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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Key West – Bate pronto de Miami

Bom, antes de mais nada, tenho que esclarecer que esse será um longo texto. Deixei acumular muita coisa por dois motivos principais: primeiro, o de que ninguém lê essa porra – o número de comentários mostra isso. E, segundo, porque esses foram os últimos dias com a minha família aqui (a patroa e as crianças voltaram para o Brasil ontem), então, quis aproveitar o máximo de tempo para curtir o pessoal, principalmente para brincar com a minha pequena e pegar bastante ela no colo e fazer cosquinhas.
Bueno, já que esse será um texto longo, e eu sei que você, leitor imaginário, é um vagabundo que não gosta de ler nem placa de trânsito, então vou dividir a porra toda por tópicos e subtítulos, ok? So, let’s go.
Começo justamente pelos últimos dias da patroa e das crianças. Como já devo ter comentado em algum lugar da web, elas ficaram dois meses comigo em New York e três semanas em Miami. Bom, terei que abrir aqui o primeiro parêntese, pois tenho que comentar um pouco sobre Miami. Mesmo eu lendo sobre e vendo os mapas na internet, eu não tinha ideia do que era Miami. Na verdade, Miami é gigante, em extensão (não em população). Praticamente não há prédios e, em vários trechos, você anda quadras gigantescas sem passar por nada, a não ser por viadutos e postos de gasolina. Então, tudo é longe. Nós ficamos no Sudeste da cidade. Era fácil irmos para Downtown, onde tem o Bayford Park, nosso lugar mais visitado. No entanto, as praias famosas são longe. Miami Beach é outra cidade e dá meia hora de carro e duas horas de ônibus. Então, resolvemos curtir os arredores de onde estávamos, incluindo Dowtown, e um parquinho que a Larissa adorou aqui perto. Resumindo, decidimos alugar um carro nos últimos três dias delas aqui, que eu acabei estendendo para quatro, para poder ir para Key West.
Negócio é o seguinte: um dia antes de pegarmos o carro fomos para uma prainha paradisíaca que fica a 20 minutos de ônibus daqui – perto do Sea Aquarium. Pena que só descobrimos ela nos últimos dias. Mas enfim, valeu muito a pena. Já no primeiro dia com o carro, fomos para Hollyood Beach, que fica a uns 40 minutos de Miami. Vale a pena, é bonita e paradisíaca – e é a tal praia dos famosos aqui. O único problema é achar lugar para estacionar. No segundo dia, fomos para Miami Beach. Era aquilo que já tinha visto na primeira vez que fui com a Lari, de bus.
Uma praia extensa mas com uma cidade viva e muita gente. Ou seja, uma das diferenças de Hollyood para Miami Beach é que na primeira você não tem uma cidade viva. É mais a praia e condomínios residenciais, casas de praia, etc. Já na segunda, há uma cidade com muito movimento, bares e restaurantes lotados, lojas famosas, trânsito foda e tudo o mais. Enfim, no terceiro dia acabamos optando por um passeio mais light, pois o avião delas era de noite, então, fomos até a Toy R Us, loja de brinquedos onde a Larissa fez a festa e, depois de fazer birra, chorar e se atirar no chão, acabou ganhando o gato Tom, aquele que tem o aplicativo no celular, só que de pelúcia e que faz tudo que o gato digital faz: grita, uiva, repete o que fala, etc.
No fim, acabei levando elas no aeroporto de Miami (exatamente na hora de Grêmio 3x0 Nacional), aonde fiquei com o coração apertado ao ouvir a minha pequena fazendo beiço e chorando dizendo que iria ficar com saudades de mim... Depois, meio desnorteado, acabei perdendo o carro no estacionamento gigante e levei uma hora para achar....

Grey Shark
Como disse, alugamos um carro. Fiz a reserva pela internet, seguindo as dicas da minha colega e amiga Lirian Sifuentes, que também fez o sanduíche nos States e passou por Miami. Peguei um carro econômico no site, mas eu não pude escolher o modelo. No site tinha lá uns cinco tipos, que poderia ser qualquer um deles – e só tinha o nome, mas como não entendo patavina de carros, pra mim era como se os nomes fossem em grego. Fui na locadora no domingo de manhã, pois o horário de retirada era onze horas. Havia uma fila. Primeiro, tive o prazer de, pela primeira vez, ter uma discussão em inglês. Eu cheguei 10h45 e já era 11h45. Os dois atendentes estavam ocupados. E eu estava lá, zanzando na sala de recepção, quando entrou um cara e duas mulheres. Eles se dividiram, e o cara e uma das mulheres ficaram atrás de um dos balcões de atendimento e a outra mulher, sozinha, foi para o lado em que eu estava. Quando um dos caras se liberou, ela chegou direto dizendo que tinha uma reserva e blá, blá, blá... Eu sou calmo, mas já fico irritado com isso no Brasil, então, imagina aqui! Ainda mais que se tratava de um grupo de americanos!! Não resisti, e disse para a atendente “excuse me, but I arrived here first”... E a americana me olhou com cara de nojo e disse que eu não estava na fila (!?!?! – que fila se só eu estava lá, caralho!). Aí eu disse que estava lá há quase uma hora e discutimos mais um pouco, até que a atendente (que era uma molóide, pois ela certamente me viu antes) me atendeu. O negócio foi rápido, e em dez minutos eu saí para a garagem com a chave do carro e a cadeirinha da Larissa. Estava eu lá, mosqueando de novo, esperando me trazerem o carro, quando de repente chegou O CARRO. Yes, man, um Elantra da Hunday cinza. O cara disse “it’s here”. E eu pedi para ele conferir meus papeis para ver se era esse mesmo o carro. Ele olhou e disse “yes”. Caralho!!! Bom, como todo mundo que vem para cá coloca nome nos carros, e o Hunter Thompson fez isso com o seu “Red Shark”, eu tratei de roubar a ideia dele e apelidar o “meu” de “Grey Shark”. O problema é que, de início, eu não sabia como funcionava a marcha automática. Mas rapidinho peguei o jeito. O problema foi me acostumar com a ausência da embreagem, então, eu pisava no freio e o carro dava um soco (aconteceu umas três vezes, até que me acostumei de vez – quero ver desacostumar quando voltar ao Brasil). Aê o troço todo da saída da locadora pareceu uma comédia. Pois eu estava todo bobo alegre, andando pelas vias gigantescas de Miami, com meu carro novinho, ar condicionado no gelado, ouvindo a música da hora a todo o volume, quando de repente um carro passou colado ao meu, eu joguei ele para o outro lado e quase bati numa mulher, que ficou buzinando e me seguiu até passar por mim colocando a mão na cabeça e perguntando “are you crazy?”. Eu fingi que não ouvi e segui indo. Na real, esse foi o único susto. Menos mal que a patroa e as crianças não estavam a bordo...
E, com o Grey Shark, fizemos os passeios todos citados antes, até que na quarta-feira eu botei o pé na estrada para a grande aventura: Key West!

Bate pronto Miami-Key West
Vou começar do início. Lembro que quando eu estava traduzindo um dos livros biográficos do Hunter Thompson, ainda no Brasil, li que ele havia morado na Flórida. Então, tentando descobrir aonde exatamente ele morou, achei o seguinte: a primeira vez dele foi longe de Miami, na Universidade do Estado da Flórida, onde a minha outra amiga Eloísa Klein fez o sanduíche dela. Não lembro a cidade, mas não é tão perto. Foi nessa cidade que ele serviu a Força Aérea Americana. Depois, nos anos 1980, ele morou um tempo numa das ilhas de Florida Keys. Fui pesquisar sobre isso e logo descobri que se tratava de um aglomerado de ilhas, saindo do continente. Ou seja, são as praias mais ao sul dos Estados Unidos. Não achei exatamente em qual das ilhas Hunter Thompson morou, mas é possível que tenha sido em Key West, a mais famosa. Então, foi assim que descobri a existência dessa ilha que, fui ver depois, era uma cidade.
Antes de ir para lá, li muito sobre as ilhas, inclusive o texto do blog da Lirian, que também foi para lá e me deu muitas dicas via Facebook. Há muitas opiniões divergentes na internet e no boca a boca do pessoal que fez essa viagem. Então, num momento de jornalismo de turismo, se você for para o arquipélago, faça a sua programação e busque o que você tem interesse, senão você vai ficar perdido. Bom, antes de ir, também descobri que um dos maiores jornalistas-escritores de todos os tempos morou lá: Ernest Hemingway. E, que lá há o museu onde era a casa do cara. Então, comecei a minha rota por aí.
Bom, a viagem, vendo pelo Google Maps e pelos comentários deveria durar três horas e meia de carro. Ah, antes volto para o início mais uma vez. Eu conheci um casal de brasileiros no metrô, e eles me disseram que havia vans de turismo que levavam o pessoal para lá. O problema é que a van sai as oito da manhã, chega ao meio dia, e volta às cinco da tarde. Ou seja, eu teria apenas cinco horas lá. Mas, como imaginava uma ilha pequena, até achei que dava (aqui outra dica: evite ir de van). Pois é, se der, escolha um carro, pois a van custa 72 dólares. Foi então que fiz um cálculo simples: renovar o carro por mais um dia sairia mais barato (talvez o mesmo preço, com a gasolina). E assim fiz.
Meu plano inicial era sair às oito e meia para chegar ao meio-dia. Para a minha sorte, acordei às seis e meia sem sono e resolvi antecipar tudo. Sai às sete e meia (com uma passadinha rápida no 7 Eleven para pegar comida e não gastar lá) e cheguei meio dia. Ok, cheguei ao meio dia porque fiz três paradas nas outras ilhas no caminho. Agora algumas impressões pessoais:
1) Pelo que eu lia na internet achava que a viagem inteira fosse nas pontes, vendo o oceano. Na real não é bem assim. Da saída de Downtown você anda duas horas por estradas normais. Ok, tem o oceano ao redor, mas a vista é limitada. Então, na verdade, é mais ou menos uma hora vendo o oceano.
2) Se você for, ou pesquise antes para ver os lugares que vai parar, ou faça como eu, e quando ver uma entrada para estacionar na beira do mar pare. Foi assim que achei o parque dos Veteranos, uma mini-prainha paradisíaca (foto).
3) Não tem como você reduzir o tempo de viagem. Não é como no Brasil, que dizem “se você for rápido, você faz em três horas”. Esquece isso, cara pálida. Os carros não vão muito além do limite de velocidade, simplesmente porque se fazem isso te param no próximo posto policial. Então, mesmo que a pista esteja livre, você não vai conseguir ir tão rápido quanto deseja. Então, no mínimo, se você for reto e não parar, vai levar três horas e meia (eu levei isso para voltar, sem parar nunca, de noite – e mesmo assim peguei engarrafamento na entrada de Miami).
4) Enfim, o esforço todo vale a pena, pois as paradas são fodásticas e Key West é sensacional.
Bom, claro, a parte emocional. Eu estava empolgadíssimo, sem sono. Liguei o volume no rádio a todo o volume. O carro tremia. E tem um milhão de rádios, uma diferente da outra, então você acha música boa para a viagem inteira. Uma que tocou umas três vezes é “Because I’m happy”, que me deixava arrepiado com o som e a vista pela janela do carro. Eu berrava feito um maluco dentro do carro, uivava feito um lobo desperucado e dançava no volante como a galera que aparece no clipe da música. A todo o tempo eu pensava: “caralho, não acredito! Estou eu, aqui, na Flórida, em um Hunday com câmbio automático, um GPS do caralho que não deixa eu me perder, com toda essa vista, indo para um dos lugares mais fodas do mundo!!!! Uhuuuuu, porraaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Numa das paradas, depois que eu cheguei, apareceu um grupo de motociclistas. Pareciam os Hell’s Angels. Mas eles pediram pra eu tirar uma foto deles (uma com a máquina deles, então, aproveitei e tirei uma com a minha). Na real, eram turistas da Suécia que falavam um inglês tão precário quanto o meu.
Ah, quando eu saí de Miami, acabei botando como ponto de destino no GPS o museu do Hemingway, porque fiz o seguinte cálculo: o museu fecha às cinco, então, vou lá primeiro. E deu tudo mais ou menos como planejei. Com as paradas, cheguei em Key West ao meio dia. Aí outro problema para, se você pretende ir para lá de carro, se preparar: lugar para estacionar. Ao redor do museu é um problema. Andei por uns 20 minutos até achar um lugar (e não havia estacionamento pago como opção).

Ernest Hemingway House and Museum

Bom, cheguei na casa do cara tirando fotos. Caralho! Não acredito que tô aqui, cacete!!! Porra!! Passei a vida ouvindo falar que o cara é um dos mais fodas da humanidade, caras de todos os tipos elogiam ele, desde os desbocados e menosprezados Bukowski até os eruditos, e eu tô aqui, porra!!!!!!!
A entrada é 13 dólares, mas que se foda, é uma chance única na vida! Entrei todo bobo alegre e me surpreendi: a casa é gigante e o pátio também! Imaginei que ele fosse como os outros, que moravam em quartinhos alugados, mas não. Hemingway, que nasceu 1899 e morreu em 1961 (assim como Thompson, suicidou-se), vivia bem, e muito bem. Ele se mudou para lá com a mulher nos anos 1920, mas não descobri até quando – pois ele se matou em outro lugar. Enfim, a casa era dele, e ele deixou como herança para os seus gatos. E realmente os gatos são os donos da casa.
Tem um cemitério de gatos, com o nome de todos, desde os anos 1920 até hoje. E nos móveis, onde há fitas para as pessoas não tocarem, há gatos dormindo sem ligar para os turistas embasbacados. E, claro, há quadros, livros, móveis do escritor, etc. Para quem ama literatura e jornalismo, e, como eu, jornalismo literário, é algo inexplicável. Há uma piscina, que o guia turístico disse que na época Hemingway pagou oito mil dólares, um jardim gigante, e uma outra casa menor, mas também de dois pisos, onde no primeiro é a loja e no segundo está o templo de Hemingway: a peça com a máquina de escrever, a cadeira e a biblioteca do escritor. Genial!
Daria para ficar uma tarde inteira só lá, mas como haviam os outros lugares, eu fiquei mais ou menos uma hora. E então, partiu praia!

Trago de água salgada
A primeira praia que fui era ali perto. Mas, como eu pretendia ir costeando o litoral, busquei o carro e botei em South Beach. Lá o estacionamento é com parquímetro. Marquei para ficar lá até 5h45. Primeiro, fui na praia, onde tirei uma porrada de fotos, tomei banho e depois sentei em cima da bandeira do Grêmio. Fiquei ali um tempo, olhando a paisagem, vendo os pelicanos caçando no meio dos banhistas e o povo tendo aulas de canoagem. Dali, como o planejado, segui a pé. Primeiro parei em Dog Beach.
Como o nome diz, é a praia dos cachorros. Lá só há donos de cachorros no mar com os cachorros, ou os donos fora do mar atirando bolinhas para os cachorros. Mas é uma mini praia. Passando, cheguei em Higgs Beach, uma outra praia paradisíaca, onde há o Aids Memorial, que vai mar a dentro, onde as águas são transparentes, você pode ver peixinhos coloridos, e no chão há o nome de pessoas que morreram vítimas de Aids.
Não pesquisei a fundo, mas deduzo que é mais ou menos isso. Havia um grupo de adolescentes lá, e uma loira gordinha de short sumário escrevendo com giz na parede “Key West Hig School”.
Ah, e esqueci de contar, a primeira praia se chama Southernmost Beach, simplesmente porque é a praia mais ao sul de todos os Estados Unidos e fica somente a 90 milhas de Cuba (pouco mais de 100 quilômetros).
Havia uma fila de turistas para tirar fotos no marco do ponto mais ao sul do país, inclusive, um grupo de monges que, apesar do calor, estavam com aquela roupa grossa, tirando foto com Ipads, Iphones e afins.
Bom, dessas praias, eu queria ir para um parque, que, pelo mapa que peguei, tinha uma praia bonita. Outra dica: chegando na cidade pegue um mapa em um dos vários pontos com mapas grátis – ali estão indicadas as praias públicas, pontos turísticos, etc. É fundamental! E, como já disse, um carro também, pois você pode ir dum canto a outro quando bem entender, algo impossível a pé – e não há transporte público, só aqueles ônibus pequenos de turistas... e táxi cor de rosa.
Enfim, rapidinho, com a ajuda do GPS, eu e o Grey Shark estávamos no tal parque. 4 e 50 o ingresso, mas foda-se, vale a pena. É um parcão, com área para acampar, fazer comida, bastante árvores, espaço para pesca, andar de barco a vela, etc.
E muito lindo também. No final da tarde fica mais foda ainda, porque o sol bate contra o mar. E, óbvio, há a praia para banho. Vale muito a pena. Pra quem vai ficar mais de um dia, fica a dica. Mas, como o tempo era curto e já eram quase seis, eu me mandei para a última praia do trajeto, Smathers Beach. Era final de tarde e o céu estava colorido. A praia praticamente deserta. Havia um casal, com a mulher vestida de noiva, e um cara tocando violino... Casaram ali, na beira da praia... Tirei muitas fotos.
Mais adiante, um cara que parecia um Bob Marley comandava uma aula de batucada. Cena sinistra. Melhor que filme. Paisagem mais linda do que qualquer foto. Me senti vivo. Me senti foda. Me senti, porra, não tem como descrever. Caralho, eu, um zé ninguém, que nasceu em Santo Ângelo, viveu a vida no interior do Rio Grande do Sul, que não estudou nos melhores colégios, repetiu o primeiro ano do Ensino Médio, pegou recuperação em praticamente todas as disciplinas a partir da quarta série e que fez faculdade numa universidade pequena, e que só estudou (e estuda na PUC) com bolsa, que se fudeu em tudo que é tipo de emprego dessa vida (mensageiro, panfleteiro, babá de cães, jornalista em jornal e rádio com chefes malucos), etc, estava ali, porra, vendo aquela paisagem toda, no fim de uma tarde sensacional....
Mas, enfim, como tudo acaba, o dia também terminou e, nessa hora, quando entrei no carro para voltar a Miami, senti o cansaço... Porém, às três horas e meia de volta foram divididas entre o cansaço e a satisfação. No fim, valeu – e muito! – a pena...
Caralho, se você chegou ao fim desse texto, então parabéns, você é um herói. Mas a satisfação é tanta, que tive que despejar tudo aqui...
Bueno, amanhã volto para a neve, New York City, aonde, ao que descobri a pouco, deve nevar no sábado. E depois... bom, depois só Deus sabe...
Hasta!

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Rito de acasalamento

Nos dividimos em nações, países, continentes, estados, cidades, bairros, etc. Acreditamos, baseados na nossa própria lógica, que somos superiores aos outros animais. Falamos inúmeras línguas diferentes ao redor do globo. Habitamos o planeta há milênios, mas certas coisas nos colocam praticamente lado a lado dos outros animais. Pensei nisso ao ver uma cena em Miami que me fez lembrar de um documentário que vi certa vez na National Geographic e que tratava do rito de acasalamento do mundo animal.
Em várias espécies de pássaros, por exemplo, quando a fêmea está na época do acasalamento faz com que os machos entrem em uma competição para ver qual canta melhor. Já em algumas espécies de macacos, o macho dança e faz palhaçadas tentando mostrar que é melhor do que os outros. E, a partir de quem impressiona mais, a fêmea escolhe o seu príncipe encantado do mundo primata.
Pois bem, e aqui estamos nós, fazendo metaforicamente o mesmo ritual no século XXI, independente de nacionalidade, cor ou classe social. A cena que vou narrar agora é comum na raça humana, e aposto que todos os leitores já estão carecas de ver. No entanto, a forma como tudo aconteceu foi tão clara e direta que, mesmo sabendo que “os animal tem uns bicho interessante” – como cantaram os Mamonas Assassinas -, fiquei embasbacado. Enfim, vamos à cena, sem julgamentos, conforme nos ensinaram os papas do jornalismo objetivo.
Saio do shopping Dolphin Mall, em Miami, Flórida, Estados Unidos. Estou caminhando pela calçada. Uma loira vistosa caminha poucos metros a minha frente. Veste calças brancas justas, blusa verde e tem cabelos dourados que vão até a cintura, que balançam no mesmo ritmo de suas ancas e nádegas, de um lado para o outro. Poucos carros passam pelo local, pois há faixas de segurança, quebra-molas, etc, afinal, é o pátio do shopping. Um cara comum, que não chega a ser um galã de novela da Globo, passa em um conversível branco. Cena normal em Miami, pois aqui parece que todo mundo tem conversível, afinal, é verão o ano inteiro (em fevereiro, inverno nos Estados Unidos, a média é de 25ºC). Ela, que está na fase de acasalamento, em meio a outros carros e outros motoristas, escolhe esse. Pede para ele parar para tirar uma foto. Ele fica todo animado. Ela tira a foto com o motorista e o carro. Conversam alguma coisa que não posso ouvir, e o carro segue adiante. O motorista de trás, em um BMW conversível, assistiu toda a cena. Ele vai dirigindo vagarosamente ao lado da loira, roncando o motor forte, como se fosse um lobo uivando para a loba no cio.
Ela atende ao chamado, afinal, ele é o principal macho em potencial ao redor, e, na competição por atrair à fêmea, o carro equivale ao canto do passarinho ou a dança do macaco (pelo menos nessa cena, não estou dizendo que é sempre assim na raça humana – às vezes é o melhor carro, noutras o melhor dançarino, o melhor conversador, o mais bonito, o mais rico, o mais isso, o mais aquilo).
Bom, voltando à cena do carro em Miami, após essa breve competição pela fêmea, ela escolhe o seu macho. Tira uma foto e depois entra no conversível, onde vão fazer o restante do ritual de acasalamento, que no caso do ser humano, não tem como objetivo final a reprodução. Porém, assim como no caso dos animais, depois que o macho cobrir a fêmea, ele vai se retirar e guardar as suas habilidades de conquista para a próxima no cio... Afinal, como os outros bichos dessa imensa floresta, somos todos animais, não? E eu?
Eu também. Mas de momento, só observo.
Um bom resto de semana a todos.
*Texto a ser publicado no JMissões.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Enfim, Miami!

Aproveitando o embalo e o ritmo, vou aproveitar para dar uma atualizada na bagaça agora. Esse texto talvez possa ajudar alguém que pretende viajar de avião nos Estados Unidos ou vir para Miami.
Bom, como disse, saímos de Nova York na quarta-feira, dia 5 de fevereiro. Estava nevando, e aí vinha meu primeiro nervosismo: que o voo fosse adiado, cancelado e o caralho a quatro. A primeira aventura foi a ida para o aeroporto. Literalmente, parecia cena do Eu, a patroa e as crianças. Éramos nós quatro e mais... oito malas!!! Ou seja, ida para o aeroporto JFK de metrô estava descartada. A única opção era o taxi. Então, ligamos para um e eu pedi um carro grande, pois tinha, deixa eu contar.... 1, 2, 3... Mandaram um carro grande, mas não gigante. O resultado: foi uma mala no banco da frente, uma no meu colo, outra no colo da patroa e o resto no porta-malas. Não dava pra se mexer lá dentro. E eu estava de casaco térmico, botas de neve, etc. Enfim, chegamos no aeroporto e aí aconteceu um negócio que eu não sabia, e que se alguém for fazer viagem nacional nos Estados Unidos deve saber: aqui você paga pelas bagagens despachadas (as grandes). Ou seja, você não tem direito de levar NENHUMA bagagem grande gratuitamente, ao contrário dos voos internacionais ou nacionais no Brasil. A gente tinha reservado quatro bagagens grandes e quatro de mãos. E aí veio a facada: 25 dólares cada bagagem de despache. Resumindo, 100 dólares saíram voando da minha carteira.... Fiquei tão puto (apesar de não reclamar, pois é a regra aqui) que acabei não dando o famoso Tip (gorjeta) para o carinha da Delta que carregou nossas malas. Eu olhei pra ele, ainda atordoado com os 100 dólares que tinham me abandonado, e disse “thank you”. Ao que ele respondeu “so, that is it?” e resmungou baixinho, mas consegui ouvi “you are a dog”. Ok. Tava nem aí, porra, afinal, o cara recebe salário da Delta, cacete! Se eu der Tip pra todo mundo nesse país vou ter que pedir esmola no subway!
Na viagem, mesmo com meu Rivotril, como sempre, fiquei nervoso. Três horas de tensão. A porra do avião, como sempre, fica baixando e subindo, de vez em quando vira, faz barulhão pra eu me cagar todo, da uma tremidinha, essas coisas. Enfim, chegamos quarta-feira à noite, de acordo com o previsto. E, conforme o imaginado, cheguei suando, com o blusão de lã e a bota de neves. De lá, a segunda aventura: pegar um taxi para o apartamento.
O primeiro taxista (filha da puta, diga-se de passagem) tinha um carro gigante, onde cabiam nós quatro mais as oito malas e ainda sobrava lugar. Todo mundo arrumado, ele olha o endereço, vê que é perto do aeroporto, e diz que não vai levar. Ou seja, todo mundo desce, com as oito malas. Se não tivesse policiais por perto teria dado um soco na fuça do desgraçado. Fui falar com o agente de trânsito, e ele disse para pegar a van, que nos levou por um preço ainda menor do que o do taxista. Resumindo, até que foi bom. E quase que disse para o filho da puta “seu desgraçado, ia te dar U$100 dólares de Tip, agora fique aí, mendigando Tips pra outros, caralho!”.
O primeiro dia foi normal, fomos num parque perto do ginásio do Miami Heats (atual bi-campeão da NBA e que, ao que tudo indica, está caminhando rumo ao tri). O parque é legal, andamos pela orla, fomos em lojas, essas coisas. No outro dia, só eu e a nenê nos animamos a sair de casa. Para ir até esse parque, você pega um trenzinho gratuito que faz uma rota razoavelmente abrangente em Miami.
Então, pegamos esse trenzinho para Downtown, que é perto, mas como é de graça, é melhor do que caminhar no calor que faz aqui de aproximadamente 25 graus. Chegando lá, tive uma daquelas ideias típicas do carinha do Eu, a patroa e as crianças. Vamos para a praia!!! Miami Beach, man! Olhei para a Larissa e disse:
- Nenê, vamos para a praia?
- Não, eu quero ir no parquinho...
- Mas na praia é legal, tem o mar, a areia pra você brincar...
- Não, eu quero ir no parquinho! (já disse com beiço)
- Bom, então vamos na praia e depois o pai te traz no parquinho.
Ela pensou um pouco com a mão no queixo e então concordou. “Hey baby, let’s go!”
E então pegamos o busão S! O trajeto da ida é legal, porque você vai olhando a paisagem e a ponte gigante que liga o continente à ilha onde é Miami Beach. O problema é que o ônibus vai relativamente cheio, o motorista era um cara grosso que merecia tomar um tiro (como diria o meu pai antigamente – agora ele está moderado e pacifista), e demora pois o busão vai parando. Ou seja, da cerca de uma hora de viagem. Chegamos lá e, finalmente, Miami Beach! Mar! Praia! Lojas com coisas de praia!! Prédios! Orla!! Gente bonita! Sol! Calor! Banho de mar!!! Uhuuullll!!! E assim passei uma tarde maravilhosa com a minha Larissa na praia. Na volta, pegamos o mesmo busão, e chegamos de noite, com a patroa preocupada e brava.... Mas enfim, pai que é pai tem que fazer essas indiadas vezemquando com os filhos.... Ah, e pra completar, quando cheguei lá me dei conta de que a máquina estava sem a bateria! O que me salvou foi o celular...
E ontem, outra aventura.
A minha enteada estava com dor no lado direito, naquela região onde dói quando a pessoa tem apendicite. Na dúvida, levei ela no hospital. Acabamos passando o dia no hospital, mas no fim não era nada demais, apenas coisas que ela comeu. Valeu para ver o sistema de saúde privado americano, no entanto, isso vale outro texto, pois por hoje chega! Ah, e hoje foi o dia do Grenal, conforme o texto abaixo.
Bom, até a próxima, que não sei quando virá!
Here is Miami Beach, man! Rum and beer all day!

Super Bowl e Grenal

Porra, só agora que fui entrar aqui para postar o texto que estou mandando para o J Missõese vi que o último texto foi antes da final do Super Bowl! Caralho. Então, apenas para atualizar os meus dois leitores imaginários, eu fui ver a final do Super Bowl no dia 2 de fevereiro em um bar em Manhattan onde só tinha torcedores do Denver Broncos. Ok, na verdade havia um único torcedor com a camisa do Seattle, mas o resto estava tudo laranja. A questão é que o pessoal de Denver invadiu Nova York para a final do Super Bowl, então, pelo menos na região da 28 Street com sétima, sexta avenida, Brodway, etc, os bares estavam dominados pelo pessoal de Denver. Talvez houvesse outras regiões com a galera de Seattle, no entanto, devido a menor distância de Denver, creio que quem veio de Seattle foi para ir para o estádio mesmo. E foi para comemorar também, pois o Seattle deu um chocolate nos Broncos de 46 a 8. Sei lá, tentei calcular, mas é mais ou menos como se um time fizesse algo como 4 a 1 ou 5 a 1 nua final de campeonato. Deu pena de ver. Mas valeu a experiência, pois deu para sacar, como disse no último texto, a influência do Super Bowl na cultura americana. Comparado com os outros eventos que já vi aqui, como os outros esportes (baseball, por exemplo) ou Halloween, o Super Bowl, pelo menos em Nova York, foi o evento que mais mobilizou a massa.
Bom, foi foda ter visto uma final de Super Bowl em Nova York, ainda mais com o jogo sendo no estádio sede dos dois times de Nova York (apesar de ficar na vizinha New Jersey). No entanto, no texto que segue falo de outro super jogo, o clássico Gre-nal, que apesar de ser apenas um jogo treino para o Grêmio, foi bem disputado e terminou 1 a 1. Conto, no texto mandado para o JM, como assisti à essa partida em Miami (também nem comentei nada, mas chegamos aqui na quarta-feira, dia 5 de fevereiro). Porra, tem muita coisa pra atualizar nessa bagaça!!! Enfim, chega de enrolação e segue o texto:

Grenal em Miami

Na semana passada, deixamos a neve de Nova York para passar uns dias em Miami. Tenho um verãozinho aqui até o final do mês, quando retorno para NYC. Só a comparação de Nova York com Miami já renderia um outro texto. E a comparação das duas cidades americanas com o Brasil, então, renderia no mínimo uma dissertação de mestrado em Sociologia. Mas enfim, o fato é que aqui em Miami tem um casal de amigos formado por uma brasileira corintiana e um argentino que torce para o River Plate e para o Inter. Pode parecer piada, mas o cara é colorado mesmo, veio de camisa oficial, sabe a escalação do time do Abel, a história do clube e tudo.
Ele contou que começou a acompanhar o Inter quando o D’Alessandro foi para o clube da beira do Guaíba e, aos poucos, foi ficando tão fanático quanto em relação ao River. E a nossa amiga, corintiana, para puxar o saco do namorado, estava torcendo para os vermelhos também. Como a patroa também é colorada, era eu contra os três. Até as duas baixinhas, a Laura e a Larissa, que teoricamente são gremistas, me deixarão na mão e ficaram vendo desenho no quarto...
Enfim, assim estava eu, em Miami, com uma bandeira tricolor pendurada na janela, uma camisa retrô do título da Libertadores de 1983 e calção do Grêmio sofrendo na frente da televisão, depois de comer um churrasco improvisado e degustar algumas loiras deliciosas. Tive que praguejar em silêncio ao ver o Grêmio tomar o gol no final do primeiro tempo, depois de passar os primeiros 45 minutos jogando melhor do que o Inter. Mas o troco veio no segundo tempo, quando o Inter estava muito melhor e parecia que iria fazer o segundo gol, até que o Paulão, ídolo gremista, resolveu botar a mão na bola dentro da área. A minha comemoração foi triplica. Comemorei por cada um dos três secadores. Depois, torci para que acabasse logo o jogo, pois o segundo tempo do Grêmio foi lastimável, com a exceção do gol do Barcos...
Bom, creio que nesses seis meses de Estados Unidos esse tenha sido o dia mais brasileiro em solo americano. Como já contei, até cheguei a ver jogo do Grêmio com churrasco gaúcho em Nova York, mas o clima de Miami é muito parecido com o da América Latina: a temperatura, o ritmo da cidade, a educação (ou falta dela) das pessoas e alguns problemas tipicamente latino americanos (provavelmente importados pelos imigrantes vindos de Cuba, Porto Rico, República Dominicana, etc). Na verdade, estar em Miami faz com que você se sinta mais em uma praia do Caribe do que nos Estados Unidos do Texas, de Nova York ou da Filadélfia. Não posso dizer ainda nada sobre a Califórnia, pois só vou chegar lá em abril. Mas só de sair direto de Nova York para Miami você já sente diferenças bizarras e gritantes (algumas positivas, outras negativas e outras simplesmente naturais). Mas, como disse, isso vale outro texto. Nesse, apenas quis registrar esse dia típico de Gre-nal vivido por mim na terra do Tio San, ao lado dos meus amigos corintiano, argentino colorado e da patroa.
Uma boa semana a todos.