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sábado, 28 de julho de 2012

O velho e bom patinho feio

A paixão de Otávio por Natália começou quando eles eram colegas na 4ª série. Ambos tinham 10 anos. Otávio não conseguia se concentrar nas aulas, pois ficava apenas admirando os cabelos pretos e lisos de Natália, que se destacavam em contato com a pele branca de neve de seu rosto. Na época, ele trocava confidências com seu amigo Leonardo, que, por sua vez, gostava de Lisiane. Um dia, Leonardo, que era mais ousado, sugeriu que ambos escrevessem uma carta se declarando para suas respectivas amadas. Combinaram o seguinte: Otávio entregaria a carta de Leonardo para Lisiane, enquanto Leonardo entregaria a carta de Otávio para Natália. Otávio levou três dias para escrever a sua carta. Fez a melhor letra, corrigiu os erros de português no Google e ficou cinco horas desenhando vários corações que ilustravam o seu sentimento. Quando Leonardo foi entregar a carta para Natália, ele ficou escondido atrás da escada da porta de entrada do colégio, espiando, bem quietinho.
Viu Leonardo se aproximando e entregando em mãos o seu envelope amarelo claro para Natália. Parecia que o coração estava dentro de seus testículos e que eles iriam explodir a qualquer momento. Com os olhos arregalados, viu Natália terminar de ler, fazer uma cara de fúria, e rasgar a carta em 1001 pedaços.
A primeira experiência traumática não foi suficiente para acalmar a paixão de Otávio. Após trocar de colégio, eles se reencontraram em uma festa de 15 anos quando estavam entrando no Ensino Médio. Otávio tremeu quando a viu, mas pensou, “bom, faz tanto tempo, de repente ela acha graça do que aconteceu”. Entretanto, quando ele se aproximou e disse “oi”, ela simplesmente fez a pior das caras de nojo, virou o nariz e o deixou ali, paralisado e de coração partido. Para esquecer, ele tomou seu primeiro porre: 18 garrafas de cerveja em uma noite.
O tempo passou e Otávio chegou à casa dos 20. Vezemquando, antes de dormir, ele pensava em Natália. Como estaria? Será que ela realmente o odiava? Vai ver aquele último episódio ocorreu só porque estavam na adolescência. Sabe como é, guria, na adolescência, é pior do que os rebeldes da Síria. Ainda mais quando está na TPM. A essa altura da vida ele já sabia alguma coisa sobre as mulheres. Sabia que TODAS passam por uma fase em que ficam irracionais lá pelos seus 15 anos e, depois, essa irracionalidade passa a ser mensal, antes de ficarem menstruadas... Então, ele apelou para as redes sociais na internet e achou Natália. Viu o perfil: solteira. Beleza! Aê garoto, tá pra ti, heim?! Inicialmente, pensou em simplesmente lhe adicionar. Mas e se ela não se lembrasse de seu rosto e de seu nome? Então, deixou um recado, relembrando brevemente os últimos episódios em que se encontraram. Passou um dia, dois, três, e nada do convite ser aceito. Então, ele deixou outro recado. Olhava todos os dias a página dela e via que ela interagia com outras pessoas. Ficou frustrado e pensou em desistir, pois se ela quisesse teria lhe aceito, teria lhe dado uma resposta, um sinal, uma luz! Aliás, o mundo dava voltas, e ele, como o Roberto Carlos, era o patinho feio se transformando em cisne com mil garotas querendo sair com ele. Noutro dia, enquanto espionava a página da Natália, recebeu um telefonema da Michele, a garota mais gostosa da faculdade, convidando-lhe para um chope. Mesmo com a cabeça em Natália, acabou indo. Saiu com Michele, beijo-a, levou-a para dormir em seu apartamento, fizeram sexo caliente a noite inteira, mas ele não se sentia satisfeito. Ele queria o amor de sua vida: Natália.
Cinco anos depois, quando já estava formado, ele foi num baile de formatura e viu aquela garota loira, linda, perfeita, de vestido decotado, olhos de felina e bunda de tanajura. Quando foi tirá-la para dançar, já dono de si mesmo, como um autêntico garanhão de 20 e tantos anos, levou um susto: era Natália. Tinha pintado os cabelos. Engoliu seco. Naquele momento, ele voltou no tempo e se sentiu como o garoto da 4ª série que não tinha idéia do que era o contato com a criatura do outro sexo. Foi rumo ao desconhecido. Entretanto, a resposta foi bem conhecida: ao ver ele se aproximar, Natália fechou o rosto, virou as costas, e saiu rebolando aquele rabo maravilhoso...
Os anos se passaram, e Otávio sempre espionando cada passo que Natália dava nas redes sociais. Sabia onde morava, onde trabalhava, e acompanhou todo o namoro, noivado e casamento com o Dr. Feliciano. Na verdade, quase não acreditou quando viu que ela estava namorando alguém chamado Feliciano. Mas, enfim, essas coisas, que muitas vezes parece que só acontecem na ficção, também dão as caras no mundo real. Com o casamento e os filhos de Natália rolando (um casal, o Pedro e a Joana), Otávio seguiu sua vida. Teve várias namoradas, comeu as gostosas da sua turma da faculdade, as colegas de trabalho, as vizinhas, e, como Martinho da Vila, também comeu mulheres casadas carentes, solteiras feliz, donzelas e meretrizes, novinhas e velhinhas.
Quando estava na casa dos 35, ele viu que Natália sumiu das redes sociais. Viu também que ninguém a procurava ou deixava recado. Então, numa noite, em uma de suas festas, ele não acreditou quando viu aquela morena estonteante, bronzeada, bem diferente da colega de infância que tinha a pele branca como papel, dançando numa rodinha com outras três mulheres perto do bar. Ele a reconheceu no mesmo instante, mas agora, como um lobo velho, não iria mais desperdiçar energias em uma caça que sabia estar perdida. Então, ele ficou em seu próprio grupo, conversando com seus amigos, enquanto uma dúzia de pares de olhos femininos o cobiçava.
Já era por volta de três horas da madrugada quando ele foi ao balcão para pegar mais um chope e foi surpreendido. Ficou sem fala ao virar o rosto e ver Natália ao seu lado, sorrindo:
- Oi.
- O-oi.
Os dois conversaram a noite inteira. Riram juntos de todas as investidas de Otávio. Natália então lhe contou tudo o que aconteceu: os namoros, o casamento, os filhos, o divórcio, as paixões e as desilusões que teve na vida... “Eu nunca pensei que um dia eu conversaria com vocês”, ela disse, rindo, confessando que realmente o odiava com todas as suas forças... “Eu te entendo. Fui muito amador, te perseguindo... é óbvio que você se assustaria...”, admitia Otávio. Os dois conversaram muito e, no fim da noite, se beijaram. Não rolou sexo, pois ela estava recebendo umas amigas do Rio. Marcaram de se encontrar no outro final de semana, já que ele passaria a semana fora da cidade.
No sábado seguinte, encontraram-se no apartamento dela, sabendo que tudo iria terminar na cama. Ele chegou a pensar em todos os anos de espera, tentou relembrar tudo o que sentiu, mas sabia que tinha um “quê” de vingança naquela situação. Já ela não acreditava que tinha esperado tanto tempo para conhecer esse cara maravilhoso. Ria de sua própria infantilidade nas outras situações, mas achava que era o destino. Acreditava que, se tudo aconteceu assim, era porque o cupido e Deus nosso Senhor queria que assim fosse. E então, foram para a cama. Os dois queriam que tudo fosse devagar, para aproveitar ao máximo. Se beijaram e se acariciaram muito, antes de qualquer outra coisa mais ousada. Então, ela finalmente chegou lá, e fez o melhor sexo oral que estava ao seu alcance. Ela, que não gostava muito de sentir o membro duro e melecado em sua boca, naquela noite não queria largar. A cada posição, ela deu o máximo de si.
Fez coisas que nunca tinha feito nem com o ex-marido. No total, foram oito horas de sexo. Ele gozou quatro vezes. Ela, perdeu as contas. Estava completamente sem fôlego, quando ele se virou para o lado para dormir. No outro dia, levantou antes dele, para preparar um lanche light e romântico. Ele acordou e deu de cara com ela na cozinha:
- Você ainda está aqui?
- Claro – disse ela, rindo – estou no meu apartamento.
- Ah, sim, como não. Bom, então vou indo...
- Não, fique. Estou terminando um lanche para nós...
- Lanche? Não, obrigado... – disse ele, recolhendo as roupas.
Ela veio e o abraçou. Ele se esquivou.
- O quê houve? Esperamos tanto tempo por isso...
- Pois é. Esperava mais. MUITO mais...
- Mas podemos fazer mais... MUITO mais...
- Não falo de quantidade. Falo de qualidade...
Ele disse isso e foi embora. Então, desde então, Natália passa a vigiar o perfil de Otávio em todas as redes sociais e, sempre que ele a vê se aproximando, dá um jeito de dar no pé...
FIM

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Leituras light


Nesse período entremeios de aulas (tanto como professor, tanto quanto aluno) estou aproveitando para amenizar o peso do cérebro com alguns livros light. Na verdade são dois. O primeiro, já terminei: Mentira que os homens contam, do Luis Fernando Verissimo. Concordo com minha prima/tia Athena de que os últimos livros do Verissimo ficaram a desejar, na comparação com seus primeiros livros, e esse é um dos que ele escreveu enquanto estava em boa fase. Para a puta que os pariu a virada de nariz de vários colegas da academia para os textos do Verissimo. Ele se propõe a fazer um texto leve, coloquial, anedótico, não-filosófico, superficial mesmo, e ele faz isso muito bem. As crônicas dele, como todos sabem, são para relaxar e dar risada mesmo, e não para se atormentar ou repensar a humanidade como textos de outros autores que, apesar de se considerarem sérios, são risíveis. Portanto, como eu queria aliviar a mente, achei o livro muito bom, pois você lê no ônibus, antes de dormir, enquanto espera o almoço ficar pronto, enquanto está defecando tranquilamente no banheiro, enfim, é um livro para qualquer hora e qualquer lugar.
Dentre as histórias cômicas, tem a do casal que irrita os filhos porque eles (os pais) são muito perfeitos, enquanto todos os coleguinhas têm pais separados ou problemáticos. Não tenho como colocar aqui nenhuma citação direta, pois minha ermã sequestrou esse livro. Enfim, os filhos reclamam para os pais: “vocês são muito perfeitos! Não dá mais para aguentar!”. Então, os pais resolvem encenar uma briga e se separam. Os filhos agora têm assunto para conversar com seus colegas “normais”, ou seja, os que têm pais separados ou que passam brigando. O casal passa a viver cada um em uma casa, como se se odiassem, encontrando-se às escondidas, ao mesmo tempo em que fazem com que os filhos desconfiem que eles estão entrando em outro relacionamento... Tudo pelo bem deles...
Tem ainda outra do cara que perde a aliança numa situação mirabolante e, sabendo que a mulher não vai acreditar, já chega contando que perdeu a aliança num motel com a amante. A patroa acredita na mentira, faz uma cena, mas no fim aceita a “traição” do marido, e diz que “o importante é que você me disse a verdade”... Enfim, histórias leves, hilárias e cotidianas...
Já em relação ao outro livro, estou recém na página 39. Trata-se de uma excelente surpresa. Chama-se “O pai invisível”, de Kledir Ramil. Isso mesmo, o pelotense que forma a dupla com o Kleiton, aquele mesmo do “deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre, tchauuuuuu”. Comprei esse livro pelo texto da contracapa, que começa assim: “quem tem filha adolescente sabe, chega uma hora em que você vai ter que conviver com o namorado dela dentro de casa. Lei da vida. Você pegou a filha dos outros, alguém vai pegar a sua”. No decorrer da narrativa, Kledir conta a complicada e cômica relação com a filha adolescente e também com o outro filho, um guri pouco mais novo do que a irmã. Além disso, as histórias são contatas com um humor apurado e são relacionadas com o seu tempo de piá. Tem algumas bizarrices comum das crianças, como por exemplo, quando ele resolve trazer uma motocicleta elétrica para o seu garotinho durante uma viagem a New York.
Para levar o presente para o Brasil, ele teve que brigar com o motorista egípcio dele lá em NY, teve que pagar bagagem extra no avião, teve que praticamente alugar uma van no Rio para levar o trambolho para casa, tudo em nome da felicidade do filho. Chegou na hora de entregar o presente, o guri nem deu bola para a tal motocicleta. Gostou mais da caixa de papelão, que usou para brincar de cabana.
Enfim, é um livro sensacional, um dos que mais me identifiquei até hoje (isso que já li bacaraí e que estou recém na página 39). Claro que, o fato de eu estar morando em Pelotas e de ter uma filha e uma enteada são fundamentais para essa identificação. Mas mesmo assim, indico para todos, principalmente, para os pais, de qualquer idade. Ele faz alguns relatos simples, cômicos e geniais, contando coisas como a vez em que a filha ficou fula da vida ao saber que ele tinha acessado o seu fotolog.... Coisas da vida.
Indico esses dois livros para quem quer dar um pouco de risada despreocupadamente (mesmo se – e principalmente se - tiver muito com que se preocupar). Eu estou lendo eles para dar uma amenizada no meu cérebro, pois ao mesmo tempo estou tentando entender outros dois livros em inglês que, são muito bons, mas que são muito mais acadêmicos e teóricos.
Por hora é isso, pois minha baixinha está invadindo a sala cantando e dançando de braços erguidos para fazer bagunça!
Hasta!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Doce ilusão

Essa breve “arrancada” do Grêmio nas últimas duas rodadas, nada mais é do que uma doce ilusão. Mais uma, em 11 anos de seca. É mais ou menos como o cara que está perto da casa dos 40 e está sentado na mesa de um bar e vê aquela garota de 18 anos, de pele macia e umbigo de fora com piercing, lhe encarando e sorrindo incessantemente. Ele olha para os lados para ter certeza de que é com ele, vê que não tem mais ninguém em volta, e já começa a antegozar sua própria conquista. O bom e velho lobo sempre em ação, pronto para uma nova caça, pensa consigo mesmo. Então, a garota se levanta do grupinho de garotas que forma um belo círculo no meio do bar, caminha em sua direção, os cabelos balançando da mesma forma que a bandeira do seu Grêmio balançava em dia de final de campeonato na década de 90, sempre sorrindo, até que ela para na frente dele e diz.
“Eu lembro de você”. Ele engasga. Pensa que é alguma admiradora secreta, alguma rapariga nova que, de repente se apaixonou platonicamente por ele ao saber de todas as conquistas que teve ao longo de seus quase 40 anos de vida. Então ele gagueja, “le-lembra?”. E ela arremata, como o Romário fazia na frente de qualquer goleiro, de qualquer tamanho, de qualquer time adversário: “Sim, você estudou com minha mãe. Tem uma foto da turma de vocês no quarto dela. Quer que eu mande um abraço pra ela, tio?”. Então, aquele sorriso colgate vai se desmanchando aos poucos, até virar um sorriso amarelo, e ele responde sem muita convicção. “Pode. Pode mandar um abraço meu para a sua mãe...”. Ela ainda dá o golpe final: “Tá bom tio, vou mandar! Ti-au”, e vira-se e volta, rebolando sua carne rija e suculenta até a mesa das gurias.
É exatamente isso que está acontecendo com os torcedores do Grêmio. Eles pensam que porque venceram do mediano Cruzeiro e do rebaixável Sport, podem ganhar o título. Falo em título, pois, para mim, o que importa é título. De nada vale conquistar uma vaga para a Libertadores. Isso não é troféu. Isso só adia o sofrimento gremista, pois, se ganhar a tal vaga, os gremistas pensam que está tudo bem, achando que podem ganhar a Libertadores do ano que vem, e então, no ano que vem, são eliminados da Libertadores, perdem mais um Gauchão para o Inter e lá se vai mais um ano sem título.
No caso, dois, porque esse já terá passado em branco. E, no fim das contas, o sorriso do gremista, ao final de cada temporada, vai ficando tão amarelo quanto o do cara de quase 40 anos. Ele acreditou, ele se iludiu, e ele se decepcionou. Pois eu, depois de me sacrificar para ver o fiasco da Copa do Brasil contra o Palmeiras, no Olímpico, só acredito vendo. Só acredito depois que o árbitro apitar o fim do jogo e o capitão tricolor erguer o troféu. Assim como o cara de quase 40 anos só deveria acreditar após ir às redes e ver o corpo nu da garota de 18 deitado ao seu lado.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões de sábado.

sábado, 14 de julho de 2012

Taí, ó:

É verão. Dois casais estão sentados, formando um semi-círculo, de frente para a piscina no decadente clube da cidade. A conversa girava em torno de banalidades, quando a criança saiu da água chorando.
- O quê houve, meu filho? – pergunta Rafaela.
- O titio disse que não posso ficar lá com a bola.
Rafael, marido de Rafaela, apenas observa.
- Rafael, faça alguma coisa! – rosna Rafaela.
- Fazer o quê? Se não dá, não dá – responde calmamente Rafael.
A criança volta para a piscina sem a bola. Silêncio. Rafaela está brava com Rafael, enquanto Carlos passa o chimarrão para Carla.
- Pois é – começa Carla, dando a primeira chupada na bomba – O Antônio tinha seus defeitos, mas ele teria ido lá brigar com o porteiro da piscina...
Rafael sente os pelos se ouriçarem. Antônio era o ex-noivo de Rafaela. Mas engoliu seco e ficou quieto. Olhou para Carlos, que observava calmamente a piscina, como se não estivesse ouvindo nada. Provavelmente estaria comendo mentalmente alguma adolescente que tomava banho de sol na borda.
- Pois é – respondeu Rafaela, como se também não ligasse para a observação da amiga.
- Aliás, o quê o Antônio está fazendo? – continuou Carla.
- Ele ainda é gerente lá do super – respondeu Rafaela.
- Bah, deve estar ganhando mega bem! – exclamou Carla.
- É, mas o que ele tem de dinheiro ele tem de chato...
- Mas olha que dependendo do dinheiro a gente até agüenta. Rárárárá!
Silêncio.
- E ele ainda tem a BMW?
- Sim.
- E ele ainda tem o apartamento na praia?
- Sim. E comprou mais outro em Florianópolis.
- Nossa!
- E ele terminou o mestrado?
- Na verdade está terminando o doutorado...
- E ele...
Antes que Carla terminasse a pergunta, Rafael se levantou, baixou o calção, disse "taí, ó" e mostrou seu membro duro e ereto. Todos olharam, boquiabertos. A paralisia tomou conta dos expectadores daquele bizarro espetáculo. Então, diante daqueles seis olhos esbugalhados que admiravam o seu mastro que estava implacavelmente rochoso, Rafael ergueu novamente o calção, sentou-se tranquilamente e completou:
- Mas isso ele não tem...

FIM

sexta-feira, 13 de julho de 2012

A mulher que pariu dois pilantras

Li, dia desses, que o Grêmio foi multado em R$20 mil devido a uma faixa que a torcida colocou no jogo contra o Atlético-MG xingando a mãe do pilantrinha. Pois é, existem dois pilantras: o pilantrinha, que é o mais novo, e o pilantra, que é o mais velho. Já o pilantrão diz que tomou um trago e morreu afogado em uma piscininha décadas atrás... Diz a lenda que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) condenou o Grêmio pela atitude de sua torcida. Agora, convenhamos, quem é o STJD para dizer o que os torcedores do Grêmio devem pensar sobre a senhora que colocou os dois pilantras no mundo? Vai mudar o pensamento dos gremistas em relação a essa senhora o fato do STJD aplicar essa multa? Francamente, nesse caso é o STJD, mas seguidamente eu me pergunto ao ver o “estadinho brasuca” metendo o bedelho onde não é chamado: quem o Estado pensa que é para ficar dizendo o que eu devo ou não fazer??? Porra, por que o Estado e a “Justiça” não vão se preocupar em encher o saco de quem está realmente cometendo crimes, como os políticos (isso é clichê, mas parece que os brasileiros não se dão conta disso, pois não fazem nada)? Por que o Estado não vai se preocupar em arranjar vacinas para a população contra a Gripe A, ao invés de se preocupar em proibir a manifestação de torcedores, de músicos, de artistas e de jornalistas? Se a torcida quer dizer que a mãe do pilantrinha trabalhava em uma casa de tolerância, deixa que diga, porra! Quem o Estado pensa que é para mandar 40 mil pessoas ficarem quietas, quando essas 40 mil (que estavam no estádio, porque na verdade são milhões de pessoas – e se colocarmos aí mais a torcida do Flamengo, são muitas milhões de pessoas que pensam que a senhora que pariu o pilantrinha ganhou a
vida abrindo as pernas por trocados), enfim, quando essas milhares de pessoas se manifestam nesse sentido, deixem elas se expressarem, pô! E se essas milhões de pessoas acham que ela, e toda a sua família, deveriam se juntar ao pai do pilantra e do capeta, deixa que eles pensem isso! Eles não vão mandá-los para junto do coisa ruim (aliás, abre o olho, coisa ruim! Essa família vai querer te dar o golpe!), enfim, eles não vão mandá-los para o coisa ruim, eles apenas desejam isso, enquanto torcedores que, obviamente, torcem, nada mais.
Acho que por ver coisas assim que, cada vez mais, concluo que o Brasil nunca teve gente que, realmente, tivesse colhões para peitar essa porra toda. O brasileiro nada mais é do que uma criança assustada que sofre abuso sexual do seu próprio pai: o Estado. Entretanto, enquanto o Estado lhe enfia no rabo todos os dias, ele também lhe sustenta com migalhas: escolas públicas horríveis, segurança deficiente, saúde vergonhosa, etc. E o imbecil do brasileiro leva bem no meio do cu e ainda bate palmas e briga com o vizinho nas eleições para dizer quem vai lhe comer melhor nos próximos quatro anos...
Enfim, como essa porra não vai mudar, vou pro berço que ganho mais.
Não esqueçam de usar camisinha.
Hasta!

*Texto publicado em jornal nenhum, porque nenhum jornal tem colhão nesse país.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O estado natural das coisas: Inter campeão e o Grêmio não

O torcedor do Grêmio está chegando ao último estágio possível de indignação futebolística. Esse é o estágio mais perigoso de todos. Os gremistas já passaram pela fase da raiva, da inveja do rival que ganha tudo, da ironia, da soberba, da revolta contra a direção e os jogadores, do apoio incondicional na vitória ou na derrota, e agora estão entrando na pior de todas as fases: a depressiva. Essa fase pode ser comparada ao espírito geral do brasileiro: está tudo errado, mas esse é o estado natural das coisas, e isso nunca vai mudar. No Brasil, a população já chegou ao estágio de que político ladrão é normal, injustiça na “Justiça” é normal, ladrão roubar e ser solto cinco vezes em uma semana é normal, assassino ficar dois meses na prisão (quando muito) e ser solto por uma justificativa qualquer, que ninguém entende, todo mundo crítica, e ninguém faz nada também é normal... Enfim, o lema do brasileiro é: “fazer o quê, se todo mundo faz errado? Vou cuidar da minha vidinha que ganho mais”. Assim, rouba-se em Brasília, rouba-se em Porto Alegre, rouba-se em todas as esferas públicas e privadas, discreta ou descaradamente, mas o barco segue andando, rumo a lugar nenhum, pois o futuro será igual ao hoje que está sendo igual ao ontem, quando o neto do imperador roubava escondido o dinheiro do avô para ir nas casas de massagem da época... E é nesse ritmo que está andando a pobre vida dos tricolores...
Nós, gremistas, chegamos ao ponto em que ouvimos promessas da diretoria, do treinador, dos jogadores, mas no fundo sabemos que tudo é um discurso vazio, que enquanto alguns estarão sofrendo nas arquibancadas geladas do estádio durante o inverno, outros (os jogadores) estarão em um puteiro qualquer torrando os seus dólares e enchendo a cara de champagne... Paralelamente a isso, o pobre torcedor tenta justificar para a mulher porque gastou o dinheiro do leite das crianças no churrasco com os amigos, que se reuniram para assistir a mais um fiasco tricolor... Entra ano, passa ano, e tudo continua a mesma coisa: chega em dezembro, muda-se o treinador, troca-se meio time e a porcaria continua a mesma. Perde-se em casa a Copa do Brasil para o Palmeiras, o time entra em campo para enfrentar sua maior desavença (Ronaldinho Pilantra) e, além de perder, ainda é derrotado levando pau do adversário. Vende-se o goleiro, que era o principal jogador, por uma merreca, torra-se essa merreca em outro medalhão, o goleiro que assume leva quatro gols, enquanto o antigo faz milagres em um estádio longe do Olímpico. A Geral canta, pois parece que é melhor para eles terem a fama de sempre apoiar do que ver troféus na estante do clube...
Gastam-se mais alguns milhões, trocados, com estrelas já gastas, que há muito já não brilham, elas fazem de conta que jogam por um tempo, não ganham nada dentro de campo, ninguém lhes incomoda, e depois de alguns meses elas vão embora para outra galáxia ou se aposentam e voltam para a sua terra natal com a consciência tranqüila, afinal, já ganharam muitos títulos no passado... pra que mais?
No Olímpico não há nenhum capitão Nascimento, nenhum Ânderson Silva, nenhum Hunter Thompson, nenhum Chucki Norris, sequer, um Felipão para quebrar o vestiário e botar o dedo na cara dos jogadores. E nas arquibancadas não há uma torcida, como a do Corinthians ou a do Boca, para perseguir jogadores sem-vergonha na cara durante a semana... Enfim, esse é o estado natural das coisas: mais um ano sem títulos no Olímpico...
Hasta!
* Texto publicado no J Missões do próximo sábado.

sábado, 7 de julho de 2012

A ligação

Enquanto suas coxas batiam nas nádegas dela, o telefone tocou. Ele não parou. Ela atendeu.
- Alô... Oi mãe!
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Aqui tudo bem sim, e aí?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Aqui não tá chovendo… Sei... Sim mãe, fui no banco de meio-dia. Mãe, olha só, lembra da Dani, aquela nossa ex-vizinha que morava na casa rosa?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Essa mesma! Então, sabe com quem ela tá agora?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Não, mãe, é lógico que não é com o Marcelo, o Marcelo é areia demais para o caminhãozinho dela! Não, mãe, não, não, não...
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Ela tá com o Fernando! AHAHAHAHAHAHHA. Não é hilário? Quem diria....
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Sim, é uma cadela vagabunda! Eu sempre disse isso! AHAHAHAHA.
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Sim, mãe, sim. Eu já fui lá. Semana que vem vou pagar a inscrição para o supletivo. Tu sabe mãe, essa vida não da mais, vou ter que estudar...
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Sim, mãe. Eu sei. Quê saco mãe!
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Tá bom, mãe, eu sei disso. Não posso falar disso agora. Sabe quem teve aqui semana passada?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- Tu não vai acreditar! O tio Wilson!
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- É lógico que ele não me viu. Quando vi ele me escondi na hora! Meu chefe veio me perguntar o que houve aí tive que falar, né mãe?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP
- HAHAHAHHHAHAHAHAHAHA. Nem fale isso! AHAHHAHAHAHAHHAHAHA. Já pensou mãe?
TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP TAP (AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHUUUUUUGGGGGHHHH!!!!!!!)
- Não foi nada, não, mãe. Só o cachorro do vizinho que tá passando mal. Beijinhos mãe, vou ter que desligar agora. Te amo. Tchau!
Ela olha para ele e diz:
- Me alcança o papel, faz favor?
Ele alcança, se limpa no lençol, veste as calças e vai embora.

FIM

domingo, 1 de julho de 2012

Escolhas inteligentes

Nesse domingo fiz uma escolha inteligente, que me deixou muito orgulhoso de mim mesmo: troquei o jogo do Grêmio por um festival de música. Na verdade a história toda foi ãnsim: a Lauritcha queria ir no tal festival de música, que ocorreria de noite no Theatro Guarany e era no mesmo horário do jogo do Grêmio. Estava muito afim de ver o jogo, pois se o Grêmio ganhasse assumiria a vice-liderança do Brasileirão. Isso sem contar em ver de novo a torcida do Grêmio xingando e vaiando o Pilantra o jogo todo, ou seja, tinha tudo para ser o jogo do ano no Olímpico, mas... Mas, primeiro lembrei da cagada que fiz ao ir no jogo contra o Palmeiras do Felipão pela Copa do Brasil. Naquela vez, comprei bandeira e chapéu na empolgação, mó clima de otimismo e festa, e o Grêmio não honrou a camisa, a torcida, etc, e abriu as pernas para o Felipão. Então, pensei comigo mesmo: “como vou deixar a guria sem ir ao festival de música por causa de um bando de pernas de paus que não estão nem aí para a torcida e que não tem o mínimo de vergonha na cara?”. Depois, pensei ainda: “pô, tem gente que se inspira ou tem a paixão despertada por determinada arte a partir de uma apresentação ou leitura, então vou levar ela lá e mandar para o espaço esse time de bosta”. E lá me fui com a Lauritcha para o teatro. Não vou ser hipócrita e dizer que não pensei no jogo. Quando estava na hora do intervalo, falei para a Lauritcha: “vamos ali no posto dar uma espiada”. Como o festival, que era comemorativo aos 200 anos de Pelotas, duraria mais umas duas horas, fomos lá sem culpa pegar a metade do segundo tempo. Enfim, o pouco que vi só serviu para me convencer de que definitivamente tinha feito a coisa certa.
No festival, as músicas estavam perfeitas, as apresentações eram de altíssima qualidade (pelo menos para um leigo como eu), afinal, eram grupos, dançarinos e dançarinas de todas as idades e de várias regiões do Brasil, e ainda as bailarinas tinham umas belas pernas que já superavam as pernas de paus dos milionários tricolores. Aliás, é foda pensar que todos aqueles que se apresentaram provavelmente tiveram que ralar para participar de um festival no minguinho do Brasil, enquanto uns barbados sem vergonha na cara perdem descaradamente, sem brigar, sem dar pau no Pilantra, diante de milhares de torcedores-trouxas. Se esses filhos da puta pelo menos se dignassem a fazer algo pela sociedade com a fortuna que recebem, ainda valeria a pena. Mas não, além de não jogarem nada, não correrem, não suarem, não se indignarem, não brigarem, não baterem, eles ainda saem para a noite no dia seguinte como se nada tivesse acontecido, enquanto o miserável torcedor gastou o que não podia para ir lá sofrer pelos filhos da puta. E, se pá, ainda dão risada dos torcedores-trochas que perdem o sono torcendo por conta deles. Cambada de filhos das putas. Fica aqui o meu repúdio a esses estercos da sociedade e meus parabéns para todos os que participaram do festival em Pelotas. Postei vários vídeos das apresentações no youtube. Procurem lá pelo “eduardoritter21”. Hasta!