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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Jornalismo de humor

Na década de 1960 o jornalista norte-americano Hunter S. Thompson “inventou” um novo tipo de jornalismo: o jornalismo gonzo. Vale ressaltar, para quem não é do ramo jornalístico, que no período também surge o estilo que ficou conhecido como New Journalism, que tratava, resumidamente, de uma convergência entre o jornalismo e a literatura através do romance de não-ficção, que hoje é chamado de romance-reportagem, livro-reportagem ou simplesmente jornalismo literário. Enfim, autores como Truman Capote, autor de A Sangue Frio, e Gay Talese, autor de A Mulher do Próximo e Reino e Poder, dentre outros, fizeram história nessa época. Porém, Thompson ficou de fora desse grupo, ousando um pouco mais: além de usar técnicas literárias em suas obras jornalísticas, ele adotava uma linguagem frenética, marcada pela ironia e pelo humor, que ganhava as páginas de revistas como Playboy e Rolling Stone.
Agora, 50 anos depois do surgimento do jornalismo gonzo, o jornalismo que aposta no humor ganha intensidade e a cada dia conquista mais adeptos. Claro que não podemos comparar esse “jornalismo de humor”, praticado por programas como o CQC e por programas de mesa redonda de emissoras de rádio e TV, com o jornalismo gonzo de Thompson. Para o leitor entender melhor, basta ler a seguinte definição que o próprio Thompson deu de si mesmo e de seu estilo: “Eu era o famigerado autor mais vendido de livros estranhos e brutais e um colunista de jornal amplamente temido [...] Eu também era bêbado, louco e vivia armado até os dentes”. Isso sem contar o uso exagerado de drogas e de outras loucuras praticadas durante a sua vida, que terminou em fevereiro de 2005, quando ele mesmo atirou contra a sua cabeça, aos 67 anos, “17 a mais do que precisava ou desejava”, conforme ele mesmo escreveu no bilhete que deixou após o suicídio. Aliás, praticando o jornalismo gonzo, Thompson chegou a xingar um entrevistado, que respondia suas perguntas friamente, afim de obter a notícia para o jornal em que trabalhava.
Pensando na história de Hunter S. Thompson e na eclosão do jornalismo de humor pós-moderno, percebo que há um círculo vicioso, causado pelo surgimento de um novo público que os meios de comunicação e as editoras estão tendo que tratar. Esse novo público pensa em entretenimento, muito antes de pensar em informação, e, com isso, os meios jornalísticos estão tendo que adaptar a informação ao entretenimento sem cair no sensacionalismo barato, rejeitado por esse mesmo público que gosta de seriados como Two and half men e Friends, que têm o humor irônico no DNA.
Por tudo isso, obras como as de Thompson e de outros escritores, como Charles Buskowski e Jack Kerouac, estão sendo cada vez mais traduzidas para o português. Nos últimos anos, aproximadamente três décadas depois de serem escritas, obras como Reino do Medo, da Companhia das Letras, Medo e Delírio em Las Vegas, Hell’s Angels e Rum: diário de um jornalista bêbado, da LP&M, todas de Thompson, foram traduzidas e ganharam milhares de leitores brasileiros, fazendo com que editoras e leitores ficassem satisfeitos...
Sei que para muitos eruditos conservadores isso representa o fim dos tempos, entretanto, acho essas transformações positivas, pois, além da quebra de paradigmas ainda faz com que passamos a refletir sobre o modo de vida que levamos. Mas isso já é outro assunto, que rende outros textos. Por isso, por enquanto vou ficar esperando os próximos lançamentos dos falecidos Thompson, Bukowski e Kerouac, que, mesmo mortos, estão tendo mais livros lançados do que muitos escritores vivos por aí...
*Texto publicado no Diário Popular (Pelotas) e A Tribuna (Santo Ângelo).

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