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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ano novo, novos pensamentos, perspectivas e novos atacantes...

Como estou cansado demais para escrever e está para começar mais um clássico no Playstation, vou postar aqui o texto que mandei para o JM. Feliz ano novo para todos!

Conheço muita gente que não gosta da virada de ano porque a considera um momento de ilusão coletiva: na troca de uma data muitas pessoas pensam que tudo vai mudar do dia para a noite. No entanto, eu considero a virada do ano como um período de mudanças ou de confirmações. Por exemplo: tem gente que troca um casamento confirmado por alguns momentos de prazer a beira-mar. Agora, convenhamos que, sem dúvida, pode tratar-se de uma boa troca. Naqueles dias você fica ali, sentado na areia, olhando a beleza do mar, aqueles corpos torneados seminus desfilando diante de seus olhos e, enfim, nesse momento a vida é bela. Ainda mais se tiver um copo de caipirinha gelada e doce na mão. E qual a perspectiva do casamento? Cobranças, rotina, alguns momentos de prazer, mais cobranças, algumas brigas, família metendo o bedelho na rotina, outras cobranças, e por aí vai. Nunca fui casado, digo isso apenas como espectador. Mas já fui para a praia e a parte de ficar sentado na beira do mar, sentindo uma paz interior do caramba, tomando caipirinha, ah, essa conheço muito bem. E, realmente, é difícil trocar esses momentos de prazer certo por outros incertos, ainda mais para quem mora tão longe do litoral, como é o nosso caso. Ou abrir mão desses dias maravilhosos, por outros, que podem não ser tão maravilhosos assim.
Falei de tudo isso para tentar explicar o que está se passando na cabeça do torcedor gremista. Estou escrevendo essa coluna no domingo, no entanto, quando ela for publicada, provavelmente a situação do Maxi Lopes já esteja definida. Mas o sentimento do gremista hoje é exatamente esse: ele está na dúvida entre trocar o prazer certo (como a praia ou os gols do Maxi Lopes) pelo prazer incerto (o Borges ou o casamento). O gremista conhece o Maxi Lopes, que é a cara do Grêmio: brigador, raçudo, bom cabeceador, alto e, ainda por cima, tem boa técnica. Já o Borges... bom, o Borges fez gols jogando pelo São Paulo, mas aí a questão: jogando com os jogadores do São Paulo até eu sou candidato a artilheiro. E aí a desconfiança. Aí a incerteza. Aí a cobrança, aquela mesma, do casamento. Aliás, uma frase que um conjugue gosta de falar para o outro é: quer liberdade, quer curtir a vida sem dar explicações à ninguém? Tudo bem, então, fique solteiro! Qual o (a) casado (a) nunca ouviu ou disse essa frase alguma vez na vida?
Mas enfim, a vida, como os clubes de futebol, é feita de opções e de decisões. Alguns preferem abrir mão do casamento por umas férias na praia. Uma sábia decisão. Outros preferem o casamento à praia. Outra sábia decisão, dependendo de quem for a noiva ou o noivo. O problema é que no caso do clube, o torcedor decide, mas nem sempre o que acontece é o que ele quer. Bem como às vezes a praia pode ser catastrófica (dependendo dos acompanhantes) e o casamento pode ser milagrosamente prazeroso durante a vida inteira. Enfim, um feliz ano novo a todos!
* texto publicado no JM do dia 29/12
PS: Feliz aniversário para a minha mãe!

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sorvete caliente

Depois de tanto tempo esperando, ele finalmente a viu. Décadas se passaram, mas o brilho dos olhos, o sorriso, a pele clara e macia ainda estavam vivos em sua memória. Ele a cumprimentou e ambos foram a uma sorveteria. Conversaram durante horas. Havia muito a contar: amores frustrados que passaram pelas suas vidas, banalidades, putarias, bebedeiras, sonhos que não se concretizaram, histórias de amigos, de parentes, tragédias familiares, morte do cachorro de estimação, e você lembra do Cara de Queijo? Eram anos de distância, livros de histórias que mais pareciam ficção, mas que eram, em suas mentes, uma romanesca realidade. Anos que eram um abismo. Na última vez que haviam se visto, ele namorava a Agatah e ela o Ferdinando. Acabaram rindo do nome dos ex-namorados ao lembrarem disso. E quando o sorriso se desfez, ficou no ar um silêncio constrangedor a apaixonante. Os dois se olharam, sem jeito, como se fossem duas crianças de dez anos de idade. O silêncio os uniu e as bocas se aproximaram. Ao sentir a boca dela se aproximar, ele não sentiu mais as suas pernas. Era um simples homem sem presente, nem passado, nem futuro. Era apenas um sentimento ambulante. Era apenas paixão. O mesmo ocorria com ela, que se sentia com o peso de uma pluma vermelha de paixão. Há quanto tempo não se sentia daquela forma? O que era aquilo? Parecia o primeiro beijo, o primeiro amor. Com os lábios colados, as línguas se entrelaçavam, ofegantes. Parecia um sonho que se tornava realidade após anos de espera. Um sonho inalcançável e impossível. Quando as duas bocas se desgrudaram, os dois pares de olhos seguiam colados, como se fossem uma coisa só. Os dois queriam que aquele momento parasse, que durasse para sempre. Não queriam mais saber dos amigos nem da família, que certamente atrapalhariam aquela apoteose do amor. Queriam ficar apenas os dois, ali, juntos, um sentindo a presença do outro. No entanto, o mundo real os chamava de volta, e ele foi levá-la para casa. Entregou-lhe seu presente de aniversário, e ela convidou-o para entrar.
Mal passaram pela porta e ele, num súbito surto de paixão, agarrou-a pela cintura e beijou-a fervorosamente. Faíscas saiam daqueles lábios. As mãos exploravam os corpos. A direita dele entrava na saia dela, que inicialmente tentou detê-lo, mas não conseguiu. Era como se disse “pára” querendo dizer “vêm”. Logo ela também passava a mão pelo peito dele, e dali foi descendo, até que ambos, sôfregos de prazer, começaram a tirar as roupas para ter o mais intenso e belo prazer de suas vidas. Os corpos suados se exploravam. A palavra de paixão de um chamava a palavra de amor de outro. Eram um só só corpo, uma só carne, um só amor, e uma só vez. Uma só vez.

O novo hóspede do buraco do beco e outros causos

Não cheguei a mencionar no post anterior que o lugar onde moramos é conhecido como “beco”. O motivo disso é simples: realmente trata-se de um beco sem saída. Na verdade, nós moramos num buraco dentro desse beco. Só que de ontem para hoje, contamos com um novo hóspede aqui no buraco do beco: um rato. Aliás, talvez sejam mais. Possivelmente seja uma família de ratos. Uma cidade de ratos. Quiçá, uma nação de ratos.
Curiosamente, durante o ano que está findando, eu li “Os ratos”, do Dyonélio Machado. Na verdade, no livro, os ratos só aparecem numa cena secundária no final do livro. Enfim, após esse parêntese sem muita lógica, voltamos ao novo hóspede. Sua primeira aparição ocorreu enquanto o Agnight e eu jogávamos Grêmio e Ajax no vídeo-game. Jogo duro. Revanche da final do mundial de 1995. Estávamos concentrados no jogo, quando eu vi um ponto preto andando encostado na parede branca. Era o hóspede. Ele se escondeu, bem quietinho atrás daquele aparelhinho preto que liga a internet. Eu peguei a vassoura e o Agnight o espantou o bicho até que ele chegasse em frente à porta. Quando chegou nesse ponto, eu ergui a vassoura e “zapt!”, dei uma linda tacada ao melhor estilo Tiger Woods, e o ratinho voou para longe, gritando “criiiiiiii!”. Depois disso (e de ter vencido o Ajax com um gol de falta aos 40 do segundo tempo), achei que tinha resolvido o problema e que o hóspede inesperado nunca mais aparecesse. No entanto, hoje à tarde, quando acordei, ouvi um barulho numa sacola de plástico. Aproximei-me e ouvi o mesmo “criii” da tacada do dia anterior. Fui pegar a sacola, e o desgraçado sumiu. Tirei todas as coisas do meu quarto. Tirei tudo de dentro das sacolas, mas não o vi mais. Deve ter ido para outro quarto, pelas frestas que têm nas paredes de madeira. O desgranido deve estar por aqui. E o pior: deve estar querendo a minha cerveja... Na próxima fez não pouparei a vida do desgraçado.
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Outro dia estava me perguntando que critérios utilizo para considerar bom um escritor. Lendo Jack London, cheguei à resposta rapidamente: considero bons escritores aqueles que escreveram textos que eu leio e penso “porra, queria que esse texto fosse meu”. Ou ainda, quando leio e o cara colocou em palavras perfeitas e em ordem perfeita, coisas que penso ou semelhantes às que aconteceram ou acontecem comigo. Por exemplo, vejam essa passagem do Jack London, onde a mãe da mulher na qual Martin Eden (personagem auto-biográfico de London) está interessado e tenta convencê-la a deixá-lo de vez:
“Ele é quatro anos mais novo do que você. E anda ao deus-dará, sem posição nem salário. Não tem senso prático. Se o tivesse, e uma vez que a ama, deveria empreender qualquer coisa que lhe desse o direito de casar, em vez de ficar brincando com essas histórias e esses seus sonhos infantis. Receio bem que Martin Eden nunca chegue a adulto. Não quer responsabilidades nem trabalhar como um homem, como fez seu pai e como fizeram todos os nossos amigos, e Butler acima de todos. Receio muito que nunca chegue a ser um homem capaz de ganhar dinheiro. E este mundo encontra-se de tal forma ordenado que o dinheiro é indispensável à felicidade... Oh, não!, nada dessas fortunas gigantescas, mas o bastante para permitir viver em certo conforto e decência” (p.156-157).
Rapaz! Quando li isso, quase mandei imprimir uma cópia desse trecho e pendurar num quadro no meu quarto para ler todas as manhãs. O cara criou essa cena antes de 1909 (data da publicação) e, vejam vocês, isso acontece até hoje com muitas pessoas. Aliás, sempre aconteceu e sempre acontecerá. Mas cara, eu poderia roubar esse trecho e, colocando mais dois anos na diferença de idade entre Martin Eden e Ruth, poderia escrever como se fosse uma história minha! Caramboles, vejam vocês.
Pronto, acabou o texto e acabou a cerveja. Vou voltar ao livro.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O ovo assassino - versão serrana

Em uma semana em Bento Gonçalves, sigo tendo que dar mil explicações sobre a minha alergia a ovo. Lembram daquele texto, escrito há mais de ano, um dos primeiros desse blog, intitulado “O ovo assassino”? Estou seriamente pensando em imprimir umas trezentas cópias e sair distribuindo por aí. Primeiro, respondi todas as questões que ouço há 28 anos aos meus amigos, colegas e companheiros de casa, Agnelo e Araldo. Bom, trato de adiantar que não se trata de uma dupla sertaneja, mas sim de uma dupla de jornalistas porto-alegrense, igualmente importada para a Serra Gaúcha. Passada uma semana, agora eles estão começando a saber o que vai e o que não vai ovo. Disseram outro dia que sou um especialista em ovo.
Abro um parêntese porque nesse momento Independiente fez 1 a 0 no Barcelona na final do Mundial Interclubes. É tão comum vencer o Barcelona na final do Mundial... Daqui uns dias até a SER Santo Ângelo, o São Luiz de Ijuí e o Esportivo de Bento também vão fazer isso...
Mas, voltando ao ovo, bom, quem mais ta sofrendo com isso é o Agnelo, apelidado por nós de Aguinight, já que ele é o gourmet da casa e por enquanto tem se virado com pratos sem ovo. As respectivas namoradas deles também já se acostumaram, e não adianta eu dizer “não esquentem, podem comer coisas com ovo que eu faço um sanduíche para mim”. Todos aqui tem se demonstrado solidários com o meu triste destino alimentício, apesar das piadas e da desconfiança que eles tem de que minha alergia é psicológica e dos meus xingamentos relacionados a isso.
Outro que já decorou a minha alergia é o tio do Marmitex. O Marmitex é um restaurante que tem perto da rádio onde vendem prato pronto. Vêm arroz, feijão, bife, purê de batata, ovo frito, massa e maionese. Eu chego na porta e o tio já grita para o pessoal da cozinha:
Vai fazendo um daqueles que não vai nada!
E não adianta explicar que não é para por ovo, maionese e massa porque tenho alergia. Eles ficam me olhando como se dissessem “quanta frescura”. Enquanto eu não vomitar na mesa dos clientes isso vai continuar. Apesar disso, o tio é parceria, porque ás vezes coloca uma coxa de galinha ou dois bifes para compensar o ovo, a massa e a maionese.
Nos outros restaurantes onde comi aqui até agora, onde pedi prato feito, tive que dar a mesma explicação. Eu pergunto:
O que vai?
Vai isso, aquilo, mais não sei o quê, ovo, maionese e massa.
E eu digo:
Pode tirar o ovo, a maionese e a massa.
O garçom sempre arregala os olhos e diz:
Então tu vai comer o quê?
Porra, vou comer o resto: arroz, feijão, batata frita e carne uai. Pra que mais?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dudu de duas cabeças

Lembro-me de um livro, que deve estar na bagunça do meu quarto (que dessa vez bateu todos os recordes possíveis e imagináveis de desorganização), que se chama Jornalismo e Literatura – A sedução pela palavra. Para ser mais específico, a minha lembrança é em relação ao texto “Repórter de três cabeças”. Não tenho certeza se é esse o nome, e não me recordo do autor, mas se algum dia algum inquieto leitorinho lembrar, pode me cobrar esses detalhes, quando eu tiver um quarto organizado, com os livros todos fichados em uma estante, bem bonitinhos. Enfim, no texto, o repórter volta da rua para escrever a reportagem, e acaba escrevendo três textos com três pontos de vista completamente diferentes sobre o mesmo acontecimento. Tem um motivo específico para isso, mas não me recordo agora também, só me lembro que tem algo a ver com o chefe dele. É, realmente vale a pena outra hora eu procurar esse texto para vocês terem uma ideia melhor. Mas voltando ao assunto, lembrei desse texto, novamente pensando no comentário do Ababelado do penúltimo post. Sob um ponto de vista, posso ser um pequeno burguês mal resolvido. Sob outro, posso ser um Charles Bukowski sem talento. De qualquer forma, estou fodido. Vamos aos exemplos. Seguindo a ideia do Repórter de três cabeças, vou fazer uma versão de “Dudu de duas cabeças”, pois só vou escrever duas versões semi-ficcionais do meu dia.
Primeiro, a pequeno burguesa. Tentarei ser sucinto para não cansar o preguiçoso leitorinho pós-moderno:
“O relógio despertou às 9h. Acordei, liguei o rádio, que ganhei antecipadamente da minha mão de natal, e ouvi as notícias do horário para chegar na redação inteirado dos assuntos que estavam em debate no dia. Escovei os dentes, tomei um café e fui para o trabalho pensando em todas as minhas obrigações jornalísticas. Chegando lá, dei um 'bom dia' para todos, e sentei em meu computador. Desci para falar com o chefe e na volta passei as orientações para os repórteres. Fui para casa almoçar, e em seguida voltei para a rádio para produzir o noticiário que iria apresentar das cinco às sete da noite. Apesar da correria, consegui fazer tudo a tempo. Ocorreram alguns erros na parte técnica, pois tenho que fazer a mesa de áudio, produção e locução, todas essas funções ao mesmo tempo, mas é proveitoso, pois estou aprendendo muito com isso. Depois de sair do estúdio, fui para a rua fazer a enquete para o programa de amanhã de manhã. Cheguei em casa às nove, tomei um banho, liguei a TV na Globo News, e agora estou no notebok escrevendo esse belíssimo texto para vocês”. Ponto final.
Agora, vamos a versão a lá Bukowski.
“A porra do relógio despertou às nove da madrugada. Liguei a merda do rádio para fazer barulho e me sentir menos só nessa bosta de mundo, pois minha família, minha esposa, meus cachorros, todos me abandonaram. Olhei para a escova de dentes, mas apenas enxaguei a boca para tirar o bafo matinal de ressaca. Mijei. Enquanto mijava, deu vontade de cagar. Caguei. Fiquei olhando para uma aranha que andava por ali, e me excitei, afinal, faz tempo que não vejo uma, mas preferi deixar a bronha para à noite. Tomei um banho para espantar o sono e fiquei de pau duro com a água quente. Quase bati a bronha, mas não daria tempo. Cansado e de saco cheio como estava, ia demorar uns 15 minutos para gozar. Melhor deixar para de noite. Cheguei na rádio, murmurei um 'oi', bocejei e sentei-me na frente do computador de cabeça baixa torcendo para que o ponteiro do relógio voasse, mas aquela merda é muito lerda. Desci para falar com o chefe, mas nem lembro o que ele disse, já que estava pensando no filme pornô que assisti pela janela do vizinho na noite anterior. Fui voando em casa almoçar, engoli um macarrão sem ovo, e em seguida voltei para a porra do trabalho para fechar o noticiário que apresentei. Foi uma bosta, pois eu tinha que fazer a produção, a locução, a mesa de áudio e tudo. Só faltava limpar a bunda enquanto falava. Quando vão contratar mais gente? Depois de sair do estúdio, um colega meu ainda me pediu para fazer a enquete para ele. Fui lá e fiz, pois já estava ficando noite e a boca começava a secar. Na saída da rádio passei no mercadinho e comprei fiado duas latinhas de cerveja na conta. Fui chegar meus trocados na carteira, e vi três moedas de 10 centavos e uma de cinco. Cheguei em casa, liguei a TV preto e branco na RBS, tomei a cerveja, fui para o banheiro, bati a bronha, mijei para tirar o resto de porra que sempre fica, tomei outro banho, e agora pedi emprestado o computador do meu colega de casa para escrever essa porra toda para você”. Ponto final.
A terceira versão seria a verdadeira, mas acho que essas são mais divertidas. Quem gostou, gostou. Quem não gostou, põe um açúcar, dê uma mexida, que fica bom.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Despedida ababelada e saudades eterna

De tanto tentar matematizar o inimatematizável, ou, em termos acadêmicos, quantificar o inquantificável, estou começando a ficar com medo de me tornar um maldito positivista determinista conservador. Apesar de ter essa consciência, vou dividir esse post em três partes para falar sobre o jogo de despedida do Danrlei, o comentário do Ababelado sobre o último post desse blog, e a saudades que já sinto aqui do meu humilde apartamento e da vida que estava levando no Partenon, em Porto Alegre.
Como diria o sábio Topo Gigio (por onde andará aquele ratinho?), comecemos pelo começo.
Ontem fui na despedida do Danrlei no estádio Olímpico. Fiz um texto específico sobre isso para a minha coluna no Jornal das Missões, que posso postar outra hora, falando sobre a partida, o estádio lotado, o entusiasmo da torcida, o gol que consegui filmar do Jardel, no cruzamento do Paulo Nunes, etecétera e tal. No entanto, aqui vou contar duas historinhas rápidas e bizarras que ocorreram durante o jogo, mas que, juro, são 100% reais.
A primeira aconteceu com um amigo meu, de Santo Ângelo, que me encontrou lá nas cadeiras do Olímpico. O cara me pediu para não citar o nome dele aqui. Não sei porque as pessoas têm vergonha de verem seus nomes escritos nesse nobre espaço. Será que elas perderão o emprego? Ou a namorada? Ou serão perseguidas por mafiosos e serão torturadas até a morte por terem sido citadas por esse que vos escreve? Alguém aí pode responder essa dúvida que me assola? Por isso gostava tanto, e sinto muita falta dos falecidos Jimbo e Pipoca, e por isso gosto tanto do Jamelão e da Pretinha. Eles não reclamam se eu colocar a foto deles pelados aqui...
Mas voltando à história, esse meu amigo, lá pelas tantas, foi buscar um cachorro quente na copa do Olímpico. Passou pouco tempo e ele voltou, encurvado, querendo se enfiar embaixo das cadeiras. Atrás dele vinha um grupo de uns 20 torcedores, todos com cara de fome e frustração. Ele sentou-se, acanhado, e contou: quando estava lá, pegando o seu hot dog, uma mulher pediu para que ele alcançasse o kat-chup. Então, gentilmente, ele estendeu o braço, mas nesse movimento infeliz, acabou batendo em um copo de cerveja (sem álcool) que estava no balcão, e o líquido amarelo caiu todo dentro do penelão onde estava o molho do cachorro quente. A vendedora olhou para todos que estavam na fila e anunciou:
- Galera, acabou o cachorro quente...
E meu amigo tratou de sair dali de fininho, sem ser visto pelos torcedores famintos.
Já a segunda história bizarra aconteceu comigo mesmo. Acabado o jogo, desci para o campo, onde entrevistei o Danrlei e depois segui para o vestiário para entrevistar os demais jogadores. Tive a honra de entrevistar o Aílton, que fez aquele milagroso gol contra a Portuguesa em 1996, o Mauro Galvão, e outros, até que vi por ali o Ânderson Lima. Porra, esse mesmo amigo da história do cachorro-quente tinha me dito que ele estava jogando não sei onde... Eu acreditei. Depois que ele respondeu a pergunta referente a homenagem feita ao Danrlei, aquela coisa toda, eu emendei:
- Mas e aí, quais são os planos para 2010? Já tem algum clube em vista, algum acerto?
Ele respirou fundo e respondeu:
- Olha... eu parei de jogar já faz algum tempo e agora meus planos são outros...
Enfim, depois dessa, encerrei minha participação jornalística no evento e foi a minha vez de sair de fininho...
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O segundo assunto do post de hoje é o comentário do Ababelado. Na verdade, o texto dele em si, já é um post. Mas quero fazer algumas considerações sobre a consideração dele, que é outro bunda mole que não aceita ser identificado nesse espaço. Uma dia ainda vou publicar uma lista com o nome de todos os anônimos. Agora, vejam vocês o texto:
“Carai, Eduardo. Fico um tempo sem visitar este pardieiro digital e quando volto descubro que tu nem tá mais em Porto Alegre. Logo agora que eu tava pensando em dar um pulo aí nas minhas férias, pra ver a estréia do Grêmio no gauchão. E que papo é esse de trabalho, notebook e conta bancária? Cadê aquele Bukowski Missioneiro que escrevia por aqui? Que decepção! Acho que, em nome do velho safado, você devia pedir demissão agora. E terminar o namoro também. E começar a namorar uma ex-prostituta argentina chamada Marines Garcia, que gosta de ouvir tangos de Gardel em vinil, na vitrola que herdou do pai, morto na guerra das Malvinas. Isso é o mínimo que eu espero de você. E, honestamente, não quero me deparar com novas histórias da tua nova vidinha pequeno burguesa quando passar por aqui da próxima vez!!! E, por favor, entenda a ironia deste comentário e aceite meus sinceros votos de boa sorte. Abraço, cara”.
Um texto muito bem escrito.
Primeiro, se quer ver jogo do Grêmio no Gauchão, você vai poder ir para Bento e ver Esportivo e Grêmio que vão jogar lá, só não me recordo da data. Segundo, o notebook é da empresa, que me liberou para escrever a dissertação (e escrever nesse espaço é uma terapia entre trabalho e dissertação). Já a conta bancária, tive que criar para poder receber no fim do mês. Terceiro, agora sim você terá que manter o anonimato, porque minha noiva quer o seu coro e a sua cabeça em uma bandeja. Quarto, eu estou trabalhando 12 horas por dia, ao melhor estilo Revolução Industrial, para ganhar escassos mirréis, e não numa das maiores assessorias de imprensa do Brasil, se não a maior. E, finalmente, quinto: nunca comi uma francesa, muito menos namorarei ex-prostituta argentina. Porém, admito a possibilidade de comprar um vinil com tangos de Gardel, só pela curtição. Para encerrar, também não encare o meu comentário do seu comentário como ironia, é apenas um comentário sobre um comentário muito comédia e bem escrito. Ah, e vê se honre os seus culhões e assuma sua identidade em público!
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É estranho estar nesse apartamento, na qual passei um ano vindo aqui toda a semana e outro morando full-time, e pensar que essa é minha última vez aqui. Fico olhando para o orelhão do outro lado da rua, onde ia ligar para a minha noiva, fico olhando para o quarto bagunçado, para o rádio que o tio César me emprestou tocando, para a TV ligada na MTV, para a pilha de livros, para a cozinha suja e apertada com a louça me esperando para lavá-la, para o mercadinho da esquina onde todos os dias eu ia comprar pão, para a academia Extrema Força na Bento, onde ergui peso durante um semestre, para o Carrefour, onde assisti a única vitória do Grêmio fora de casa no Brasileirão 2009 enquanto minha irmã fazia o rancho do final de semana, enfim, fico olhando para a lancheria que vende xis sem ovo, para o lava-rápido da esquina onde buscava os galões de água (até hoje desconfio que eles enchem os galões com a água do próprio lava-rápido), olho para tudo isso e, putz, já estou com saudades. Sou um maldito saudosista. Sinto saudades das coisas antes mesmo que elas acabem. Quando estava na faculdade e morava no kit-net sozinho, pensava comigo mesmo: “Nossa, vou sentir saudades pra carajo disso aqui”. E de fato, sinto saudades daquele tempo, onde as parcerias se reuniam todos os dias, não faltavam risadas ecoando pelos corredores do prédio durante o dia e pelas ruas de Ijuí durante a madrugada. E no outro dia, todos se reuniam, de ressaca, e contavam as proezas das últimas horas. Mas a faculdade terminou, e assim que me formei conheci a minha noiva Cristiane. Sabia que aquela vida boa de namoro e estudo para a seleção do mestrado também iria acabar, e logo voltei a trabalhar em Ijuí, já sentindo saudades da vida que levava em Santo Ângelo. Depois, fui para Porto Alegre para o estágio de quatro meses na Gaúcha. E ao mesmo tempo em que sentia saudades de tudo o que tinha ficado, já sentia falta da Gaúcha quando saísse dali e fosse para outro lugar. Veio então o emprego no Jornal das Missões, e o processo se deu da mesma forma. E de lá vim para cá, onde passei 2009 no ritmo que descrevi durante o ano inteiro. Mestrado, procura por emprego, congressos, muitas amizades novas, outras visões de mundo, e saudades e encontros de poucos dias com a minha noiva, tudo ao mesmo tempo. E agora, estou saindo daqui para morar em Bento Gonçalves. Mais uma vez, enquanto ao mesmo tempo estou conhecendo grandes e inigualáveis figuras e aprendendo muitas coisas lá, já sinto saudades daqui. É, sou um maldito saudosista que não quer envelhecer e que está sempre tentando eliminar o tempo e o espaço. O sol brilha lá fora, mas um nó nebuloso invade a minha garganta... Também acho que é por isso que fiquei tão eufórico, ontem, vendo e entrevistando os jogadores daquele inesquecível time do Grêmio de 1995.
Em meio às saudades, que venha o futuro.
PS: Aproveitando o clima saudosista, coloco uma foto onde estou com meu irmão e minha irmã na nossa saudosa infância.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Yo tambien quiero ficar rico

Ainda estou tentando me adaptar ao notebook. Descobri que meus dedos são gordos. Nesse tecladinho minúsculo, volta e meia aperto dois botões ao mesmo tempo sem querer. Também não me acostumo a escrever deitado, e, sentado, fico tentando equilibrar esse tareco nas minhas coxas. Em cima da mesa é uma boa opção, vou tentar outra hora... Mas agora ele está carregando na tomada, e acho que o fio não alcança da mesa até a tomada da cozinha. Enfim, agora não vou parar tudo para me mudar para a cozinha. Melhor evitar a fadiga, como já diria o filósofo Jaiminho.
Além de tentar me adaptar ao note, estou fazendo de tudo para me acostumar ao frio da Serra gaúcha em pleno dezembro. Hoje é dia 8 e está frio aqui em Bento Gonçalves. Tenho ido trabalhar de moletom. Para minha sorte, trouxe um edredom, no entanto, ele é leve. Durmo de calça e meias. No sábado vou a Porto Alegre buscar o que ficou lá e vou trazer o acolchoado pesado. Havia encomendado um ventilador que já nem faço tanta questão de buscar lá na Colombo ($$). Acho que vai ficar bonito no chão da sala, ao lado da TV. E assim anda a vida. Hoje estamos aqui, amanhã estamos lá, ontem estávamos inhacolá, depois de amanhã vamos para a Sbornia, e segue o baile, como diziam os tradicionalistas das Missões...
Achei uma posição melhor. Sentei igual a índio e coloquei o notebook no colo. Melhor assim. Escorei as costas na parede. Agora estou bem acomodado. É bom descansar, ainda mais depois de uma dezena de horas de trabalho diário. Quando você está nesse ritmo, não consegue nem pensar direito. Chega em casa e só se deu conta do que poderia ter feito e não fez, no outro dia. Por exemplo, eu tenho que dar um jeito na minha dissertação. Passei três anos ansioso por esse momento. Dois para entrar no mestrado e outro cursando as disciplinas. No entanto, agora que estou a um passo de começar efetivamente a escrevê-la, minha vida toma um rumo inesperado. Voltei para a mesma situação que estava quando iniciei a faculdade: trabalhando em uma cidade estranha onde não conheço praticamente ninguém, 10 a 12 horas por dia e sem dinheiro. Durante o ano inteiro me dediquei integralmente a isso: produzir artigos, aulas, participar de eventos, escrever, ler pra caramba. Estava num ritmo ótimo. A participação no encontro da SBPJor em São Paulo foi excelente. No entanto... Deixa pra lá.
Tenho que ler. Mas meus olhos já estão pestanejando. Estou com saudades da minha noiva. Muitas. Faz quase 20 dias que não a vejo. Também estou com saudades da minha filhota emprestada Lalá, que hoje está de aniversário. Quase chorei ao falar com ela pelo telefone. Prometi que esse é e será o único aniversário que passarei longe dela. Queria juntar tudo. Queria ter as duas aqui, ou levar o trabalho pra lá, ou não precisar dormir para poder trabalhar e fazer o mestrado tranquilamente. Queria ter dinheiro na conta, e não ter dívidas. Hoje fui abrir uma conta para receber meu salário e descobri que estava com uma pendência com a Receita Federal.
Putaqueopariu – murmurei baixinho.
Como? - questionou o caixa.
Nada, nada. Mas, como assim Bial?
Você está com o CPF bloqueado por não ter declarado a isenção do IR.
Putaqueopariu.
Como?
Nada, nada...
Enfim, eu, que já estava dois dedos abaixo do cu de cachorro, financeiramente falando, passei a ficar um palmo abaixo do ânus canino. Fui até os correios e paguei uma maldita taxa de R$5,50. Pelo menos meu CPF voltará a funcionar e eu voltarei a existir em 48 horas. Tu vês. Fora isso, estou colocando tudo nos convênios da empresa. Acho que meu salário ficará negativo. Ainda bem que ganhei aquele concurso de redação do JM missioneiro. Vai me tirar parcialmente a corda do pescoço. Mas enfim, se eu tivesse dinheiro no banco, se não precisasse dormir, e o espaço e o tempo, que estão me separando momentaneamente das pessoas que amo, fossem eliminados, talvez eu estivesse mais animado. Ou não, vá saber. As pessoas nunca estão satisfeitas. Sempre falta algo. Sempre querem mais. Aliás, eliminar espaço e tempo já preocupava o economista Harold Innis nos anos 30 e depois preocupou o seu aluno, Marshal MacLuhan, do famoso “O meio é a mensagem”, nos anos 60. Os meios tentam vencer essas duas barreiras: espaço e tempo. Enfim, acho que já estou começando a viajar e esse texto está começando a ficar muito grande para o pesado e preguiçoso leitorinho tupiniquim ler. Vou parar de escrever aqui e dar uma lida no meu livro do Jack London que ganhei de presente da minha irmã na Feira do Livro de Porto Alegre. O jogar vídeo-game com a gurizada ali na sala. Eis a questão. Aliás, falando em irmã, final de semana vou levar uma sacola de roupa suja para lavar lá no meu ex-ap em Porto, já que no tanque daqui não tem aquela tábua para esfregar os trapos (como se chama aquela joça?). Um dia vou ser rico e vou comprar essa tábua. E também vou comer no Mc Donald´s. E também vou ao dentista. E também vou tomar cerveja Patrícia. Um brinde.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Sem saco para bolar um título... O texto é o texto e ponto.

Cara, ainda estou tentando acostumar a escrever no tecladinho minúsculo do notebook. Nesse momento estou milagrosamente deitado no sofá da sala do meu novo lar, em Bento Gonçalves. No entanto, ainda estou em fase de adaptação, portanto, não vou postar nenhuma foto nova. Na real, estou tão cansado, que não tenho nem condições de falar sobre meu novo emprego (desafio), a não ser que estou gostando bastante. Em poucos dias já aprendi muito e pretendo aprender mais. Aliás, aproveito esse humilde espaço para divulgar o portal do grupo RSCOM (http://www.leouve.com.br/). Estamos fazendo vários reajustes no portal e também nas próprias rádios do grupo, mas aí já é outro papo, e não vou conseguir falar de nada disso agora.
Mudando do saco pra mala, como diria minha bisavó, ganhei mais um prêmio. Não que eu ganhe muitos prêmios, mas vezemquando inscrevo alguma coisa e acabo ganhando, como foi o caso. Esse é um prêmio interessante ($). Trata-se do concurso de redação do Jornal das Missões de Santo Ângelo, realizado em parceria com a Academia Santo-angelense de Letras. Tinha que escrever um texto, se não me engano, de até 40 linhas, sobre a Coluna Prestes, dizendo se o movimento foi herói ou vilão. Devido ao bom prêmio oferecido aos primeiros colocados, houve um número interessante de inscritos (900, se não me engano), nas categorias livre e estudante. Acabei ficando em primeiro na categoria livre. Agora estou com um empecilho para receber o prêmio, pois não terei como ir a Santo Ângelo em dia de semana, portanto, precisarei de um representante confiável para realizar essa missão.
Bom, além de tudo isso, sobre as histórias de São Paulo, por enquanto vou me ater ao blog do meu amigo Maurício Dias, que me hospedou na casa de seus sogros (dos dele, não dos seus, malucos leitorinhos) no bairro Jaraguá. Ele contou algumas das nossas histórias no blog: http://turbilhaoideias.blogspot.com/
Vale a pena ler. Outra história maluca aconteceu em um jantar. Depois de um dia inteiro na USP e de três horsa de viagem até chegarmos em casa, estávamos jantando, bem tranquilos, e, conversando com o seu Élio, sogro do Maurício, quando tive mais ou menos o seguinte diálogo com ele:
- Meus pais trabalharam em vários lugares. - disse eu – Aliás, o nome do meu pai não tem como esquecer: Nabuco.
- Nabuco???
- Sim. Nabucodonosor Ritter.
- Que se casou com a Nara?
- Isso. Nara é a minha mãe...
Ele coloca as duas mãos na cabeça e conta para a mulher: meus pais haviam trabalhado com ele na Novo Hamburgo Seguros em Ijuí em 73, e ele tinha o cartão de casamento assinado pelo meus pais! Que loucura. Fui me hospedar em uma cidade de mais de quase 20 milhões de habitantes e vou parar na casa de pessoas que trabalharam com meus pais antes de eu nascer! Que mundo pequeno! Mas que coisa boa também, pois a hospedagem foi de primeira linha, não tenho nem palavras para dizer o quanto fui bem tratado lá. Só tenho que agradecer e mandar um super abraço para todos, principalmente para o seu Élio, que me levou até o último ponto do metrô (depois de pegarmos ônibus e trem) para ir para o aeroporto de Congonhas. Bom, e o congresso? O congresso também foi super bom. Queria escrever mais, mas minha mente está começando a falhar e o sono ta pegando. É estranho escrever deitado, espero não ter cometido muitos erros de português e de digitação, pois não estou com saco para revisar. Tenho trabalhado integralmente aqui em Bento e praticamente não sobrou tempo para escrever aqui para o blog, e a próxima semana também promete. Enfim, espero um dia ter tempo e dinheiro para escrever mais, pois geralmente quando temos tempo não temos dinheiro, e quando temos dinheiro não temos tempo... o que é melhor? Sinceramente, ainda não sei. Mas acho que o melhor mesmo é ter os dois: tempo e dinheiro. Se algum dia vou ter isso? Talvez aos 90 anos, ou, na pior das hipóteses, depois de morto...