.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Diário de um jornalista bêbado

Acabei de ler no final de semana “Rum: diário de um jornalista bêbado”, do Hunter S. Thompson, aquele mesmo que já comentei aqui outras vezes, autor do “Medo e Delírio em Las Vegas” e “A grande caçada aos tubarões”. Além desses, estou com o Hell’s Angels na estante e estou aguardando mais um dele, autobiográfico.
No “Rum”, Thompson conta como foi a sua estada em Porto Rico, no período em que trabalhou em um jornal de língua inglesa na ilha, quando tinha vinte e poucos anos. Na verdade, é um romance ficcional autobiográfico e, mesmo escrito décadas atrás, ainda vale para se entender como funciona uma redação de jornal, principalmente do interior. A descrição que ele faz da redação em Porto Rico vale para alguns jornais em que trabalhei. Portanto, acho que a ralação geral é universal, principalmente em pequenos jornais. Assim como ocorre em muitos lugares, o dono do jornal não está nem aí para os funcionários, só quer produção e cobra amor à camisa de cada um. Os funcionários, por sua vez, também não estão nem aí para o jornal, passam se queixando do trabalho, buscando uma fuga em um copo de bebida (especialmente rum), mas, no fundo no fundo, sempre acabam se matando para cobrir as pautas, numa espécie de amor platônico à profissão.
Enfim, para exemplificar o tom da obra, vou citar o seguinte trecho do livro, onde o dono do jornal está querendo que Thompson assuma a chefia do empreendimento, justamente por não contar com nada melhor no momento. No trecho, o empresário descreve os funcionários, em um estilo típico dos empresários desse ramo:

“Sala não está nem aí para o jornal. Não está nem aí pra nada”. Curvou-se para a frente e largou a bola de beisebol sobre a mesa. “Quem mais? Moberg é um bêbado, Vanderwits é um doente mental, Nooman é um idiota, Benetiz não fala inglês... Santo Deus! De onde tirei essa gente?” Desabou de volta na cadeira, grunhindo. “Preciso de alguém!”, berrou. Vou ficar louco se precisar fazer esse jornal sozinho!”.

Para quem já trabalhou em pequenos jornais desse Brasil afora, esse discurso não soa nada familiar?
Em outro trecho, quando um funcionário entra sem bater na sua sala, o dono do jornal fala:
“Ah, meu Deus, de onde você tira a audácia de entrar aqui sem bater? Juro por Deus que vou colocar você num hospício! Fora daqui!”. E, depois de uma breve discussão, ele comenta com o personagem de Thompson: “A audácia desse cachaceiro desgraçado. Deus do céu, um cachaceiro desses tinha que ser executado”.

Vejam vocês. Enfim, resumindo tudo, trata-se de um baita livro, com um fim espetacular (ao estilo do filme Cães de aluguel) que vale muito a pena de ser lido.
Hasta!

* Pesquisando no Mr. Google, acabo de descobrir que foi lançado nesse ano nos Estados Unidos um filme baseado no livro. Um dia deve chegar à terra tupiniquim.

3 Comentários:

  • porra, os textos que eu acho os melhores ng comenta... :p

    Por Blogger Eduardo, às 14 de agosto de 2011 às 10:31  

  • hehehehehehehehe......comigo tb acontece isto...

    Por Blogger Lorení , às 16 de agosto de 2011 às 04:27  

  • hahahhaa... pior que é sempre assim...

    os textos que a gente mais gosta, que mais geram expectativa pelos comentários, são os que menos geram repercussão entre os leitores assíduos dos respectivos blogues.

    Enfim, tu falou tanto nesse livro que eeeuu fiquei cheio de vontade de ler... mais um aliás, que tu fala aqui e eu fico afim de ler...

    sobre as rotinas dos jornalecos de interior, é tudo a mesma merda mesmo... uns chefes que não entendem nada de jornalismo e nem querem entender, preocupados só em lucrar mais, sem se preocupar com os funcionários... ¬¬

    faz parte...

    flws ae manolo!

    Abraço!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 16 de agosto de 2011 às 11:08  

Postar um comentário

<< Home