O dia em que mandei a Dona Morte tomar no rabo

Novamente a porra toda aconteceu enquanto eu estava dormindo. Parece que a covarde da Dona Morte gosta de atacar quando estamos desatentos. Dessa vez o troço todo começou com um friozão na barriga, vindo do nada. Em seguida, senti minhas pernas e braços e peito formigando. Levantei, e tudo rodopiou. Então sentei. Deitei e ergui os pés na parede, lembrando a orientação que o médico certa vez deu ao meu pai, no caso de ser problema de pressão. E, de fato, era. Estava em 23 por alguma coisa, praticamente a mesma que o Ricardo Gomes teve quando teve o AVC durante um Vasco e Flamengo nesse ano. Mas, como no primeiro piripaque, aquele do estresse, quando eu ouvi vozes dizendo que iam me levar, fiquei ali esperando as vozes voltarem, deitado de pernas erguidas, com meus pais e a patroa ao redor apavorados. Quase que eu disse “cuméqueé, não vão dize nada, seus porras?”. Eu sabia que estavam por ali, me rondando, tentando me levar mais uma vez para o além. Mas fiquei tranqüilo. Pensava “vamo logo com essa porra”. Principalmente quando a minha cabeça começou a formigar. Eu pensei “agora vai”. E fiquei esperando a escuridão, as vozes, sei lá, algo como o além do filme “Nosso lar”. Mas, sei lá se foi porque eu encarei a dita cuja de frente e disse “vamo pro pau, sua porra”, ou se porque não é minha hora ainda, o fato foi que, mais uma vez, me safei. Na primeira vez eu estava todo cagado de medo. Na segunda estava pronto pro que der e vier.
Quando melhorei, meu pai me levou para o hospital. Já estava melhor, mas a cena que vi no hospital sim era como um purgatório. Primeiro, pilhas de gente morrendo pelos corredores. Idosos tremendo e delirando em macas. Filhos dormindo sobre as macas dos pais. Gente cortada, sangrando. Consultei, o médico passou uma medicação e, enquanto eu tinha que esperar meia hora para a revisão final, aquilo se tornou um verdadeiro inferno. Eu e meu pai estávamos esperando na recepção do hospital, porque nos corredores e leitos não havia lugar para mais ninguém. Dali a pouco saiu uma loira com todo jeito de pirigueti chorando da sala de atendimento. Uma outra moça, curiosa como são todas as moças, perguntou o que houve, e a loira disse que o namorado havia sido esfaqueado. Dali a pouco, parou uma senhora, de quase 50 anos, gorda e com cabelo de bruxa. Encostou na parede e começou a sussurrar para a loira, que estava com um short sumário, uma blusa azul e o rosto bem maquiado:
- Sua puta, vagabunda.
A loira chorava.
- Putinha, vagabunda. Teu namorado vai pro inferno, puta.
Aí a loira começou a berrar:
- Por que vocês fizeram isso? Ele está todo esfaqueado, todo cortado!
Aí a velha fez cara de nojo e disse:
- Bem feito, quem manda ele se meter com meu filho.
Em pouco tempo começou a chegar mais gente. Grupos de dois ou três marmanjos, com caras de malandros, começaram a entrar. Dali a pouco chegou uma guria com uma facada no rosto. Enquanto jorrava sangue da sua cara deformada, ela discutia com outros. Batia boca. Estava se esvaziando de sangue, mas queria ir pro pau. Que cosa.

4 Comentários:
que cosa!
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Lorení , às 2 de outubro de 2011 às 14:17
Porra alemao! è a idade... no fundo o pessoal sempre diz que a morte vem a cavalo. Desconfie do barulho dos cascos.
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Zaratustra, às 3 de outubro de 2011 às 16:07
Ô guri, tu tá muito novo prá ir morrendo assim! Tu tem a tua Bilulinha prá cuidar! Para com isso meu.
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Marcos, às 3 de outubro de 2011 às 18:21
poha manolo... vai logo no médico e ver o que é isso rapah...
ficar brincando de gato e rato com a dona essa aí, não me parece muito legal... hahaha
embora, possa ser isso que todos nós fazemos enquanto vivemos...
ahh... sei lah também...
hahaha
Abraço aee!
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Mr. Gomelli, às 3 de outubro de 2011 às 20:38
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