.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

On the road Rio 2005 - Retro - Final

Bom, não preciso nem dizer que 98% dessa série não é ficção, mas que devido aos outros 2% troquei os nomes das criaturas envolvidas nos episódios. Segue a última parte da viagem nossa ao Rio, que não é o fim do livro, mas que também nunca será pubicado! UUUAHAHAHA (risada de mal!)


A festa lá estava super animada. (censurado). Eu bebia, bebia, bebia, mas não conseguia ficar bêbado. Sentei em uma mesa e fiquei observando tudo. Mesmo quando tocou a música da Beija Flor homenageando as missões (Em nome do pai. Do filho, a Beija Flor é Guarani...) e da Imperatriz (A turma do sítio apronta, Imperatriz faz de conta...) não consegui me animar. Todo mundo foi embora e só ficou o pessoal do sul. Como sempre, cantaram Canto Alegretense, Hino do Rio Grande, Hino do Grêmio e do Inter, Tordilho Negro e outros cantos gauchescos. Até um “ahah-uhu! A Mangueira é nossa!” rolou. Mas nem os gritos, nem a música, e muito menos as bundas rebolando, me animaram. Para irmos embora pegamos carona com o pessoal da faculdade de Santa Maria. Eles deixaram o Dante e o Huguinho no centro, perto do hotel, mas eu quis seguir adiante, já que prometiam um lual na praia do Flamengo. Chegamos no hotel da galera de Santa Maria, e não rolou lual porra nenhuma. Do Flamengo o Fernando foi para Bonsucesso e eu para o centro. Ele me orientou certinho como chegar no hotel.
Desci na Avenida Presidente Vargas, a poucas quadras do hotel. Olhei no relógio eram quatro horas. Eu não queria voltar a posar no hotel com medo de ter que pagar uma diária, e naquela altura eu não tinha mais dinheiro para isso. Comecei a caminhar e a pensar na vida. O pessoal da limpeza já começava a aparecer, e eu imaginava como deveria ser dura a vida daquelas pessoas. Nas ruas, dezenas, centenas, talvez milhares de sem-tetos dormiam amontoados pelas calçadas. Bêbados vagabundiando? Ninguém além da minha pessoa. Mas cadê a violência? Não estou vendo nenhum assaltante, nem prostituta pela rua. Resolvei perguntar para um gari: “onde eu acho um lugar legal, que tenha minas, música e tal?”. Ele me olhou com estranhesa e respondeu:
- Olha mermão, eu se fosse você ia para casa dormir.
- Valeu – respondi forçando o sotaque, como sempre.
Andava como um perdido em um labirinto. O curioso é que eu sabia a saída. Passei em frente da Candelária e fiquei imaginando o dia em que os policiais mataram várias crianças que dormiam em frente à Igreja há tantos anos. Provavelmente isso deva ter ocorrido a essa hora da madrugada. Como pode? Ando por tantas ruas desertas e nada me acontece? O que estará fazendo a Felícia agora? Será que está sonhando comigo? Talvez esteja tendo algum pesadelo em que eu venha salvá-la. Ou senão está se afogando, e eu, heroicamente, me atiro no mar agitado e a resgato. Quando chego na beira da praia, com ela em meus braços, ela me olha e diz “i love you”. Palavras tão simples, mas tão profundas. Esse pensamento me fez bem, e me deu um pingo de esperança lá no fundinho do coração. Só que esse pingo foi aspirado por um vento seco que soprou em todo meu peito. Um nó tomou conta da minha garganta. Meus olhos ficaram pesados com as lágrimas que forçavam em sair, mas que a vergonha as seguravam. Andei passos e passos e passos e passos, sem saber aonde ia parar. Duas prostitutas brigavam na esquina da Presidente Vargas com a Avenida Passos. Resolvi dobrar pela Passos. Quando cheguei no meio da quadra ouvi alguns gritos, e quando olhei para trás uma delas corria desesperadamente em minha direção. A outra veio em disparada e puxou um revólver da bolsa. Quando a que fugia estava perto de mim, foi atingida por dois disparos certeiros. Meu coração quase saiu pela boca. Agora era eu que precisava ser socorrido. A imagem da Felícia passou pela minha mente rapidamente, ao mesmo tempo em que ouvia o grito daquela fêmea furiosa que vinha em passo acelerado em minha direção: “ei, você. Parado ai senão meto bala”. Eu fiquei olhando para ela com os olhos arregalados e com a pele da face tremendo junto com as pernas.
- Se vira e vai embora. Rápido!
Eu saí em disparada. Minha respiração estava difícil e ofegante. Vi a esquina. Pensei em dobrar ela correndo, assim estaria salvo. Concentrei, apertei o passo, já não conseguia mais controlar meu coração. Vi a plaquinha na esquina escrito “Avenida Passos”. De repente o som da rua sumiu e a placa desapareceu. Minha visão foi branqueando. Pisquei e vi o céu da noite. Fechei os olhos. Quando voltei a abri-los, novamente vi a placa dizendo Avenida Passos. Em uma imagem meio embaralhada vi um carro estacionando. A luz do farol ficou iluminando meus olhos, enquanto um homem desceu do veículo e gritou à mulher que chamasse a polícia. Perdi a noção do tempo, mas rapidamente vários olhos me olhavam, e a luz vermelha da sirene, que girava incessantemente, começou a me deixar tonto. Comecei a ouvir algumas vozes falando alto, que julguei serem conhecidas. Mas aos poucos tudo começou a ficar mais distante. Na medida em que o som diminuía, a luz aumentava. Os gritos iam ficando cada vez mais longe, e o clarão ia tomando conta de tudo...

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

On the road Rio 2005 - Retro - Parte 4

Segue a história do Intercom 2005 no Rio. Na foto, a Barra da Tijuca:

Estava com as malas nos ombros, abrindo a porta, quando passa um carro pela rua com um maluco cantando, em ritmo funk, uma música mais ou menos assim: “Eu não tenho dinheiro! Eu quero dinheiro! Quem não der vai levar chumbo!”. Ele ficava só repetindo esse refrão, e a vizinha do Marcos ainda por cima gritou da janela: “Sai daí bandido filha da puta! Vai pedir dinheiro pra sua vó, o desgraçado!”. Não sei se era alguma brincadeira, mas larguei minhas coisas e esperei o dito carro passar. Quando a música já não entrava mais na casa, resolvi sair. Sai, e acho que o susto que tomei foi a toa, já que a rotina da rua estava normal, com crianças brincando no pátio das casas vizinhas, e pessoas andando calmamente pela rua. Sai galopando rumo a parada de ônibus, onde peguei a van com destino ao centro. Passei pela Linha Vermelha, e lembrei de tudo que já vi e ouvi falar no noticiário nacional sobre aquele lugar. O Marcos me explicou que na verdade a Linha Vermelha nada mais é do que uma estrada construída para facilitar o trânsito para os veículos que circulam da zona norte para o centro, e vice-versa. Quando falei lá em Ijuí que onde eu ficaria teria que passar pela Linha Vermelha foi como se eu dissesse que estava indo para o Iraque. E agora lá estava eu, circulando pela Linha Vermelha na mais bela tranqüilidade, assobiando Carnaval em Veneza olhando a vista pela janela da van com uma linda cara de Garfield. Na verdade, todos dentro da van estavam com a cara zen. Desci na Presidente Vargas, perto da Candelária, e quando entrei na Rio Branco encontrei a gurizada que estava saindo do hotel. Eu disse que ia almoçar antes de sair, e só o Dante aceitou me esperar. Almocei em um restaurante no centro, e de lá fomos para a UERJ. Naquele dia não tinha nada de especial lá, então resolvemos ir para a Floresta da Tijuca. Perguntamos ao guardinha da UERJ como se fazia para chegar lá, e ele disse para que pegássemos o metrô, descêssemos na Estácio, e de lá fossemos para Saens Peña. Pela explicação dele parecia difícil, mas foi fácil. Quando descemos na Tijuca, perguntamos para outro guardinha como fazíamos para chegar na Floresta, e ele mandou a gente subir até a rua, atravessá-la e pegar qualquer ônibus que tivesse escrito Barra da Tijuca. Fizemos exatamente o que ele disse, mas o dito ônibus não passava. Resolvemos perguntar para um senhor, que aparentava ter mais de 70 anos, se era ali mesmo que pegávamos o busão para a Floresta. Ele disse que o ônibus que ele ia pegar passaria lá, então fomos junto com ele. Após muitas subidas e curvas (como o Rio tem subidas e curvas!) chegamos em um lugar bem alto, onde ele mandou que descêssemos. Chegamos na Floresta às quatro e meia da tarde, mas o porteiro disse que fecharia às cinco. Perguntei se dava tempo de fazer algo e ele respondeu:
- Olha, você pode ir com seu amigo até a Cascatinha, tirar umas fotos, conversar dois minutos e voltar.
Só do caminho da entrada até a Cascatinha já me amarrei no lugar. Chegamos na dita cascata, só que não tiramos fotos porque nos faltava a máquina.... mas conversamos mais de dois minutos e fomos dar uma olhada em uma lojinha para turistas que tinha ali perto. Voltamos até a entrada da Floresta e resolvemos ir à praia. O porteiro nos orientou:
- Negócio é o seguinte: peguem qualquer ônibus escrito Barra, andem uma meia hora, que é a praia.
- Beleza.
E lá fomos nós pegar o Barra de novo. Quando descemos o morro e chegamos em algo que cheirava a praia haviam se passados apenas 15 minutos. Resolvi perguntar para o cobrador:
- Aonde a gente desce para ir à praia?
- Praia? Ih rapaz, vocês tinham que ter descido na parada anterior. Agora desçam na próxima, atravessem esse viaduto que estamos passando e dobrem para a direita.
Fizemos o que ele havia dito, e finalmente chegamos na praia. Molhamos o pé no mar, olhamos os prédios magníficos que ficavam se exibindo de frente para o mar, sentamos em um dos vários quiosques que tem na beira da praia e tomamos água de coco. Bebemos tudo em silêncio. Não sei no que o Dante pensava, mas eu só pensava na (censurado), e em como seria bom estar (censurado). O silêncio foi quebrado depois de uma meia hora de reflexão com um “vamo embora”, seco dito por ele. Eu concordei, e depois de uma hora e meia dentro de um ônibus chegamos no centro. De noite ia ter festa na Mangueira, só que a galera não ia ir. Consegui convencer apenas o Dante e o Huguinho a irem comigo. Chegamos lá, e o Fernando já estava sambando feito um loco no meio de umas mulatas gostosas.
(segue)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

On the road Rio 2005 - Parte 3

Segue a terceira parte da história da nossa excursão ao Rio em 2005. Quem perdeu as primeiras, é só rolar um pouco para baixo que estão todas aqui no blog. Só para lembrar, eu escrevi tudo isso na época, logo depois que chegamos. E essa foto tirada com a galera do Maranhã é do dia da referida apresentação, mencionada no texto que se segue:


Na volta para o hotel todo mundo estava bêbado, e o Laurinho não parava de gritar feito uma louca, parando nos hotéis que ficavam à beira mar parar tirar fotos com os seguranças. O Marcos e eu levamos o pessoal para o hotel (já que não tinha como ir direto de Copacabana para a Ilha), e conseguimos pegar uma condução no centro que nos levasse até a casa dele. Descendo do veículo, mesma história do dia anterior: subida, dobra, subida, dobra, curva, subida, casa. Cheguei meio bêbado, mas capotei na cama. O problema foi que acordei às quatro horas da madrugada, e só então que comecei a pensar no trabalho que teria que apresentar no outro dia de manhã. Dai em diante não dormi. Fomos para o centro às sete e meia da manhã, e de lá o Marcos foi para o trabalho e eu para a UERJ. Peguei o velho e bom 255, e cheguei na minha sala exatamente as nove horas, horário marcado para início das apresentações. Minha apresentação foi tranqüila (provavelmente por causa do álcool que ainda corria minhas veias), e conheci muita gente boa lá (em todos os sentidos). Sai de lá às sete da noite, e fui até o centro, onde peguei ônibus para a Ilha (acho que M93). Desci na parada da Casa Show, porque resolvi assistir Flamengo e Inter, que jogavam no estádio da Portuguesa. Como não sabia como chegar lá, fui num botequinho que fica em frente à Casa Show, e comprei uma cerveja de latinha. Perguntei para o vendedor e ele me explicou. Fui andando e bebericando minha latinha de cerveja. Entrei no estádio e a pelada já tinha começado. O Flamengo fez 1 a 0 e eu comemorei como se fosse um gol do Grêmio. Quase morri pulando e gritando: “UH! SAI DO CHÃO! A TORCIDA DO MENGÃO!”. Confesso que me senti ingênuo no meio da torcida do Flamengo, já que nunca tinha ouvido tanto palavrão junto em tão pouco tempo. Pelo menos foi bom para enriquecer meu vocabulário. Também pude ouvir alguns diálogos interessantes, mas semi-trágicos. Um cara que estava ao meu lado disse para o que estava ao lado dele:
- Pô, meu pai deu mó mole!
- Coé? Qual foi a parada?
- Pô, o véio comprô o ingresso mas não veio. Mó vacilão.
- Pô, seu coroa deu mole mesmo. Mas porque ele não veio?
- Não conseguiu se levantar de drogadão que tava.
Já do meu outro lado um outro torcedor contava para o amigo que tinha ficado com uma pilha de ingresso que não conseguiu vender no lado de fora. “Pô, os home me gritaram: que que ta pegando ai? Que que ta pegando ai? E eu: nada cumpadi. Tô limpo. Só vo ve o Mengão malandro. O cara respondeu: to de olho em ti cumpadi”.
Em meio a cantorias, conversas curiosas e palavrões, estoura um rojão que quase me deixa surdo. Um começo de correria chega a acontecer, mas não passou de um susto. A polícia chega, da uma olhada no local onde o rojão explodiu, enquanto três jovens (ou crianças?), que aparentavam ter não mais de 13 anos, se matavam rindo poucos metros ao lado. “Caraca maluco. E se os cara te pegam”, fala o primeiro. “Maluco, eles não são tão espertos”, responde o outro. O tumulto desaparece, e os olhos e a atenção se voltam novamente para o jogo, que é sofrível. No segundo tempo o Inter empata, e após sofrer o gol a torcida do Flamengo resolve homenagear os gaúchos com gritos do tipo “gaúcho viado” e “Uh! Uh! Uh! Gaúcho chupa cu”. Achei estranha a expressão “chupa cu”, já que lá no sul quando vão xingar alguém chamam de “pau no cu”. Mas tudo bem, é a diversidade cultural desse Brasil enorme. Depois, os cariocas desistem de xingar os gaúchos e resolvem se revoltar contra o próprio Mengão, que não acertava nem passe de meio metro. O Inter jogou melhor, e inexplicavelmente acabou não vencendo. Assim que o juiz apita o final do jogo, saio do estádio e vou reto no primeiro vendedor de cerveja:
- Uma latinha.
- Tá na mão. Pô, o Mengão tá foda né cumpadi?
- Pô, nem brinca. Desse jeito vai cair – respondo tentando forçar um sotaque.
Vou até a parada em frente à Casa Show, e de lá pego uma van para ir até o hospital que fica perto do Marcos. Pedi para o motorista me avisar quando chegasse o hospital, até porque não achei o prédio com cara de hospital. A van anda, anda, anda, anda e nada. Gente sobe, gente desce, e eu lá. Passo por uma praia, bonita até. Mas não lembro de ter passado por aquele lugar nas outras vezes. “Vai ver está fazendo outro caminho”, penso. Quando ficou só eu dentro da van, o motorista resolve olhar para trás e diz:
- Pô cumpadi. Você ainda tá ai? O hospital passou faz tempo. Pô! Você deu mole. Por quê não me avisou?
- Pô, mas eu avisei. – respondi forçando o sotaque carioca.
- Você é novo na Ilha?
- Pô, pode crê.
- Tá bom, vou levar você até lá.
Andamos menos de meia hora e cheguei no hospital. Dei um real a mais pelo incomodo. Tá bom, é pouco, mas é o que eu tinha. Desci da van e enxerguei aquele monte de subida que esperavam pelos meus passos. Dessa vez cheguei em casa não passava muito das onze da noite. Dormi depois que o Marcos chegou, lá pela meia-noite e meia. Sexta-feira eu já ia definitivamente para o hotel, já que no sábado iríamos voltar para Ijuí. Meu plano era largar as coisas no hotel, não dormir, e só ir para o ônibus de manhã, quando nossa excursão partisse. Mas antes de tudo isso teria que deixar a casa do Marcos. Tarefa aparentemente fácil, se não fosse o fato de que na hora em que eu ia sair não tinha mais ninguém em casa.(segue)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

On The Road Rio 2005 - Retro - Parte 2

Ai vai a segunda parte dos relatos da nossa excursão ao Rio em 2005. A foto é da situação da azeitona lá em Copacabana....

Chegamos na UERJ, e lá contei o acontecido do hotel para a Vivi, afinal o pessoal do hotel ia cobrar ela, que era a guia da excursão. Mais tarde, de volta ao hotel, ela não queria me deixar subir para falar com o gerente, mas eu insisti e ela acabou deixando. Cheguei lá, e disse que estava hospedado na casa de um amigo meu que morava na Ilha, e que havia perdido a última van que iria para lá. Para meu alívio ele não me cobrou hospedagem, mas o café da manhã eu tive que pagar. Isso aconteceu já era terça-feira. De tarde finalmente fui para o Marcos, e à noite saímos todos na Lapa. Lá a galera se dividiu, e eu acabei ficando num grupinho que tinha o Dante, o Marcos, o Fernando e o Huguinho (O Luis Fernando tinha ficado duro de bêbado no hotel). Tomamos algumas cervejas na rua, em frente aos Arcos, e depois sentamos em um barzinho. A galera foi embora meio cedo, mas eu e o Marcos fomos ao tal de Casarão da Lapa. Era uma festa meio estranha, só com música eletrônica. Não era muito grande, e também não estava cheio. Tomei mais algumas, e parti para o que lá no sul chamam de “trova”. A trova da gurizada é o que em outros lugares chamam de “cantada” ou “chaveco”. Primeiro cheguei numa mina que estava visivelmente chapada, e dançava feito uma doida. Tentei falar com ela, mas ela só me olhava e dava risada, com o olhar alucinado, típico de quem já está em outra galáxia devido ao uso de entorpecentes. Parti para outra. Vi no balcão do bar quatro gurias cariocas de pé, conversando tranqüilamente. Cheguei lá e perguntei o nome para uma delas. Ela também riu, mas conscientemente, e uma de suas amigas me empurrou e disse:
- A pista fica para lá (apontando para a direita) e a saída para cá (apontando para a esquerda).
- Eu sei – respondi.
- Então se manca! Vai se enxergar!
Essa era uma menina muito amável. Mas como não estava no meu território, coloquei o rabo entre as pernas, vi um sofá encostado em uma parede, e deitei. Não lembro se dormi, mas devo ter cochilado, já que quando o Marcos me achou atirado por lá já eram quase cinco da manhã. Fomos embora, e ainda tivemos que pegar uma van até a Ilha. O problema de chegar lá bêbado era o seguinte: você desce perto de um hospital (Paulino Verneck), ai tem uma subida, onde você quase precisa de um equipamento de alpinista para escalar aquilo. Depois você dobra para um lado, e ai a subida parece ficar mais acentuada. Quando você acha que está chegando, aparece uma curva, e você tem que subir mais ainda, até que chega na casa do Marcos. É bem boa, e a mãe dele me recebeu super-bem. Tanto é que no outro dia era quarta-feira, 7 de setembro, e ela nos deixou dormir até as duas da tarde. Bah, perdi o jogo Botafogo e Vasco, e perdi a minha última chance de ver o Romário jogar ao vivo. E pior que o Baixinho fez gol. Merda. Fomos para o centro de van (aquelas que passam com um carinha gritando: Zumbi não sei o que, Praia alguma coisa). Lá visitamos um Centro Cultural que fica próximo da Candelária (do Banco do Brasil). Aliás, o hotel ficava a poucas quadras de lá. Ficamos olhando as exposições um bom tempo, e fomos até o hotel. Eu não tinha a intenção de sair, mas como a galera resolveu ir para Copacabana, acabei mudando de idéia. Estava garoando, mas a água fina que caia do céu não atrapalhou. Fomos em um restaurante com nome sugestivo: Transa. Inventamos que o Kiko estava de aniversário para ganharmos chop (lá não vendiam cerveja), mas ao invés disso nos deram uma porrada de pratos de azeitona. Que porra! Como quem não tem cão caça com gato, acabei enchendo o bucho de azeitona.
(segue)

O segredo que todo mundo sabe

Vou quebrar um pouco as histórias do Intercom no Rio 2005, para coloca esse texto que escrevi após a vitória do Inter contra o Boca, para não perder a validade. Até domingo prometo postar a segunda prte do On The Road Rio 2005-Retro. Aí vai:

O Inter, na minha opinião, é o melhor time do Brasil, e isso ficou claro contra o time B do Boca Juniors. Não é pelo simples fato de ter vencido o time reserva do clube mais tradicional da América Latina e um dos principais do mundo. Não senhores. É porque o Inter, do teimoso Tite, tem pelo menos quatro jogadas que sempre, quando impostas sobre o adversário, dão certo. Ou quando uma não dá certo, as outras dão. Ou senão, três falham, mas uma dá certo. E é isso que, historicamente, sempre marcou as equipes vencedoras do futebol brasileiro. Porém, todavia, contudo, o Inter chegou a esse nível muito tarde no Brasileirão, quando este já estava pela metade, e por isso não acredito que o colorado chegará ao G-4. São sete pontos que devem ser tirados em relação ao quarto colocado em oito rodadas. Até acho que o Inter vai fazer muitos pontos, mas não acredito que os quatro primeiros vão tropeçar tanto assim.
Pois bem, mas vamos a questão das jogadas. Primeiro, como disse antes, todos os times vencedores do futebol Brasileiros tinham jogadas manjadas que sempre davam certo. O Grêmio, do Felipão, tinha o cruzamento para o Jardel, as faltas do Arce e do Goiano, e a ciscada do Paulo Nunes. Todos os adversários sabiam disso, e mesmo assim levavam gols desse jeito. Depois, o Felipão levou toda a turma para o Palmeiras, e foi campeão da Libertadores 99 pelo alviverde. O Inter, campeão da América, tinha o Rafael Sobis, e o plano B era o Fernandão, e sempre um ou outro dava certo. Quando não dava, como no caso da final contra o Barcelona, era usado o plano Z, que no caso foi o Gabiru, e a bola entrou e o Inter foi campeão do Mundo. O Vasco, campeão da América em 97, a mesma coisa. O Edmundo fazia carnaval na defesa adversária e marcava gol atrás de gol. O Grêmio, campeão do Mundo de 83 fazia a mesma coisa com Renato Gaúcho, e o Inter dos anos 70 tinha pelo menos umas 10 jogadas que sempre davam certo. Os times que tinham o Romário, também era sempre a mesma história. Todo mundo sabia que não podia deixar o baixinho livre, mas ele sempre achava um jeito de ficar na cara do gol e cutucar a bola para o fundo das redes.
E o Inter, esse Inter que venceu quarta-feira o Boca no Beira-Rio, tem quatro jogadas clássicas. As três primeiras, falharam. A jogada em cima do Nilmar, que é o melhor atacante que joga em clubes brasileiros, não fez nem cócegas na zaga reserva do Boca. O cruzamento para o Índio, que o Roth ainda não descobriu como marcar, também não funcionou. E o D’Alessandro, que por si só já é uma jogada, incomodou, deu janelinha, bateu na trave, mas não conseguiu vencer o goleiro Javier. Mas a jogada mais clássica do Inter, a que sempre tem funcionado, é aquela em que o Alex pega a bola, vai indo, indo, indo, e quando todo mundo pensa que ele está desequilibrado e que não vai ter força para o chute, POW, ele acerta um tirambaço e marca. No jogo contra o Boca ele já tinha obrigado Javier Garcia a fazer duas lindas defesas, mas no terceiro e no quarto chute não deu para o Boca e deu 2 a 0 para o Alex.
Digo mais: todo mundo sabe essa jogada. Eu sei, vocês sabem, os adversários sabem, até o Dunga enxergou isso! Mas mesmo assim, no próximo jogo do Inter, o Alex vai fazer a mesma e manjada jogada. Vai ir quase caindo, trombando com os marcadores, e vai chutar de longe, e a bola vai indo, indo, indo, até que, como diria o Paulo Nunes “iu” e morreu no fundo do gol adversário.
Para finalizar, também acho que o Inter é o melhor time do Brasil porque não vejo nenhuma outra equipe com jogadas características que volta e meia funcionem. Isso ficou claro no grenal dos 4 a 1. No caso do Grêmio, por exemplo, a arma é o Tcheco. Com Tcheco em campo, o tricolor vence, tem equilíbrio, e é por isso que eu acredito que o Grêmio pode vencer o Cruzeiro em Minas e o Palmeiras em São Paulo. E também é por tudo isso que acho que dessa vez o Inter passa pelo Boca. É aguardar para ver.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

On the road Rio 2005 - Retro

Caraca, vocês não vão acreditar no que eu achei aqui, fuçando em meus arquivos (aquele com todas as histórias da facul). Um relato sobre a inesquecível excursão ao Intercom do Rio de Janeiro, em setembro de 2005. Porra, estou emocionado. Mas como é muito grande (14 páginas de word) vou postar em partes. Aí vai a primeira, mas vale lembrar que todos os nomes estão trocados (inclusive o meu) e que já nem lembro mais quem era quem para destrocar... Ah, o título do texto, nos meus arquivos, está como "Passos desconhecidos".
Chega de papo e vamos ao que interessa:

Passos desconhecidos - Parte I

Não sei ao certo o que escrever. Na verdade não tenho mais condições psicológicas para continuar esta obra. Aliás, nem sei se ainda existe condição psicológica para mim. Apesar de tudo, tentarei, já que vim aqui para isso. Não sei se conseguirei relatar os fatos exatamente como foram, mas farei o possível.
Dia 4 de setembro meus amigos de Novo Hamburgo, Sandro e Régis chegaram à Santo Ângelo para irmos ao Intercom 2005 no Rio de Janeiro. O ônibus sairia às duas horas da tarde de Ijuí e chegaria às quatro da tarde de segunda-feira no Rio. Vinte e seis horas de viagem. No domingo pela manhã fomos até Ijuí para embarcarmos rumo a capital carioca. Como eu não teria muito dinheiro para gastar lá, levei uma caixa com 12 latinhas de cerveja para a viagem. Entrei dentro do ônibus e assim que saímos de Ijuí se ouviu o primeiro “Tssssss” da latinha sendo aberta. Tomei um gole, e foi como se tivessem atirado um pedaço de carne para os leões. Todo mundo se atracou na minha caixa, devorando as 12 latinhas rapidamente. Minha contribuição para a bebida estava dada e agora os outros teriam que gastar. Paramos várias vezes para comprarmos cerveja, e aos poucos fomos ficando bêbados. Durante as primeiras horas de viagem (até por volta das 10 da noite) estava todo mundo animado, cantando e dançando as mais variadas e toscas músicas (do funk ao sertanejo), mas com o passar do tempo o pessoal foi se acalmando e o barulho foi diminuindo. A uma da madrugada, quando acabou o segundo filme que colocaram para o pessoal se aquietar, todos estavam dormindo. Paramos para tomar café da manhã em uma cidadezinha na divisa do Paraná com São Paulo, e logo se animaram ao ver a nossa guia, Vivi, andando em uma motinho com o Laurinho (espécie de Vera Verão da nossa viagem) na carona. Depois do almoço, quando já estávamos no estado do Rio de Janeiro, paramos em um restaurante de beira de estrada, completamente bêbados, para comprar mais cerveja. Meu amigo Régis compôs uma música genial que fez sucesso entre os que lá estavam:
Nasci na Bolívia!!! (Bolívia! Bolívia!) Passei por Paraguaiiiii!!!! (Paraguai! Paraguai!) Andei pelo Peru!!! (Peru! Peru!) Fui para o Brasil! (Brasill! Brasil!) Morri no Chile!! (Chile! Chile!) Ressuscitei no México!!!! (México! México!)...
Essa letra era cantada com uma melodia do caralho, e apesar de ter sido inventada na hora era como se todos nós conhecêssemos a letra. Ainda cantamos músicas gauchescas e o hino do Grêmio e do Inter. O pessoal já estava começando a se revoltar com a nossa presença, então uma de nossas professoras, que ainda estava mais ou menos sã, conseguiu colocar a gente para dentro do ônibus (até agora não sei como). O porre foi passando, e quando vimos já estávamos no Rio de Janeiro. Ah, Rio de Janeiro. Como é bom te rever! Cidade Maravilhosa, já estava com saudades!
Estava indo tudo bem, até que percebemos que o ônibus começou a dar várias voltas, e passava pelos mesmos lugares. Eu, que estava com o cabeção pro lado de fora da janela, resolvi falar quando passamos por uma rua no centro:
- Olha só: Rua Acre. Daqui há poucos vamos chegar em Rio Branco! HAHAHAHAHA
Apesar da piada não ter a mínima graça, todo mundo riu, menos a Vivi, que ficou me olhando com seus olhões, que ficaram do tamanho de uma bola de tênis. Ela colocou a mão na cabeça, me segurou pelos ombros, e disse:
- Arthur! Você é um gênio! Rio Branco! É nessa avenida que fica nosso hotel! E eu tinha dito para o motorista que era na Avenida Brasil! Peraí que vou lá avisar ele.
Como vocês devem imaginar, o motorista amou quando ela disse que o hotel ficava na Avenida Rio Branco e não na Brasil. Ele entrou em uma rua onde não podia dobrar à direita, e o hotel ficava justamente para esse lado, então eu e a Vivi resolvemos descer na esquina enquanto o ônibus faria a volta. Nós dois chegamos no hotel, verificamos se tudo estava OK, e fomos à frente do prédio esperar o ônibus com o pessoal. Passou cinco minutos, dez, quinze, vinte, meia hora... até que a Vivi disse:
- Olha só lá longe! Vem vindo um ônibus andando todo torto!
Eu olhei bem e disse:
- É mesmo! Só pode ser o nosso.
- Ih, olha só. É mesmo.
E no meio da Avenida Rio Branco, às seis horas da tarde, apareceu um ônibus prateado zigue-zagueando no meio de carros e outros ônibus. Metade da nossa excursão estava na cabine do motorista, espiando a cidade como um hamster em um labirinto de um laboratório de algum cientista maluco qualquer. Bom, esqueci de falar para vocês que eu não iria ficar no hotel, mas sim na casa do Marcos, um amigo meu que mora na Ilha do Governador. Como ele trabalha até a meia-noite, eu tinha combinado d’ele me pegar no hotel lá pela uma. Tratei então de ligar para o Fernando (aquele amigo meu que me hospedou no verão) para ele me pegar lá no hotel para darmos umas voltas. Ele foi lá, e saímos: o Fernando, o Dante, o Huguinho, o Luis Fernando e o Laurinho. Fomos numa tal de Taberna do Joaquim ou do Juca, não lembro bem. Só lembro que era na Lapa. Tomamos um trago lá, e para variar consegui quebrar um copo. Nos divertimos pedindo Polar com picadinho para os garçons, que não entendiam patavinas do que falávamos. Lá pelas tantas lembrei que teria que ir para o Marcos, mas embalado pela cerveja, resolvi ligar para ele e avisar que só ia para lá no outro dia, que nesse eu ficaria no hotel. Ele disse que não havia problema, e assim fiz. O Fernando e eu dormimos entre as três camas (do Hugo, do Dante e do Luis Henrique) em cima de um lençol estendido no chão. Acordamos e quando descemos para a recepção o ônibus já havia partido para a UERJ, local onde acontecia o Intercom. Subimos para tomar café, e lá estava preparada uma mesa para três pessoas. O problema é que éramos cinco, e o garçom logo percebeu.
- TODOS AQUI ESTÃO NO 407? – perguntou.
Ninguém falou nada, mas todos fizeram sinal afirmativo com a cabeça.
- É bom saber! – resmungou.
Em seguida ele foi ligar não sei para quem para avisar que haviam dois intrusos na parada. Como o ônibus da excursão já havia saído, fomos para a UERJ de ônibus de linha. O Fernando foi embora e passou as coordenadas: “peguem o 255 ou o 234”. Pegamos o 255, pagamos a taxa de R$1,80, e nos acomodamos nos quatro primeiros bancos em frente à cobradora. No meio do caminho ela perguntou, olhando para o Huguinho:
- Para quem fiquei devendo 20 centavos?
Ninguém respondeu. Eu cutuquei o Huguinho, mas ele estava no mundo da Lua. A cobradora voltou a perguntar, agora impaciente:
- Para quem fiquei devendo 20 centavos?
Ninguém respondeu de novo. Agora ela já estava olhando para nós quatro com uma certa fúria. Eu sabia que para mim não era, e o Huguinho, o Luis e o Dante nem se mexiam. Ai ela resolveu esculachar conosco:
- Escuta meninos. Vocês não falam não?
Foi como se o Dante estivesse se despertado de algum sonho.
- Ãh? 20 centavos? Ah, são meus.
Realmente os ares do Rio estavam afetando o cérebro da gurizada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Esse é o meu xará!


Antes de postar a entrevista do meu xará, Eduardo Dutra Villa-Lobos, o Dado Villa-Lobos, ex-guitarrista da Legião Urbana, que fiz antes do show dele no Teatro Antônio Sepp, em Santo Ângelo, queria fazer algumas considerações. Primeiro, que valeu a pena ter saído direto do jornal às 18h e ter acompanhado os últimos preparativos da banda do Dado e do The Darmas Lovers, de Porto Alegre, para fazer a entrevista com ele. Depois, também valeu a pena ter ficado meio que direto até a meia-noite, horário que acabou o show, sem comer e sem descansar. Tinha chegado de Porto Alegre às 5h, levantei às 9h para ir para o trabalho, e de tarde, do jornal fui para o Teatro, como mencionei antes. Ou seja, estava completamente moído, mas totalmente satisfeito.
Bom, além disso, quero destacar a simpatia (regada a timidez, apesar de que eu não posso falar muito, já que também sou extremamente tímido) que o Dado e toda a sua equipe demonstraram. Fui muito bem tratado, e, olhando o nosso jornal um dos produtores me disse “porra cara, tua matéria ficou do caralho!”. Um puta elogio, sem dúvida alguma. E é exatamente por esse carisma que o cara fez tanto sucesso, e merece voltar a brilhar pelo seu talento.
Já em relação ao público (não tem como não comentar), bem, tenho uma porrada de considerações, mas vou me limitar a algumas delas. Bueno, para você, que provavelmente nem sabia da existência desse show, vou explicar: o show foi realizado na quarta-feira do dia 15 de outubro de 2008, com início previsto para às 19h30 (abertura com a banda santo-anglense Scherlock), com ingressos vendidos a 30 reais. Às 19h30, quando saí da entrevista com o Dado, não tinha nenhuma pessoa na fila. Fui comer algo, e quando voltei, por volta das 20h, havia umas 50 pessoas. Lá pelas 20h15, quando abriram as portas do teatro, o público era de pouco mais de 100 pessoas, e no final, deve ter fechado em torno de 150 pessoas.
Bom, primeiro fiquei me lembrando do tempo do auge da Legião Urbana. Caso o Dado viesse naquela época, mesmo se fosse sem o Renato e o Bonfá, poderiam cobrar R$60 o ingresso que lotaria de qualquer forma. Agora, 12 anos depois da morte do Renato, o cara que fez parte de uma das maiores bandas da história do rock nacional, uma das poucas bandas que vão superar o tempo, vem para Santo Ângelo e se apresenta para um público pífio. E com ele, como o Dado disse na entrevista a seguir, vieram outros caras do caralho, como Laufer, que é o compositor de Cátia Flávia e Rio 40 graus. E o que mais espanta é que raramente alguém desse peso vem para a região, muito menos para Santo Ângelo, a não ser que seja a preço de ouro para tocar em grandes feirões.
Com tudo isso, fiquei lembrando do princípio da cognição, que resumidamente diz que para um sujeito receber uma informação e assimilá-la ele deve ter um aparato de elementos cognitivos que o tornem capaz de decodificar a mensagem. Ou seja, é muito mais fácil ir ver um show de algo que está na telinha da Globo, com músicas que repetem sempre a mesma coisa “levanta a mão e sai do chão” ou “põe a mão no popozão” do que de músicas que abordem questões mais profundas da vida, ou seja, que apresentem elementos das quais muitas pessoas não tem a capacidade cognitiva de compreender (acham muito cansativo pensar, afinal, tem todo o estresse do trabalho burocrático que exige uma capacidade de raciocínio absurda). Mas, enfim, essa é só uma teoria inicial que eu encontrei para explicar o público pequeno registrado para um show tão grande.
Para fechar de uma vez a minha série de raciocínios, aproveitando esse momento apoteótico tão raro, quero destacar a banda The Darmas Lovers, que fez um show de rock zen budista do caralho antes do show do Dado. Quero ver se compro o CD deles para colocar enquanto trabalho no computador, aí não vou mais precisar fazer o ommmmm e nem xingar o Arion mentalmente para me acalmar.
But, chega de papo furado, e vamos logo ao que interessa. Eis a entrevista:

O show de Santo Ângelo é o 5° da turnê pelo Rio Grande do Sul. Como está sendo a participação do público gaúcho até o momento?
Está sendo ótimo e maravilhoso. Estamos sempre sendo muito bem recebidos. O sul realmente tem essa característica bacana, com muito respeito. Eu acho que eu nunca trabalhei tanto na minha vida, com show todos os dias em seqüência. Está sendo o maior astral, a produção é ótima, os Darmas abrindo, sempre com um alto astral incrível.
Como surgiu essa parceria com o The Darmas Lovers?
Na verdade a primeira música solo que eu gravei era deles, há uns seis anos atrás. Eu conheci eles através do primeiro disco deles, e desde então a gente sempre se cruza, se esbarra e acabamos fazendo música junto.
Como você conheceu eles?
Eu tinha um gaúcho que trabalhava no meu estúdio lá no Rio, que me deu o CD, cujo o irmão tinha gravado em Porto Alegre. Então foi imediato, logo vi que as músicas eram demais.
Qual o show que mais te marcou no período da Legião Urbana?
Foram alguns, uns para o bem, outros para o mal. A gente fazia shows para 100 mil pessoas no Jockey Clube, no Rio de Janeiro. Era muito bom. A gente fazia bem quando dava tudo certo. Já em Brasília tivemos problemas com a ordem pública, mas seguimos em diante. Depois o ritmo caiu um pouco, mas um outro show que me marcou foi a gravação do acústico do Paralamas do Sucesso. E esses show da turnê do Jardim de Cactus, que também tiveram pontos altos. Isso é ciclico e é sempre reencontrar o público.
E essa turma do grupo atual?
No baixo é o Laufer, que é um grande parceiro, a gente tocou junto em 92, num projeto fabuloso que chamava-se Santa Clara Paultergas. Ele também é o compositor de Cátia Flávia e Rio 40 graus. Na bateria, Lourenço Monteiro, que conheço desde que éramos pequeno. Ele é um excelente músico e toca com Marcelo D2, e tem uma banda que se chama Cabeça de Pano. O Roberto Pólo nos teclados, que é um hacker, um geniozinho da música e da mecânica da coisa. Trabalhamos juntos direto agora. E por fim, o Renato Ribeiro, que foi o último a entrar na banda, e que é um puta guitarrista. A única coisa que tenho a dizer é que o cara é bom e vale a pena assistir.
Tem alguma música que dê para se dizer que mais te marcou?
São várias, que pontuam épocas. Quando eu me lembro de Será, eu me lembro de quando eu tinha 18 anos. Depois veio Que país é esse?, quando eu tinha 22 anos. Eu lembro da época do que acontecia na minha casa, no estúdio com a banda. Dessas gravações todas em cada disco eu acho que tem grandes coisas. No primeiro tem Soldados, Índios no segundo, depois veio Faroeste Caboclo, Quase sem querer, Eu sei, Pais e filhos, Eu era um lobisomem Juvenil, a Montanha Mágica, Perfeição, são tantas. Foram grandes momentos.
Como ficou a sua carreira artística logo após a morte do Renato Russo?
Eu já estava engrenado em outros projetos. A minha gravadora, onde eu produzi uma série de discos, como Ultramen e Comunidade Nin-Jitsu, então eu já estava meio correndo independente da própria Legião, que já tinha uma estabilidade adequada e tudo, e eu estava diversificando um pouco. Então eu continuei com a produção musical na minha gravadora, até que os Paralamas me chamaram para tocar com eles, e foi quando eu voltei a subir num palco, e foi uma grande escola para mim. Depois formei essa banda e agora é tocar, pirar e começar a cantar as minhas próprias canções, que é muito divertido.
Quais foram as principais características que ficaram em você do tempo da Legião e qual a lembrança do Renato Russo?
O que fica é a minha vida, isso faz parte da minha biografia. Eu aprendi a fazer música naquele núcleo de pessoas, com a banda. Então eu carrego aquilo dentro de mim. Eu me formei ali e está tudo ali.
O que você achou de Santo Ângelo?
É a primeira vez mesmo. Ainda não sabemos direito, está chovendo a beça, e estamos num hotel aqui perto e eu só andei de lá até aqui. Mas vamos dar uma volta mais tarde para ver o que vai acontecer.

** A foto lá de cima é do fotógrafo Fernando Gomes, enquanto a do Dado sozinho é minha, e a que eu estou com o Dado é de um dos produtores do Dado, que não me recordo o nome agora, mas que tinha sotaque carioca. Se não me engano é Rafael. Ou Tiago. Ou Jean. Enfim, estão dados os créditos, seja lá para quem for...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Faltaram 13 centavos!


Como já escrevi aqui outras vezes, a multiplicação de dinheiro não é minha especialidade, e a conservação e o controle das minhas notas de um real e moedas de 50 centavos também não. Há pouco fui no Carrefour e novamente isso foi comprovado. Mas vamos começar do princípio. Quando saí do apartamento da minha irmã e ia me dirigindo para o portão rumo à Rua dos Cubanos, topei com a zeladora do prédio, que já conhecia de outras vezes. Eu a cumprimentei e ela me olhou espantada e exclamou?
- Ainda não acabou?
Eu não entendi a pergunta. Achei que estivesse perguntado das aulas e eu quase respondi: “não, vão até dezembro”, mas fui mais curto e grosso e disse:
- Não acabou o quê?
Ela então me olhou da cabeça aos pés, franziu a testa, e depois de me reconhecer exclamou rindo:
- Ah, achei que era o pintor. Desculpa, mas ele é bem parecido com você.
Tu vês. Saí para a rua me sentindo um Pablo Picasso das paredes do Edifício Havana. Segui rumo ao Carrefour, e foi com prazer que peguei um daqueles carrinhos gigantescos e entrei mercado a dentro para comprar meus apetrechos para a minha super-janta. Primeiro encarei a fila da padaria para comprar quatro pãezinhos, depois fui até o freezer dos conservados e escolhi minuciosamente um pacote com bife de frango de hamburguinho da Turma da Mônica, peguei mais uma Coca 1,75 litros fora do gelo (as geladas estavam muito longe) e, para finalizar, me deu uma vontade de comer batatinha frita e fui lá pegar um pacote de batata-palha (o mais barato que tinha). Fui com esses quatro itens dentro daquele carrinho gigantesco para a fila do caixa, e em todos eles haviam famílias inteiras fazendo ranchos com os carrinhos transbordando de todos os tipos de produtos. Eu fiquei ali, esperando pacientemente até que chegou a minha vez. Foi então que me dei conta que talvez o valor dos meus produtos ultrapassasse o valor que tinha na minha niqueleira. Eu sabia que tinha uma nota de 5 reais, uma nota de 2 reais, uma moeda de 1 real e mais moedas de 10 e 5 centavos, que não sabia o total. Bom, pelos meus cálculos se a conta desse até 10 reais daria para pagar tranqüilo, mas se desse mais, sei não. E o pior é que não lembrava quanto custava cada item. Quando chegou a minha vez, perguntei para a caixa, uma mulata com belo sorriso, quanto custava a Coca:
- Não sei – disse ela rindo.
- Putz, acho que não vai dar.
- Quer passar a Coca primeiro?
- Sim.
Ela passou a Coca. 2 reais e 45 centavos. “Não vai dar”, pensei. Mas ela seguiu passando os outros produtos. A conta deu 10 reais e 48 centavos. Eu despejei tudo o que tinha na minha niqueleira na frente dela e começamos a contar na frente das famílias de gordos que estavam atrás na fila com os seus carrinhos transbordando de gorduras e guloseimas. Quando terminei, olhei para ela e disse:
- Faltaram 13 centavos;
- Como? – ela respondeu, ou melhor, perguntou.
- Faltaram 13 centavos. Eu tenho 10 reais e 35 centavos e a conta deu 10 reais e 48 centavos.
Eu lembrava daquela cena do filme O Homem que Copiava, onde o cara tem que escolher entre a carne e a caixa de fósforo porque também faltam alguns centavos para pagar a conta, quando vi que ela sorriu de novo, balançou a cabeça e disse:
- Tudo bem.
Então eu dei tchau e, além do desconto, ainda ganhei um “boa noite”. E, há pouco mais de meia hora, eu acabei de encher o bucho com os pãezinhos, a batata palha, o bife de frango e a Coca-Cola. E pior é que comi tudo isso pensando de onde vou tirar dinheiro para comprar as passagens de ônibus que faltam até o final do semestre....

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O verdadeiro mantra


“Tenho andado distraído... Impaciente e indeciso... E ainda estou confuso só que agora é diferente...”
Depois de um certo tempo afastado por motivos de provas e de trabalho, voltei, com os mesmos problemas relacionados a provas e trabalho, mas não vou comentar sobre isso. Também não vou xingar o Arion agora, vou deixar que cada leitorinho tupiniquim faça essa espécie de mantra individualmente. Também não explicarei porque coloquei o início da letra dessa música do Legião, porque nem eu sei o motivo disso. Sentei-me na frente do computador, apenas para escrever o quanto estou cansado e o quanto estou com saudades da minha caminha linda.
Depois de duas madrugadas consecutivas dentro de um ônibus (e isso semanalmente) você começa a dar valor às coisas boas da vida, como por exemplo, dormir em uma cama por oito horas ininterruptamente. Você sente cada centímetro de seu corpo se esticando, cada músculo se acomodando maciamente em casa fibra do forro que cobre o colchão. Cada movimento é rigorosamente calculado. Se você vai esticar o braço direito e estender a perna esquerda, você faz isso com um enorme prazer. Chega a ser um quase-orgasmo. Você se estica todo e a única coisa que você quer é ficar deitado ali naquela cama para sempre. Como sempre disse, concordando com a afirmação do Bukowski, as duas melhores invenções do ser humano são: cerveja e cama. Lógico que a mulher não é uma invenção do homem, portanto, não me critique, nobre leitorinho.
Mas voltando à cama, quando você coloca a sua cabeçona pesada e doída sobre o travesseiro, e quando você sente seu pescoço moído de torcicolo se acomodar de uma forma não torta, é quase como ver um gol do seu time de coração contra o maior rival. São momentos indescritíveis. Você esquece o ônibus, esquece a prova, esquece o trabalho, esquece a aula (que por sinal é muito boa, mas você a esquece igual), você esquece o engarrafamento de Porto Alegre e o deserto da Daltro Filho, que eu percorro a pé todos os dias para me dirigir até o jornal. Você esquece as três entrevistas que estão marcadas ao mesmo tempo, e que você não sabe como vai fazer para virar três Dudus, você esquece as páginas em branco que estão lhe esperando, você esquece a reclamação do leitor que ligou para dizer que você não colocou assento na palavra cu. E não adianta você dizer “mas minha querida, cu não tem assento”. Ela vai teimar e vai levar livros e livros para te mostrar que você está ERRADO e que cu tem assento sim. Enfim, você esquece essa porra toda e dorme e ronca torrencialmente. No meu caso, isso acontece quando minha irmã não está em casa, senão ela arromba a porta do meu quarto e me acorda aos berros “PARA DE RONCAR GURI!” e bate a porta e sai relinchando de volta para o seu quarto e fica lá, fungando sem parar. Mas quando ela está, depois que ela bate a porta, em cinco segundos, eu estou roncando novamente e sonhando sei lá eu com o que, mas é alguma coisa qualquer que depois eu vou ver no livro dos sonhos do meu pai o que significa. E quando acordo no outro dia, nem chego a pensar, porque já estou atrasado e tenho outras três entrevistas para fazer ao mesmo tempo no jornal, e quando sair do jornal tenho uma pilha de textos para ler e lembro que ainda tenho um livro para devorar até a minha prova que será no dia 7 de novembro, tudo isso paralelamente com a leitura dos xérox que lotam a minha pasta. E então, quando penso que estou ficando louco é que eu vejo que não tem nenhuma garrafa na geladeira, mas estou tão cansado e tão duro que não me animo de ir até o boteco lá da Rio Grande do Sul para buscar duas garrafas de cerveja, e nesse momento deito na cama, antes de ler os textos, e fico xingando o Arion mentalmente, e isso me faz sentir uma paz interior incrível.
Inclusive, há pouco estava conversando com o meu amigo Maikel, que me ajudou a comprar uma Playboy da Carla Peres escondido da minha mãe na nossa adolescência, e que agora, trabalhando na Petrobras, ganha em um mês o que eu ganho no ano todo, e que também vai fazer curso de comunicação empresarial em Nova York e assiste aos jogos do Grêmio no Maracanã, e que me diz “teus textos tem vida” e eu respondo “meus textos tem vida, mas eu estou morto”, pois é, acho que depois de colocar meu fôlego em textos diários, seja para jornal, seja para o blog, seja para artigos ou trabalhos acadêmicos, acho que não me sobra muita coisa além da minha carcaça. Escrever é como o crack, como a cachaça, como LSD. Te vicia e te consome. Mas enfim, como eu disse, estava conversando com o Maikel, e tentei ensinar a ele a arte de xingar o Arion, e veja o que saiu:

“Eduardo: O meu, xinga o Arion.
Psico: O Arion é um pulha! Pertence à choldra ignóbil do mais baixo meretrício!
Psico: Uau, me sinto mais leve agora
Eduardo: ehehehhehehehe. Pode xinga a vontade. Faz bem”.

E faz bem mesmo, tanto é que estou cansado e vou deitar na cama ficar xingado o Arion mentalmente por uns cinco minutos antes de dormir.
Ah, e entrem no blog do Maikel:
http://ababeladomundo.wordpress.com/ Valeuzão!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Direito de resposta de um traste

Mediante decreto do presidente Luis Inácio Lula da Silva, vulgo Lula, estamos publicando contra a nossa vontade o direito de resposta do traste Arion Fernandes. Porém, chamamos a atenção de que o mesmo não encontra-se em situações mentais normais, sendo que existem fortes indícios de que ele escreveu o texto a seguir sob o efeito de diversos e pesados tipos de narcóticos. Mas, como eu não quero ir para o xilindró, publico nesse mesmo espaço a série de asneiras escritas por Arion Fernandes, que se segue:

"DIREITO DE REPOSTA
Ainda um tanto perplexo pelos acontecimentos, escrevo neste blog com o interesse de limpar a minha imagem perante a opinião pública, porém antes parabenizo o senhor Eduardo pelo seu riquíssimo vocabulário pejorativo, existe alguns xingamentos que nem faço idéia do que significam, mas elogios é que não devem ser... Também achei que procurar no dicionário não faria bem à minha auto-estima, logo, continuarei na ignorância, inclusive para o bem e integridade física do próprio Eduardo.
Rebusquei em minha (nem tão boa) memória algum fato que pudesse justificar, ou mesmo explicar, o porquê desse estranho comportamento do jornalista Eduardo. Mas não recordei-me de nada que pudesse, satisfatoriamente, apoiá-lo nessa campanha de degradação da minha imagem pública.
De fato não sou intocável no que se refere a defeitos, ou em outras palavras, não sou santo. Mas confesso que não entendo tamanha dedicação em me atacar, com tais palavras e ofensas levianas. Hora após hora de reflexão, pensando no que possa ter desencadeado tal ato, acredito que tenha chegado a dois prováveis motivos. Como uma primeira possibilidade, acredito que o Eduardo possa ter sido motivado por algo totalmente alheio a realidade. Eu explico: ele, o Eduardo, num de seus devaneios, criou uma fantástica história de que estava sendo alvo de um complô, tomou isso como verdade. Segundo ele, eu era um dos terroristas (assim denominado pelo mesmo) que tinha como interesse principal o seu assassinato. Seu delírio prosseguia, afirmava que o atentado ocorreria na festa de minha formatura, onde seria envenenado com alimentos ricos em ovos. Contudo, nada ficou provado, já que o senhor Eduardo esteve presente na festa, comeu (comidas sem ovos, feitas especialmente para ele) e continua vivo. Motivo descartado, acredito eu.
A outra possibilidade, que confesso, me desagrada pensar assim, é que o Eduardo tenha se deixado levar pela promessa de fama instantânea. Ou seja, por meio de calunias e ofensas direcionadas a uma pessoa popular como eu, espera ganhar alguma visibilidade. Usando-se de meios condenáveis quer fazer sua fama, tornar-se popular. É lamentável que um jornalista crítico tenha se transformado nessa criatura abominável, apenas preocupada com imagem e pior, utiliza-se de meios de comunicação para isso. Aparecer na mídia manchando meu caráter tem como único objetivo tornar-se conhecido, ascender socialmente. Pois bem, pelo ocorrido, essa parece ser a teoria mais aceitável para explicar o fato. No entanto, deixo aqui um ensinamento básico de comunicadores, que espero, sirva para alertar aos caros leitores sobre a figura e postura do senhor Eduardo Ritter: não acredite em tudo o que a mídia diz. Reescrevo: não acredite em tudo o que o Eduardo diz.
Se fosse eu uma pessoa de espírito vingativo, poderia enumerar algumas centenas de acontecimentos e situações que com toda a certeza colocariam em dúvida o caráter do Eduardo, coisas como: encontrar-se bêbado 24 horas por dia, 7 dias da semana; ser, diversas vezes, abordado pela polícia por atitudes altamente reprováveis; lembrar dos furtos movidos pela emoção e pelo teor alcoólico elevado que afogavam sua sanidade e capacidade de raciocínio; ou ainda, descrever os lugares que o mesmo costumava freqüentar, lugares esses, diga-se de passagem, proibidos para menores de 18 anos. Mas não, a vingança não é um bom caminho...
Na próxima te faço comer 20kg de omelete e esfrego um ovo de avestruz na tua cara. Traste!"

TRÉPLICA DE EDUARDO RITTER: VÁ SE FUDER, E RESPONDEREI MELHOR DEPOIS QUE PASSAR O MEU SURTO PSICÓTICO CAUSADO PELA PROVA QUE TEREI NA SEMANA QUE VEM!