.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Grandeza espiritual

“Amai o seu inimigo como a você mesmo“. Fico pensando hoje, anos depois de ter ouvido essa frase bíblica pela primeira vez, na dificuldade implicada na concretização dessa atitude no nosso cotidiano, afinal, essa é uma ação teoricamente tão simples. E também fico pensando como praticamente ninguém põe em pratica esse conselho religioso, que é um dos mais válidos e que mais traz paz interior.
Você, aí do outro lado do jornal, já pensou ou já tentou alguma vez fazer isso? Mas não digo no sentido de perdoar da boca para fora, mas sim, me refiro a parte prática do negócio, que envolve o seu interior, o seu espírito, a sua alma, ou seja lá como você quiser chamar isso tudo. Realmente perdoar aqueles que te magoaram com as maiores atrocidades desumanas que se possam imaginar, aquelas atrocidades que seriam condenadas por qualquer júri popular, não é para qualquer um.
Eu, particularmente estou há um bom tempo tentando lidar com isso, mas, cada vez que estou prestes a perdoar todas as atrocidades que certas pessoas cometem (principalmente quando envolvem crianças) eu tenho simplesmente vontade de esganar essas pessoas. E quando digo esganar, não é uma esganação simples, mas uma esganação tortuosa e psicopática, ao estilo filme Cães de Aluguel. Para você ter uma noção do filme, quando o torturador fica a sós com a vítima ele fala: “Os outros estavam te torturando para você contar. Mas comigo não faz a menor diferença se você vai falar ou não, porque vou te torturar por puro prazer“. Pois é, tem pessoas que às vezes fazem com que eu entenda a cabeça dos loucos de raiva homicidas. E aí que entra a dificuldade de colocarmos em prática o “amai o seu inimigo“. Pois, uma criatura para ser considerada sua inimiga tem que ser completamente oposta de você em todos os sentidos, e, além disso, também tem que tomar atitudes para te prejudicar, ou seja, tem que ser muito, mas muito irritante e impertinente. E mais: para alguém seguir querendo te prejudicar, mesmo quando você está a mil quilômetros de distância, a vontade que você tem, quando o sangue ferve, é de você ir a pé até onde essa pessoa está e aplicar uma Dama de Ferro (quem quiser saber mais, consulte o Mr. Google) sem dó nem piedade.
Pois é, amigos. Mas o crescimento do espírito está justamente ligado a superação dessa barreira, desse sentimento dominado pela emoção. A grandeza do espírito está ligada justamente à razão (e como esperar razão de pessoas irracionais?). E, nesse sentido, lembro do livro e do filme Nosso Lar, quando o espírito de André Luiz, psicografado por Chico Xavier, narra sua visita feita à sua família, anos depois da sua morte. Ele encontra a sua esposa casada e com novos filhos e descobre que o atual marido proibiu os filhos do próprio André Luiz de mencionar o nome do pai dentro da casa que um dia foi sua. E, mesmo tendo uma série de motivos compreensíveis para ficar com raiva e querer prejudicar o atual marido de sua ex-esposa, ele o ajuda a escapar da morte. Ou seja, ele tinha todos os ingredientes e justificativas necessários para ter feito “justiça“, mas, ao invés de ter ficado apenas observando a morte do rival, ele resolveu ajudá-lo. Quem realmente faria isso no lugar de André Luiz? Praticamente ninguém. E mais: tudo ocorreu rapidamente, ou seja, no calor dos acontecimentos ele não usou a desculpa do “estava com a cabeça quente“.
Enfim, tendo de um lado a versão Cães de Aluguel e de outro a de André Luiz, hoje, chegando na casa dos 30, estou ficando mais com a versão do André Luiz, pois, estou concluindo, cada dia mais, que a única coisa que levamos dessa vida é a grandeza espiritual. O resto é resto e deixemos o resto para as pessoas irracionais.

* Texto publicado em A Tribuna Regional.

5 Comentários:

Postar um comentário

<< Home