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domingo, 2 de outubro de 2011

O dia em que mandei a Dona Morte tomar no rabo

Semanas atrás, tive um piripaque. Foi um pouco diferente do primeiro, que narrei outra vez no blog. Aquele primeiro foi, comprovadamente, causado pelo estresse do excesso de trabalho e pouca remuneração que eu vivia naquela época. Mas não convém lembrar de coisas estressantes. A pane de semanas atrás foi diferente, pois meu coração não acelerou, como daquela vez, quando tive taquicardia. Esse último piripaque ocorreu justamente quando meus pais estavam me visitando aqui em Pelotas.
Novamente a porra toda aconteceu enquanto eu estava dormindo. Parece que a covarde da Dona Morte gosta de atacar quando estamos desatentos. Dessa vez o troço todo começou com um friozão na barriga, vindo do nada. Em seguida, senti minhas pernas e braços e peito formigando. Levantei, e tudo rodopiou. Então sentei. Deitei e ergui os pés na parede, lembrando a orientação que o médico certa vez deu ao meu pai, no caso de ser problema de pressão. E, de fato, era. Estava em 23 por alguma coisa, praticamente a mesma que o Ricardo Gomes teve quando teve o AVC durante um Vasco e Flamengo nesse ano. Mas, como no primeiro piripaque, aquele do estresse, quando eu ouvi vozes dizendo que iam me levar, fiquei ali esperando as vozes voltarem, deitado de pernas erguidas, com meus pais e a patroa ao redor apavorados. Quase que eu disse “cuméqueé, não vão dize nada, seus porras?”. Eu sabia que estavam por ali, me rondando, tentando me levar mais uma vez para o além. Mas fiquei tranqüilo. Pensava “vamo logo com essa porra”. Principalmente quando a minha cabeça começou a formigar. Eu pensei “agora vai”. E fiquei esperando a escuridão, as vozes, sei lá, algo como o além do filme “Nosso lar”. Mas, sei lá se foi porque eu encarei a dita cuja de frente e disse “vamo pro pau, sua porra”, ou se porque não é minha hora ainda, o fato foi que, mais uma vez, me safei. Na primeira vez eu estava todo cagado de medo. Na segunda estava pronto pro que der e vier.
Quando melhorei, meu pai me levou para o hospital. Já estava melhor, mas a cena que vi no hospital sim era como um purgatório. Primeiro, pilhas de gente morrendo pelos corredores. Idosos tremendo e delirando em macas. Filhos dormindo sobre as macas dos pais. Gente cortada, sangrando. Consultei, o médico passou uma medicação e, enquanto eu tinha que esperar meia hora para a revisão final, aquilo se tornou um verdadeiro inferno. Eu e meu pai estávamos esperando na recepção do hospital, porque nos corredores e leitos não havia lugar para mais ninguém. Dali a pouco saiu uma loira com todo jeito de pirigueti chorando da sala de atendimento. Uma outra moça, curiosa como são todas as moças, perguntou o que houve, e a loira disse que o namorado havia sido esfaqueado. Dali a pouco, parou uma senhora, de quase 50 anos, gorda e com cabelo de bruxa. Encostou na parede e começou a sussurrar para a loira, que estava com um short sumário, uma blusa azul e o rosto bem maquiado:
- Sua puta, vagabunda.
A loira chorava.
- Putinha, vagabunda. Teu namorado vai pro inferno, puta.
Aí a loira começou a berrar:
- Por que vocês fizeram isso? Ele está todo esfaqueado, todo cortado!
Aí a velha fez cara de nojo e disse:
- Bem feito, quem manda ele se meter com meu filho.
Em pouco tempo começou a chegar mais gente. Grupos de dois ou três marmanjos, com caras de malandros, começaram a entrar. Dali a pouco chegou uma guria com uma facada no rosto. Enquanto jorrava sangue da sua cara deformada, ela discutia com outros. Batia boca. Estava se esvaziando de sangue, mas queria ir pro pau. Que cosa.
Em pouco tempo os seguranças estavam expulsando gente do hospital. Gente que não estava ferida nem morrendo, obviamente. Deu-se uma pequena correria, vi aquele tumulto na porta por onde eu deveria entrar para ganhar alta do médico, e disse pro pai: “vambora”. E fomos. Enquanto nos dirigíamos de volta pra casa, eu ia pensando: mesmo sem ter morrido, tive uma rápida passagem pelo purgatório. Bom, por via das dúvidas, é melhor passar pelo purgatório em vida do que no além. E, antes de dormir, ainda intimei ela: “cadê você, sua porra? Desistiu, ficou com medinho? Vai tomar no rabo, caralho!” Vi que ela não vinha mais, pelo menos naquela noite, e dormi. No meio da noite levantei para mijar e dormi de novo até a uma da tarde do dia seguinte. Sonhei que estava jogando bola na semana cenecista lá em Santo Ângelo e que fiz o gol do título do nosso time. Foi um sonho bom. Levantei, caguei, tomei banho, lavando bem o sovaco, e segui a vida.

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