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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Amy Winehouse: A construção/desconstrução de heróis/vilões

Assisti ontem a um documentário sobre Amy Winehouse que me fez pensar. Como não passava de um admirador distante da Amy, ou seja, nunca tinha pesquisado a sua vida a fundo nem acompanhava as suas notícias, eu tinha em meu imaginário a Amy que os grandes grupos, principalmente de televisão, tentaram vender: uma maluca, sem noção, drogada e bêbada. Na verdade, o que eu mais gostava na Amy era do momento Amy Winehouse do Pânico na TV. Achava aquilo sensacional e me matava rindo vendo a Amy tendo crises, chutando latas de lixo em praças públicas, derrubando tudo no supermercado, etc. E, depois, com a morte da Amy verdadeira, a imagem que vi sendo vendida pelo Jornal Nacional, pelo Jornal Hoje, enfim, pela Globo, era a mesma: a de uma Amy sem noção do que fazia que foi “morta pelas drogas”. Ou seja, trataram ela como uma retardada que usava drogas sem saber o que estava fazendo... Pura babaquice.
Vendo um simples documentário de pouco mais de uma hora, mas com subsídios de fundamento e muitas entrevistas concedidas pela cantora à MTV, deparei-me com outra Amy. Uma Amy fisicamente linda, falando ordenadamente, claramente, fluentemente, demonstrando muito conhecimento sobre música e tendo absoluta noção do que estava fazendo. As imagens dos shows que mostraram nesse documentário são imagens da Amy conversando conscientemente com o público, de bom humor, rindo, ou seja, são shows que você olha e pensa: “porra, que puta show, como eu queria estar lá!”. Aliás, essa é a cara das pessoas que são focadas em close no público. Essa imagem é totalmente contrária das que os noticiários brasileiros optaram por mostrar quando falaram sobre a sua morte. O que se viu foi uma série de cenas descontextualizadas mostrando uma Amy cambaleante, magra, fraca, humilhada e retardada. Tudo edição descontextualizada, feita sem nenhum conhecimento de causa (falo em edição no sentido jornalístico, não no de alteração de imagens graficamente). No documentário, inúmeras vezes Amy fala em entrevistas que a maioria de suas músicas foram escritas para ex-namorados. Ela diz ainda que, quando estava no palco, tentava reviver exatamente o que sentia quando fez a música. Essa seria uma bela justificativa para as suas “panes” em shows. Ou seja, se quando ela escrevia a música estava destroçada emocionalmente, no palco, enquanto cantava, ela revivia aquele momento e ficava novamente destroçada. E nada melhor do que um pouco de álcool e drogas para acentua esse estado de espírito.
Além disso, o documentário mostra uma Amy muito consciente de que ela representa boa parte da juventude londrina e também da influência que a sua família teve em sua música, pois, desde pequena ela ouvia clássicos do jazz, do rock, etc. Inclusive, muitas músicas foram inspiradas por clássicos dos anos 1960-1970, demonstrando o conhecimento profundo que ela tinha da sua profissão. Em outro trecho, antes dela explodir como celebridade, Amy conta que não imaginava ser cantora. “Eu queria ser jornalista. Não acho que canto bem, e escrevo apenas o que sinto”, disse. Acho que se ela fosse jornalista, teria morrido um pouco mais cedo ainda... Ou não, porque aí não teria tempo para ficar chorando decepções amorosas...
Enfim, o fato é que parte da imprensa mundial e a maioria da imprensa nada especializada brasileira apresentaram a Amy sob o ponto de vista moralista do: “ó, ela era drogada, por isso morreu. Que sirva de exemplo pra vocês...”. Ah, francamente! É muita merda sendo enfiada goela abaixo do grande público, que, como diz um personagem de um livro do Erico Verissimo é como um monstro com muitas cabeças, mas sem cérebro. Inclusive, pelas entrevistas concedidas durante os seus 27 anos de vida, acho que Amy morreu mais pelas sequências de desgosto em relacionamentos do que por qualquer outra coisa. As drogas e a bebida em excesso só foram o estopim da sua morte.
Concluindo, após conhecer um pouco mais sobre quem foi Amy Winehouse, tenho plena consciência de que ninguém, muito menos jornalistas mal-informados da Globo, tem colhões para julgar uma cantora de seu gabarito.
Hasta!

6 Comentários:

  • Tái ó, também seguia meio desligado a trajetória dela e (quase) engoli a estória contada pela midia brasileira. Legal saber isso.

    Por Blogger Marcos, às 5 de agosto de 2011 às 18:32  

  • Porra alemao! Com um sobrenome desses, Casa de vinhos, nao se poderia esperar nada alem de muito alcool.

    Foi o destino, como dizem por aì.

    Por Blogger Zaratustra, às 6 de agosto de 2011 às 10:06  

  • não defendo, nunca, a Globo, porém todos os meios de comunicação a que nós, pobres mortais brasileiros tivemos acesso, tivemos esta imagem não só dela, mas de muitos outros artistas, atores\ cantores. Exemplo da minha geração, Tim Maia, que considero com uma voz de caixa acústica, e músicas bonitas, mas que também se envolveu com álcool e drogas. Que faz mal, sabemos; mas não tiram o mérito e os dons dos mesmos.

    Por Blogger Lorení , às 7 de agosto de 2011 às 11:39  

  • Sabe o nome do documentários? Fiquei interessada. Tuas dicas cinematográficas estão fazendo parte dos meus finais de semana ultimamente. Vi La Rafle esses dias e o do John Lenon ontem. Pode seguir dando dicas, to gostando de todos.

    Por Blogger Dilea Pase, às 8 de agosto de 2011 às 07:56  

  • fala dilea! então, ta passando direto na MTV, já vi passar umas três vezes...eueheue. eles estão chamando de "tribuno a amy winehouse". de repetne tenha algo no site da mtv ou no youtube.
    abração

    Por Blogger Eduardo, às 8 de agosto de 2011 às 17:25  

  • poha manolo... ela era genial musicalmente falando, isso não tenho dúvidas e desde que conheci sou fã das músicas e da voz dela. Mas que ela era lokona, não tem como negar...

    claro, que não precisavam priorizar isso também, mas aí é a questão do moralismo, do exemplo que tu citou ali... faz parte...

    hehehe

    Abraço ae! o/

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 9 de agosto de 2011 às 20:36  

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