Mais uma sobre a morte do autor
Santaella, Foucault, Barthes e outros escreveram suas teorias com linguagem rebuscada e, por vezes, inteligíveis. Como diria uma ex-professora minha, em alguns trechos parece que fumaram um. Mas, enfim, como carrego comigo o fado de ser jornalista, vou ir pelo caminho da clareza e da fútil (e inútil) objetividade. Sinteticamente, eu interpreto a morte (homicídio ou suicídio?) do autor da seguinte forma: a idéia de autor está ligada ao individualismo. Mesmo quando se trata de mais de um autor, são vários seres individuais que formam uma representação imagética de coletivo. Ou seja, a autoria coletiva nada mais é do que a soma de várias individualidades. Então, com isso, ainda na era do papel impresso, fica difícil termos autores. Na verdade, temos inventores.
Explico-me. Erico Verissimo é autor de “O tempo e o vento“. Certo? Quem sabe... Talvez ele seja apenas o INVENTOR de “O tempo e o vento“. Tudo porque, após ele escrever a obra, surgiram e continuam surgindo inúmeros textos sobre ela e a partir dela. Ou seja, a obra literária continua sendo escrita por um sem-número de outros autores. Claro que, na cultura impressa, ainda temos claramente essa divisão entre autor/leitor. Mas vejamos agora um caso que começou no impresso e que se estendeu para o mundo virtual: Harry Potter. A princípio, a autora do bruxinho seria J.K.Roling. Mas não é mais a única. Ela está mais para a INVENTORA de Harry Potter. Tudo porque várias crianças escreveram as suas próprias histórias a partir do texto de Roling. Inclusive, uma adolescente lançou um jornal escolar na web, que conta com o trabalho de mais de cem crianças espalhadas pelo mundo inteiro, que constroem diariamente uma obra infinita sobre o Harry Potter. Essas crianças não seriam também autoras de Harry Potter? Tanto são, que a inventora do bruxinho, em uma disputa judicial, teve que voltar atrás e deixar os fãs inventarem seus próprios personagens em textos na internet, senão ela iria perder milhares de leitores (e de dólares). Ou seja, se as teorias não matam o autor, o capital mata...
O mesmo vale para tudo. Com as tecnologias móveis e as redes o criador não tem domínio sobre a criatura. O escritor não tem o domínio de seu texto. Ele o lança na rede e as pessoas fazem o que querem com ele: transformam, copiam, aumentam, inventam, resumem, reduzem, alteram, enfim, usam e abusam dele. É uma zona literária. Acontece mais ou menos como em “O médico e o monstro“, onde o médico perde o controle sobre o seu lado macabro e acaba sendo dominado pela sua invenção, tornando-se um monstro...
Enfim, é como Santaella coloca em seu livro, fazendo uma metáfora com os jogos de vídeo game: uma pessoa inventa e os outros jogam. Ou ainda, como concluiria Foucault em um de seus textos: Que importa quem fala!?
3 Comentários:
Barthes e Foucoult li alguma coisa há já algum tempo; mas que ninguém é dono de seu texto, é uma grande verdade; a gente incorpora os milhares de anos de cultura de toda a humanidade, e nem idéias próprias temos; ou pensamos o já pensado, às vezes até achamos que somos originais, então encontramos alguém que pensa o mesmo que nós...e na era da internet até os direitos autorais já fluíram...
Por Lorení , às 13 de setembro de 2011 às 14:18
porra alemao, que texto mais academico...atè parece que tu é professor de faculdade
Por Zaratustra, às 13 de setembro de 2011 às 16:34
hahaha... eu li e pensei mais ou menos como o Zaratustra... hahaha
Acho que o que vale é aquela máxima: nada se cria, tudo se copia. Ou ainda: nada se cria, tudo se transforma.
ahhh, sei lah tbm...
abraço ae manolo!
Por Mr. Gomelli, às 15 de setembro de 2011 às 13:05
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