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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Dudu de duas cabeças

Lembro-me de um livro, que deve estar na bagunça do meu quarto (que dessa vez bateu todos os recordes possíveis e imagináveis de desorganização), que se chama Jornalismo e Literatura – A sedução pela palavra. Para ser mais específico, a minha lembrança é em relação ao texto “Repórter de três cabeças”. Não tenho certeza se é esse o nome, e não me recordo do autor, mas se algum dia algum inquieto leitorinho lembrar, pode me cobrar esses detalhes, quando eu tiver um quarto organizado, com os livros todos fichados em uma estante, bem bonitinhos. Enfim, no texto, o repórter volta da rua para escrever a reportagem, e acaba escrevendo três textos com três pontos de vista completamente diferentes sobre o mesmo acontecimento. Tem um motivo específico para isso, mas não me recordo agora também, só me lembro que tem algo a ver com o chefe dele. É, realmente vale a pena outra hora eu procurar esse texto para vocês terem uma ideia melhor. Mas voltando ao assunto, lembrei desse texto, novamente pensando no comentário do Ababelado do penúltimo post. Sob um ponto de vista, posso ser um pequeno burguês mal resolvido. Sob outro, posso ser um Charles Bukowski sem talento. De qualquer forma, estou fodido. Vamos aos exemplos. Seguindo a ideia do Repórter de três cabeças, vou fazer uma versão de “Dudu de duas cabeças”, pois só vou escrever duas versões semi-ficcionais do meu dia.
Primeiro, a pequeno burguesa. Tentarei ser sucinto para não cansar o preguiçoso leitorinho pós-moderno:
“O relógio despertou às 9h. Acordei, liguei o rádio, que ganhei antecipadamente da minha mão de natal, e ouvi as notícias do horário para chegar na redação inteirado dos assuntos que estavam em debate no dia. Escovei os dentes, tomei um café e fui para o trabalho pensando em todas as minhas obrigações jornalísticas. Chegando lá, dei um 'bom dia' para todos, e sentei em meu computador. Desci para falar com o chefe e na volta passei as orientações para os repórteres. Fui para casa almoçar, e em seguida voltei para a rádio para produzir o noticiário que iria apresentar das cinco às sete da noite. Apesar da correria, consegui fazer tudo a tempo. Ocorreram alguns erros na parte técnica, pois tenho que fazer a mesa de áudio, produção e locução, todas essas funções ao mesmo tempo, mas é proveitoso, pois estou aprendendo muito com isso. Depois de sair do estúdio, fui para a rua fazer a enquete para o programa de amanhã de manhã. Cheguei em casa às nove, tomei um banho, liguei a TV na Globo News, e agora estou no notebok escrevendo esse belíssimo texto para vocês”. Ponto final.
Agora, vamos a versão a lá Bukowski.
“A porra do relógio despertou às nove da madrugada. Liguei a merda do rádio para fazer barulho e me sentir menos só nessa bosta de mundo, pois minha família, minha esposa, meus cachorros, todos me abandonaram. Olhei para a escova de dentes, mas apenas enxaguei a boca para tirar o bafo matinal de ressaca. Mijei. Enquanto mijava, deu vontade de cagar. Caguei. Fiquei olhando para uma aranha que andava por ali, e me excitei, afinal, faz tempo que não vejo uma, mas preferi deixar a bronha para à noite. Tomei um banho para espantar o sono e fiquei de pau duro com a água quente. Quase bati a bronha, mas não daria tempo. Cansado e de saco cheio como estava, ia demorar uns 15 minutos para gozar. Melhor deixar para de noite. Cheguei na rádio, murmurei um 'oi', bocejei e sentei-me na frente do computador de cabeça baixa torcendo para que o ponteiro do relógio voasse, mas aquela merda é muito lerda. Desci para falar com o chefe, mas nem lembro o que ele disse, já que estava pensando no filme pornô que assisti pela janela do vizinho na noite anterior. Fui voando em casa almoçar, engoli um macarrão sem ovo, e em seguida voltei para a porra do trabalho para fechar o noticiário que apresentei. Foi uma bosta, pois eu tinha que fazer a produção, a locução, a mesa de áudio e tudo. Só faltava limpar a bunda enquanto falava. Quando vão contratar mais gente? Depois de sair do estúdio, um colega meu ainda me pediu para fazer a enquete para ele. Fui lá e fiz, pois já estava ficando noite e a boca começava a secar. Na saída da rádio passei no mercadinho e comprei fiado duas latinhas de cerveja na conta. Fui chegar meus trocados na carteira, e vi três moedas de 10 centavos e uma de cinco. Cheguei em casa, liguei a TV preto e branco na RBS, tomei a cerveja, fui para o banheiro, bati a bronha, mijei para tirar o resto de porra que sempre fica, tomei outro banho, e agora pedi emprestado o computador do meu colega de casa para escrever essa porra toda para você”. Ponto final.
A terceira versão seria a verdadeira, mas acho que essas são mais divertidas. Quem gostou, gostou. Quem não gostou, põe um açúcar, dê uma mexida, que fica bom.

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