e do mundo, não é de agora. Ela começa praticamente ao mesmo tempo em que a cidade começa a ser erguida. Como entender o motivo de ser justamente aqui, nesse canto do mundo, o lugar mais visado do mundo? Isso nem todos os livros nem todos os museus nova-iorquinos do mundo conseguem explicar de forma unânime.
Agora sim, acabou o espaço. Hasta!

A volta do professor gaivota

Virada de setembro para outubro e, desta vez, acho que não tem volta: começou a esfriar em Nova York. Semanas atrás tentou fazer um friozinho, mas vezemquando o calor voltava, e lá estava eu e os nova-iorquinos e toda a estrangeirada que tem por aqui andando de bermuda e manga curta. De uns três dias pra cá, isso ficou difícil de ser feito nas ruas: o casaquinho que a mãe recomendou a vida inteira tornou-se obrigatório. E, junto com o friozinho, chegou a primeira gripe: justo num final de semana. Dor de garganta e espirradeira o sábado inteiro. Acabou com a minha pelada de sábado no Central Park. Bom, como tinha muita coisa para ler e fazer em casa, acabei passando o sábado enfurnado no meu quarto, fazendo praticamente quatro coisas: assistindo Friends, Big Bang Theory e Seinfield; estudando os capítulos que tinham começado antes de eu ingressar no curso de inglês (ou seja, correndo atrás pra alcançar os outros colegas); escrevendo o artigo que pretendo mancar para o encontro do ICA que será em Seattle ano que vem (o deadline é final de outubro); e lendo dois textos de Joseph Mitchell para a aula da próxima terça-feira.
Como disse no último texto, acabei comprando o livro do Mitchell, Up in the old hotel. Não sei se tem essa obra traduzida para o português, pois ela reúne vários textos do escritor publicados na New Yorker. Mas vi que um dos textos que estou lendo foi publicado em português, traduzido como "O segredo do professor gaivota". Na verdade, são dois textos com o mesmo objeto. O primeiro, Professor Sea Guul (Professor gaivota) foi escrito por Mitchel quando Joe Gould ainda estava vivo. Uma espécie de perfil, em que ele não revela o tal "segredo" do professor gaivota. E no segundo (que são mais ou menos 100 páginas - eu estou na 60) ele conta tudo sobre Joe Gould, que nessa época já havia morrido. Mas quem foi o professor gaivota?
Aí é que está o meu interesse no cara - além do texto de Mitchel, que é muito bom, inclusive para um aprendiz da língua, como eu. Joe Gould foi uma espécie de avô dos andarilhos escritores vagabundos americanos. Ele nasceu nos arredores de Boston, e seu pai e avô haviam sido médicos. Aí tem uma longa história sobre como ele desistiu de seguir a carreira do pai e do avô, porém, ele chegou a frequentar Harvard. Tem uma história sinistra em que ele conta como ele era "deslocado" na escola.
Numa dessas, ele ouviu um professor, que era amigo do pai dele, falar para outro "tu viu como o pequeno bastardo não consegue acompanhar os outros?". Ele ficou tão revoltado, não por ele, mas por sentir que o professor estava apunhalando o pai dele pelas costas, que foi falar para o pai dele que ele seria cirurgião. Mas o pai dele deu uma resposta que colocou ele mais pra baixo ainda. E então, com o tempo, ele fez o que muitos fizeram em seu tempo (e que no Rio Grande do Sul seria como a saída do interior para Porto Alegre, como fizeram Mário Quintana, Erico Verissimo, Caio Fernando Abreu, etc): deixou o seu lugarejo para tentar a vida de escritor em New York City. Na verdade ele até conseguiu: estava trabalhando como repórter policial de um jornal. Foi então aconteceu o fato (o segredo) de Joe Could, o professor gaivota (porque ele dizia que falava a língua das gaivotas - inclusive traduzindo poemas do inglês para a língua das gaivotas, e vice-versa): ele leu num livro (ou revista, não lembro agora) que a história verdadeira não estava nos livros de história ou nas biografias dos grandes líderes mundiais, mas nas conversas do dia-a-dia. Foi então que ele decidiu: ele escreveria
"The Oral History of our time" - A história oral de nosso tempo. E então esse projeto passou a ser a vida dele. Como no livro Mendigos Altivos, que comentei aqui meses atrás (mas é uma ficção, e aqui era realidade) o cara simplesmente largou o emprego e se dedicou ao projeto do Oral History. E, pensem bem, isso era anos 1910, 1920, 1930... Nem máquina de escrever ele tinha! Ele escrevia tudo a mão, nas paradas de metrô, nos parques, nos bares, nas bibliotecas. E ia deixando um pouco na casa de cada amigo, porque ele não conseguia carregar tudo. E, assim, ele passou a ser um maltrapilho, vivendo da doação de alguns que tinham pena, de outros que acreditavam no projeto, ou de fãs da sua loucura. E, Mitchell, resgatou a história do cara - nesses dois textos (acabei de achar aqui que foi publicado pela Cia das Letras o segundo texto (O segredo de Joe Gould, em português).
Enfim, a história do cara é fantástica, e pra mim ficou mais fantástica ainda porque os lugares que ele frequentava são os lugares em que tenho ido frequentemente: como a Washington Square e os arredores da NYU!
Então, eu olho ao redor, vejo um monte de maltrapilho e andarilho nos metrôs de Nova York, no Harlem, nas ruas, e penso, será um desses caras um Joe Gould? Estaria o professor gaivota de volta?
Provavelmente sim.
Hasta!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Flanando por NYC

A melhor coisa que se tem para fazer em New York City é flanar. Simplesmente sair por aí, sem destino, sem direção. Você acaba encontrando coisas sensacionais e encontrando pessoas que parecem terem saido de filmes. Dia desses, numa flanada sem nenhum objetivo fui parar na maior e (pelo que dizem) melhor livraria de Nova York: a Barnes and Noble.
Trata-se de uma livraria de, se não me engano, cinco andares. Lá me senti no paraíso, pois tem todos os tipos de livros e, claro, de toda aquela geração que me trouxe para os Estados Unidos: Tom Wolfe, Hunter S. Thompson, Gay Talese, Bukowski, Capote, etc. Eu simplesmente queria ficar ali, morar ali: comprar um colchão, colocar em qualquer canto da loja, e ir pegando livro por livro para ir flanando pelas páginas deles...
Está certo, meu inglês ainda não está 100%, mas quanto mais leio bons textos, mais tenho vontade de ler, e mais vou apredendo, aos poucos... No fim não resisti, e pela primeira vez caí em tentação: peguei dois livros "obrigatórios" da disciplina que estou fazendo na NYU sobre jornalismo literário: Up in the old hotel, de Joseph Mitchell, que é uma coletânea de textos publicados por Mitchel na New Yorker em mais de 700 páginas e We tell ourselves stories in order to live, que é a obra completa de Joan Didion, colocada em mais de mil páginas. Óbvio, o professor indicou alguns textos desses dois livros, mas a vontade que tenho ao
pegá-los e de devorá-los página à página... E, além deles, não resisti e comprei o The electric kool-Aid acid test, do Tom Wolfe, o famoso livro escrito por ele sobre a geração hippie nos anos 1960. Ou seja, tenho texto suficiente para ler até quando eu voltar (e isso que estou louco para comprar mais livros...). Bom, a justificativa para a minha consciência é que vou usar esses três livros na tese, mas enfim preciso me controlar...
Ainda nessa flanada, David Dinkins, em pessoa, estava na livraria falando sobre o livro que estava lançando... Para quem não sabe (como eu não sabia) ele foi o primeiro prefeito negro de Nova York, ficando no comando da cidade entre 1990 e 1993. Óbviamente, tinha bastante polícia dentor da livraria, e quando fui trocar a objetiva da máquina para pegar um close do ex-prefeito, espiei a cara dos policiais, que estavam me cuidando com os olhos arregalados...
Na saída da livraria, ainda fiquei um tempo vendo um pessoal dançando na Union Square. Estava aquele vento de verão, meio quente, daquele que traz chuva, e o clima estava mágico assim como foi a sensação que tive ao ver aquelas pessoas dançando num mini-castelo de concreto como se estivessem nas nuvens... Nos arredores, turistas e pessoas apressadas andando lado a lado, cada uma com a sua vida, cada uma com as suas preocupações e os seus sonhos... Fiquei olhando tudo aquilo até me dar conta que o deadline para mandar a coluna estava terminando. Então, peguei o subway e voltei pra casa...
Até a próxima flanada!
PS: texto escrito originalmente para o Meu Bairro, de Porto Alegre.

domingo, 22 de setembro de 2013

Melhor que filme

Ontem me dei conta de que fazia uma semana que não escrevia nada aqui. É que com o cansaço, as aulas e as coisas que eu tenho que fazer aqui, acaba sendo mais fácil e prático simplesmente jogar as fotos no Facebook do que escrever. Mas, como hoje é domingo, resolvi reservar uns minutos para colocar as coisas em dias. Da última postagem pra cá, a semana foi basicamente de aulas e estudos -
com uma ida no Smithfield na quarta de noite para ver o jogo do Grêmio. Aliás, aconteceu algo inacreditável. No jogo do Grêmio contra o Santos pela Copa do Brasil, o jogo estava nos 40 e tantos do segundo tempo quando eu fui no banheiro. Quando eu voltei, o Grêmio tinha feito o gol da classificação. Na quarta, era Grêmio e Santos novamente, mas agora pelo Brasileirão. Quando deu um tiro de meta para o Grêmio eu disse "vou no banheiro". E o Henrique disse "vai lá que sai o gol". E eu dei risada, pois a bola estava fora de jogo, e era apenas um tiro de meta. Entrei no banheiro e poucos segundos depois ouvi os gritos. Achei que era algum gol nos outros jogos que estavam passando nas outras TVs ou um ponto importante do futebol americano. Mas, ao sair, estavam todos rindo. Era gol do Grêmio. Totalmente absurdo. Mas mais absurdo foi o Grêmio tomar o gol de empate depois...
Saindo do futebol, na sexta-feira fui no Rockfeller Center. Tem um casal de americanos que mora aqui no apartamento, e a mulher trabalha lá como fotógrafa, tirando fotos da turistada, então, ela havia agendado um ticket para mim na sexta-feira às 18h. Cheguei mais cedo e fui tirando fotos da parte de fora, do saguão, do café, da loja gigante da Lego que tem lá (que vai deixar a Larissa louca).
Na verdade, eu só tinha uma folha de caderno onde estava escrito "Ticket, Friday, 20 september, 6PM" seguido do nome dela e o número de telefone. Fui nervoso, achando que, sei lá, iam pensar que eu era um golpista brasileiro tentando entrar de graça, afinal, o ingresso para adulto custa 27 dólares. Entre numa fila gigantesca e comecei a suar frio quando foi chegando próximo da minha vez. Eu teria que apresentar aquele papel e dizer o quê? Ainda mais em inglês! Quando chegou a minha vez, apresentei pra mulher da venda dos tickets o papel e disse "Well, I don't know... I have this paper from Sarah, here there is her phone number and..." A mulher pegou o papel, começou a digitar uns negócios no computador, me deu o ticket e disse "enjoy". Ok. Lá fui eu para o topo do Rockefeler Center.
Bom, se você já viu a vista que se tem de lá em filmes ou em fotos, só tenho uma coisa a dizer: ao vivo e a cores é bem melhor! Você tem a vista de cima em 360 graus de Nova York. As mais impressionantes, e clássicas, são a do Central Park e a do Empire State Building, o concorrente de melhor vista da cidade do Rockfeller. Ainda não fui lá para poder comparar, mas quando for, tento passar meu veredito. Talvez a única diferença é que do Empire você vê o Rockfeller e do Rockfeller você vê o Empire... Sei lá. O fato é que é sensacional. Chamou muito a atenção a quantidade de brasileiros lá. A todo o momento eu via alguém falando português ao redor de mim. Mas o pior foram as fotos que pedi para que tirassem de mim. Acho que pedi pra umas dez ou quinze pessoas diferentes tirarem fotos de mim lá, e praticamente todas tiraram umas porcarias que não deu nem pra postar no Face. Ou pegavam só eu e nada da paisagem, ou pegavam eu, um pedaço da paisagem, mas outro pedaço de parede, e assim por diante.
E o pior foi uma senhora, brasileira, que eu tirei uma foto perfeita dela, daquelas de fazer quadro, aí fui pedir pra ela tirar uma "desse mesmo jeito" pra mim e ela pegou muito aberto, e eu fiquei todo desengonçado, quase não dava para ver o fundo e ainda pegou as paredes ao redor. Olhei e pedi outra, tentando explicar como era. Aí ela tirou uma do meu carão e não dava para ver nada do fundo... Enfim... paciência. A melhorzinha, é a que coloquei de fundo no meu Facebook.
Feito o passeio da sexta-feira, no sábado eu já tinha programado o jogo dos Yankees, do baiseball. Bom, várias pessoas já tinham me advertido que o jogo, em si, era uma chatice. Mas mesmo assim acabei encarando. A partida era contra o Giants São Francisco. Como a temporada termina em outubro, imaginei que era jogo importante. Bom, tenho algumas considerações a fazer dessa experiência:
1) O estádio dos Yankees deixa qualquer arena brasileira de futebol no chinelo. Tem mil áreas de lazer, mesas cheias de flores, restaurantes, várias lojas, Hard Hock Café com instrumentos de famosos, museu, várias fotos dos ídolos do clube, fácil transito por todo o estádio (mesmo se seu lugar fica num setor, você pode andar por todos os outros), escada rolante, elevador, mil pessoas do "How can I help you?" e, ainda, nesse jogo todas as crias ganharam um bichinho de pelúcia dos Yankees, que eu fui pedir para a Lari, mas a mulher me olhou e disse "apenas para crianças".
Quase roubei um de uma cria, mas achei que não valeria o risco de ser preso...
2) Vendem "Cold beer". E como o jogo dura cerca de três horas, os americanos bebem muito. Mas, mesmo assim, ficam as duas torcidas em paz, uma misturada à outra, sem briga. O que me leva a questionar: seria realmente a bebida a causa da violência nos estádios brasileiros? Acho que não...
3) Como disse, a torcida é civilizada, é cheio de mulheres, crianças e famílias. O pessoal de São Francisco, que era bem numeroso, estava todo no meio do pessoal dos Yankees, e num canto, onde havia uma concentração maior de pessoal de São Francisco, não havia nenhuma separação de grades ou coisa assim entre uma torcida e outra...
4) Por outro lado, a torcida é muito mais "expectador" do que torcida. Devia ter umas 30 mil pessoas no jogo e principal grito deles é de "oooooouuuuuuuuu" quando o rebatedor lança a bola para longe.
5) O jogo em sim, é uma chatice, pois só tem praticamente uma jogada: o carinha que arremessa a bola tenta atirar sem deixar o rebatedor rebater e o rebatedor fica tentando rebater e, se acerta, os outros carinhas correm atrás da bola. É isso durante mais ou menos três horas! Muito chato!
6) Eles têm uma história de ídolos lá, um deles foi homenageado antes do jogo: o número 42, se não me engano é Ramirez ou algo assim.
7) O metrô deixa você na frente do estádio.
8) Eles sabem ganhar dinheiro: tem uma loja só com roupas, bolas, tacos e até cadeiras do estádio autografadas para vender por um preço como mil, dois mil, três mil dólares.
9) Como o jogo é chato e para a toda hora, a todo o momento tem música (pelo menos a música é boa, como ACDC, Guns, etc) ou algo para não deixar a torcida dormir. Até os carinhas que entram no meio do jogo para "limpar" o campo entram dançando Vilage People, aparecendo no telão. E, claro, o jogo inteiro a torcida fica aparecendo no telão, o que acaba se tornando uma das principais atrações do jogo (o sujeito fica mais preocupado em aparecer no telão do que com o jogo propriamente dito).
10) Enfim, tudo isso é algo longe de ser compreendido pelos brasileiros, principalmente por alguém como eu.

Bom, tirei o atraso das postagens, então, até o próximo surto de inspiração! Hasta!

sábado, 14 de setembro de 2013

Barragem no NYT e futebol no Central Park

Antes de mais nada, começou a aparecer aqui no blog um índice de leitura (quantitativo) do lado de cada postagem e, pelo que indica os indicadores, esse é um espaço para falar sozinho, já que a média de leitura (conforme as estatísticas) é de um (eu), dois (eu e o Marcos Alemão) e raros picos de três (eu, o Marcos e o Gérson Alemão) acessos por textos. Por isso, acho que sou o pré-pré-pré-pré-pré-projeto de escritor mais egocêntrico do mundo, pois, escrevo para mim mesmo.
Mas, vamos lá. Ontem, como escrevi no último post (se escrevo pra mim mesmo, não sei porque perco tempo dando essas explicações óbvias) foi sexta-feira 13. Da parte ruim, falei no texto anterior, agora vou falar um pouco da parte boa, até chegar ao sábado, 14 de setembro.
A rota que tracei para fazer depois da aula foi detalhadamente pensada e, depois da uma da tarde, bastou colocá-la em prática. Então, comecei catando o prédio que serviu de fachada para as filmagens do Friends - poias as gravações eram em Los Angeles. Bom, muito do que vi de Nova York antes de vir pra cá, vi no Friends. E, depois de tanto assistir, esse era um lugar que eu realmente tinha que ir: a casa de Joey, Chandler, Rachel, Phebe, Mônica e Ross. É fácil de chegar lá, mas fiquei pensando: tem tanto prédio mais bonito que o escolhido que, se eu fosse o produtor, a fachada seria outra.... E não falo de prédios mais "chics" mas com um design mais, digamos, interessante. Enfim, como eu não trabalhei na produção da série, fui lá, fazer as fotos enquanto ficava viajando imaginando o Joey saindo todo atrapalhado pela porta, a Phebe correndo desajeitadamente atrás de um Táxi, o Chandler e a Mônica chegando de mão dadas (a Mônica falando freneticamente e o Chandler ouvindo tudo com a testa franzida) e o Ross e a Rachel brigando (o Ross com o seu estilo adulto que segue criança e a Rachel patricinha como sempre)...
Depois de pensar nisso tudo, e ver um grupo de turista tendo aulas de Friends na esquina na frente do prédio, fui resolver umas paradas no banco e, de lá, fui almoçar. Na verdade não foi bem um almoço, comi um sanduba no Subway. Seguindo minha saga por Manhattan, a próxima parada era o Planet Hollyood de New York. Comparando com o Hard Rock café, é pequeno e simples. A fachada é bem simples e as mãos dos atores famosos fixada em cimento, como Will Smith e Shwastneger (não quis pesquisar pra ver como se escreve, então vai assim mesmo) também estão expostas numa parede que, pra quem passa ali com pressa, fica despercebida. A parte de dentro é legal, aconchegante, e assim como no Hard Rock Café há roupas e instrumentos de músicos, no Planet há principalmente roupas usadas em filmes e séries, como a tradicional camisa do Charlie do Two and half men. É um lugarzinho interessante de conhecer. Não sei sobre os preços, mas o ambiente é bem agradável para comer ou tomar alguma coisa.
Saindo do Planet, a próxima parada era o New York Times Building, onde funciona o New York Times e tudo o mais o que pertence ao grupo. O prédio é gigantesco, dezenas de andares (um típico arranha céu nova-iorquino). Primeiro, tirei fotos da parte de fora, com o famoso letreiro do jornal centenário e, depois, passei a porta giratória e me dirigi à recepção. Nem terminei a minha pergunta (fiquei só no "gostaria de saber se posso marcar...) e o guardinha já se antecipou: não. Como achei que ele estava de brincadeira, terminei a pergunta "se era possível agendar uma visita ao prédio. A resposta foi categórica: não. "All right", como murmuraria o George, do Seinfield. Mas eu voltarei!
Na frente do NYT tem a rodoviária, que parece ser gigantesca.
De lá, fechei a tarde na loja do Esqueceram de Mim 2 (com o piano gigante e tudo), que com certeza vai deixar a Larissa maluca quando ela vier aqui. Fiquei pensando: caralho, imagina se eu viesse aqui quando era criança?? Coitado do pai... Se eu já enchia o saco que queria um monte de coisa no camelô de Capão da Canoa, imagina lá! Bom, mas vou pagar o que fiz, pois a Larissa com certeza vai chorar porque vai querer a loja inteira...
Enfim, e seguindo esse ritmo de "querido diário", hoje joguei bola no Central Park. Sinceramente, eu nunca imaginei na minha vida que um dia iria jogar bola no Central Park (principalmente quando via o Central Park em filmes, séries, etc). Pelo que vi, e pelo que confirmaram os que vão lá sempre, tem dois campos de terra batida. Na verdade é um de terra batida (que tirei fotos da outra vez) e outro de areia. E foi na areia que jogamos. Mas o pessoal vai de chuteira mesmo. Uma das poucas exceçoes era eu, que fui com o tênis mais velho que eu tinha. É uma experiência sensacional, pois nunca joguei com tanta gente de nacionalidades diferentes. E a partida teve dois tempos, cada um de uma hora. Na primeira hora, eram, calculo eu, uns 9 contra 9. Gente de todo o canto do mundo: Brasil, Estados Unidos, Jamaica, Itália, Inglaterra, México, África, etc. E, na segunda parte do jogo, entraram três mulheres e mais um cara e, acreditem, uma delas jogava melhor do que praticamente todos os outros. O nível técnico é sofrível, mas eu fiquei um pouco atrás na parada pois falta perna e sobra barriga. No fim, ficou eu e um senhor italiano "pescando" lá na frente. No início até corri, marquei, etc, mas aí vi que a natureza marcava o pessoal. Aí fiquei a la Jardel, parado na frente com a mão na cintura esperando a bola. Olhei para o senhor italianos (que não conseguia dominar a bola) e disse "Baggio e Romário". Valeu a diversão e as calorias queimadas. E, nada como sair do jogo, suado e cansado, e sentir o vento do Central Park e tudo o que se vê lá. Realmente é uma experiência que pode ser chamada de Clichê, mas sensacional. Com certeza vou repetir muito isso antes de ir embora.
Bom, e assim foram mais dois dias em New York City.
Hasta (to myself).

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Êta racinha triste...

O ser humano é uma raça triste. Na boa, às vezes da vontade de desistir, ainda mais quando você vai para um país que economicamente e tecnologicamente é de primeiro mundo, mas que assim como outros, também tem muita coisa atrasada. E como aqui vive gente do mundo todo, isso se estende para todos os outros continentes também. Mas, antes de mais nada, eu ia escrever aqui sobre os passeios que fiz hoje. Até vou conta-los rapidamente, porém, como a internet também está difícil de aguentar e não estou conseguindo carregar foto para postar em porra nenhuma vou deixar algumas histórias com fotos ilustrativas para serem postadas outra hora.
Negócio é que até o final da tarde dessa sexta feira 13 as coisas estavam ocorrendo perfeitamente. Tive aula de manhã, saí da aula e fui no prédio que serviu de fachada para as filmagens do Friends. De lá, tive que ir no banco resolver outras paradas (atendimento na hora, como de praxe em solo americano) e, então, almocei e segui para a Macy's - a maior loja do mundo - já que todo mundo falava que eu TINHA que ir na Macy's. Mas, vamos lá, na verdade é um monte de loja amontoada em vários andares de um prédio. Enfim, saí de lá e fui para o New York Times, onde tenho uma historinha, mas fica pra outra hora. Depois, fui no Planet Hollyood e, então, pra fechar a tarde, fui na loja do Esqueceram de Mim 2, que fica do lado da Aple. Inclusive, sentado na frente dessa loja, no final da tarde, com o pôr do sol e um vento gostoso batendo no meu rosto, fiquei pensando "caralho, parece que tô num filme". Pensei nisso olhando de um lado o Central Park, na minha frente a loja da Aple, e ao fundo prédios e mais prédios e uma infinidade de seres humanos de todos os tipos desfilando na minha frente...
Ali, senti-me realmente em um filme. Pelo cenário. Então, sentindo-me livre, leve e solto, fui indo para o Subway voltar pra casa. Foi aí que tudo mudou na minha sexta-feira treze.
Logo que cheguei no Harlem, meu sangue subiu a um status pouco imaginado quando eu estava passando por uma mulher que, aparentemente, estava arrumando uma criança de uns 3 meses no carrinho, mas, quando passei por ela, a dita cuja começou a berrar com a criança "ready???" e a fincar as pernas do pobre nenê no carrinho, que se esgoelava chorando. Pode-se chamar um troço desses de mãe? Pode-se chamar uma velha, gorda, com cara de diabo de ser humano? Uma criatura monstruosa que maltrata a própria filha de APENAS 3 MESES!??? É isso um ser humano? Do jeito que a humanidade anda, sim, é um ser humano (apesar de não merecer esse status). Andando meia quadra, uma cena chocante, que nunca vai sair da minha cabeça. Uma mulher, negra, de uns 50 anos, caída, com o braço torto e o rosto voltado para o chão e uma poça de sangue ao redor. Dezenas de pessoas olhando e conversando. Olhei um pouco e, sinceramente, não acredito que ela estivesse viva... A raiva da mãe que judiava do filho foi sendo substituída por uma angústia e uma impotência de não poder fazer nada para salvar a senhora que estava caída...
Chegando em casa vou abrir o site da Zero Hora para ver se não aconteceu nada de excepcionar no mundo, e me deparo com a seguinte manchete "11 cachorros enterrados são resgatados vivos". Na matéria, a confirmação: foram enterrados pelos próprios donos, mas uma denúncia anônima permitiu o resgate. O que passa na cabeça de alguém que faz uma coisa dessas???? Não tem um jeito mais cruel de matar os cachorros???? Enterrados vivos????????????? Caralho! A humanidade está perdida. O pior é que infelizmente conheço gente que seria capaz de cometer o mesmo crime (conheço um que matou um cachorro com um chute - e que se eu estivesse por perto quando aconteceu, eu teria o matado a chutes).
No entanto, numa sexta feira treze, você sempre pode esperar mais... E então fiquei sabendo que, mais uma vez, a Imboliária Fhuro Souto, de Pelotas, andou fazendo mais uma das suas e tive que me controlar para não pegar o avião e descer exatamente em cima da porra da imobiliária para tirar a limpo alguns assuntos que ainda vou resolver com esses.... bom, melhor falar isso pra eles pessoalmente...
Enfim, depois dessa noite de sexta feira treze, fico me perguntando: a humanidade tem jeito??? Tem salvação???
Sinceramente, I don't think so.
Hasta!

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O meu 11 de setembro em New York

Antes de mais nada, como era de se esperar, começaram as aulas e, portanto, sumi do blog, do Facebook, enfim, da internet. Nem lembrava da minha última postagem, então, me dei conta de que essa é a minha primeira postagem desde que começaram as aulas de inglês.
Vou tentar falar um pouco de cada coisa. Primeiro, pela aula de inglês, que começou segunda-feira. São aulas de segunda à sexta, das dez da manhã à uma da tarde até metade de novembro. São oito níveis, fiz uma prova, uma entrevista e entrei no nível cinco. Ou seja, depois que terminar, se eu tiver disposição e grana, posso continuar. Ainda não sei o que vou fazer, mas por ser todas as manhãs, talvez eu espere um pouco para fazer o estágio seis. Enfim, curso de inglês em país de língua inglesa, imagino eu, é tudo parecido. São aproximadamente 20 na minha turma, mas é fluxo contínuo. Você vê todo o livro em dez semanas, então, você pode entrar no capítulo cinco e faz a volta até terminar no quatro (entendeu?). Pra mim foi fácil de se adaptar a esse método, pois é assim que trabalha a Topway de Pelotas, onde estudei um ano antes de vir. E é exatamente aquilo que falavam na Topway (depois cobro pela propaganda, ok?): como são pessoas de todos os lugares do mundo, só se fala inglês, o tempo inteiro. O professor é o clone (sem exageros!) do Moacyr Scliar. Prometo que, antes do fim do curso, dou um jeito de tirar uma foto dele comprovando minha tese. Ele é bem humorado e dinâmico, como tem que ser um professor que segura três horas de aula.
A turma é muito boa também, tem figuras inimagináveis de todos os cantos do mundo: Venezuela, China, Arábia Saudita, Japão, Itália, Burquina Faso, México, Colômbia, República Dominicana, etc. Fico pensando no conhecimento que o professor deve ter, pois cada um conta um pouco da história e da cultura do seu país, então, tantos anos dando aula, ele sabe muita coisa. Ah, e claro, tem três paulistas também, mas evitamos ao máximo conversar em português antes da aula ou no intervalo (só no primeiro dia, em que estava meio perdido, conversamos um pouco em português).
Bom, mas fora isso, o que eu queria escrever mesmo aqui hoje é sobre o 11 de setembro que passei em Nova York. Eu ia escrever um texto original aqui, mas como acabei de escrever um texto para o site do jornal Meu Bairro, e não tenho muito a acrescentar em relação ao que escrevi lá, vou postar o mesmo texto... Afinal, sou da teoria do Juremir Machado da Silva (um dos responsáveis por eu estar aqui) de que o conhecimento é pra circular mesmo (Ok, não sei se esse tipo de texto que posto aqui dá pra se chamar de "conhecimento". Mas enfim, as minhas bobagens também são jogadas aqui para, quem sabe, ter algum tipo de circulação. Não sei se é muita aula que estou tendo, ou se é porque até aqui estou sendo o aluninho exemplar, que vai a todas as aulas, cumpre todos os horários, e tal, mas o fato é que parece que não estou conseguindo dar uma "fluência bukowskiana" ou um tom "gonzo" para qualquer coisa que escrevo... Aliás, como disse aqui, por enquanto estou apenas despejando narrativas completamente pessoais para, depois, quem sabe, escrever algo mais reflexivo, mais "caliente" e, maybe, novelístico ou ficcional... (pois pontos de inspiração aqui é o que não falta).
Enfim, eis meu 11 de setembro em New York City:


Obviamente que para quem vai passar um ano em Nova York, como eu, há uma expectativa grande em relação ao 11 de setembro. E ele chegou, passou, e nada aconteceu além das tradicionais homenagens, referências, coberturas jornalísticas, etc. Na verdade, como já comentei aqui, agora que começaram as aulas o meu ritmo mudou 100% e, como alguém que está inserido numa rotina aqui, se não fosse correr atrás das memórias relacionadas ao atentando poderia até ter nem lembrado da data. Explico-me.
Somente na terça-feira, quando fui checar na minha agenda o que teria para fazer no outro dia, é que fui me dar conta que já era 11 de setembro. Fiquei curioso, pois tinha aula na terça de noite no doutorado e, na quarta de manhã, dia 11 de setembro, de inglês. Esperava que as pessoas falassem sobre o que aconteceu 12 anos atrás. Mas nada. Terça de noite, passou batido. Nenhuma referência em nenhum momento da aula, nem nas conversas dos corredores. Na aula de inglês, no intervalo, conversei com uma mulher da República Dominicana, que mora em Nova York há 25 anos, mas se eu não tivesse tocado no assunto, também passaria batido. Saí da aula e fui resolver algumas questões particulares nos bancos e poderia ter ido para casa, ter encerrado o dia sem ver ou ouvir nenhuma referência sobre o 11 de setembro. Mas, como essa provavelmente era a minha única oportunidade de passar um 11 de setembro em Nova York, peguei o metrô e fui conferir o que estava acontecendo ao redor do antigo local das torres (onde hoje tem o memorial e onde estão construindo as novas torres). Já tinha ido lá outra vez e, confesso admirado, que no outro dia tinha muito mais gente do que no próprio aniversário do ataque. Sei lá, talvez as pessoas fiquem ressabiadas ou com medo de ir lá na data temendo novos ataques... Mas em nenhum momento senti clima de medo, expectativa ou algo assim no ar.
A não ser dentro da Trinity Church, onde havia pessoas rezando, possivelmente algumas que participaram mais proximamente da tragédia ou parentes e amigos das vítimas. A referência mais forte ao atentado era possível sentir no local onde fica o corpo de Bombeiros mais próximo do WTC, que é justamente de onde partiram os primeiros socorros às vítimas. Lá haviam várias homenagens aos bombeiros que trabalharam na tragédia e aos colegas mortos. Já o Memorial do 11 de setembro (o lugar exato onde estavam as torres) passou o dia inteiro fechado.
Obviamente, havia polícia por toda a parte e um helicóptero dando voltas ao redor da nova torre. Ah, e claro, todos os canais de notícias de Nova York estavam ali, com intervenções ao vivo a todo o momento.
Na TV, olhando de noite, esse era um assunto muito abordado, em boletins, reportagens e entrevistas. E vai ser assim pra sempre, todo o 11 de setembro, de todos os anos. E, claro, em toda a região onde estava o antigo WTC há prédios em obra, alguns sendo construídos novamente e outros ainda sendo reformados (na foto, a construção do novo World Trade Center).
Às vezes a impressão é que o negócio aconteceu ano passado.
Na volta pra casa, passei pelo Grand Central, a principal estação do metrô nova-iorquino, que fica na rua 42, e liga Manhattan aos outros bairros e também a outras cidades, e lembrei das ameaças feitas por terroristas contemporâneos de atacar as estações de metrô das principais cidades do mundo (a coisa mais certa é que se atacassem novamente Nova York o Grand Central possivelmente seria o palco da tragédia). Dentro dos trens, há cartazes dizendo para você não acreditar que alguma mochila possa ser esquecida acidentalmente e, no alto falante, também alertam para que, se você ver algo suspeito, ligar para a polícia. Mas a cara de quem está no trem não se altera, pois é assim todos os dias, então, na verdade ninguém espera um novo ataque (talvez, acho que a preocupação possa aumentar no dia em que os Republicanos voltarem ao poder e resolverem sair por aí atacando todo mundo...). Isso faz sentido, pois não adianta se preocupar, você tem que ir de um lugar para o outro, então, você precisa pegar o metrô, com ou sem ameaça de atentado... Ou você faz isso, ou não trabalha, não estuda e não faz mais nada (e corre o risco de morrer de ataque cardíaco deitado na sua cama). Então, as pessoas simplesmente seguem em frente.
Bom, finalizando o meu 11 de setembro em Nova York, na volta pra casa aconteceu algo totalmente inesperado. Encontrei um cara com o símbolo do jornalismo gonzo tatuado na parte de trás do pescoço. Primeiro, tirei uma foto, sem ele ver. Depois, não resisti, e fui conversar com o cara. Perguntei se ele era de Nova York e ele, meio assustado, respondeu: "Yes, what's going on??". Então me apresentei e expliquei sinteticamente a minha pesquisa. Peguei o contato do cara e ele me deu várias dicas. Agora, é só correr atrás, afinal, esse foi apenas o primeiro mês. Ainda faltam 11! Aguarde-me!

domingo, 8 de setembro de 2013

Coisas sem fundamento

Bom, como dessa vez acho que consegui expressar o que penso em um espaço limitado, apenas reproduzo aqui a coluna que acabei de mandar para o Jornal das Missões para sair na terça-feira. Depois, quem sabe, mais tarde, escrevo sobre a minha ida ao estádio onde ocorreu hoje a final feminina do US Open de tênis. Por enquanto, primarada, fiquem com esse:

Como diz o pessoal por aí: "mas não tem fundamento!". Estando nos Estados Unidos eu vou tirando algumas conclusões sobre o Brasil. Antes de tudo, tenho que deixar claro que, mesmo Nova York, considerada por muitos a capital do mundo, tem muita coisa a melhorar (como por exemplo, lixo na rua, metrô lotado, etc). Mas no Brasil acontecem coisas que o pessoal daqui não consegue entender. Vou começar por uma mais light, que são as construções de prédios. Aqui, em todas as construções é obrigatório o construtor criar um corredor alternativo para a população, enquanto que no Brasil (e isso é uma coisa muito irritante) os donos do mundo resolvem fazer uma obra, trancam a calçada, e você tem que ficar se cuidando para não ser atropelado, pois você precisa dividir espaço com os carros...
Porém, a cena mais engraçada que enfrentei aqui (e que serve para refletirmos sobre o nosso atraso comportamental) foi vendo o jogo Grêmio x Portuguesa no bar Smithfield, que fica na 28 Street. Em todas as TVs do bar (umas 20) estava passando jogo de futebol americano. Bar lotado, americanos em peso. Mas, como o Grêmio tem cadeira cativa nesse bar, ligaram no jogo em uma TV. Então, aos poucos, eu e o outro gremista que estava lá, começamos a conversar com um casal de americanos e um amigo, que estavam na mesa ao lado. Explicávamos para eles como funciona o futebol, que o Grêmio é o melhor time do mundo, etc, e eles tentavam me explicar sobre a lógica do futebol americano. Foi então que aconteceu o lance do pênalti. Eu disse para eles, que estavam concentrados no jogo do futebol americano, "look, pênalti!". E eles olharam. Só que também olharam os jogadores da portuguesa indo pra cima do árbitro e a polícia entrando em campo!
A cara dos americanos vendo isso foi algo que nunca vou esquecer. Foi a expressão mais engraçada que já vi na vida. "Como assim? A polícia em campo?? Num jogo???". E eu dizia "It's normal in Brazil". Foi então que me dei conta do ridículo da situação. Realmente não faz sentido a polícia ter que entrar em campo num jogo de futebol! Eu perguntei para eles "aqui a polícia nunca entra em campo?". Eles fizeram uma puta cara de espanto e disseram "lógico que não... como assim, a polícia em campo?". Óbvio, presume-se que os jogadores são profissionais. Então, como um profissional vai agredir outro profissional (o árbitro?). Imagina você, leitor, irritando-se com seu chefe ou colega de trabalho e dando porrada nele! Além de ser demitido, você pode ser preso! Então, me dei conta, esse é um dos pontos da nossa cultura que não tem fundamento. Se um dia um jogador batesse num árbitro ou num colega e fosse preso, e dormisse no presídio Central, isso nunca mais aconteceria! Existem leis! E elas precisam ser cumpridas!!! Se não, ninguém as respeita (como é o caso do Brasil).
E não entro no mérito aqui se o juiz estava certo ou errado (óbvio que não foi pênalti, mas isso não justifica essa cena que é tão comum no Brasil). Portanto, vou concluindo, aos poucos, que os Estados Unidos, pelo menos Nova York, tem muito a evoluir. Só que o Brasil tem muito, mas muito mesmo, mais.
Hasta!

sábado, 7 de setembro de 2013

Welcome to Harlem!

Primeiro de tudo, plagiei o título do blog da Lirian (que tem o blog Welcome to Aggieland). Mas não resisti... Enfim, o Harlem é o bairro em que estou morando. Na verdade, não sei se vou ficar muito tempo aqui, pois quando peguei esse quarto fiz a reserva somente até o final de outubro (pois não sabia se ia viajar em novembro ou não) e, agora que decidi ficar direto aqui até o resto do pessoal vir, fui estender minha estadia aqui, mas a dona do AP já alugou para outros. Então, nesse apartamento, fico até o final de outubro. Os APs que tenho olhado ficam, ou bem mais para o norte do Harlem (esse aqui fica do lado sul, perto do Central Park) ou são em outros bairros, como no Brooklyn. Então, como talvez tenha só mais dois meses no Harlem, ontem resolvi sair pelo bairro para tirar fotos (todas elas estão no Face).
Mas o que dizer sobre o Harlem? Vou tentar explicar citando uma conversa que tive com os dois gremistas no churrasco que fizemos no sábado passado, após o jogo do Grêmio contra a Ponte Preta. Eu e o Henrique, que conhecemos o Harlem, estávamos tentando explicar para o Mário, que mora numa cidade aqui perto, como é o Harlem. Foi então que eu saí com essa "o Harlem é... pitoresco!". Eles riram muito do meu termo. O Mário até sentenciou: "só alguém da academia para, num momento desses, tomando cerveja e comendo churrasco usar a palavra pitoresco". Mas é a palavra perfeita para definir o Harlem.
Primeiro, porque aqui você encontra aqueles personagens que, no Brasil, você só vê em filmes americanos, principalmente em comédias. Você vê muita gente maluca, e que fala com um sotaque totalmente diferente das outras regiões de Nova Yor. Seria mais ou menos como o paulista magrão que fala "mano, é nóis na fita". Mas totalmente diferente.
Segundo, porque o Harlem é o lugar mais "povão" de Manhattan e, talvez, o de Nova York (acho que a briga com o Brooklyn nesse quesito ficaria parelha, e talvez perca para o Bronx, que, pelo que me falaram, é o mais violento e o único onde me recomendaram a não adentrar muito).
Outro fator é que aqui o espanhol divide espaço com o inglês nas ruas, principalmente nos mercadinhos e lojas pequenas. Tem muita gente de países como Porto Rico, México, República Dominicana, etc. Então, quando vou no mercadinho aqui da esquina, o carinha que já me conhece já me cumprimenta em espanhol: "hola, que tal?". Também aqui tem vários estabelecimentos que não aceitam cartão (como o mercadinho). Eles tem a máquina de ATM (o caixa eletrônico daqui) mas não aceita pagamento com cartão. Outra curiosidade é que as calçadas, principalmente ao longo da 125 Street (uma das principais) são tomadas de vendedores de CD/DVD, roupas com bandeiras de países afros (essa é a região afro de Manhattan - pelo olhômetro, acho que uns 85% da população daqui é negra), bugigangas, roupas, etc.
Foi numa dessas que encontrei um baiano de Cachoeira. Vi a bandeira do Brasil na banca e fui falar com ele. Mas o cara era muito mal encarado e acabei só trocando duas ou três palavras antes que ele me dissesse "suma daqui, branquela de merda". Sim, há preconceito racial de alguns contra os brancos (principalmente se tiver banca de turista - e eu estava com a minha máquina pendurada no pescoço). Como já contei, já presenciei uma senhora negra não deixar sentar ao seu lado uma francesa no metrô. Alguns passam olhando atravessado. Mas nada que intimide. Como disse, aqui as pessoas pensam cinco vezes antes de fazer algo, pois se fazem, sabem que vão pagar pelo que fizeram. Mas também há muita gente amigável - na verdade, a maioria. Os vizinhos, em geral, sempre me cumprimentam e alguns até comentam algo, fazem piadas, etc. Fora um ou outro acontecimento, como esse do metrô, considero o Harlme um bairro aconchegante e bom para se morar. Indo um pouco mais a fundo na psicologia racial, provavelmente eu senti isso porque pela primeira vez eu era um estranho no ninho, então, você sente os olhares sobre você. Mas agora já me acostumei e se alguém fica olhando feio pra mim, eu devolvo o mesmo olhar - e digo isso independente de ser negro, branco, hispânico ou qualquer coisa. Como disse o Henrique no churrasco "aqui em Nova York você tem que ser grosso, às vezes. A francesa deveria ter dito "vai toma no teu cuzê que eu vou sentar aqui". É meio aquela história de Rio, São Paulo e grandes cidades. Aqui, às vezes você tem que se enfiar e brigar na cotovelada para não ficar pra trás... (independente de origem, raça, cor ou religião). Por isso também dizem que Nova York é diferente do resto dos States.
E por isso também acho que o Harlem é diferente do resto de Manhattan. Da parte norte do Central Park pra cá, tudo muda. As pessoas que circulam, o estilo de vestir, de caminhar, de falar. Parece uma outra cidade dentro da ilha. E o Harlem é gigante. E tem os prédios com a arquitetura característica, que você também encontra no Brooklyn. Enfim, como disse no churrasco, é um bairro pitoresco onde você encontra muitas figuras caricatas.
E também é o patinho feio, para os turistas, dentro de Manhattan. No
Manual da Folha, por exemplo, está escrito "como o Harlem não é o bairro mais seguro de Nova York, deixe para visita-lo no domingo pela manhã". As principais atrações turísticas aqui são: o teatro Apollo (que é histórico, foi fundado por um branco na década de 1910, e só recebia brancos, mas na década de 1930 trocou de dono e foi aberto para todo mundo. Desde então, os grandes atores negros dos States passaram por lá), o Studio Museu (que é bem simples, mas com uma característica e cultura afro marcante - bonito de se ver)
e as missas religiosas, onde tem aqueles cantores gospel que aparecem nos filmes americanos. E, por isso, fiz as visitas aos dois primeiros lugares. Agora falta ir a uma missa, mas, por enquanto, o problema é acordar domingo de manhã... Mas antes de ir embora ou de me mudar daqui, prometo que vou reservar um domingo para isso.
No geral, o Harlem não é visitado pelos turistas. E também, por isso, é o bairro dentro de Manhattan que tem os alugais mais baratos (o que eu pago aqui, só conseguiria no centro de Manhattan para dividir com outras dez pessoas um quarto, e aqui tenho meu próprio quarto, com TV a cabo, frigobar, micro-ondas e ar condicionado).
Enfim, esse é um pouco do Harlem. Fazia tempo que queria escrever sobre ele, mas como hoje estou no meu dia light, aproveitei para isso, afinal, segunda começam as aulas de inglês e aí o troço vai ficar punk: aulas de segunda à sexta das 10h às 13h de inglês, mais terças de noite e quintas de tarde do doutorado... E amanhã pretendo acordar cedo, mas não para ir à missa, mas sim para ir ao estádio em que está sendo disputado o US Open de Tênis (amanhã é a final feminina, aí já aproveito para visitar os outros pontos turísticos do Queens).
Bom, por hora é isso! Hasta! Ah, e encerro com uma foto do prédio onde moro:

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Da parte do pânico

Bom, antes de mais nada, começo respondendo aos dois comentários do meu leitor número 1, meu primo Marcos (aliás, acho que ao invés de escrever aqui, vou falar direto com ele no Facebook, pois desconfio que ele é o único leitor do blog...). Mas enfim, sobre o comentário do Brazilian Day, ele disse "nada melhor do que um Zeca Pagodinho para matar a saudades..." e eu acrescentaria que nada melhor do que o Zeca e nada pior do que a fila do banheiro (que parecia estar ali para nos sentirmos em casa). E sobre o segundo... o que era mesmo o segundo? Ah, sim, o churrasco. Bah, eu sou um gaúcho paraguaio (sem ofensas ao meu primo meio-paraguaio Francis), pois não entendo nada de fazer churrasco, só de comer. Então, o churrasco que ele fez estava bom mesmo. E sou meio sarcástico quanto ao bairrismo gaúcho de que só a gente sabe fazer churrasco. O negócio é que se a carne é boa, sendo assada na churrasqueira, a tendência é que o troço fique saboroso... Então, sei lá. Mas, sim, eles cortam diferente, mas tem as mesmas partes do boi (acho que boi é tudo igual - sou um analfabeto nisso - sei que vai vim chumbo grosso pra cima de mim por causa disso...).
E, sobre o texto de hoje, bom, se você ler vai entender o porquê estou na preguiça de escrever um texto original para o blog e vai entender o copiar - colar do texto que enviei para o jornal Meu Bairro, de Porto Alegre.
Aliás, acrescentando o que escrevi no texto abaixo, fazem dois dias que não tiro fotos aqui (a última foi na segunda de tarde e minhas aulas começaram segunda de noite, o que justifica esse fato). Ah, e teria que escrever um post novo sobre as fotos que tirei na segunda, nos Hell's Angels e no CGBC (berço da música punk). De segunda de noite até agora (quinta de noite) eu mergulhei nas minhas aulas. Na verdade, tem longas histórias nesses três dias, que provavelmente eu nunca conte, porque depois vão vir outras e outras e outras... Porém, outra coisa a acrescentar, é a recepção que foi feita aos alunos de Mestrado, Doutorado e Pós Doutorado de Steinhardt (o departamento que equivaleria aos departamentos de Comunicação do Brasil) e, realmente, as universidades brasileiras tinham que fazer um troço assim para receber os seus alunos(essa vai para os meus colegas da PUC). Digo isso porque a recepção foi num lugar tipo um pub (no estilo americano - que acho difícil achar um mais ou menos parecido com os daqui em Porto Alegre). E, resumindo, era comis e bebis (incluindo tudo o que imaginar) de graça, das quatro às seis da tarde. No fim, acabei ficando num grupinho dos alunos visitantes, que era formado por mim, um casal finlandês, uma chinesa e um alemão. Bom, gostaria de descrever mais, mas me resumo a dizer que foi uma tarde memorável, pois agora o cansaço realmente está batendo (saí de casa às onze da manhã e voltei às nove e meia da noite...).
Então, sem mais delongas, segue o texto usurpado do Meu Bairro - que tem o mesmo título desse post:

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Não sei quando será o auge da parte do delírio, mas creio que o ápice do meu pânico em Nova York aconteceu nessa semana. Inclusive, até o momento não tinha sentido ainda, pois a viagem de avião foi relativamente tranquila (se comparada com o que eu esperava) e o dia a dia aqui é muito divertido e tranquilo. Ou seja, nada de pânico. Até essa semana...
Minha vida em Nova York estava 100% sob controle até que... começaram as aulas! Sim, na última segunda-feira foi feriado (dia do trabalho) e, assim como no Brasil dizem que as coisas só começam depois do carnaval, aqui dizem que o troço só funciona depois do dia do trabalho. Então, na terça-feira tive a minha primeira aula, com o professor Rodney Benson (meu co-orientador na NYU). Bom, já tinha conhecido ele outro dia, então, cheguei lá e me juntei aos outros alunos. Bom, quem leu meus textos antes da viagem sabe que meu inglês não é grande coisa, ou seja, consigo entender relativamente bem o que falam e tenho algumas dificuldades na fala. Logo no início da aula o professor me apresentou para a turma como um estudante brasileiro que está pesquisando aqui, etc. A aula começou (eles mantém a tradição do palanquezinho do professor) e, lá pelas tantas, veio o tradicional (cada um se apresenta). Até aí tudo bem, mas o problema é que todo mundo estava falando pra cacete. Caralho, eu fiquei bolando o que falaria, e enquanto os outros falavam cerca de cinco minutos, e fluentemente e com muita rapidez, a minha fala não durava... um minuto! Então olhei para a porta e pensei em fazer o mesmo que o Joey, do Friends, fez uma vez, em que um professor pediu para ele mostrar aos outros como se dançava como um profissional. Ele contou "1, 2 e ..." no 3 saiu correndo porta afora. Bom, óbvio que não poderia fazer isso, então, tive que respirar fundo e encarar. No fim, minha fala não saiu nenhuma Brastemp, mas me deram um desconto por eu ser brasileiro... E acho que também por ter outros alunos de outros países (tenho um colega do Afeganistão!) e entendem a minha situação.
Bom, isso foi na segunda, e na quinta-feira tive a outra aula, dessa vez com o Robert Boynton, possivelmente um dos pesquisadores e autores sobre jornalismo literário mais importantes do mundo. Ele eu conheci antes da aula e tive uma ótima surpresa: ele é totalmente receptível, conversou, contou do final de semana com a família na praia, etc. Também me apresentou para a turma de forma descontraída e se mostrou muito solícito com tudo o que eu precisar aqui. Mas, a exemplo do que ocorreu na segunda-feira, chegou a hora do pânico da apresentação. Em primeiro lugar, eu não gosto desses momentos nem quando é em português, no Brasil. Sempre falo pouco (se algum aluno meu ler esse texto vai perguntar: então por quê você faz isso com a gente? Enfim, coisas da vida. Enfim, o fato é que aqui, essa americanada toda fala pracaraí. Dessa vez, talvez por já esperar isso, acabei me saindo um pouco melhor (consegui soltar mais a língua e os alunos se mostraram interessados - acho que também porque o meu projeto tem mais a ver com a disciplina do professor Boynton). Mas enfim, o fato é que isso tudo me consumiu, e, agora, eu tenho uma porrada de textos para ler (e, como em todo o seminário de mestrado e doutorado que se preze, também tenho que participar falando, ora pois).
Para amenizar um pouco tudo isso, semana que vem começam minhas aulas de inglês, que vão ser todas as manhãs, de segunda à sexta, até o final de novembro. O lado bom é que cada vez mais vou soltando o verbo, e o outro lado é que vou ficar cansado pra cacete. Mas, dos males o menor. Hoje, sexta-feira, tenho o meu único dia de folga nessa semana, então, pretendo seguir a minha rota turística em NY. A sorte é que ando bastante de metrô, então, terei tempo para ler tudo até a próxima segunda feira (assim espero).
Bom, por hoje é isso. E quando sair o momento do delírio, eu prometo contar aqui também (se não houver censura).
Hasta!

PS: se um dia pintar umas fotos que dê para colocar aqui, para deixar o troço mais "bonitinho" eu coloco...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Soltaram a brasileirada

É estranho escrever sobre o Brazilian Day. Nem eu tinha noção do tamanho do evento e é complicado fazer qualquer comentário generalizante sobre as pessoas que estavam lá (inclusive eu). Então, simplesmente vou narrar a minha experiência, com algumas pequenas reflexões...
A informação que eu tinha era que o show do Zeca Pagodinho seria por volta das cinco horas e, na verdade, era no show dele que eu estava interessado, afinal, ouço ele desde os 15 anos... Então, não me preocupei muito com a hora de levantar. Saí de casa e desci no Grand Central e de lá segui para o local onde tinham dito que seria o show. Porém, fui parar atrás do palco, onde não podia entrar, então, tive que fazer a volta. Estava indo, tranquilamente para o evento, quando de repente vi uma camiseta vermelha com o tradicional "Banrisul" escrito. Passei do lado do cara, que estava com a mulher, e disse "não pode entrar com essa camisa!". Cumprimentamo-nos e descobri que na verdade o colorado é um argentino que é casado com uma brasileira (corintiana) que mora em Miami. Ele explicou que começou a torcer para o Inter uns três anos atrás (possivelmente porque em 2010 o Inter ganhou a Libertadores. Mas outra hipótese, não confirmada por ele, é que essa paixão tenha um quê de pena com a derrota para o Mazembe...).
Enfim, o fato foi que passei o evento todo com eles e até combinamos de nos encontrar em Miami, no inverno, quando possivelmente eu vá para lá com a patroa e as crianças...
Foi com eles também que cruzei a rua 46, até a avenida onde era o show, e ela estava tomada de banquinhas de comida brasileira, acarajé, churrasquinho, além de artistas de rua e tudo quanto era bugiganga para vender. Isso devia ser umas três horas da tarde. Nosso objetivo era ir para perto do palco, mas chegando na esquina nos deparamos com uma parede de grade de ferro (facilmente removível) e uma multidão espremida do lado de fora querendo entrar. Porém, haviam muitos policiais ali. E quem estava dentro, se saísse, não poderia voltar. Ficamos ali, na muvuca, esperando a comoção dos "poliça" para entrar, pois começou a sair bastante gente e tinha muito lugar vazio dentro do espaço.
Bom, não preciso nem dizer que brasileiro é foda (nos dois sentidos da palavra). Numa brecha, um cara puxou uma das grades e o povo começou a entrar. Eu fui no embalo, e já estava lá dentro, todo feliz, quando um policial furioso veio tocando os brasileiros como se fosse gado: "go out! go out!". Nós saímos, sem olhar pra trás. Mas, foi do lado de fora que eu e o Manuel (o colorado argentino) descobrimos que a mulher dele tinha ficado lá dentro. Agora tínhamos a missão de entrar também. Aliás, sobre a polícia no Brazilian Day, apenas dois comentários: primeiro, na hora da muvuca, os caras passam muito trabalho, porque era um brasileiro atrás do outro querendo leva-los na conversa, tentando convence-los a deixar entrar na área gradeada (que na verdade o único critério para entrar era ter chegado cedo).
Era cômico ficar vendo os brasileiros querendo argumentar com os policias, que não engolem a lábia de ninguém. Segundo, quando a muvuca passou, era engraçado ver a cara deles, olhando os brasileiros malucos dançando estranho e fazendo palhaçada. Fiquei tentando imaginar o que se passava na cabeça deles enquanto olhavam aquela "gente louca", como definiu o argentino Manuel.
Rondamos bastante, de um lado para o outro, concordando "eles vão ter que deixar o povo entrar, senão o troço vai ficar vazio na hora do show". A essas horas já estava rolando o show do Gustavo Lima e você. Eu queria ver o Zeca, então, teria umas duas horas para entrar lá. Até era possível ver do lado de fora, mas para ver o que se passava no palco tinha que se recorrer ao telão e, a olho nu, só se enxergavam pontinhos ao longe. Um policial chegou a dizer que por aquele lado só saía gente e que, do outro lado, aos poucos, deixavam algumas pessoas entrar. Fomos até o outro lado e nada. Nem sinal de deixar ninguém entrar. O calor era infernal (uns 30 graus, mas contando que estávamos abaixo do sol e que aquilo era um forno humano com um monte de gente espremida, a temperatura real devia estar na casa dos 40.
Foi numa dessas que paramos num lugar tosco, mais para descansar do que por qualquer coisa. Era entre dois pilares de um prédio, e aquele espaço estava quase vazio. Nisso, tinha um cara escorado na grade. Ele olhou para a gente e perguntou: "quer entrar"?. Eu perguntei: tem polícia perto? E ele olhou bem para os lados e disse "não" e abriu a grade. Eu entrei rapidão junto com o argentino e mais meia dúzia de brasileiros e nos enfiamos no meio da multidão. E, assim, conseguimos assistir ao show. Bom, como disse, curto o Zeca desde cedo, então, pra mim foi muito bom ouvir ele tocando "Descobri que te amo demais!" e outras clássicas dele. O clima na parte de dentro das grades era tranquilo, até familiar, haviam vários pais com crianças pequenas (inclusive nenês de colo)
e havia até gente sentada nas calçadas (incluindo esses dois guris, super animados com o show do tche-re-tche-tchê). Tinham dois banheiros móveis e, para fazer com que nos sentíssemos realmente no Brasil, tinham filas gigantescas para usá-los.
Acabando o show, eu estava morto e faminto, então, acabei saindo pela rua errada. Na tentativa de voltar para a 46 fui barrado por policiais, pois a rua estava trancada. Mas vi que algumas pessoas entravam. Então disse que queria passar para comer. O policial não se convenceu. Então eu fui até outro policial e disse que queria ir no restaurante Copacabana, que era logo ali. O policial perguntou se eu tinha reserva. Eu fiquei sem saber o que responder e me fiz de bobô: "sorry, I didn't understand what you said". Nisso, um brasileiro que estava ali perto, disse para o policial que sim, nós dois, eu e ele, tínhamos uma reserva no Copacabana. Entrando lá, acabei comendo churrasquinho com arroz e feijão, vendidos nas bancas que estavam por ali. Como não tinha onde sentar, acomodei-me no cordão da calçada e ali comi, com prato, garfo e faca de plásticos um suculento arroz com feijão e churrasquinho. Nisso, reencontrei o Manuel e a mulher e dali nos despedimos, pelo menos até o inverno, quando vou para Miami.
Bom, e assim foi o meu Brazilian Day. Cheguei em casa completamente morto que não tive como postar fotos nem escrever aqui, portanto, fiz isso hoje, que foi o dia mais vagabundo que tive em New York nessas três semanas.
Bom, amanhã começam as aulas e aí o ritmo vai mudar totalmente.
De momento é isso! Hasta, people!

Metropolitan, churrasco e jogo do Grêmio

Bom, começou. Acabei saindo e deixando de lado o blog, a internet e tudo o mais. Mas hoje, estou de volta. Óbvio que acumulou um monte de coisa, porém, eu estava pensando sobre isso no metrô, outro dia: mesmo que eu vá escrevendo tudo enquanto o negócio acontece aqui, um milhão de coisasvão ficar de fora dos meus textos. Então, o negócio é seguir o conselho da Marta Suplicy: relaxar e gozar.
Tentando reconstituir o que aconteceu desde a última postagem, na sexta-feira eu fui no Metropolitan Museum of Art. É um puta museu. Na verdade ele tem duas diferenças básicas em relação ao Moma: primeiro, a entrada pode ser até de graça (e no Moma não). Você paga o quanto quer. Eles sugerem um valor, mas você paga o quanto pode. Aí valeu o conselho do professor Walter, que citei no texto anterior: ele contou que o Metropolitan tem muita grana, que vários milionários quando morrem deixam uma fortuna pro museu, além, claro, de outras doações gigantescas e dos valores "doados" pelos visitantes. Então, paguei apenas 31 centavos para entrar. O professor Azevedo sugeriu um quarter (25 centavos), mas peguei todas as moedas que tinha e dei pro carinha do balcão, que olhou estranhando um pouco, pois eu larguei as moedas e disse "uma entrada para adulto". Bom, a segunda diferença básica é o tamanho. O Metropolitan é muito maior. Você teria que ficar umas três tardes inteiras lá para, talvez, conhecer tudo. E além das pinturas, tem muitas outras coisas, como esculturas, peças da antiguidade, de antes de cristo, e um salão gigante só com armaduras, armas, espadas, revólveres, e tudo coisa muito antiga. E, claro, também tem várias obras do Picasso e do Van Gogh (no Moma é uma do Van Gogh).
Resumindo, fiquei lá umas cinco horas caminhando, tirando mais de 300 fotos, olhando, refletindo, etc. De noite, estava tão podre que capotei.
No sábado a coisa foi diferente. De tarde passei na lavagem da rua 46, uma prévia do Brazilian Day, que foi no domingo. Na verdade fui lá duas vezes. Primeiro, de manhã, pois disseram que o troço começava por volta das dez.
Fui lá, fiz fotos, mas vi que o negócio estava devagar. Encontrei um pessoal de CTG, que me reconheceram rápido pela camisa do Grêmio que eu vestia, uns baianos, cariocas, etc, mas na frente do palco havia umas quinhentas pessoas. Logo cansei e resolvi que era mais vantagem ir pra casa, comer um negócio, e voltar mais tarde. Fiz isso, e o troço estava ainda pior. Fiquei por ali mais ou menos uma hora, até que resolvi ir para o Smithfield, na rua 28, que é o bar que passa os jogos do Grêmio (a partida começava às cinco e meia, pelo horário daqui). Então, chegando lá já haviam dois gremistas novos. Um é o Mário (não aquele do armário), que é um cara de Porto Alegre, que chegou há cinco dias mas que vai ficar dois anos, pois ele trabalha com informática. Ele não mora em NYC, mas sim numa cidadezinha aqui perto, mas o metrô facilita tudo. O outro era o Ricardo, esse sim, gremista que estava "turistiando" por aqui. Ele fez a viagem foda do Jack Kerouac, de carro, de Nova York até a Califórnia. Apesar disso, ele não quis fazer exatamente a rota do Kerouac, apenas cruzou o país de carro, conforme os gostos dele e dos amigos. Ele, se não me engano, a essas horas, já voltou para Porto Alegre. Um pouco mais tarde chegou o Carlos Alberto, um outro gremista, que já morou em meio mundo, inclusive cinco anos na Irlanda, onde conheceu a esposa dele, uma americana de Nova York. Então, ele está aqui há dois anos, trabalhando como gerente em um restaurante. Por fim, chegou o Henrique, o semi-americano gremista que mora aqui, que eu já comentei outro dia que veio pra cá aos quatro anos de idade.
O jogo foi bom e animado, principalmente porque o Grêmio ganhou. Teorizamos sobre o time do Renato, falamos mal dos colorados (óbvio) e calculamos as possibilidades de título. Ah, e óbvio, falamos sobre algumas diferenças, vantagens e desvantagens entre Brasil e Estados Unidos. Por fim, o Ricardo e o Carlos Alberto foram embora, pois tinham outros compromissos, mas como eu e o Mário não tínhamos nada para fazer, aceitamos o convite do Henrique de fazer um churrasco na casa dele. De início, achei que ele ia convidar mais gente, mas foi isso mesmo: nós três passamos no mercado, compramos carne, pão e carvão, e fomos para o apartamento dele, que é todo decorado com bandeiras do Brasil, Rio Grande do Sul e Grêmio. Na verdade acho que ele era mais gaúcho do que eu e o Mário junto, pois ele colocou um CD com coletânea de músicas gaúchas. E assim, ficamos nós três, conversando, comendo churrasco e tomando Budwaiser até tarde, quando fomos embora. Ele mora no centrão de Manhattan e o apartamento dele tem uma bela área com churrasqueira. Como os prédios ao lado são comerciais, ele faz fumaça do churrasco e coloca a música alta sem incômodos... Pois é, é churrasco e jogo do Grêmio em Nova York! Sei, o irônico leitor vai me perguntar: mas e aquele texto que tu escreveu antes de viajar que ia fugir de brasileiros? Pois é, eu sei, eu sei. Eu disse isso, mas também sempre disso que mudo de opinião sem preocupação. Na verdade, aqui tem brasileiro idiota e tem gente boa, como em todo o lugar. Outro dia vou mais a fundo nesse assunto...
Bom, passado o sábado de churrasco e jogo do Grêmio, no domingo fui para o Brazilian Day, que merece um texto a parte, até porque senão o preguiçoso leitor vai olhar o tamanho desse texto e vai dizer "ah, mas é muito grande". Então, deixemos para daqui a pouco....
See yap!