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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A morte do pilantra

O enterro de Ronaldinho Carioca, no domingo, no estádio Olímpico, fez-me lembrar dos bons tempos da década de 1990, do Grêmio do Felipão. Há muito tempo eu não demorava tanto para dormir por conta de um jogo. Tomei um Dramim, peguei um livro do Hunter Thompson, lá por duas da madrugada de sábado para domingo, e nada do sono vir. Enquanto tentava achar o dito cujo, pensei seriamente em levar uma arma ao estádio, mas não tinha nenhuma a mão. Loucura batendo. Achei que o Mark David Chapman poderia encarnar em mim. Enfim, para a chegada do sono comecei a me imaginar em cima dos anéis do estádio Olímpico com uma velha e boa Magnun 357 mirando a cabeça do pilantra. De repente POW! POW! POW! Correria e gritos de pânico dentro de campo e êxtase da torcida nas arquibancadas. Em meio a essa viagem, dormi.
Acordei no susto, às 7h45, e o ônibus sairia de Pelotas rumo a Porto Alegre às 8h. Tempo para nada, apenas para me vestir, mijar, lavar mal e porcamente o rosto, pegar celular, máquina fotográfica, radinho de pilha e caneta e correr para o ponto de saída, que por sorte, ficava a duas quadras de casa. Cheguei lá e vi grupos de gremistas espalhados pela rua. Saímos já eram quase nove: dois ônibus, cada um com 45 torcedores. Havia várias caixas com cerveja espalhadas pelo corredor, entretanto, como não conhecia ninguém, fiquei na minha. Antes de sair de Pelotas, uma parada em um boteco para abastecer mais. Aproveitei e peguei três latões, que guardei dentro da caixa de uns malucos para não esquentar. Na saída, torcida cantando sem parar, embalada pela cerveja e pelos rojões, que volta e meia eram lançados pela janela e explodiam na calçada, acordando os pelotenses que dormiam nas casas pelo caminho.
Lá pela metade da viagem o povo começou a se entregar. Quando estava quase dormindo, o busão parou em um restaurante para tomar “café”, onde tinha mais ônibus com torcedores gremistas. No encontro, como se fossem todos animais guiados pelos seus instintos (incluindo eu), começaram a cantar no ritmo do bumbo as músicas da Geral do Grêmio.
Foram quatro horas de busão. Chegamos em Porto Alegre e fui correndo na casa da minha ermã almoçar. Só deu tempo de comer e voltar para o estádio. Na entrada pelo portão 3, o PM falou para a mulher da roleta: “Imprensa pode passar” e fez sinal para que eu entrasse sem passar pela revista. Senti falta da Magnun, mas fazer o quê? Agora já era. Não daria tempo de voltar até o bar do meu tio e pedir o 38 dele emprestado para estourar os miolos do traíra fiádaputa. Antes de entrar no estádio, ainda vi o Dadá Maravilha e o Humberto Gessinger no credenciamento.
Subi na parte que tem o bar dos sócios e fiquei por ali, mosqueando. Nisso, encontrei meu amigo, José Henrique Koulterman, o famoso Zezinho, que trabalha na rádio Progresso, de Ijuí. De repente, vimos AQUELA imagem. Outros torcedores que estavam por ali também estavam admirando a paisagem. Até que saquei a máquina e registrei A IMAGEM. Os outros seguiram meu exemplo e também registraram aquele momento. Depois disso, nos abancamos nas cadeiras centrais do estádio Olímpico. Infelizmente a Brigada Militar não deixou entrar a maioria das faixas. As que entraram foram na base do drible dos torcedores, que deixaram a puliça na poeira. Algumas diziam coisas mais simples, como Pilantra, Traíra, etc. Mas a que mais gostei, foi uma que apareceu do outro lado do estádio, na geral, bem no meio do campo, com letras gigantes sentenciando: Miguelina prostituta. Para quem não sabe, Miguelina é a mãe do pilantra. Nome sugestivo, não? Miguelina, lembra migué, miguelão, que significa justamente algo como golpe, enganação, etc. Eis aí a etimologia do nome Miguelina.
Quando anunciaram os nomes no telão, obviamente o mais vaiado foi o do pilantra. Entretanto, surpreendi-me com a vaia para o Celso Roth, afinal, ele que livrou nossa cara nesse ano. Enfim, quando o time do pilantra entrou em campo só se ouviu uma palavra: Pilantra! Pilantra! Pilantra! Tenho certeza que nunca, na história do futebol, um jogador foi tão xingando e perseguido durante o jogo todo. Enquanto executavam o hino, o pilantra estava claramente nervoso, se mexendo sem parar, enquanto a torcida não dava arrego. Foi um massacre moral para um ser sem moral. E quando tocou o hino rio-grandense, o estádio inteiro BERROU para que o pilantra ouvisse: “Mostremos valor constância. Nesta ímpia e injusta guerra. Sirvaaaaaaam nossas façanhas. De modelo a toda Terra . De modelooooo a toda Terra. Sirvam nossas façanhas .De modelo a toda Terraaaaaaa!”. O pilantra ria, achando que o negócio iria parar por aí. A bola rolou e o estádio inteiro estava mais preocupado em vaiar o traíra fiádaputa do que em torcer para o Grêmio. Como resultado disso, o Flamengo começou melhor e o pilantra até que jogava bem, metendo uma bola no travessão e dando passes bonitos para os companheiros (que é só o que ele sabe fazer. Qual foi a última vez que ele fez fila como fazia no início da carreira e no Barcelona???).
Quando o time carioca abriu 2 a 0, o clima no estádio era de desolação. Eu, sinceramente, não acreditava no que via. 2 a 0 e o Flamengo jogando melhor. Menos mal que o pilantra não tinha feito gol. Nessa história toda pior foi ver o pilantra ir rebolar na frente da torcida do rubro-negro após o primeiro gol. Só eu sei o quanto eu queria ter uma Magnun, ou um AK-47 naquela hora. Torci para que o idiota caísse no fosso e estourasse seus miolos. Gritei “vai dançar na piscina do teu pai, filho da puta!”. Para quem não sabe, conto de novo: o pai do dentuço pilantra morreu afogado em uma piscina após ter a genial idéia de nadar bêbado, quando o pilantra era só um pilantrinha. Aliás, a BM, sem ter mais o que fazer, barrou as faixas com os dizeres: “Piscina copeira, levou um dos Moreira” e “Se beber não nade”. Comentei com o Zezinho: “agora, pra virar, só se fizer um no final do primeiro tempo”. Pouco depois, André Lima concretizou minha profecia: 2 a 1. O estádio foi ao delírio, voltou a xingar o pilantra a todo o volume e ficou revoltado com os gandulas sem colhões que foram lá lamber o saco do pilantra. “Se eu fosse presidente do Grêmio, todos eles estariam na rua amanhã”, comentei ao Zezinho.
Na volta do intervalo a mesma coisa: Pilantra! Pilantra! Pilantra! E, de fato, o pilantra sentiu o golpe. Não viu a cor da bola no segundo tempo, bem como seu time inteiro. Logo no início da etapa final, André Lima empata com um golaço, de dar inveja ao pilantra. A torcida foi ao delírio. Foi um orgasmo coletivo bombástico. Era como se todos os torcedores lançassem suas porras na cabeça do pilantra, que, todo melecado não conseguia se movimentar em campo. Ainda levou um amarelo, que fez os gremistas terem mais orgasmos múltiplos. O jogo estava 2 a 2 quando Escudero perdeu um gol absolutamente feito. Ele entrou cara a cara com Felipe e conseguiu chutar em cima do goleiro. Mesmo assim a bola sobrou pra ele, que conseguiu chutar pela rede do lado de fora. Enchi de bicudo a cadeira como se estivesse chutando a cara do Escudero. Sentei desolado, dizendo para mim mesmo: “não acredito, não acredito, não acredito...”. Achei que aquela fosse a chance do jogo e pensei que o Grêmio não teria outra oportunidade como aquela até o final da partida. Entretanto, pouco depois Douglas meteu sem dó nem piedade no rabo do pilantra carioca: 3 a 2! Eu filmava a torcida do Grêmio comemorando o golaço de Douglas quando de repente a bola chegou aos pés de Miralles, que botou o pilantra de quatro e meteu em seu rabo com toda a força: toma, vagabundo! 4 a 2. Chora desgraçado! Vai chorar na piscina do teu pai, filho da puta! Chupa Flamengo!!!
A essa altura eu já estava completamente sem voz. Nunca tinha berrado por tanto tempo seguido e a todo o volume como nesse jogo. Mas valeu apena. Lavei a alma. Comi o rabo de um pilantra.
No final do jogo, completamente desorientado e sem saber o que dizer, o pilantra ainda fala que “pra quem está acostumado com a torcida do Flamengo, até que não foi muito barulho”. Além de vigarista, virou piadista. Primeiro: o Flamengo nem no Maracanã está jogando. Desde que ele vendeu seu corpo para os flamenguistas, que vão chutar e vaiar ele assim que o time começar a não ganhar títulos, os jogos estão sendo disputados no bizarro e risível Engenhão, que tem capacidade para bem menos torcedores do que o velho e bom Olímpico. Segundo: a torcida do Flamengo só canta quando o time está bem, ao contrário da do Grêmio, que canta o tempo todo e a todo o volume. E, terceiro: ele está se achando porque está matando milhões dos patos cariocas, pensando que a torcida rubro-negra é a maior do Brasil. Em números totais, até pode ser, entretanto, se pegar a torcida só dentro de sua cidade, quiçá, de seu estado, a torcida do Flamengo fica MUITO atrás da torcida do Corinthians, que, ao lado da do Grêmio, é a mais fanática do Brasil.
Bem, fim de jogo, os atletas gremistas vão comemorar com a torcida e eis que um sujeito cai na fossa do estádio Olímpico, onde torci para que o pilantra caísse. Helicóptero da BM ameaça pousar no campo e digo para o Zezinho “vambora que essa porra vai cair no meio do campo”. E, eis que na saída do estádio damos de cara novamente com o Humberto Gessinger. Como o dia tinha sido perfeito, aproveitei o embalo para dar uma de tiete e tirar uma foto para o álbum.
A volta foi cansativa, mas com os 4 a 2 no rabo do pilantra valeu a pena. Na saída de Porto Alegre, quem cruzava com o ônibus de camisa do Inter era simplesmente fuzilado com todos os tipos de xingamentos e palavrões. Quando alguém ameaçava responder, alguém gritava “Ô motora, pára o busão! Vamo pega esse desgraçado!”, e logo o cara dava no pé.
Lá pelas tantas, o povo começou a ascender uns charutos mágicos e uma moça de boa família gritou: “Quem quer fumar, vai fumar lá fora!”. Então, o organizador do troço todo retrucou:
- Quem falou isso?
- Eu! – respondeu a moça.
- Cadê a dona dessa voz? Deixa eu ver o rosto dessa cara iluminada! Isso é que é exemplo! – disse.
Ao vê-la, sentenciou:
- Mas que linda! Mas não vai mais viajar conosco!
Óbvio que era brincadeira (ou não) e todos caíram na gargalhada. No final das contas, o busão chegou em Pelotas já era quase uma e meia da madruga. Entrei em casa, todo mundo dormindo, tomei um banho, dei uma cagada e fui deitar feliz, leve e satisfeito.

Vídeos, gravados por mim no jogo:
http://www.youtube.com/watch?v=CE0wmK0KNxs
http://www.youtube.com/watch?v=yaO9lwvAGS8

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Polícia para quem precisa!?!?

Já disse isso várias vezes e não me canso de repetir: o Brasil é uma merda. E dessa vez minha indignação não é pelos infinitos casos de corrupção, mas sim, por absurdos que só acontecem no Brasil. Inicialmente, a torcida do Avaí (ou do Figueirense, não me recordo direito) foi proibida de levar cartazes protestando contra o larápio do Ricardo Teixeira em um jogo qualquer nesse ano. Aliás, o Teixeira representa muito bem como o mau caratismo no Brasil, além de não ser punido, ainda é recompensado. E agora a nossa gloriosa Brigada Militar (que já nem sei mais pra que serve) inventou de proibir a entrada de cartazes ofendendo o pilantra do Ronaldinho Gaúcho no estádio Olímpico, no domingo. Tudo baseado no estatuto do torcedor, que beneficia todo mundo, menos o torcedor. Enfim, conforme essa cartilha não se pode entrar no estádio com cartazes ofensivos contra terceiros. Quer dizer, pode tudo: pode um dirigente enriquecer as custas do desvio de recursos do clube, pode o Ricardo Teixeira encher o bolso de dinheiro vendendo amistosos do Brasil para países inexpressivos, pode os políticos roubarem bilhões de reais por anos, pode um PM desrespeitar e abusar de sua UTORIDADE contra o trabalhador, pode tudo, menos ofender essa cambada de PILANTRAS. Essa é a nossa BOSTA FEDORENTA de país. E ainda querem que nossas crianças DECOREM a merda de hino dessa republiqueta, que não passa de um paraíso destinado a todos os tipos de pilantras. Aliás, aqui nessa republiqueta a ordem é: se você é honesto, tá ferrado. Nunca vai ter grana pra nada, não vai ter dinheiro nem pra comprar o leite das crianças, um político corrupto leva a sua mulher e ainda te bota na cadeia porque você não tem grana pra pagar a pensão. Ou seja, o que você ganhou sendo honesto? Eu respondo: algo que essa corja não tem: MORAL. E é só isso que você vai levar dessa vida.
Mas, infelizmente, as pessoas honestas são cada vez mais sacaneadas pela cambada de pilantras e, numa republiqueta como a nossa, um ou dois capitães decidem que não se pode entrar no estádio com cartazes e, dessa forma, 50 mil pessoas são obrigadas a se submeter a essa vontade fresca. Puta palhaçada. Censura contra a imprensa já é foda, agora, querer censurar uma multidão é mais foda ainda.
E, como não me contento com a quantidade de esterco que a Globo vai querer me enfiar goela abaixo no domingo de tarde, vou ir de excursão para Porto Alegre assistir a esse jogo e ao espetáculo da torcida com meus próprios olhos. Com certeza a Globo, que tenta se travestir de defensora da moral e dos bons costumes (mas que passa novelas pornôs para a sua família todos os dias) vai tirar o som da torcida cantando, xingando o dentuço pilantra, e não vai mostrar qualquer tipo de manifestação visual, como os cartazes, que agora sequer vão entrar no estádio. Puta absurdo. Estão castrando o cérebro do povo. Imagina quanta coisa criativa daria para se fazer nesse jogo. Levar várias piscinas de plástico seria legal. Aliás, se alguém tiver como, uma boa idéia é alguém ir vestido de mergulhador. Será que vão deixar entrar?
Aliás, tem uma música que toca no CD da Galinha Pintadinha que poderia ser cantada pela torcida do Grêmio da seguinte forma:

A canoa virou
Por deixá-la virar
Foi por causa de um Moreira
Que não soube remar
Se eu fosse um indiozinho
E soubesse nadar
Eu fodia com outro Moreira
No fundo do mar

Enfim, tem gente que já me disse que eu, e a parte mais radical da torcida do Grêmio, estamos pegando pesado com o dentuço, mas essa censura e essa tentativa de controlar as manifestações só aumentam qualquer tipo de revolta. O que era uma revolta com potência de 1.000 wats se torna uma revolta com potência de 1.000.000.000.000 de woltz.
Para encerrar, uma dica para os gremistas: ao invés de tentarem entrar com algum cartaz no Olímpico xingando o dentuço pilantra, tentem desviar algum recurso público de alguma entidade qualquer, de preferência alguma da saúde ou da assistência social. Vão por mim: é bem mais fácil.
Eta paizinho de merda! Ah, e eu queria comentar ainda o caso da revolta dos estudantes da USP, mas essa vou deixar passar porque minha paciência já foi para o espaço há algum tempo.
Hasta!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Piscina Copeira, levou um dos Moreira


Torcida é cruel e às vezes até desumana. Para atingir o rival, ou algum pilantra sem caráter, como o Ronaldinho Gaúcho, utiliza todos os tipos de recursos. Confesso que, após mais de 20 anos acompanhando futebol, ainda tenho a capacidade de me surpreender com algumas coisas.
Primeiro, fiquei surpreso ao ouvir uma música da torcida do Pelotas na noite de quarta-feira, quando assisti ao Pelotas 1x2 Grêmio B na Boca do Lobo. Lá pelas tantas a torcida começou a cantar: “toricida fudida, não sabe apoiar... pau no cú do Millar”. Caraca. Para quem não lembra, Claudio Millar foi um ídolo do Brasil de Pelotas que morreu no acidente que envolveu o ônibus da equipe xavante pouco tempo atrás. Enfim, nunca imaginei que uma rivalidade chegasse a tanto, podendo alcançar requintes desumanos de crueldade. Sinceramente, enquanto admirador do futebol e ser que ainda acredita na humanidade, não curti nem um pouco essa música e vibrei ainda mais (por dentro, pois estava no meio de pelotenses) com os dois gols do Grêmio – o segundo, um golaço do guri Guilherme, de 17 anos.
Agora vamos ao segundo caso: o que a torcida do Grêmio está preparando para o jogo de amanhã contra o Flamengo. Sinceramente, eu ainda acho que a melhor forma de dar um golpe a altura das picaretagens do Ronaldinho seria ninguém ir ao jogo. Assim, a torcida diria, de forma sublime: “não estamos nem aí pra ti, dentuço pilantra”. Inclusive, é assim que o jogo funciona. Se você quer atingir a sua ou o seu “ex” a melhor forma é não estar nem aí para a pessoa. Se a sua mulher quer fazer joguinho de cena, briguinhas novelescas, etc, a melhor forma de responder a altura é abrir uma cerveja, relaxar e tocar adiante o que você estava fazendo como se nada estivesse acontecendo. A torcida do Grêmio deveria agir assim.
Mas, como os gremistas estão feridos até a alma com a falta de caráter do Ronaldinho, ela vai apelar. Uma faixa com os dizeres “Piscina copeira, levou um dos Moreira” está sendo preparada para ser exibida às pupilas dilatadas de Ronaldinho. Para quem não sabe, o pai do Ronaldinho morreu afogado em uma piscina quando o pilantra não passava de um pilantrinha. De fato, isso é jogo sujo. Porém, está sendo jogado nas mesmas regras impostas por Ronaldinho: um jogo sem caráter, nem escrúpulos.
Já outra parte da torcida, em comunicados via redes sociais, informa que haverá também uma faixa com o texto: “se beber, não nade”. Realmente, se o Ronaldinho for pego de surpresa, será atingido psicologicamente em cheio pelo golpe gremista. O porém da história é que, em tempos de redes sociais e informações rápidas, é óbvio que alguém já avisou ele sobre essas atitudes e possivelmente ele evite olhar para as arquibancadas. Ou ainda pode ter efeito contrário: enquanto a torcida do Grêmio vai fazer barulho como nunca para vaiá-lo, ele poderá jogar como nunca para tentar honrar a memória do pai, que se tinha algum caráter, deve estar envergonhado do próprio filho lá pelas bandas do além.
SER – Há uma semana a SER me encheu de orgulho ao bater o Brasil de Pelotas por 2 a 0, aqui em Pelotas, em pleno Bento Freitas. Confesso que passei a semana corneteando os xavantes que conheço, que tiraram o chapéu para a vitória maiúscula da SER. Agora será a vez de a SER mostrar mais uma vez que encarnou o espírito missioneiro e se superar para vencer o Novo Hamburgo fora de casa. Alguém duvida?
Eu não. Um bom final de semana para todos.

* Texto publicado no J Missões de sábado.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Texto do Anônimo, que não é Gourmet

Vejam vocês. No comentário do último post o meu amigo anônimo (que tem vergonha de aparecer como meu amigo) colocou o link de um texto que ele escreveu sobre esse que vos escreve. Vejam só, que doideira. Eu lembro que já tinha lido esse texto, mas relendo, chorei de rir. É muito cômico. Aliás, quase chorei de emoção também (não me venham com piada de Pelotas agora...). Enfim, não tem como não se emocionar relembrando coisas marcantes da minha trajetória por esse planeta. Só, antes de postar na íntegra o texto (acho que já tinha postado outra vez, mas enfim, foda-se, vai de novo) faço algumas correções e atualizações: minha monografia de graduação foi sobre o Erico Verissimo e o projeto experimental que foi o livro-reportagem sobre putaria. O Arion, acho que era fruto da minha imaginação mesmo, porque o cabra anda sumido. Ou estou curado... E, por fim, apenas a título de atualização, terminei o mestrado e hoje moro em Pelotas (onde sou professor temporário da UFPEL), com muito orgulho. Segue o texto escrito, se não me engano, em 2009:

“Ontem conversava com um grande amigo santo-angelense (o único, na verdade), o Eduardo. Conheci-o em 93, mas ficamos amigos mesmo em 94. Nossas conversas giravam basicamente em torno do Grêmio e do maravilhoso Fifa 94, que jogávamos em nossos respectivos computadores. Costumávamos conversar nos intervalos, dando voltas na pista olímpica da escola. Aos poucos, começamos a freqüentar um a casa do outro. Na minha, assistíamos filmes como Forrest Gump. Na dele, jogávamos Superstar Soccer e, no domingo, batíamos bola na garagem até a hora de seu Nabuco, pai dele, nos levar à AABB, para a pelada de domingo. Tornamo-nos grandes amigos e, certa vez, no auge da puberdade, colaborei com R$ 5,00 reais para que ele comprasse uma Playboy da Carla Perez. É certo que ele penhorou uma camisa do Grêmio, caso não quitasse a dívida (naquela época, R$ 5,00 era muito dinheiro). Mas quitou. E me é grato até hoje.

Quando mudei para Guarapari, em 96, lembro de termos trocado algumas ligações ainda. Uma delas, memorável, quando o Grêmio conquistou o campeonato brasileiro, em meio a uma emoção avassaladora que só a cumplicidade futebolística é capaz de estabelecer entre dois camaradas.

Depois disso, não nos falamos mais e achei que aquela amizade ficaria no passado, como ficaram todas as outras, incluindo a das gêmeas, já mencionadas há algum tempo neste Ababelado.

Mas aí surgiu o Orkut, em 2004, e em meio àquela euforia inicial despertada pelo site, resolvi ir atrás de velhos amigos que não via há décadas, só pra matar a curiosidade. Vasculhei um pouco o sistema de buscas e lá estava o Eduardo, com a mesma cara, mas, aparentemente, muito mais bem quisto entre as mulheres (pelo menos, era o que se podia adivinhar pelas fotos e recados). Não quis mandar recado ou e-mail. Acreditei que o tempo já tinha feito crescer demais as distâncias.
Então aconteceu de eu ir para Porto Alegre em 2005. Tinha acabado a faculdade e decidir prestar um concurso para a Assembléia Legislativa, na capital gaúcha. Não estava muito certo se queria realmente voltar para o Rio Grande do Sul, mas precisava de dinheiro e, na pior das hipóteses, faria uma visita aos meus tios e aproveitaria para curtir um pouco a cidade, a única que me interessa lá. Veio então um feriado de páscoa e meus tios decidiram visitar o resto da família que ainda estava em Santo Ângelo. Fiquei entre aceitar o convite ou ir para Caxias, visitar uma madrinha. Acabei ficando na primeira opção.
Em Santo Ângelo, a casa de meus outros tios, onde por um bom tempo viveram meus avós, ficava próximo à antiga casa de Eduardo. Em meio ao tédio, pensei: “Não custa nada, vou passar lá para ver se os pais dele estão e perguntar como anda o cidadão”. Qual não foi minha surpresa quando o Eduardo, em pessoa, me recebeu com um sonoro: “Mas bá!”. Conversamos um bocado naquela tarde e combinamos de sair para beber à noite. No posto (de gasolina), que era onde bebiam os santo-angelenses, matamos umas boas garrafas cerveja e relembramos histórias como se nunca tivéssemos estado tanto tempo longe. No dia seguinte, passei mal.
No carnaval, ele apareceu em Guarapari. E a amizade se restabeleceu de vez.
***
A melhor maneira de começar a descrever o Eduardo é pelo que há de mais pitoresco nele: sua alergia a ovo. Acreditem: isso existe. Quando o Rio Grande do Sul foi assolado por um surto de febre amarela, no final do ano passado, o cabra virou até personagem de matéria no Zero Hora. É que os portadores dessa alergia não podem tomar a vacina, baseada na mesma substância à qual o organismo dos ditos cujos reage negativamente. Por conta dessa anomalia, toda vez que Eduardo chega a um restaurante, ou visita pela primeira vez a casa de alguém, vê-se obrigado a perguntar, diante de um prato desconhecido: “Vai ovo?”. A frase, em si, já é uma piada pronta. Mas mais hilariantes são os imbróglios nos quais o camarada se vê envolvido por conta dessa característica.
Outro elemento definidor do caráter do Eduardo é a distração. Digamos que ele é um tanto quanto sonso (no bom sentido, claro, pois a “sonseria” é qualidade nos homens de bom coração). Quando esteve em Guarapari, por exemplo, deixei-o na Praia do Morro, para passar a tarde, enquanto eu ia para a labuta no jornal onde eu trabalhava. Marquei de encontrá-lo às seis, no mesmo quiosque em que o havia deixado. Esperei um pouco e logo avistei sua figura, vindo em minha direção, com um passo de orangotango e um sorriso de orelha a orelha. Sua primeira frase foi: “Perdi meu chinelo!”. Fiquei me perguntando onde estava a graça e não demorei muito a perceber que ele era do tipo que ri da própria desdita. Havia perdido o chinelo numa caminhada pelo Morro da Pescaria. Teve de andar um bom trecho a pé e, pra ajudar, não sabia dizer o nome do morro, que chamava ou de morro do pescador oude montanha da pescaria. Enfim, uma figura.
Em casa, ele saiu para tomar um banho, enquanto eu preparava alguma coisa para comer, enquanto meus pais não chegavam. Foi quando Eduardo apareceu com outra notícia bombástica: “Tu não vai acreditar! Perdi meu cartão!”. Era o cartão que ele utilizava para movimentar sua conta. Sem ele, ficaria limitado a fazer pequenos saques na boca do caixa.
Isso, por si só, já seria um transtorno, mas, obviamente, não parou por aí. O lance é que havia um salário a ser depositado e uma passagem a ser comprada. Resumo da ópera: meu pai teve de emprestar-lhe uma grana para a passagem de volta e o carnaval acabou sendo meio pobrinho, animado com cerveja barata e jogos de imagem e ação (que ele chamava, sabiamente, de “imagination”). O bom é que pra ele todo programa seria genial se atendesse à seguinte interrogação: “Tem praia?”.
Pelo que me consta, ele curtiu a viagem, no melhor estilo “vagabundo iluminado”. Prova disso é que a foto que ilustra seu blogue foi tirada por mim, na Pedra da Cebola, em Vitória.
***
Eduardo é jornalista, leitor de Bukowski e, mais recentemente, estudante de mestrado. Tem uma irmã de belos cabelos ruivos e um pai que atende pelo curioso nome de Nabucodonosor. Da mãe dele, o que lembro, é que tinha tendinite e preparava copos de Nescau de meio litro, que ele bebia entre uma partida e outra de Superstar Soccer.
Formou-se em Ijuí, mora atualmente em Porto Alegre, formou-se em Ijuí e namora uma menina de Santo Ângelo. Sua monografia de conclusão de curso foi um livro reportagem sobre as putas pobres das Missões. Já venceu um concurso de contos e já deu carona ao Jorge Furtado. Um de seus passatempos preferidos é xingar o Arion, que acredito ser uma espécie de alter-ego que ele criou para destilar seu ódio do mundo.
De Santo Ângelo, foi o único amigo que restou. É uma das pessoas mais divertidas que conheço para dividir uma mesa de bar. Acho que se daria bem com o Fausto Wolf. Gostar do Rio ele já gosta".

Só pra fechar: nessa vez em que eu passei o carnaval em Guarapari, que o Anônimo contou, eu pedi demissão para ir no show dos Rolling Stones em Copacabana e, para isso, pedi demissão do jornal onde trabalhava. Contei isso dia desses para um grupo de alunos e um deles arregalou os olhos, olhou para os outros, olhou novamente para mim e disse: "Nossa, o senhor é mesmo mais louco que eu". Enfim, outra hora escrevo um texto contando, inclusive, as partes inéditas dessa minha ida, e que estão no livro reportagem sobre a putaria que fiz quando terminei a graduação. Hasta!

PS: A primeira foto é a mesma que o Anônimo usou no blog dele. E a segunda foi tirada por ele lá em Guarapari. Ah, aliás, descobri, lendo o livro da minha avó, que meu bisavô (pai da minha falecida avó) nasceu no Espírito Santo. Vejam vocês. Outra hora também escrevo mais sobre isso. Agora sim, Hasta la vitoria!

Fim

Passando a chinela

Desde que eu estava no colégio, aí em Santo Ângelo, mais especificamente no Sepé Tiaraju, que venho participando de discussões sobre a pena de morte. Sempre que se propõe um debate sobre um tema polêmico, sempre tem alguém para sugerir: “Pena de morte!”. Aliás, essa é uma discussão eterna. Nunca vai acabar. Se algum dia a pena de morte for implantada no Brasil, a discussão não vai acabar. Muito pelo contrário, vai aumentar. E, seguindo sem pena de morte, segue também a eterna discussão.
Teoricamente sempre fui contra a pena de morte. Acho que há outras formas de penalizar criminosos. Castração e prisão perpétua são boas penas para estupradores. A solitária com um copo de azeite e um pires de arroz para o autor de uma chacina até o fim dos seus dias, também é outra pena aceitável. Entretanto, vou citar mais uma vez o nosso conterrâneo, Fausto Wolff. Certa vez, ao falar para um amigo que era contra a pena de morte, o cara retrucou: “Mas e se pegassem tua mãe ou tuas filhas”. Wolff, sem pensar duas vezes, respondeu: “Eu mato o filho da pu...”. E é verdade. Não tem como você não querer matar alguém que faz mal a quem você ama.
Nesse sentido, lendo o livro Reino do Medo, do jornalista norte-americano Hunter Thompson (que faleceu em 2005), encontrei uma boa orientação para o caso de você que, como eu, tem uma filha, querer matar um fiá-da-pu que quiser se meter a besta com sua família. Ele conta no texto que não tem filha (ele tinha um filho) mas que jamais aceitaria, se tivesse uma filha, um namorado como o tal de Manson, um traste com quem ele tinha desavenças. Vejam vocês que ótima ideia:
“Em primeiro lugar, livre-se da Testemunha. Mande-a lá pra cima para o quarto dela e verifique se não há mais ninguém por perto”. Abro um parêntese aqui para explicar que a Testemunha é a sua própria filha. Segue: “Essa é uma Regra básica nesse ramo... O próximo passo é pegar uma espingarda carregada e atraí-lo para a cozinha com pisadas violentas no chão & gritos enlouquecidos, ao mesmo tempo em que disca 911. Isso fará com que sua situação seja Registrada. Continue gritando: ‘Saia de perto de mim, Charley! Não dê mais nem um passo!’, até que ele entre correndo no recinto com olhos transtornados e você possa acertá-lo bem no meio do peito com os dois canos... Não erre, senão as coisas não demorarão a ficar esquisitas. Certifique-se de que ele está mortinho da silva quando cair, porque você não terá uma segunda chance. Ele virá para cima de você com uma faca de açougueiro... Mas se você fizer tudo Certo, será saudado como Herói, e sua filha pensará longa e profundamente antes de chegar em casa com outro canalha como Manson”. Viram? Simplesmente genial.
Ao ler assim, de forma descontextualizada, você pode até achar que Thompson estava blefando. Entretanto, no capítulo seguinte do livro, que a sua biografia, há o depoimento de uma testemunha que viu Thompson trocar tiros com o seu vizinho, até que o próximo deixasse a sua residência, sendo perseguido pelo jornalista. Aliás, Thompson acaba com a imagem do jornalista bem-comportado. “Eu era o famigerado autor mais vendido de livros estranhos e brutais e um colunista de jornal amplamente temido. Eu também era bêbado, louco e vivia armado até os dentes”. Futuros pretendentes das filhas dos outros, pensem duas vezes antes de fazer algo de ERRADO ou que possa magoá-las, pois os pais delas podem ser algum psicopata como Hunter S. Thompson.
Um bom resto de semana para todos.

*Texto publicado em A Tribuna Regional.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

História pra boi dormir

Ontem à noite assisti a um mini-documentário sobre a morte de Kadafi na Globo News. Óbvio que tirei minhas próprias conclusões dos fatos, e não comprei o discurso de que o mundo se livrou de um monstro, conforme dizia o texto de trechos do documentário, lido pelo locutor em tom debochado. A verdade é simples e ficou clara no documentário: a Líbia tem petróleo. Kadafi era um ditador que não queria que metessem a mão no petróleo líbio. Os Estados Unidos queriam o petróleo, logo, armaram os rebeldes anti-Kadafi para derrubarem a ditadura de mais de 40 anos. Inclusive, os americanos e parte dos europeus, após o aval da ONU (entidade que serve para legitimar absurdos e massacres de todos os tipos, desde que interessem aos Eua), começaram a atacar de tudo quanto é jeito o governo Kadafi. Porém, foram mais discretos do que fizeram no Iraque: ao invés de eles bombardearem, simplesmente repassaram as armas para os revolucionários, que de revolucionários têm muito pouco. E, assim, foi propagada a imagem do Kadafi sanguinário, cruel, diabólico, etc. Tudo bem, ele cometeu diversos absurdos, mas nada comparado com o que os americanos vêm fazendo desde o início do século passado. E, assistindo a essa palhaçada toda, fiquei me perguntando: Ruanda, Coréia do Norte, Congo, Nigéria e muitíssimos outros países contam com ditadores e líderes sanguinários que fazem verdadeiras matanças civis e por que diabos os americanos não se metem nesses países?? Será que é por que eles não têm petróleo? E, enquanto isso, os povos colonizados pelos Eua, como o Brasil, vão comprando a idiotice propagada pela emissora americana em terra tupiniquim (Globo) de que o mundo se livrou de mais um ditador cruel.
O negócio é óbvio: os Eua armaram os revolucionários para que eles derrubassem Kadafi. E o quê eles vão querer em troca? Tipo, você tem petróleo no teu pátio e você quer matar o seu sogro, mas não sabe como. Eu te dou as armas, assim, como quem não quer nada, mas depois que você traçou o sogro eu vou aí te visitar, inocentemente, e vou levar um pouquinho do teu petróleo, afinal, lembra daquela vez que eu te ajudei a se livrar do sogro??? Sacumé, né?
Enfim, essa política vem sendo praticada há décadas, mas os poucos que denunciam isso, tanto na imprensa estrangeira quanto na nacional (salve, salve meu conterrâneo Fausto Wolff) passam por malucos e lunáticos. São chamados de paranóicos que criam teorias conspiratórias de que os Estados Unidos querem dominar o mundo. Na verdade, não é os Estados Unidos, enquanto nação, que quer dominar o mundo. Na verdade os líderes dos Estados Unidos querem é ter as riquezas do mundo para si, ou seja, querem enriquecer ainda mais. Mas os políticos deles, assim como os nossos, estão se lixando para o povão. Eles querem ter o controle das riquezas dos outros países para eles mesmos aumentarem o seu próprio patrimônio pessoal.
Enfim novamente, você aí, do outro lado da tela, já deve estar pensando que eu enlouqueci de tanto ler Fausto Wolff. Mas é tudo tão óbvio que chega a ser espantoso como o mundo inteiro engole essa merda toda que é transmitida pelos noticiários que se transvestem de sérios, mas que, assim como a travesti mais gostosa, tem uma surpresinha escondida no meio das pernas. Estou só esperando os americanos se meterem pra valer com a China para o mundo acabar com a terceira guerra mundial. Ou, se não acabar, no futuro, os orientais é que vão dominar a porra toda e, se quiserem, vão pisar no ocidente, bem como os americanos fizeram com Hiroshima e Nagasaki.
Para fechar o assunto, hoje é meu aniversário. Como nos últimos anos, talvez pelo fato de fazer aniversário próximo do fim do mês, não tenho grana para comprar caixas de cerveja nem para sair para comemorar a minha entrada na casa dos 30. Então, na falta do que fazer nessa data simbólica, fico aqui, enchendo a paciência de vocês.
Hasta!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Melhor do que Joseph Climber

A trajetória de alguém que se aventura pelo meio acadêmico sem ter um padrinho forte é semelhante à de Joseph Climber, criado pelo grupo Os melhores do mundo. Quem não conhece, pode procurar no youtube. Assim como quando o pobre Joseph Climber pensa que nada mais pode piorar em sua vida, ou que sua existência na Terra está resolvida, tragédias e incertezas lhe cruzam o caminho. Olhando pela enésima vez o Joseph Climber me veio à mente a figura de um estudante brasileiro.
O brasileiro se fode desde que nasce. E se não vem de família rica será um Joseph Climber condenado à angústia e ao sofrimento. Irá penar para concluir o Ensino Fundamental e Ensino Médio. As cobranças começam na infância quando são obrigados a agüentar professores semi-analfabetos, mal-remunerados, mal-humorados e despreparados. Além disso, o estudante brasileiro está condenado a apanhar dos pais, caso não vá lá muito bem na escola. E, se ele não for bem na escola, além de apanhar, ainda pode ser forçado a trabalhar desde cedo para ser “alguém na vida”. Nesse caso, o ex-futuro estudante brasileiro já será eliminado na primeira fase. Os que sobrevivem e conseguem completar os estudos sem precisar trabalhar, depois de terem levado no rabo por bons anos, descobrem que estão mais ferrados do que antes. Precisam entrar em uma universidade. Poderia ser pública, mas a família do cara não tem grana para mandá-lo estudar em outra cidade, e os pais do cidadão dizem: “estuda aqui na universidade particular, pois a mensalidade podemos atrasar o pagamento, enquanto que o aluguel e a comida não”. E assim, o cara peleia para entrar numa universidade particular de sua cidade, onde pega o Financiamento Estudantil, que lhe foderá por mais alguns bons anos de sua vida. Na faculdade o cara vive sem grana, mas, pelo menos, faz as melhores festas da vida. Pega as minas dos outros cursos, toma os porres mais homéricos com destilados baratos (pois a ceva é muito cara), faz grandes amizades, encontra um estágio que lhe paga um salário mais baixo do que o bolsa-mendigo dos americanos, mas, enfim, como todos no seu curso estão fodidos e no mesmo barco, tudo é engraçado e tudo vale a pena quando a alma não é pequena, como diria o Pessoa.
Então, chegam os últimos semestres e o cara se vê atolado em trabalhos, monografia, projeto de conclusão e ainda tem a porra do estágio. O dinheiro não dá para nada e ele também não tem mais o tempo livre que tinha antes para fazer as mesmas festas e todo mundo na turma está na mesma. Então, sem pensar, ele se dedica em terminar logo o curso. Assim, o nosso quixotesco estudante brasileiro se dedica de corpo e alma à sua monografia e ao seu projeto e consegue fazer um belo trabalho, mas que, por melhor que venha a ser, nunca será publicado por nenhuma editora, pois ele não vende e o nosso estudante brasileiro é um João Ninguém que NINGUÉM conhece e nem quer conhecer. Então, ele faz a maior festa da sua vida na formatura, pega o canudo e, ainda de ressaca, descobre no outro dia que está desempregado.
A cabeça ainda dói quando a sua família e toda a sociedade começam a lhe cobrar um emprego. O nosso mais novo formado desempregado está mandando currículo e fazendo entrevistas faz meio ano, mas nada aparece. A partir daí há uma divisão: alguns mergulham no mercado de trabalho, outros desistem, viram funcionários públicos onde a seleção exige o Ensino Médio ou Ensino Fundamental, e, aqueles guerreiros que ainda querem estudar ainda mais passam para a próxima fase da triste sina do estudante brasileiro.
Alguns fazem a especialização, mas, quando terminam, descobrem que a especialização não vale lá grande coisa. Em um país onde o ensino é sucateado, muitas vezes ela parece mais com uma decoração para deixar o currículo mais bonito, inclusive, porque na maioria dos casos os próprios contratantes não idéia do que é uma especialização. Então, o nosso quixotesco estudante decide que quer fazer um mestrado, pois ele tem os estudos no DNA. Ele ama a ciência. E ele quer propagar a sua inspiração para as futuras gerações. E é aí que ele descobre que os quatro ou cinco anos de graduação e os dois de especialização não valem muita coisa, pois para entrar no mestrado ele disputa poucas vagas com dezenas de candidatos, igualmente qualificados e sedentos por estudo. Então, após umas três tentativas, ele finalmente entra no mestrado, onde não consegue uma bolsa, pois o seu curso tem só uma ou duas bolsas para cada 10 alunos. Dessa maneira, ele estende o seu sofrimento e estrangulamento financeiro por mais dois anos, período em que fica atolado nos livros, lendo tudo que vê pela frente com temas relacionados ao curso e à sua dissertação, enfim, ele se QUALIFICA o melhor possível. Nessa altura do campeonato o nosso herói brasileiro já está na casa dos 30 e ainda não chegou o SEU MOMENTO. Após muita labuta, ele consegue o seu diploma de mestre, ou ainda morando na casa dos pais, ou morando de favor com um amigo ou parente ou trabalhando horas para pagar um aluguel de um quarto em um bairro distante da universidade e do seu emprego. E, depois de concluir o mestrado, já com o título de mestre, ele ouve o Pedro Ernesto chamar o atacante do Grêmio de mestre por fazer um ou outro golinho. A diferença é que o estudante mestre não tem nada em seu nome e o Jonas ganha mais de milhão por ano. Sendo assim, ele chuta o balde no emprego (pois seu trabalho pode ser feito até por uma criança de 5 anos) e vira um mestre desempregado. Está no mesmo nível social, economicamente falando, do panfleteiro da Otávio Rocha do centro de Porto Alegre. Numa bela manhã de sol, ele abre a carteira e vê duas moedas de 5 centavos e algumas de dez, uma de 25 e duas de 50. Começa a contar e descobre que faltam 10 centavos para poder pegar um ônibus para participar de mais uma entrevista de emprego. Aliás, para cada concurso que resolve fazer, gasta pilhas de reais, que consegue emprestado com alguém, e a cada resultado negativo ele vai descobrindo que, para o governo, ele vale o mesmo que o cão sarnento que passa por ali abanando o rabo. Se esse estudante brasileiro ainda se aventurou a ter família, então, ele está mais ferrado ainda. Se tiver filho e se separar da mulher, o risco de ir para a cadeia por não pagar pensão é grande. Enfim, é um criminoso. Um mestre criminoso.
Mas, assim como para o Joseph Climber, para o nosso estudante a vida também é uma caixinha de surpresas. E eis que, numa ótima manhã de sol, ele decide que fará o doutorado. Enfim, será um doutor! Um doutor desempregado, mas um doutor! Quando os caras da Justiça forem lhe prender por não pagar a pensão do cabeçudinho, ele exigirá que os guardas lhe chamem de doutor. Se forem lhe chamar, durante o julgamento, de meliante, exigirá que o chamem de Dr. Meliante. E depois, lá pelos 55 anos, quando ele tiver sido preso e solto várias vezes, e tiver pego uns bicos como professor horista em algumas universidades ou centros de ensino, ele finalmente escreverá um livro de memórias, que será publicado três anos depois, em função da demora da editora, e ficará semi-famoso. E então, aos 60 anos, ele passará em um concurso público e, finalmente, terá sua vida financeira semi-resolvida. Entretanto, no seu aniversário de 62 anos, ele terá um ataque cardíaco e cairá duro em cima do bolo para espanto de todos os convidados. E se ele for alérgico a ovo estará mais fodido ainda.
E assim termina a história do nosso herói chamado estudante brasileiro. Após morrer, ele terá uma áspera discussão com o cara que distribui as almas no mundo e reivindicará o seu próximo nascimento em um país desenvolvido da Europa, onde ele viverá melhor como mendigo do que como estudante/pesquisador no Brasil.
É isso! Hasta!

Pegadinha do Malandro na Zona Sul - Rá-Rá!

Como corneteiro de plantão, quebrei a cara. Morando em Pelotas, tive a coragem de tirar onda com os xavantes antes da hora e deu no que deu. Tendo visto os jogos do Brasil de Pelotas nesse ano pela Série C do Brasielirão e pela copinha, achava que a SER tinha boas chances de ganhar em casa do xavante por um motivo bem simples: o rubro-negro do sul do Estado está com um time muito ruim. Aliás, aqui em Pelotas, isso é consenso. A torcida xavante, a maior e mais fanática do interior, está completamente desanimada com a queda do time para a série D do Campeonato Brasileiro. O que era sonho de subir para a segundona do nacional virou pesadelo. Para piorar a situação, o time não está se encontrando para voltar à elite do futebol gaúcho, da mesma forma que a um bom tempo está acontecendo com a nossa SER.
Na quarta-feira, liguei o rádio a todo o volume aqui nas proximidades da UCPEl. Parecia jogo de Copa do Mundo. Passei o dia esperando pelo confronto. Pensei: agora vamos mostrar para esses pelotenses a garra missioneira. Tirei onda com meus alunos xavantes, mexi com o barbeiro que corta meu cabelo aqui perto de casa e, quando via alguém com a camisa xavante na rua, dizia: “quarta vocês vão ver!” e completava com a voz do Serginho Malandro: “Rá-Rá!”. Os caras franziam a testa, como se dissessem “quem é esse maluco?” e eu dizia “vão jogar contra o meu time: a SER Santo Ângelo”. Então, os caras diziam “ah, não duvido, porque nosso time tá uma bosta”. E, devido a depressão rubro-negra, realmente acreditei na SER. E, pelo que ouvi no rádio, tinha motivos para acreditar, pois só a SER pressionava. Aliás, comemorei junto com a minha filha de 11 meses o gol santo-angelense! Quase cheguei ao ponto de berrar na janela para o síndico do prédio: “toma seu fia da pu...”. Mas me controlei, afinal, provavelmente eu ainda vá assistir a jogos do xavante na torcida rubro-negra. Enfim, estava todo empolgado, já me vendo nas arquibancadas do Bento Freitas, no domingo, comemorando uma classificação missioneira nesse templo do futebol gaúcho quando... Quando? Quando a SER Santo Ângelo simplesmente abriu as pernas e se entregou como uma pintscher no cio se entregaria para um rottweiler feroz e sedento por prazer carnal. Depois do jogo, quando os xavante cobraram a minha corneta, eu simplesmente tive que fazer novamente a voz do Serginho Malandro e dizer: “Rá-rá! Pegadinha do Malandro!”.
Amanhã, entretanto, quero acreditar que a SER possa inverter os papéis e se recuperar com uma vitória épica na zona sul do Estado. Quero que os jogadores desse clube, tão carente de bons times e de bons resultados, façam o mesmo que o Universidad, do Chile, fez com outro rubro-negro, o carioca, no Rio de Janeiro nessa semana: atropele, passe por cima, humilhe, coloque na roda e faça gols de todos os jeitos. Sei que é difícil, mas sonhar não custa nada.
E sobre a dupla Gre-Nal? Nada de mais, só mais dois jogos para cumprir tabela enquanto esperamos o ano que vem. Minha aposta é vitória tricolor em Minas, diante da ruindade do América, e derrota do Inter para o Corinthians no Beira-Rio. Além do time do Inter ser fraco, os corintianos ultimamente tem se sentido em casa jogando na beira do Guaíba... Aliás, se o Inter é o pai do São Paulo, o Corinthians é o pai do Inter.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões do próximo sábado.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

A devoção desumana à deusa-cadela

Nessa semana tive que ir ao banco e presenciei um diálogo revoltante, que comprova a burrice do brasileiro. Enquanto era atendido, no caixa ao lado, um cara todo metido a sarado (o cérebro dele deve estar no bíceps) discutia com o caixa que lhe atendia (que tinha 1/3 do seu tamanho):
- Vocês não trabalharam e agora quem vai pagar meu juro?
- A greve foi nacional, senhor.
- Não me importa, quem vai pagar meu juro?
O Caixa não respondeu, seguiu fazendo sua operação. O cara gigante, com cara de mau, então murmurou.
- Espero que pelo menos tenha valido a pena pra vocês, porque pra mim não valeu nada.
Se o cara fosse um pouco menor eu tinha dado uns petelecos nele. O duro, entretanto, é que esse cara bípede, que mais parece um quadrúpede descerebrado, representa a burrice nacional: ele reclama de seus semelhantes (outros assalariados que não sabem mais o que fazer para pagar o aluguel, a prestação, o colégio das crianças, etc) e não encara de frente quem realmente mete a mão no dinheiro de todos: aquele povinho que fica escondido na ilha paradisíaca das falcatruas chamada Brasília e nas casas de governo. Aliás, se o brasileiro tivesse 1% de neurônio a mais exigiria a volta da capital federal para o Rio ou a transferência para São Paulo, porque só assim o sangue corrupto seria derramado.
Falando nisso, estourou mais um escândalo, agora envolvendo o Ministério dos Esportes. Confesso que nem estou ligando, sabem por quê? Porque no máximo os acusados, mesmo que comprovadamente culpados, vão ser expulsos de seus cargos, mas logo, pouco tempo depois, eles reaparecerão ocupando outros cargos e a vida vai seguir na Burrilândia verde-amarela, enquanto outro ser irracional estará discutindo com outro caixa após mais uma paralisação dos bancários, ou senão, de outros servidores quaisquer...
Curiosamente, diante de tantos absurdos inexplicáveis, no Facebook, para me distrair (pois não vou bancar o louco do Exército de um homem só do Scliar, dando tiros em corruptos em Brasília) cliquei no “O quê você deve fazer hoje?” e apareceu “Rir de tudo”. Vejam vocês. Até estou tentando, mas é difícil rir enquanto esses absurdos todos acontecem e você sai na rua e vê crianças desnutridas pedindo esmolas para usar crack na praça, ou enquanto você vê pais abandonando os filhos e filhos abandonando pais e tudo por conta da deusa-cadela chamada dinheiro. Fico me perguntando, enquanto os dias passam, como as pessoas são dementes ao se desumanizarem por causa da deusa-cadela sendo que, quando esses não-humanos forem morar com os vermes embaixo da terra certamente não vão poder levar a deusa-cadela junto para o ALÉM. A única coisa que esses não-humanos vão levar é o que está dentro da massa cinzenta deles, ou seja, conhecimento, inteligência, emoção, sentimentos, etc. No caso desses nigromantes, que são desequilibrados mentalmente, pois, como diria o nosso conterrâneo Fausto Wolff, ninguém em sã consciência pode querer ter cinco carros na garagem, então, esses mentecaptos vão levar justamente para o ALÉM a ganância, o sofrimento, a angustia, a decepção, o perecível... E o pior: enquanto eles tiverem se torturando espiritualmente pela própria ganância, seus filhos e netos estarão tomando bons tragos com a deusa-cadela em uma zona qualquer.
Enfim, cansei. Por hoje é isso. Hasta!

*Texto publicado em A Tribuna.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Exemplo vermelho


Em um campeonato em que Grêmio e Inter estão apenas cumprindo tabela, pois o Grêmio dificilmente vai cair (mais por ruindade dos outros do que por méritos próprios) e o Inter também provavelmente não vá para a Libertadores (por ruindade própria), fico pensando mais filosoficamente sobre alguns exemplos do futebol que deveriam servir de modelo para a vida das pessoas. Mais especificamente, pensei no exemplo do caso de sucesso do Inter que serve para todos os brasileiros. Explico-me.
O Inter durante muitos e muitos anos, aliás décadas, carregou a fama de não ganhar títulos importantes. Ou seja, tinha apenas títulos nacionais e regionais no currículo. Durante muitos e muitos anos os pobres colorados ouviram a corneta gremista de que nunca haviam conquistado nada de realmente importante, como a Libertadores e o Mundial. A fama estava colada como um adesivo permanente na testa de todos os colorados: “sou sofredor, não ganho títulos”. Porém, quando todos achavam que os colorados morreriam sem ver o seu time ser campeão da América e do Mundo, o Inter ressurgiu das cinza para levantar todos os tipos de troféu: Libertadores, Mundial, Sul-Americana, Recopa, etc. Pois aí está o exemplo colorado para os brasileiros.
Os brasileiros têm fama de serem acomodados, quiçá, burros mesmos. E na verdade só confirmam essa fama dia após dia. Com a internet, toda hora são divulgadas centenas de notícias capazes de fazer qualquer pessoa com sangue de barata ficar revoltada: desvio de bilhões dos cofres públicos, Samu negando atendimento a uma pessoa que está morrendo (e que morreu), outras milhares de pessoas morrendo nas filas dos hospitais, outras milhares de crianças morrendo de fome, etc, etc. E, enquanto o próprio Tesouro Nacional divulga que nos últimos 9 anos foram desviados aproximadamente 3 bilhões de reais só da Saúde, e matérias de revistas com credibilidade, como a Exame, divulgando que no Brasil são desviados mais de 50 bilhões de reais por ano (isso antes e depois do governo PT), enfim, enquanto esses e outros absurdos acontecem, sem que nada aconteça com os políticos e servidores corruptos, o que o brasileiro faz? Nada. Ou melhor, sai caminhar por Brasília e por outras capitais vestido de preto e com nariz de palhaço. Pois eu vou lhe dizer o que os políticos corruptos pensam ao ver essa cena diante da TV: estão uniformizados, pois esse povo é palhaço mesmo. E, como não acontece nada com ninguém, a corrupção segue correndo solta, tanto em governos de direita, quanto de esquerda, quanto de centro.
Pois, tendo como o exemplo o caso colorado, eu ainda tenho esperança de que algum dia os brasileiros vão acordar e vão deixar de assistir Big Brothers, novelas e outros programas emburrecedores, vão encarar o futebol como o que ele realmente é (só entretenimento) e vão se preocupar realmente com o que interessa: política, sociologia, filosofia e desenvolvimento social. E, nesse dia, para mostrar sua indignação, aparecerá na frente do Palácio do Planalto a cabeça de um político corrupto em uma bandeja. Aliás, já que não somos capazes de evoluir, então que retrocedamos, derramando o sangue de políticos larápios. Sei que é utopia, mas tenho que acreditar numa revolução política, assim como tenho que acreditar que um dia voltarei a ver meu time erguer um troféu que não seja o da segunda divisão.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no J Missões de amanhã.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Viva la revolución!

Foi com pesar que acompanhei hoje, tanto em sites de notícias quanto em canais de televisão, a cobertura feita sobre a marcha pacífica contra a corrupção realizada em Brasília. Vamos falar sério, de ser humano pensante para ser humano pensante: alguém realmente acredita que uma marcha, onde a mídia informa com todo orgulho que não foi registrado nenhum caso de violência, vai resolver alguma coisa no que diz respeito à corrupção em nosso vergonhoso país? Alguém, em sã consciência, tem essa ilusão? Sinceramente, eu me surpreenderia menos vendo o Papai Noel chegando num trenó voador na minha casa na véspera de Natal, deixando uma Ferrari 0 Km embaixo do pinheirinho, do que vendo acontecer algo concreto a partir de uma marcha dessas.
O povo brasileiro é muito burro, já disse aqui. Enquanto a marcha pacífica reuniu 20 mil lunáticos em Brasília, os políticos corruptos não estavam nem aí. Ou pior: estavam assistindo a tudo pela televisão, dando risada, tomando um champanhe importado comprado com o dinheiro de algum desvio dos cofrespúblicos. Sabem quando algum protesto contra a corrupção vai surtir efeito: no dia em que o sangue dos corruptos for derramado. No dia em que o Planalto amanhecer com a cabeça de um político corrupto, como a de Maluf, parada, com os olhos vidrados, na porta de acesso ao templo nacional da corrupção. E, na medida em que mais e mais cabeças rolarem, a coisa começa a mudar. Todo mundo critica e condena as técnicas adotadas pelos terroristas. Mas o terrorismo se vale do anonimato justamente por ter uma luta desigual contra seus inimigos. Como o Afeganistão declararia uma guerra contra os Estados Unidos? Seria burrice e suicídio (sem a morte do adversário). O mesmo vale para o povo brasileiro. Se fossem formadas tropas para invadir Brasília, o Exército derrubaria o bando de malucos rapidamente. O que o Brasil (com B maiúsculo) precisa é de uma guerrilha. Só assim a corrupção vai acabar, ou pelo menos, diminuir. Nós sabemos que não podemos esperar pela Justiça. Sabemos que ninguém será punido e que essas marchas contra a corrupção são verdadeiras palhaçadas. E, no fundo, todo mundo sabe que é só com sangue rolando que a coisa anda. Historicamente, todas as grandes revoluções foram feitas dessa forma. Aliás, os países só se desenvolveram, principalmente culturalmente, após guerras civis e revoluções. Foi assim com a Revolução Francesa. Foi assim com a Guerra Civil americana. Foi assim com o março de 68 europeu. E é assim até hoje em países como a Inglaterra, onde o assassinato cometido por um policial contra um inocente causou uma onda de ataques em vários pontos de Londres recentemente. Mas, o brasileiro cai fácil no discurso moralista repetido pela mídia de que a violência não resolve nada, etc, etc, etc. Entretanto, enquanto o próprio povo sofre com a violência, com o tráfico de drogas, com latrocínios, etc, os únicos que se protegem com esse discurso de não-a-violência são os próprios políticos, que se amarram em discursos demagógicos e moralistas para justificar o injustificável (ou é justificável serem desviados anualmente mais de R$50 bilhões dos cofres públicos sem ter nenhum culpado. Assalte um supermercado para pegar leite para os seus filhos e vê se eles não te acham e não te prendem rapidinho). Enfim, como disse meu primo Alemão Marcos, a relação entre governo e povo é como a de um adestrador com o elefante, ou seja, o animal (no caso, o povo) não faz idéia da força que tem, pois senão, esmagaria o seu domador, que lhe maltrata com golpes de chicote. O Brasil só vai se desenvolver no dia em que o sangue corrupto rolar. Ou seja, no dia de São Nunca.

Mais política
Aliás, sou a favor da idéia de políticos, para mostrarem que são realmente POLÍTICOS, no sentido de agente transformador e líder social de um povo, deveriam trabalhar sem ter salário. Deveriam ganhar apenas comida (arroz, feijão e bife com um suco de laranja ou limão de almoço e uns dois ou três sanduíches com leite e café de noite), moradia (uma casa de madeira pequena, com um cômodo por morador) e transporte (vale-transporte, passagem de busão e, quando o assunto é urgente, passagem em aviões teco-teco que estão em promoção). Aliás, o exemplo do Chico Xavier é o melhor possível nesse sentido. Ele ajudou milhares de famílias, ficou famoso, foi tema de matérias da Globo e da imprensa nacional, e viveu e morreu na pobreza, sem acumular nenhum bem material. Ou, se os nossos políticos tivessem vergonha na caral, deveriam doar seus salários na íntegra para instituições sociais que deveriam prestar contas de onde vai o dinheiro. Mas, como nem o sangue corrupto vai ser derramado em terra tupiniquim, e como os políticos nunca vão tomar vergonha na cara e tomar uma atitude dessas, em prol do DESENVOLVIMENTO NACIONAL, os brasileiros continuarão acompanhando a história, esperando agora pelos chineses, que serão os próximos comedores do cu brasileiro, ocupando o lugar que hoje é dos Estados Unidos...
Ah, e só para finalizar essa parte, se o brasileiro tivesse um pouquinho mais de massa cinzenta, exigiria a mudança da capital federal de Brasília para São Paulo. Mas, como o Brasileiro nunca questiona nada, a cidade criada por um louco lunático para ser a ilha paradisíaca dos corruptos, segue sendo capital desse país de bosta, inclusive, porque o louco lunático sabia que se o Rio de Janeiro continuasse sendo a capital federal, ou se ela fosse transferida para São Paulo, ou qualquer outra cidade, o sangue dos políticos, cedo ou tarde, iria rolar.

EDUCAÇÃO
Hoje, quando fui à padaria, havia uma mulher, de uns 35 anos, e um garoto, de uns 15 anos, os dois negros e muito mal vestidos. Ao invés de me pedirem dinheiro, eles pediram um pão. Óbvio que não neguei comida a eles, e comprei alguns pãezinhos, que entreguei para eles na saída. Fiquei pensando: se eu fosse rico e tivesse dinheiro sobrando (ou se eu fosse responsável por gerir o dinheiro público) eu financiaria comida para essas pessoas, mas com a condição de que elas estudassem. Inclusive os adultos. Quem não é alfabeto se alfabetizaria, quem é alfabetizado estudaria algo que lhe interessa, e todos estudariam, principalmente, filosofia, sociologia e literatura. E, a partir da educação, essas criaturas passariam a criar condições para se auto-sustentar, se desenvolver, trabalhar como funcionários de empresas ou do governo e, depois, teriam condições de serem os empregadores de outras pessoas, e, assim, haveria algum desenvolvimento social, pelo menos em um pequeno espaço desse burro gigante, digo, país gigante. Mas, como tenho vergonha na cara e não pretendo ser político nesse país de merda (é só xingando para o povo tomar vergonha na cara e fazer algo), só vou fazer isso se algum dia tiver algum dinheiro para poder ajudar os outros.
Escrevendo tudo isso, fico me sentindo um pouco exército de um homem só, do Scliar, e um pouco Dom Quixote.
Enfim, viva la revolución e abaixo a censura! Aliás, se os joranalistas brasileiros tivessem colhões, publicariam na grande imprensa, ou mesmo na internet, textos desse tipo, e mostrariam para o povo como ainda existe CENSURA nesse defecado e humilhado país. Só que agora a censura usa o nome daquilo que ela menos faz: Justiça.
Hasta!

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cadê o governo dos trabalhadores?

Os Correios estão em greve. Os bancos também. Curiosamente, comandados pelos seus TRABALHADORES: carteiros e bancários. Os dois prestam serviços fundamentais para a sociedade e, justamente por isso, deveriam ser valorizados. Assim como deveriam ser valorizados outros profissionais que tem sua moral e seu salário sucateados (como os jornalistas)... O que chama a atenção, é que isso tudo está ocorrendo em um país que é governado por uma presidenta que pertence a um partido que se autointitula dos TRABALHADORES. Aliás, esse foi, há muito tempo, um partido de esquerda. Porém, há um bom tempo, esse partido tem feito tudo o que os governos anteriores fizeram: sacrificam o povo para “honrar” as dívidas trilionárias que o Brasil possui com o decadente Estados Unidos (que em breve terá que deixar o comando do mundo para os chineses...). Ou seja, não importa se os bancários e os carteiros ganham pouco, se o salário mínimo é uma piada, se não existe saúde pública e educação pública minimamente decente, enfim, nada disso importa para o governo da Dilma, que está mais preocupada em visitar a Bulgária, terra de seu pai, com o nosso suado dinheirinho de contribuinte-otário. Assim como o sofrimento do brasileiro não importava para o governo Lula. Assim como importou menos ainda para o FHC Turismo, para o Itamar sem Calcinha, para Collor Mão na Poupança, para Sarney Cara de Pau, e assim, sucessivamente. Aliás, esse e outros governos vão continuar abrindo as pernas para os estrangeiros, enquanto o povo vai ficando cada vez mais para trás. E os fãs do Serra Drácula não fiquem dando risadinhas porque o cara de Chuchu, que se autoproclama O CARA da saúde deixou milhares de pessoas adoecerem de dengue quando ele era o ministro da saúde. Enquanto ele gastava milhões do seu ministério em propagandas na TV globinho, o povo ia morrendo, assassinado por um mosquito.
Aliás, o povo, no caso do Brasil, nada mais é do que um amontoado de cérebros não pensantes que sofre do mal de alzheimer. O povo brasileiro é o mais acomodado, preguiçoso e burro do planeta. A greve dos correios e dos bancos não vai resultar em nada. Todo ano tem greve. Sempre os trabalhadores aceitam as propostas ridículas dos patrões. Todo ano a imprensa trata do assunto com normalidade, mostra as filas nas lotéricas, as correspondências atrasadas, o povo ao mesmo tempo reclamando e apoiando a reivindicação e, se não há acordo, o Tribunal do Trabalho mete o bedelho no troço, mas, obviamente, para decidir a favor dos patrões. E quem sai perdendo são os trabalhadores, justamente em meio a um governo, que, teoricamente, deveria ser dos trabalhadores. Aliás, a única diferença do PT para os governos anteriores é que ele teve essa sacada fantástica de compra de voto através do bolsa-tudo. Ao invés de dar condições das famílias de baixa renda se desenvolverem e pensarem, dá-se uma migalha para que elas não encham o saco porque estão morrendo de fome... Mas, no resto, tudo continua exatamente igualzinho: taxa de inflação maior do que a de reajuste salarial, corrupção, desemprego, criminalidade em alta, etc. Aliás, os políticos da cúpula do governo continuam roubando e trocam-se ministros como uma mulher menstruada troca do mods... Por sinal, o que tem dentro dos dois não é muito diferente...
Enfim, o povo brasileiro é muito burro, preguiçoso e imbecil porque tudo isso acontece sem que nada seja feito. O Brasil, pelo seu tamanho, pelas suas riquezas, pela sua população, numericamente falando, deveria ser uma potência. Mas não. Ao contrário. O Brasil é uma fábrica de ladrões, larápios, sem-vergonhas que roubam e ainda são tratados por esse povo retardado como heróis.
Mas, enquanto a greve rola, e o povo sempre age como se nada fosse com ele, porque caso contrário, haveria uma invasão a Brasília e apedrejamento em praça pública do bando de crápulas, mentecaptos, nigromantes, que por lá roubam tranquilamente, enfim, enquanto o troço todo tá rolando, esse povo burro e besta está muito ocupado, pensando na vitória do Inter, na derrota do Grêmio, no show do Justin Biba, nas novelas emburrecedoras da rede globo (essa empresa não merece uma letra maiúscula). Ah, e daqui alguns anos tem Copa no Brasil. Força Argentina!
Hasta!
*Texto publicado em A Tribuna Regional.

sábado, 8 de outubro de 2011

Wolff, Freud e outros caras

Encontrei no youtube um mini-documentário sobre o Fausto Wolff. Não vou comentar nada sobre ele, pois vocês, preguiçosos leitorinhos, que assistam no link: http://www.youtube.com/watch?v=R0TKu1CbnaU
Para além disso, eu tento me compreender, psicologicamente falando. Enquanto tem gente viciada em cigarro, drogas, chocolate, cerveja, etc, meu maior vício hoje (que um dia já foi a cerveja) são os livros. Não consigo entrar numa livraria, tendo dinheiro, e sair sem comprar nenhum livrinho, nem que seja daqueles da LP&M Pocket. O último foi justamente o único (dos que eu já ouvi falar) que faltava do Bukowski: o clássico Cartas na Rua. Agora, estava contando quando livros tenho para ler nos próximos meses, sem considerar que eu venha a comprar mais algum: 23. Na verdade estou lendo três nesse momento: o do Fausto Wolff, o Mulheres, do Bukowski, que faltam mais ou menos 30 páginas, e um que vai cair na prova de seleção do doutorado... Já em relação aos 20 restantes, são dez variados (Cartas na Rua, Pra ser sincero, Fábrica de Diplomas, etc) e outros 10 acadêmicos. Enfim, espero não surtar com tudo isso. Mas, como falei, é um vício: não consigo ficar sem ler nenhum livro por mais do que 24 horas. E, além do mais, ultimamente passei a adquirir o hábito de ler dois ou três livros ao mesmo tempo... Será que Freud explica? Ah, e por falar em Freud, já vi na livraria e certamente num futuro próximo vou comprar a biografia dele... Quero ver se entendo um pouco esse cara que todos dizem que entende os outros...
Hasta!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Ilusão azul e vermelha

Gremistas e colorados gostam de se iludir, assim como aquele cara que tem paixão platônica pela mina mais gostosa da escola/faculdade/ trabalho/vizinha/ etc e que nunca chega nela pensando que um dia, quando resolver criar coragem e se declarar, vai dar tudo certo e os dois viverão romanticamente felizes para sempre, se amando todos os dias até o último suspiro (ou pelo menos até a primeira noite juntos). O Grêmio, por exemplo, venceu o Santos na quarta-feira e está a um ponto do Inter. Agora, os coitados dos gremistas pensam que podem chegar na Libertadores. Pensam que vão ganhar do Coritiba hoje. Até aí, tudo bem, o time de Roth até pode ganhar. Mas para o Grêmio entrar no torneio Rio-São Paulo (que começa da 6ª e vai até a 1ª posição) o tricolor precisa vencer o Coritiba e secar Palmeiras, Inter, Flamengo e Fluminense. E, como tem Fla-Flu, com qualquer resultado ou Flamengo ou Fluminense ou os dois vão pontuar. E, na melhor das hipóteses, com Palmeiras e Inter perdendo e Fla e Flu empatando, o Grêmio fica com 42 pontos e a dupla carioca com 45. Tudo bem, são 3 pontos. Mas, além de uma combinação praticamente perfeita e impossível de resultados nessa e nas próximas rodadas, o Grêmio não pode deixar de ganhar seus jogos. E eis o problema.
É como o cara que se apaixona por uma mina comprometida. Ele seca, torcendo para que ela deixe o mentecapto, porém, quando ela o deixa, o cara tem que fazer o seu resultado dentro de campo, e eis que aí começam os problemas. Na melhor das melhores hipóteses, o sujeito até pode ficar com a mina, entretanto, ele tem que manter o alto desempenho em campo, e isso, metaforicamente, vale para a dupla, caso Grêmio ou Inter cheguem na Libertadores. E, nesse ano, mesmo com as conquistas heróicas das vagas na Libertadores obtidas no ano passado, a dupla Gre-Nal fez fiasco e deu no que deu. É como o cara secar o namorado, ex-namorado e outros pretendentes daquela mina gostosa, a secação dar certo, ele ficar com a mina, mas chegar na hora H e brochar ou falar uma bobagem que estraga tudo...
Fico me questionando: de que adianta o Grêmio novamente ter uma arrancada espetacular rumo ao topo, se quando chega na Libertadores não consegue montar um time descente e acaba fazendo fiasco. Pergunto-me, ainda, se não é melhor o Grêmio jogar uma Copa do Brasil e uma Sul-Americana, onde ele realmente terá condições de brigar por um título importante, que há muito tempo não ganha.
O mesmo vale para o Inter. Os colorados pensam que, se ganharem do Vasco amanhã no Beira-Rio, vão chegar no grupo de classificação para a Libertadores em poucas rodadas. Doce ilusão. Esse time do Inter não deslancha pelo simples motivo que é um time fraco e sem comando, que depende muito do Damião e, considerando que ele está lesionado, qualquer bom resultado não passa de mera ilusão de sucesso.
Podem me chamar de pessimista, mas com times fracos, não tem como ser otimista. Quando os times forem bons e jogarem bem, voltarei a ser otimista.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no Jornal das Missões de sábado.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Rua Fausto Wolff


Há alguns anos descobri um santo-angelense que é famoso no eixo Rio-São Paulo (principalmente no Rio) e que é praticamente um desconhecido em solo gaúcho e missioneiro: Fausto Wolff. O jornalista e escritor nasceu em Santo Ângelo, mais especificamente na nossa famosa Buriti, em 1940, e faleceu em 2008 no Rio de Janeiro. Já tinha lido alguma coisa dele na internet, mas estou embasbaco lendo o livro A Imprensa Livre de Fausto Wolff, publicado pela editora LP&M. Trata-se de uma aula de jornalismo, política, filosofia, sociologia e crítica para quem quiser saber mais sobre a vida. Inclusive, confesso envergonhado, que cursei os quatro anos de jornalismo em uma universidade da região, sem que nenhum professor nunca me falasse de um dos maiores jornalistas nascidos na área de abrangência Noroeste-Missões... Mas, sempre há tempo de correr atrás do conhecimento perdido e, eis que agora, em 2011, estou degustando esse livro que deveria ser lido por todos os brasileiros, principalmente os de nossa região...
A família de Wolff saiu quando ele ainda era muito pequeno, buscando prosperidade financeira (ou simplesmente para fugir da miséria no interior) em Porto Alegre. Eis um trecho do texto A Terra Prometida: “Sou filho de camponeses e sei o que sofreram até serem obrigados a deixar alguns acres de terra seca num lugar chamado Buriti, no Rio Grande do Sul, e buscar refúgio no El Dorado que para eles era a cidade grande”. Enfim, esse santo-angelense foi (e é) aclamado por grandes jornalistas e escritores, esses sim, conhecidos dos missioneiros e não-missioneiros, como Luis Fernando Verissimo, Millôr Fernandes, Ziraldo, Carlos Heitor Cony, Fernando Morais e muitos outros. Ou seja, o nosso Fausto Wolff (mesmo que renegasse Santo Ângelo – não sei se ele o fez ou não - enfim, ele é santo-angelense) foi reconhecido, admirado e exaltado por esses nomes ilustres menos por nós mesmos, conterrâneos desse jornalista, que foi um dos mais ousados que esse país já teve (uma espécie de Paulo Francis da esquerda)... Ou seja, enquanto vejo ruas, escolas e outros espaços públicos de Santo Ângelo ganharem nomes de pessoas que nunca passaram por Santo Ângelo, ou ainda, por intendentes sanguinários de séculos passados, não vejo nenhuma grande homenagem a esse escritor, nascido na Buriti. Tudo bem, admito, talvez até tenha tal homenagem, mas está tão escondida, que nos mais de 15 anos em que morei em Santo Ângelo nunca ouvi falar. Nunca ninguém me disse que mora na rua ou avenida (ou sequer travessa) Fausto Wolff ou que estuda na Escola Fausto Wolff... Enfim, fica a sugestão aí para nossos políticos de plantão, que tanto foram criticados e zoados pelo nobre jornalista...
Aliás, no texto “Terra prometida” ele fala justamente das famílias que deixam a área rural em busca do tesouro perdido na cidade grande. Uma grande falácia, por sinal, que está causando, a cada ano que passa, um abismo maior entre a população urbana e a rural. Mas isso não vai ficar assim. Com poucas pessoas produzindo no campo, é questão de anos para que produtos, hoje comprados a preço de banana (como a própria banana) passem a valer ouro. Enquanto isso não acontece, vou lendo os livros do Fausto Wolff, questionando-me o que ele pensaria de sua terra natal se ele voltasse ao nosso mundo e visse que pouca coisa mudou em quase 60 anos...
Um bom resto de semana a todos.

* Texto publicado em A Tribuna Regional

domingo, 2 de outubro de 2011

O dia em que mandei a Dona Morte tomar no rabo

Semanas atrás, tive um piripaque. Foi um pouco diferente do primeiro, que narrei outra vez no blog. Aquele primeiro foi, comprovadamente, causado pelo estresse do excesso de trabalho e pouca remuneração que eu vivia naquela época. Mas não convém lembrar de coisas estressantes. A pane de semanas atrás foi diferente, pois meu coração não acelerou, como daquela vez, quando tive taquicardia. Esse último piripaque ocorreu justamente quando meus pais estavam me visitando aqui em Pelotas.
Novamente a porra toda aconteceu enquanto eu estava dormindo. Parece que a covarde da Dona Morte gosta de atacar quando estamos desatentos. Dessa vez o troço todo começou com um friozão na barriga, vindo do nada. Em seguida, senti minhas pernas e braços e peito formigando. Levantei, e tudo rodopiou. Então sentei. Deitei e ergui os pés na parede, lembrando a orientação que o médico certa vez deu ao meu pai, no caso de ser problema de pressão. E, de fato, era. Estava em 23 por alguma coisa, praticamente a mesma que o Ricardo Gomes teve quando teve o AVC durante um Vasco e Flamengo nesse ano. Mas, como no primeiro piripaque, aquele do estresse, quando eu ouvi vozes dizendo que iam me levar, fiquei ali esperando as vozes voltarem, deitado de pernas erguidas, com meus pais e a patroa ao redor apavorados. Quase que eu disse “cuméqueé, não vão dize nada, seus porras?”. Eu sabia que estavam por ali, me rondando, tentando me levar mais uma vez para o além. Mas fiquei tranqüilo. Pensava “vamo logo com essa porra”. Principalmente quando a minha cabeça começou a formigar. Eu pensei “agora vai”. E fiquei esperando a escuridão, as vozes, sei lá, algo como o além do filme “Nosso lar”. Mas, sei lá se foi porque eu encarei a dita cuja de frente e disse “vamo pro pau, sua porra”, ou se porque não é minha hora ainda, o fato foi que, mais uma vez, me safei. Na primeira vez eu estava todo cagado de medo. Na segunda estava pronto pro que der e vier.
Quando melhorei, meu pai me levou para o hospital. Já estava melhor, mas a cena que vi no hospital sim era como um purgatório. Primeiro, pilhas de gente morrendo pelos corredores. Idosos tremendo e delirando em macas. Filhos dormindo sobre as macas dos pais. Gente cortada, sangrando. Consultei, o médico passou uma medicação e, enquanto eu tinha que esperar meia hora para a revisão final, aquilo se tornou um verdadeiro inferno. Eu e meu pai estávamos esperando na recepção do hospital, porque nos corredores e leitos não havia lugar para mais ninguém. Dali a pouco saiu uma loira com todo jeito de pirigueti chorando da sala de atendimento. Uma outra moça, curiosa como são todas as moças, perguntou o que houve, e a loira disse que o namorado havia sido esfaqueado. Dali a pouco, parou uma senhora, de quase 50 anos, gorda e com cabelo de bruxa. Encostou na parede e começou a sussurrar para a loira, que estava com um short sumário, uma blusa azul e o rosto bem maquiado:
- Sua puta, vagabunda.
A loira chorava.
- Putinha, vagabunda. Teu namorado vai pro inferno, puta.
Aí a loira começou a berrar:
- Por que vocês fizeram isso? Ele está todo esfaqueado, todo cortado!
Aí a velha fez cara de nojo e disse:
- Bem feito, quem manda ele se meter com meu filho.
Em pouco tempo começou a chegar mais gente. Grupos de dois ou três marmanjos, com caras de malandros, começaram a entrar. Dali a pouco chegou uma guria com uma facada no rosto. Enquanto jorrava sangue da sua cara deformada, ela discutia com outros. Batia boca. Estava se esvaziando de sangue, mas queria ir pro pau. Que cosa.
Em pouco tempo os seguranças estavam expulsando gente do hospital. Gente que não estava ferida nem morrendo, obviamente. Deu-se uma pequena correria, vi aquele tumulto na porta por onde eu deveria entrar para ganhar alta do médico, e disse pro pai: “vambora”. E fomos. Enquanto nos dirigíamos de volta pra casa, eu ia pensando: mesmo sem ter morrido, tive uma rápida passagem pelo purgatório. Bom, por via das dúvidas, é melhor passar pelo purgatório em vida do que no além. E, antes de dormir, ainda intimei ela: “cadê você, sua porra? Desistiu, ficou com medinho? Vai tomar no rabo, caralho!” Vi que ela não vinha mais, pelo menos naquela noite, e dormi. No meio da noite levantei para mijar e dormi de novo até a uma da tarde do dia seguinte. Sonhei que estava jogando bola na semana cenecista lá em Santo Ângelo e que fiz o gol do título do nosso time. Foi um sonho bom. Levantei, caguei, tomei banho, lavando bem o sovaco, e segui a vida.