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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

On the road Rio 2005 - Retro - Final

Bom, não preciso nem dizer que 98% dessa série não é ficção, mas que devido aos outros 2% troquei os nomes das criaturas envolvidas nos episódios. Segue a última parte da viagem nossa ao Rio, que não é o fim do livro, mas que também nunca será pubicado! UUUAHAHAHA (risada de mal!)


A festa lá estava super animada. (censurado). Eu bebia, bebia, bebia, mas não conseguia ficar bêbado. Sentei em uma mesa e fiquei observando tudo. Mesmo quando tocou a música da Beija Flor homenageando as missões (Em nome do pai. Do filho, a Beija Flor é Guarani...) e da Imperatriz (A turma do sítio apronta, Imperatriz faz de conta...) não consegui me animar. Todo mundo foi embora e só ficou o pessoal do sul. Como sempre, cantaram Canto Alegretense, Hino do Rio Grande, Hino do Grêmio e do Inter, Tordilho Negro e outros cantos gauchescos. Até um “ahah-uhu! A Mangueira é nossa!” rolou. Mas nem os gritos, nem a música, e muito menos as bundas rebolando, me animaram. Para irmos embora pegamos carona com o pessoal da faculdade de Santa Maria. Eles deixaram o Dante e o Huguinho no centro, perto do hotel, mas eu quis seguir adiante, já que prometiam um lual na praia do Flamengo. Chegamos no hotel da galera de Santa Maria, e não rolou lual porra nenhuma. Do Flamengo o Fernando foi para Bonsucesso e eu para o centro. Ele me orientou certinho como chegar no hotel.
Desci na Avenida Presidente Vargas, a poucas quadras do hotel. Olhei no relógio eram quatro horas. Eu não queria voltar a posar no hotel com medo de ter que pagar uma diária, e naquela altura eu não tinha mais dinheiro para isso. Comecei a caminhar e a pensar na vida. O pessoal da limpeza já começava a aparecer, e eu imaginava como deveria ser dura a vida daquelas pessoas. Nas ruas, dezenas, centenas, talvez milhares de sem-tetos dormiam amontoados pelas calçadas. Bêbados vagabundiando? Ninguém além da minha pessoa. Mas cadê a violência? Não estou vendo nenhum assaltante, nem prostituta pela rua. Resolvei perguntar para um gari: “onde eu acho um lugar legal, que tenha minas, música e tal?”. Ele me olhou com estranhesa e respondeu:
- Olha mermão, eu se fosse você ia para casa dormir.
- Valeu – respondi forçando o sotaque, como sempre.
Andava como um perdido em um labirinto. O curioso é que eu sabia a saída. Passei em frente da Candelária e fiquei imaginando o dia em que os policiais mataram várias crianças que dormiam em frente à Igreja há tantos anos. Provavelmente isso deva ter ocorrido a essa hora da madrugada. Como pode? Ando por tantas ruas desertas e nada me acontece? O que estará fazendo a Felícia agora? Será que está sonhando comigo? Talvez esteja tendo algum pesadelo em que eu venha salvá-la. Ou senão está se afogando, e eu, heroicamente, me atiro no mar agitado e a resgato. Quando chego na beira da praia, com ela em meus braços, ela me olha e diz “i love you”. Palavras tão simples, mas tão profundas. Esse pensamento me fez bem, e me deu um pingo de esperança lá no fundinho do coração. Só que esse pingo foi aspirado por um vento seco que soprou em todo meu peito. Um nó tomou conta da minha garganta. Meus olhos ficaram pesados com as lágrimas que forçavam em sair, mas que a vergonha as seguravam. Andei passos e passos e passos e passos, sem saber aonde ia parar. Duas prostitutas brigavam na esquina da Presidente Vargas com a Avenida Passos. Resolvi dobrar pela Passos. Quando cheguei no meio da quadra ouvi alguns gritos, e quando olhei para trás uma delas corria desesperadamente em minha direção. A outra veio em disparada e puxou um revólver da bolsa. Quando a que fugia estava perto de mim, foi atingida por dois disparos certeiros. Meu coração quase saiu pela boca. Agora era eu que precisava ser socorrido. A imagem da Felícia passou pela minha mente rapidamente, ao mesmo tempo em que ouvia o grito daquela fêmea furiosa que vinha em passo acelerado em minha direção: “ei, você. Parado ai senão meto bala”. Eu fiquei olhando para ela com os olhos arregalados e com a pele da face tremendo junto com as pernas.
- Se vira e vai embora. Rápido!
Eu saí em disparada. Minha respiração estava difícil e ofegante. Vi a esquina. Pensei em dobrar ela correndo, assim estaria salvo. Concentrei, apertei o passo, já não conseguia mais controlar meu coração. Vi a plaquinha na esquina escrito “Avenida Passos”. De repente o som da rua sumiu e a placa desapareceu. Minha visão foi branqueando. Pisquei e vi o céu da noite. Fechei os olhos. Quando voltei a abri-los, novamente vi a placa dizendo Avenida Passos. Em uma imagem meio embaralhada vi um carro estacionando. A luz do farol ficou iluminando meus olhos, enquanto um homem desceu do veículo e gritou à mulher que chamasse a polícia. Perdi a noção do tempo, mas rapidamente vários olhos me olhavam, e a luz vermelha da sirene, que girava incessantemente, começou a me deixar tonto. Comecei a ouvir algumas vozes falando alto, que julguei serem conhecidas. Mas aos poucos tudo começou a ficar mais distante. Na medida em que o som diminuía, a luz aumentava. Os gritos iam ficando cada vez mais longe, e o clarão ia tomando conta de tudo...

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