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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Andando em círculos

Terminei de ler Satolep. Um belo romance com linguagem poética. Entretanto, no momento estou mais num clima realista do estilo nu e cru. E nada melhor do que um livro do Bukowski para, enquanto ler, sentir-se como se estivesse conversando com o melhor amigo tomando uma cerveja ou um destilado qualquer. Aliás, no Mulheres, nome do livro, ele vai contando histórias de romances e pequenos casos em que ele se meteu, sempre com a mesma ladainha de 99% dos relacionamentos: início só Love e sexo, depois tédio com angústia e, por fim, encheção de saco e brigas até se chegar ao nível da separação. É a lei da natureza. E, em cima dessa ladainha toda, compositores escrevem músicas, seja rock, sertanejo ou pagode, cineastas fazem filmes, escritores escrevem livros, espertos gananciosos escrevem novelas clichês que quem está envolvido nessa porra toda adora ver e por aí vai...
Só que o que diferencia o velho Buk dos demais é a crueza das atitudes e sentimentos do seu personagem autobiográfico, Henry Chinaski. Vejam só que genial o seguinte trecho, em que Chinaski conversa com sua pseudo-namorada, na cama, enquanto ela lhe espreme as espinhas das costas :

- Uau, tem um ótimo aqui! Cuspiu pra fora! Me certou no olho!
- Você devia usar máscara de mergulho.


Agora vejam como, na sequência do diálogo, aproveitando o clima de descontração do casal, ela vai direto ao ponto:

- Vamos fazer um Henryzinho! Pensa nisso: um Henryzinho Chinski!

E, enquanto a mulher esperava que o velho Buk de repente dissesse “claro, baby, é pra já, afinal, eu te amo e vamos trepar gostoso“, ele simplesmente responde, com toda a sinceridade:

- Vamos esperar um pouco;
- Eu quero um baby agora!
- Vamos esperar.


Diante da negativa, a mulher faz o que todas fazem diante de uma negativa de seus respectivos machos (seja ele marido, namorado, noivo, amante, etc): enchem a porra do saco.

- Você só quer saber de dormir e comer e ficar largadão e trepar. A gente parece lesma. É o próprio amor de lesma.
- Eu gosto.


E, na sequência da encheção de saco, elas sempre gostam de dizer que você mudou e aquela baboseira toda:

- Você costumava vir escrever aqui. Se ocupava. Trazia tinta e fazia seus desenhos. Agora você vai pra casa e faz as coisas interessantes lá. Você só vem comer e dormir aqui, e daí vai embora logo de manhã. É chato, pô.
- Eu gosto.
- A gente não vai a nenhuma festa há meses! Eu gosto de ver gente! Tô de saco cheio! Acho que vou enlouquecer de tanto saco cheio! Quero fazer coisas! Quero DANÇAR! Quero viver!
- Ai, meu saco.
- Você tá velho demais. Só quer saber de ficar sentado criticando tudo e todos. Nunca quer fazer nada. Nada é bastante bom pra você!
Dei um rolê na cama e me levantei. Comecei a botar a camisa.
- Que é que cê tá fazendo? – ela perguntou.
- Vou dar o fora daqui.
- Taí. Na hora que as coisas não correm do seu jeito, você pega e se manda porta afora. Nunca quer conversar sobre as coisas. Vai pra casa, se embriaga, e daí fica tão mal no dia seguinte que acha que vai morrer. Então me telefona!
- Vou dar o fora dessa porra.


Típico. E, como nos 99% dos casos, eles brigam, ficam uma semana sem se ver e depois voltam, prometendo que tudo será diferente e blá, blá, blá, blá.
Isso tudo é tão óbvio que chega a ser divertido e genial ler esses textos do Bukowski. Enfim, tem gente que gosta de novela, eu gosto dos livros dele...
Hasta!

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