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domingo, 29 de junho de 2008

Histórias Macabras 7

Fechando uma semana, vai a última das histórias macabras:

O defunto levanta-se de sua cova, 45 anos depois de morto. Volta para casa, e encontra a sua neta trepando com um sujeito cabeludo. “Que porra é essa?” pergunta o morto. O casal para o ato, olha para o cadáver plantado na porta, e o cabeludo brocha na hora, enquanto a neta desmaia. O morto se aproxima e diz para o cabeludo: “suma da minha vista e corte esse cabelo”. O cabeludo também desmaia, e o morto resolve voltar para a sua tumba.

sábado, 28 de junho de 2008

Histórias Macabras 6

Luciano sai de casa para encher a cara. Atinge o seu objetivo, e ao sair da boate e se dirigir rumo a parada de ônibus próximo à Rodoviária, encontra uma prostituta com uma saia que mede quatro dedos. “Vamos lá em casa, ô gostosa?”. Pergunta Luciano com a língua enrolada, soltando pequenos cuspes que saltam na cara da prostituta da Rua Garibaldi. A prostituta lhe dá outra sugestão: “Me come ali, naquele canto”. Luciano atinge o seu mais louco orgasmo antes de contrair o HIV.

Histórias Macabras 5

A criatura, cansada de só se dar mal, encara o escritor e pergunta irritada: “qual é a sua?”. O escritor estranha por um momento, enquanto olha aquela criatura que fita os seus olhos, incrédula. Ele coça a orelha com o lápis, e depois crava-o no peito da criatura, e resmunga: “vá para o inferno”.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Histórias Macabras 4

Era uma segunda-feira de manhã, quando João e Maria, que eram vizinhos e melhores amigos, saíram rumo ao bosque de mãos dadas e cantando a música dos Smurfs “lá, lá, lá, lá – lá, lá, lá, lá, lááááá!”. João chegou perto de um poço, que havia perto da casa do caçador, mas deixou cair o seu sanduíche lá dentro. Maria disse: “pode deixar que eu pego” e se atirou no poço. Na segunda-feira de noite os pais de João o deixaram na casa da avó para irem no velório de Maria.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Histórias Macabras 3

A família Ribeiro era uma família feliz. Todos os dias levantavam, tomavam café juntos, o Sr. Ribeiro ia trabalhar, a Sra. Ribeiro cuidava da casa e preparava o almoço enquanto os Ribeirinhos iam para a escola. Certo dia, porém, o Sr. Ribeiro não voltou para casa. Todos ficaram preocupados, porém um dos Ribeirinhos o encontrou bêbado na sarjeta. A Sra. Ribeiro expulsou o Sr. Ribeiro de casa, e o Ribeirinho Jr. mandou o seguinte bilhete ao pai: “O Sr. é a vergonha da nossa família. Saía da cidade o mais breve possível para o bem de todos”.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Histórias Macabras 2

Essa foi produzida especialmente para o Blog do Arion: http://www.espacodiverso.blogspot.com/, mas reproduzo aqui:

Charles foi deitar completamente bêbado, às 4 da madrugada, depois de encher a cara com os amigos em um bar. Percebeu que havia alguém na sua cama. Era Ela. Fitou-a bem nos olhos. Tirou o capuz preto de sua cabeça, passou a mão pelos ossos de sua face, e lascou-lhe um beijo. Apalpou longamente todo aquele esqueleto, enfiou os dedos em todos os buracos possíveis, e assim ele fez o que todos sonham em fazer no dia H: fodeu com a morte e hoje está bem vivo.

domingo, 22 de junho de 2008

Histórias Macabras 1

Eliseu era um bom filho, um bom namorado, um bom pai, um bom dono do cachorro Antunes. Era uma pessoa feliz, de bem com a vida, alegre, satisfeita. Mantinha um namoro feliz, uma amante feliz, os pais felizes, outra amante feliz, o cachorro Antunes feliz, uma terceira amante feliz e os amigos felizes. Até que um dia a sua namorada descobriu suas travessuras amorosas, e Antunes mordeu-lhe os testículos, os pais faleceram, e meio ano depois, Eliseu foi preso por atrasar a pensão.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Não mexe com quem está quieto!

Joelson tinha alma de poeta. Era alto, media quase dois metros, e apesar de estar dentro do peso, parecia que os seus músculos todos estavam no lugar errado. Tinha a panturrilha grossa, mas as coxas eram finas. Tinha o antebraço musculoso, porém, o bíceps era igual ao do Popeye quando ele não come espinafre. Desde pequeno, sempre foi fechado, não gostava muito de brincar com as outras crianças, mas também não brigava com ninguém. Quando lhe incomodavam, simplesmente batia, como um pedreiro martela um pedaço de pedra em uma obra de construção. Fazia tudo automaticamente, era “pow, pum!” e o cara chato caía no chão, e saía chorando pedindo pela mãe ou pela professora. Ele apenas observava, sem sentir nada, nem ódio, nem raiva, nem pena, nem alegria. Apenas via o franguinho fugindo e rogando-lhe todas as pragas cabíveis. Devido a esse respeito, em pouco tempo, ninguém lhe importunava, mas também eram pouquíssimos os que quisessem algum tipo de amizade com Joelson.
Ele também não se importava com isso. Achava mais graça em observar o mundo. Em olhar o que está acontecendo ao seu redor, sem interferir no destino das criaturas. Para ele, um circo se exibia todos os dias diante de seus olhos.
Na adolescência, passou a ler, e não demorou muito começou a escrever também. Iniciou escrevendo sobre as estrelas, sobre as nuvens, sobre o sol, sobre as paisagens. Depois passou por uma fase mais trash, quando começou a abordar temas macabros, como violação de túmulos, serial killers, pedófilos, criança que matou o amiguinho, essas coisas. Mas isso logo o chateou também. Foi então que começou a escrever apenas o que via. Analisava as criaturas em um tom crítico e cínico. Geralmente comparava cada ser humano com algum objeto ou animal, dividindo o corpo da criatura em diversas faces.

Começou a cursar filosofia, e logo no primeiro semestre aconteceu o fato que me levou a escrever essa história. Eis que um dia Joelson estava sentado na mesa de um bar, no centro de Porto Alegre, observando as pessoas como era de costume. Viu um casal. O rapaz era branco, tinha a barba por fazer, e não era muito alto, media cerca de um metro e 70 centímetros. Pelo seu físico certamente era daqueles que passavam horas em uma academia. Começou a fazer as comparações mentais. Com o que esse sujeito de dentes amarelados se parece? Comparou-o com o Zé da Gotinha, aquele da campanha contra a paralisia infantil. Riu por um minuto, enquanto imaginava ir lá e chama-lo de Zé da Gota. E os olhos? Parecem dois buracos negros andando em direção alguma. Provavelmente deve ter se chapado no dia anterior. O rosto de presidiário, com a barba por fazer, e aquela touca vulgar, lhe dão um ar de um buldogue mal-tratado. Os braços, porém, fazem lembrar o Mike Tyson no auge da carreira. Um brutos, pensou. Um brutos.
Passou a observar a moça que o acompanhava. Grudou os olhos nela e ficou pensando, observando e comparando. Também era baixa, um metro e 63, calculou. Deve estar um pouco acima do peso. 65 quilos, talvez. Tem um ar de porquinha.
O cabelo louro curto, os olhos arregalados e pirados fez com que ele imaginasse que ela fosse uma leitoa prestes a ser carneada. Ficou imaginando o Zé da Gotinha erguendo-a pelas quatro patas, amarrando, e passando a faca naquela barriga redonda enquanto a observa sangrar.
As banhas saltavam por aquela camiseta vermelha vulgar apertada. Provavelmente eles nasceram um para o outro, já que ela também tem os dentes amarelados. Por que as pessoas pararam de escovar os dentes? Lembrou de certa vez que um professor de história disse que a gente vive num paraíso, que o brabo mesmo era viver na época em que não havia anestesia para arrancar um dente. Sentiu automaticamente uma leve dor em um dos dentes da parte superior esquerda de sua boca, e passou a mão pela sua face, tateando a zona doída, antes de tomar mais um longo gole de cerveja.
Fazia tudo isso sem tirar os olhos da porquinha. E enquanto a observava, nem viu o Zé da Gotinha levantar-se da cadeira. Quando se deu por conta, o Zé estava na sua frente, tremendo e suando. Ele deu um soco na mesa de Joelson e vociferou:
- Quer olhar para minha mulher, o filha da puta?
Joelson não teve nem tempo de pensar antes de ser atingido por um golpe violento justamente no lugar onde a dor de dente imaginária estava latejando. Ele caiu para trás, e agora a dor era real. Como o Zé da Gotinha partiu para cima de Joelson, ele teve que esquecer toda a observação que estava fazendo e voltou para os tempos de infância. Levantou-se e desferiu cinco sucos rapidamente no Mike Tyson, que caiu no chão com a boca ensangüentada. Ficou observando aquele brutamontes nocauteado, enquanto a mulher com jeito de porquinha uivava como se estivesse mesmo sendo carneada. Caminhou tranqüilamente até o caixa, e quando pegou a carteira para pagar a conta foi atingido de novo pelo Brutos, que já havia se recuperado. O adversário agarrou-se ao pescoço de Joelson ameaçando cortar o seu pescoço com uma faquinha caseira. Com muito esforço, Joelson conseguiu segurar o braço do Zé, e ao desarmar o inimigo lhe desferiu uma facada, sem pensar, apenas para acalmá-lo. Dessa vez ficou sem ação. Apenas observou aquele corpo que estava ali, diante de sua vista, com os olhos vidrados, como um porco que foi carneado e que agora está pronto para ter a sua pele toda retirada.
Não fugiu, nem consolou a mais nova viúva porto-alegrense. O dono do bar também estava atônito. Foi então que um policial colocou os braços nas suas costas e o algemou. Dirigiu-se para o camburão sem protesto. Hoje, no Presídio Central de Porto Alegre, ele continua sendo o mesmo cara sério dos tempos de colégio. Ninguém é seu amigo, mas também ninguém ousa perturbar-lhe o sossego. O Zé da Gotinha que o diga.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Feliz dia dos Namorados!


Bom, depois de ser chamado de Paulo Coelho por dois nobres leitorinhos tupiniquins, após o último texto publicado, fiquei pensando nas comparações que já recebi. E, se for somar tudo que já se comparou de escritores famosos com o que eu escrevo aqui, levando em conta a relação dos resultados positivos de cada um e descartando os negativos (olha a auto-ajuda de novo!), e eu obtiver 10% dos mesmos resultados (um pouco de Lichter Kiyosaki) me dou por satisfeito. O motivo? Já disseram que pareço o Erico Verissimo em início de carreira, e nesse caso se eu conseguir 1% da importância que ele tem para a literatura nacional, tudo que eu fizer já terá valido a pena. Também já disseram que, naquele texto logo nas primeiras colunas em que tentei reencarnar o Bukowski, eu consegui encarnar o espírito do velho safado, e se eu conseguir 10% da fama mundial que ele tem, também já poderei dar por justificada a minha passagem por esse nobre planeta. E, depois da comparação com Paulo Coelho, eu digo que, nesse caso, se eu tiver 19% da renda que ele obtém com a venda de livros e outros recursos obtidos com o seu jogo de marketing (e nesse caso só me interessa a renda mesmo) já poderei casar-me com toda a tranqüilidade do mundo, e ainda vai sobrar grana para viajar pelo mundo em 80 dias.

Mas, independente de qualquer resultado literário, quero aproveitar essa coluna para dizer que não estou muito preocupado com todas essas possibilidades nesse momento. Pelo menos não hoje, dia 12 de junho de 2008. Acontece que, nesse dia, só tenho motivos para comemorar! Primeiro porque é Dia dos Namorados, e eu estou com a mulher que eu sempre desejei, que eu sempre sonhei, e que, como diz o Paralamas, é muito mais do que eu esperava. Segundo, porque hoje, dia 12, estamos completando exatamente um ano e 10 meses de namoro. E no último dia 2 de junho, comemoramos um ano de noivado! E a cada uma dessas datas, e todas as outras que eu a tenho ao meu lado, gosto de comemorar e de lembrar de todos os momentos maravilhosos que já tivemos lado a lado. A única coisa que posso dizer, é que me sinto feliz cada vez que a vejo, cada vez que a faço sorrir, cada vez que ela sorri sem eu a fazer sorrir, cada vez que a beijo, enfim, a cada momento em que estou com ela ou penso nela. Por isso, quero dizer aqui, diante de todos os nobres leitorinhos desse blog-coluna carioca e gaúcho, que amo muito a minha namorada e noiva Cristiane Aguiar, e que estou muito feliz em passar o segundo dia dos namorados consecutivo ao seu lado. E desejo do fundo do meu coração, por tudo que eu sempre sonhei, que a gente tenha muitos e muitos dias dos namorados para comemorarmos juntos. O meu amor por ela é gigantesco, e tenho certeza que só ela sabe realmente o que eu sinto e o que se passa no meu coração. Afinal, ela é a única dona dessa parte tão pulsante, e que dá força para fazer tudo, para sonhar, para correr atrás, para ir em frente, para fazer planos para o futuro e, principalmente, para amar com toda a força e desejo do mundo!
Encerro essa coluna dizendo que me considero o homem mais feliz do mundo por ter ao meu lado a mulher que eu amo, e que tem uma filha maravilhosa, que faz com que eu me torne um pai de coração, e um pai muito feliz.
Ah, antes de encerrar, lembrei de uma cena que aconteceu ontem à tarde. Eu cheguei na casa da Cris, e a Laurinha, minha filha de coração, que tem sete anos, me chamou num canto e cochichou: “Dudu, vem aqui” – olhou para os dois lados para ter a certeza de que ninguém estava ouvindo, e completou “o que você vai dar de presente para a mamãe?”. Esperta, a garotinha. Já está aprendendo. Eu apenas ri e disse que não iria falar porque tenho certeza que ela vai querer usar o presente da mamãe, só que as duas só vão ficar sabendo o que é esse presente no dia e na hora certa! Isso aí Lalá, já vai aprendendo mais. Surpresa é surpresa. E você, nobre leitorinho, não me venha perguntar o que era, porque eu também não vou dizer!
Agora sim, para terminar, desejo a todos os namorados um Feliz dia dos Namorados, e que todos possam ser felizes como eu sou com a minha noiva, Cristiane Aguiar Ritter, nessa data tão especial!

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A chave da felicidade! Adelaide, minha dama paraguaia!


Depois de ler centenas de livros sobre os mais variados temas, de conhecer milhares de pessoas através do jornalismo, com entrevistas, conversas, ouvir e fazer mais uma penca de entrevistas através do rádio, de ter conhecido milhares de pessoas durante anos no colégio, alguns na faculdade, muitas viagens, muitas amizades de uma noite só e de uma vida inteira, cheguei a conclusão que finalmente sei como é possível ser feliz! Na verdade, trata-se de uma dicotomia entre a teoria do escritor americano Willian Somerset Maugham, que não acredita muito no “bicho homem”, e a letra do Renato Russo: “é preciso amar todas as pessoas como se não houvesse amanhã”.
Pois é justamente isso! Para você ser feliz, você não pode esperar nada de ninguém, porque todas as pessoas a quem você depositar o mínimo de confiança, ou pior ainda, se essa pessoa te prometer alguma coisa, qualquer coisa que seja, acredite: você vai sofrer, e, conseqüentemente não será feliz. Nã-nã-ni-nã-nã! A sua vida, muito pelo contrário, se tornará um inferno! Portanto, não desconsidere tanto a teoria de Maugham, e não confie muito em um ser humano. Porém, você desconsiderar totalmente a humanidade e pensar que todos, absolutamente todos, inclusive você, nobre leitorinho tupiniquim, são seres inconfiáveis e que não valem a pena receber a o mínimo de atenção, também não resolve. Você precisa de amor, nobre leitorinho. Amor! Mas como amar pessoas a quem você não pode confiar? Que te falam, te juram que farão as coisas de certa forma, e depois fazem tudo ao contrário. E pior, que ainda te cobram que tenha atitudes coerentes? Hã, hã, hã?
Simples, não espere nada delas. Não espere inteligência, não espere dedicação, não espere atenção (se ela não te der, mande catar coquinho e converse com o primeiro louco que aparecer na esquina), enfim, não espere nada! Apenas ame. Mas ame, principalmente, a você mesmo! Viva a vida! Saía, conheça pessoas novas, dance, beba, dê muita risada, abrace, beije, trepe, saia pulando pela rua numa quarta-feira de tarde gritando “uhuuuuul”, enfim, surte!
Cante “piuí, piuí, piuí abacaxi, chove, chove, chove... chove por aí!” Siga o trem da alegria pô! Faça as outras pessoas rirem, e quando elas te chatearem, não se chateie, dê muita risada. A vida é muito curta para se estressar com qualquer pessoa. Mas também não estou dizendo para ser um banana! Seja esperto! Mas seja esperto sem estresse. Enfim, seja uma criança e cante uni-duni-duni-tê, ô-ôô salameminguê, sorvete colorê!
Comecei a pensar nisso por vários motivos, agora a pouco, tomando suco de uva de saquinho e assistindo a Hebe Camargo (programão!). Pois é, vendo isso tudo, comecei a pensar na vida, já que fazer isso é como estar cagando, e é na privada que a gente têm as melhores reflexões acerca de temas filosóficos e psicológicos. Bom, primeiro, pensei em uma situação que aconteceu recentemente em que fiquei muito decepcionado com uma pessoa na qual eu tinha uma admiração incrível, mas que, simplesmente, tentei entender a atitude dessa pessoa. Depois, lembrei, obviamente, do Aranha. Ê saudades do velho Aranha! Se eu lhe contasse o que aconteceu, ele ergueria o copo, soltaria uma de suas sonoras e incentivantes gargalhadas, e diria: “vamos beber e vamos celebrar!”. Eu perguntaria “o quê, se estou puto da vida”, e ele diria “não sei, mas vamos celebrar para sermos felizes!”. Um brinde a felicidade!
Depois, lembrei do caso de um colega meu, que quebrou a perna e quase teve que fazer uma cirurgia porque se descontrolou e deu um chute numa porta. “Nesse dia, eu cheguei a entender o que se passa na cabeça de alguém que, num momento de descontrole, mata outra pessoa, e depois que a vê morta, entra em pânico. Há coisas que acontecem onde o ser humano se mostra tão podre, tão sem moral, que você esquece tudo o que já viu até então e se deixa tomar por essa raiva momentânea. Eu nunca tinha sentido isso na vida”. Bom, eu não tive coragem de perguntar ao meu amigo, que já deve estar na casa dos 50, o que foi de tão grave que aconteceu, mas para tentar amenizar um pouco a cara de inconformidade que estava estampada em seu rosto, eu tentei contar uma história minha, que não sei se ajudou muito: “bem, eu uma vez passei por uma situação parecida. Tinha uns 15 anos e fiquei tão fulo, que dei um soco em uma porta de vidro de um armário e cortei o pulso. O médico disse que por pouco eu não perdi o movimento da mão direita”. Disse isso e mostrei a minha cicatriz no pulso direito. Ele ficou me olhando, balançando a cabeça positivamente, como se dissesse “a paciência de todo o ser humano tem um limite”. Mas, depois de refletir sobre tudo isso, cheguei a conclusão de que não adianta você se descontrolar, brigar, chorar, gritar, berrar! Conte até mil, pense em todas as circunstâncias, respire fundo, e siga em frente! Sorria! Olhe para o horizonte! A vida está aí, se exibindo diante de seus olhos!
Se você não é acostumado a ter belas paisagens à sua frente, como eu, que não moro em uma praia, e que sempre digo que a única paisagem que eu vejo na minha cidade é a minha namorada, que graças ao bom Diós, é minha, pense no Erico Verissimo (daqui a pouco vão dizer que estou enchendo o saco com o Verissimo, mas, pô, o cara escreveu muito, no tempo da máquina de escrever, e textos bons!). Estava lendo o livro “Um certo Henrique Bertaso”, um livro biográfico que ele escreveu em homenagem ao ex-editor da Revista e Editora Globo, na qual ele conta que escreveu o primeiro volume do Tempo e o Vento, simplesmente uma das obras mais clássicas e boas da história da literatura brasileira, da seguinte forma (vou colocar uma citação, porque as palavras dele, como era de se esperar, já dizem tudo):
“Escrevi o primeiro volume de O Tempo e o Vento no meu gabinete da Editora, com uma única janela sem paisagem que dava para os fundos do tradicional ‘restaurante da Dona Maria’, cuja cozinha despejava todos os seus cheiros, tanto os bons como os maus, naquele eubículo onde um homem procurava criar o seu mundo de ‘faz de conta’”. Antes de seguir, só um comentário: na época dele era o restaurante da Dona Maria, hoje são “as machorra da Riachuelo” – não que sejam no mesmo lugar, só uma comparação mental do momento.
Por fim, é justamente isso que se precisa para ser feliz! Usar a imaginação, pô! Algumas coisas fundamentais para uma vida tesuda: ter paciência, amar as pessoas (algumas com tesão), ter consciência de que grande parte não tem a mínima idéia do que estão fazendo nesse mundo e que, por conseqüência, são gananciosas, mentirosas e muitas vezes podres, mas que ao mesmo tempo são interessantes, são bonitas, são envolventes, são espetáculos que não estão escritos em livro nenhum e não estão representados em nenhuma tela de cinema. E tenha consciência de que o seu lado triste, fútil, amargo, nostálgico, saudoso, reinento, depressivo, faz parte do processo construtivo da felicidade (essa foi bonita, heim? Momento apoteótico). Um brinde a felicidade!
Ah, e novamente usei a minha irmã para ilustrar como uma pessoa pode expressar um momento de pura alegria. É assim que ela fica todas as quintas-feiras, quando eu vou posar na sua mansão para as aulas do mestrado. E abaixo, segue a foto de outra pessoa muito feliz, e que não foi o inventor da teoria da felicidade, mas ficou muito famoso!

sábado, 7 de junho de 2008

O Barbeiro


PERSONAGENS:
MÃO
DEDOS
BOCA
CACHORRO 1
CACHORRO 2
BARBEIRO
CLIENTE
CABELO


Cenário: Uma barbearia, por volta das 14h59 de uma segunda-feira de alguma cidade européia do século XVI.

CLIENTE – Boa tarde, Barbeiro!
BARBEIRO – Olá! Sente-se nobre cliente, que ei de cortar a sua vasta cabeleira!
CLIENTE – Ora, será uma grande honra da minha parte, ter a minha vasta cabeleira cortada pelas mãos do barbeiro mais conhecido do Império!
BARBEIRO – Pois não seja tão elogioso, nobre amigo!

Cliente senta na cadeira. Barbeiro coloca um pano para não caírem os cabelos na roupa do Cliente e pega a tesoura.

MÃO – Sobressaltem vocês, ó dedos! Sobressaltem em nome do Rei!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CHACHORRO UM – Au, au, au, au!
BOCA – Fiquem quietos! Fiquem Quietos!
MÃO – Sobressaltem! Sobressaltem! Agora, vamos, vocês todos! Sobressaltem em nome de Vossa Excelência Altíssima!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CABELO – O quê estão fazendo? Parem com isso! Parem com isso agora! Eu não acredito numa coisa dessas! Cadê os meus irmãos? Quem é o mau caráter que teve o despeito de levarem-lôs? Quem? Quem? Quem?
BARBEIRO – E que belo dia hoje, não?
CLIENTE – Um belo dia, um belo dia...
BARBEIRO – Um dia realmente belo, não?
CLIENTE – Realmente, realmente...
BARBEIRO – O que você acha que vai acontecer com o priosioneiro?
CLIENTE – Será degolado, sem dúvidas.
CACHORRO DOIS – Caim, caim, caim, caim...
BARBEIRO – Pois eu preferia o enforcamento.
CLIENTE – Talvez. Mas sem dúvidas, seja o que for, será um espetáculo admirável.
BARBEIRO – Admirável, admirável...
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
MÃO – Sobressaltem todos vocês, antes que seja tarde! Vamos, ouçam-me! Eu falo em nome do reverendíssimo! Não ousem me desobedecer!
CABELO – Porque vocês não os deixam em paz? Parem com isso! Pelo amor de Deus! Parem! Parem!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, eiiiiii!
CACHORRO UM – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
BOCA – Calem-se todos vocês! Querem me deixar louca!! Parem imediatamente!
MÃO – Sobressaltem!
CLIENTE – O crime que ele cometeu, sem dúvidas, foi muito grave!
BARBEIRO – Obviamente que sim. Gravíssimo!
CLIENTE – Não é todo o dia que acontece um crime desses na vila...
BARBEIRO – Eu não lembro de nada parecido...
CLIENTE – Vou querer chegar cedo para pegar o primeiro lugar...
BARBEIRO – Terá que ir cedo mesmo. Mas mesmo assim, o máximo que vai conseguir é a segunda fila. A primeira é só para a nobreza.
CLIENTE – Alto lá, nobre Barbeiro! Com todo o respeito, sabes quem sois eu?
BARBEIRO – Obviamente que sim! Você é o jardineiro do príncipe Johnson!
MÃOS – Sobressaltem o rei! Sobressaltem o rei! Ele és tudo na vidinha de vocês, pobres infelizes!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CLIENTE – Isso é só o que você sabe... Mas é melhor que não saibas mais do que isso...
BARBEIRO – Bom, na verdade, andam dizendo por ai algumas histórias, na qual não ouso mencionar, a respeito de vossa senhoria.
CLIENTE – Alto lá! Alto lá! Que histórias são essas, cavalheiro da Triste Tesoura?
CACHORRO DOIS – Grrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO UM – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
OS DOIS JUNTOS – GRRRRRRRRRR! AUAUAUA!
CACHORRO DOIS – Cain, cain, cain...
CACHORRO UM (COORENDO ATRÁS DO DOIS) – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Fiquem quietos, cachorros nefastos!
BARBEIRO – Cavalheiro das Três Flores, só falo se você admitir que essa história não sou eu quem contei, mas sim, o povo!
CLIENTE – E o que é o povo?
BARBEIRO – Um amontoado de gente que se esquece do que se passou ontem, com a mesma velocidade do mijo de vossa excelência.
CLIENTE – Alto lá! Reiá! Reiá! Eu pensava que estava em um estabelecimento de alto nível!
BARBEIRO – Pois está! Certamente está! Do mais alto nível! Tanto é, que outro dia, o próprio príncipe, em carne e osso esteve nesse nobre recinto e nessa nobre cadeira, onde o seu traseiro encontra-se recostado nesse momento.
CLIENTE – Se isso que dizes for da mais pura verdade, então que toda a vila considere esse recinto como o da mais alta qualidade e credibilidade.
BARBEIRO – Pois assim é!
MÃO – O mundo inteiro deve sobressaltar-se! O mundo todo! Agora!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei!
CLIENTE – Mas que histórias andam contando a meu respeito, nobre barbeiro?
BARBEIRO – Que você tem um caso com alguém do palacete.
CLIENTE – Rará! Pois essa é muito boa!
CACHORRO 2 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.
CACHORRO 1 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO 2 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
OS DOIS – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!argh, aught! Grrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CACHORRO 1 (CORRENDO ATRÁS) – Grrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Calem-se! Pela última vez, calem-se nigromantes, mentecaptos!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CLIENTE – Eu não posso ter um caso por dois motivos: primeiro, porque sou casado, e segundo, porque respeito muito a indonielidade da nobre princesa.
BARBEIRO (COMEÇANDO A FAZER A BARBA DO CLIENTE, DEPOIS DE TER CORTADO A SUA CABELEIRA) – Mas acontece que... que dizem que seu caso não é com a princesa....
CLIENTE – Mas como? Se lá só vivem o príncipe e a princesa?
MÃOS – Sobressaltem!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei, ei!!!!!!!!!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CACHORRO 1 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Fiquem quietos! Fiquem quietos!!!!!
CABELO EM PRANTOS – Cadê eles? Cadê??????????????

Nesse instante o Barbeiro passa a navalha pelo pescoço do cliente, que fica com os olhos esbugalhados e não chega a ouvir o Barbeiro murmurar para a mão:
- Maldito, maldito!

MÃO – Sobressaltem! Agora! Agora! Sobressaltem!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Entrevista exclusiva do Rebate!


Depois de chegar às cinco da madrugada em Santo Ângelo, após enfrentar uma viagem com o estômago embrulhado por ter tomado uma latinha de Sol na Rodoviária de Porto Alegre, e agüentar um celular que vinha tocando de meia em meia hora sem o seu proprietário ter o mínimo de desconfiometro para atendê-lo ou ao menos colocá-lo no silencioso ou no vibra, e de ter trabalhado o dia inteiro e ter iniciado a leitura de Fantoches na minha mesopotânica missão mestradológica, aqui estou eu, sentado na frente do computador, ouvindo Beethoven e tomando uma latinha de Skol. Pois é, quando a pessoa que a gente ama está viajando, não resta muito o que fazer numa sexta-feira de noite...
Mas enfim, para a coluna de hoje eu queria algo impactante, que chamasse a atenção da massa (aliás, Paulo Coelho e Jô que o digam, mas o mercado e a mídia são tudo!). Algo que entrasse para a história, algo que você, nobre leitorinho, tivesse interesse de ler da primeira à última linha! Cheguei a pensar em uma entrevista com o Lula, com o Mano Menezes, com o Celso Roth, com a Dilma, com a Xuxa, mas nenhum desses está ao meu alcance, e se estivessem, só aceitariam falar se não fossem criticados, e certamente gostariam de saber antes o que eu iria perguntar. Mas como tudo na vida é feito por relações políticas, familiares e círculos de amizades (tenho certeza que todos os leitorinhos têm histórias disso), então vamos escancarar essa porra, e resolvi entrevistar e promover a minha nobre irmãzinha! Pois é, minha nobre irmãzinha se chama Carolina Ritter e está cursando o mestrado em Serviço Social na PUCRS. Mas apesar disso, ela é uma criatura um tanto seqüelada, e admito que tenho alguma parcela de culpa nisso. Aliás, apesar de reinar todas as quintas-feiras quando eu a acordo às 5h30 da manhã quando chego da rodoviária, ela se acorda para abrir o portão para mim de pijaminha e com umas pantufas de vaquinhas, que outra vez ela queria que um amigo nosso trouxesse de ônibus, mas esse amigo maluco falou uma de suas frases preferidas: “é muito sem noção essa Carol”.
Então, deixarei que ela fale por ela mesma. Ai está a minha irmãzinha Carol Ritter. Para meu irmão e eu, simplesmente a Lina. E para as amigas seqüeladas como a Camila, simplesmente a Piter. Tan tan tan tan! Tan tan tan tan. Ei-la:

O REBATE:
Nós temos informações de que você, como 99% das mulheres, é uma pessoa não muito calma, o que tem a dizer sobre isso?
Carol - Diz pro pai pedir pro Lula o valor do meu celular! To furiosa! Furiosa!!!!
O REBATE (agora já assumindo uma posição menos jornalística e mais psicológica, e menos de repórter e mais de irmão querido):Calmaaaa! Calmaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!! Fala que eu te escuto: conta a tua história. Conta a historia do Lulinha.
Carol – É o seguinte: recebi um e-mail do CNPQ no mês passado dizendo que as bolsas iam subir nesse mês.
Sim, saiu na Zero Hora.
Carol – Mas recebi a mesma coisa! Não aumentou ainda! Que ódioooooooooooo!
Calma, calma. Vamos mudar de rumo a entrevista. Porque tu és tão rebelde?
Carol – Porque eu tenho um irmão mala.
E porque tu és tão radical?(Como a entrevistada demora muito para responder as perguntas, que estão sendo feitas através de um moderno sistema interativo tecnolócico, o repórter acaba perdendo a paciência):
Responde guria! Tu estas no meio duma entrevista, carajo!
- Como ela insiste em demorar, o repórter se irrita ainda mais:
Vamo tchê! É entrevista pro blog! Está todo mundo lendo...

Carol – Está bem.
Não me Faça passar vergonha.
Carol – Eu sou radical (visivelmente alterada) porque... Viva la revolución!
Eis um bom motivo... E porque você é tão inconformada com o mundo?
Carol – Porque está tudo errado! Maldito Sistema. O que mais? Estou saindo...
O que você acha que está errado no sistema? E como assim “estou saindo!?”! Como vai sair no meio de uma entrevista? Perdeu a noção?
Carol – Tudo! A exploração das pessoas pelo capital.
Ta pior do que a Dercy Gonçalves. E porque você quis fazer serviço social?
Carol – Porque não me conformo com o que está aí.
E como você acha que vai mudar alguma coisa, se você só pensa em dinheiro e em roupas novas?
Carol - Trabalhando como assistente social posso mudar o cotidiano. Não, eu penso no meu trabalho (perdendo a paciência). Não sei porque estou te respodendo... (a velha mania que os entrevistados tem de achar que estão fazendo um favor em atender os jornalistas...) Ingrato!
E quem é o preferido do pai de da mãe?
Carol – Tu. Malão.
E quem é o teu preferido?
Carol – O Jimbo (meu cachorro de 15 anos)
Um domingo perfeito?
Carol – Um domingo dormindo.
E você acha que alguém vai querer ler essa entrevista?
Carol - Sim!
E porque razão, motivo ou circunstância?
Carol – Porque eu sou o máximo.
Ailás, esses “porquês” todos são separados, sem acento, com acento ou o quê?
Carol – Porque tu és retardado. Tchau.
Espere aí! Mande um recado para os seus cachorros, que estão te lendo nesse momento, lá em Santo Ângelo.
Carol – Amos vocês, meus cachorros.
A pretinha está no cio.
Carol – Claro, ela é linda.
E o cachorrinho ta dando em cima dela.
Carol – Pretinha, você tem que se protejer!
Para encerrar: qual o dia da semana que você mais gosta?
Carol – A quinta-feira, porque é quando meu irmão, que é o melhor irmão do mundo, vem me visitar e me ajuda com todos os afazeres domésticos! Eu te amo, lindo!
Obrigado, obrigado....

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Incidente em Antares, ou seria em Santo Ângelo... ou em Taubaté?


Só parem um minuto, e leiam o seguinte trecho do livro Incidente em Antares, do Erico Verissimo. O capítulo completo começa na página 263, separei apenas alguns pedaços, e faz referência a quando a Dona Quita, falecida, volta do cemitério para a cidade junto com seus seis companheiros defuntos, que não puderam ser enterrados. Nesse capítulo ela está observando as suas filhas e genros discutindo a herença:

“Escondida atrás da folha duma porta entreaberta, a velha fica a espiar e ouvir suas quatro filhas e seus quatro genros, que se acham sentados em torno da mesa, no centro da qual se vê um escrínio aberto, o interior forrado de veludo cor de ametista, com um espelho na parte interna da tampa (...) Um dos genros, o veterinário, levanta-se, boceja, estira os braços espreguiçando-se, depois acende um cigarro, solta uma baforada de fumaça, olha para o velho relógio de pêndulo e diz, azedo:
- Quase oito da manhã! Parece mentira que passamos a noite em claro, discutindo, e não chegamos a nenhuma conclusão. Acho que agora pelo menos podíamos tomar café. Estou morto de sono e de fome”.

A discussão segue pelas próximas quatro páginas, até que a defunta resolve interromper-lhes:

“- Não se incomodem, meninos e meninas. Só vim buscar as minhas jóias.
A filha mais moça solta um grito. A mais velha cai de joelhos e brada:
-- A mamãe foi enterrada viva!
- Socorro – grita o farmacêutico, que sai correndo, rumo do jardim, enquanto a mulher do comerciante rola no chão debatendo-se em guinchos, num ataque de histeria.
- O mau cheiro – diz a velha Quita – é muito do meu cadáver, mas é mais dos pensamentos de vocês, seus trapaceiros ordinários!”

Não vou me estender mais, porque quero chegar ao ponto crucial que me levou a escrever esses trechos. É que, acreditem nobres leitorinhos, eu achava que a parte da discussão de filhos sobre a herança logo após a morte da mãe só acontecia em ficção. Até cheguei a cogitar, nas duas vezes em que li o Incidente (uma para a monografia, outra para o projeto do mestrado, mas as duas com prazer), que isso poderia ocorrer no período em que o romance foi escrito (década de 70). Mas, eis que em Antares, digo, em Santo Ângelo, presenciei auditivamente uma cena exatamente igual a descrita pelo Erico.

Eis que faleceu dias atrás uma nobre senhora da nossa nobre sociedade (que não era uma nobre leitorinha desse blog). Não cheguei a conhece-la, mas senti pena dela. Acontece que eu estava indo em um compromisso em um local próximo da residência dessa senhora, e antes mesmo dela ser enterrada, ouvi gritos vindo da casa. “Puxa, a mulher morreu ontem e estão fazendo festa na casa dela”, pensei. Mas antes que eu questionasse, a pessoa que estava comigo tratou de me explicar que não era uma festa, mas sim a discussão entre os filhos sobre a herança da falecida (!!??) Isso era por volta das sete da noite, e disseram que a discussão havia começado de manhã (mil vezes !!??) e o enterro só seria no outro dia (um milhão de vezes (!!!???).

Pois é, nobre leitorinho, e eu fui testemunha auditiva dessa discussão. Eu simplesmente não acreditava no que ouvia, assim como a Dona Quita, do Incidente, não acreditou, assim como a senhora falecida também não acreditaria se voltasse ao convívio dos vivos como aconteceu na obra do Erico.
Mas isso que descrevi agora não é ficção. E para piorar, os filhos da dita senhora são todos, digamos assim, para os padrões brasileiros, ricos, ou pelo menos muito bem de vida.
Minha vontade nesse momento é de mandar esses filhos dessa nobre senhora enfiarem no rabo tudo que eles estão peleando e depois saírem pulando e dando assobios em um pé só. Não é possível. Não pode ser possível! Estou com 26 anos, mas às vezes acho que querem me enlouquecer. Chamem a velhinha de Taubaté!!! Chamem o gordo da bolha!! Chamem todos os lunáticos que já existiram, porque é tudo uma ilusão de ótica!! Só pode, só pode....

domingo, 1 de junho de 2008

Era só o que me faltava...


Só para registrar, que quando acabei de escrever o texto anterior, liguei a TV e fiquei sabendo do caso do André Luís, do Botafogo, que foi preso no jogo contra o Náutico, juntamente com o presidente Bebeto de Freitas.
Olha, querem me tirar do sério. Querem que eu enlouqueça! Só pode ser isso. Prender o cara porque ele mostrou o dedo médio para a torcida??? Falasério, como diria o saudoso Bussunda! Então, teriam que prender todos os torcedores do Náutico que estavam nos Aflitos por xingarem, ofenderem e fazerem gestos obscenos para os jogadores do Botafoto! Porra, VÃO SE FUDER! É o cúmulo! Não é possível uma coisa dessas. Querem acabar com o futebol mesmo. Está certo, a falta do André Luís foi violenta, ele mereceu o vermelho, mas depois, deixa o cara, pô! Se acharem que a falta poderia ter quebrado a perna do adversário, que ele seja punido por isso! Mas ser preso por fazer gestos para a torcida?! E mais? Tendo dez policias cercando ele, por que a porra daquela PM (poderia ser um homem, que iria me indignar do mesmo jeito, aliás, sempre denfi as mulheres em tudo, então, não me importunem por isso) tinha que agarrar o braço do cara pô? E ainda tivemos que agüentar aquela cara deslavada do chefe da PM do Recife dando explicações esfarrapadas de uma atitude sem fundamento... Eu não mereço isso.. sério mesmo, não mereço. Nem eu, nem o André Luís, e nem o Bebeto, que não é nenhuma flor que se cheire.
Por que não prendem a mãe do ministro da Defesa de uma vez, carajo?
Ah, esqueci, daqui uns dias esses textos caem nas mãos de algum general e volta o: CALA A BOCA, JORNALISTA! #

Foto: Jaqueline Maia/Diário de Pernambuco/Futura Press

Deixa comemorar, pô!


Outro dia estava escrevendo a minha coluna para o jornal Gazeta do Povo, de Cândido Godói, e tratei do tema da entrevista que fiz com o José Aldo Pinheiro, que falou sobre o distanciamento entre a imprensa e dirigentes, comissão técnica, técnicos e jogadores da dupla grenal, que importaram um modelo europeu permitindo apenas que os treinadores falem em entrevistas coletivas e escolhendo um ou dois jogadores para falarem com as rádios e jornais após os jogos. Enfim, é o incansável esforço que há alguns anos estão fazendo para acabar com o futebol.
Afinal, afastando esse pessoal todo da imprensa, os clubes estão distanciando os jogadores da torcida, que é a razão de existir do futebol. Concordo com aquela idéia do David Coimbra, de que o futebol veio para substituir esportes e guerras mais violentas, como no tempo dos gladiadores. O futebol serve para que durante aqueles 90 minutos o torcedor extravase a sua necessidade de xingar e ofender alguém, que ele tem que reprimir na sua convivência em sociedade. Os jogadores também. E a partir do momento em que você proíbe o torcedor de assistir o jogo pulando nas arquibancadas, cantando, xingando o árbitro, o jogador adversário, de tomar umas e outras durante o jogo (se não tomam durante, tomam antes ou depois, e o resultado é ainda mais grave), o torcedor acaba fazendo coisas muito piores, como por exemplo, marcar lugar para brigar, ou matar uma pessoa que está andando na rua com a camiseta do time rival.
O mesmo acontece com os jogadores. Eles não podem mais comemorar, não podem fazer sinais para ninguém, não podem mais nem dar “alô” para a mamãe no orelhão atrás da goleira (aliás, alguém pode me responder porque tem orelhão em alguns estádios atrás da goleira? Desconfio que tenha a ver justamente com a imprensa...), não pode mais sair de noite (imagina o Garrincha se estivesse jogando hoje em dia. O segundo maior jogador da história do futebol simplesmente não seria jogador de futebol, porque seria barrado pelo técnico), entre outros “não pode”.
Por ironia do destino, os técnicos entraram na dança! Eles não podem mais criticar a arbitragem, caso contrário são punidos, não podem mais criticar o técnico do outro time, e em algumas competições já não podem mais nem ficar de pé na beira do campo! Mas onde andamos? Não se pode mais fazer nada nessa porra?! Então terminem com o futebol de uma vez. Ah, sem contar na bobagem de punir o clube fazendo jogo com portões fechados! Mas que falta de criatividade! Então recolham a renda, encaminhem para alguma entidade séria (acreditem, mas ainda existem entidades sérias no Brasil, mas que com certeza não é a CBF), ou senão, que multem os clubes, que tirem o mando de campo, que façam jogar em outro estádio, mas assim não dá!

Fico imaginando o dia em que teremos o seguinte jogo:

**** Clássico grenal. Final do Campeonato Gaúcho de 2013, véspera de Copa do Mundo no Brasil. O jogo é no estádio Beira-Rio (até porque ninguém sabe se o Olímpico vai estar em pé até lá), mas o Inter foi punido porque um torcedor jogou uma laranja no árbitro que não marcou um pênalti claríssimo na semifinal contra o Juventude, e validou um gol da equipe da Serra em impedimento, e isso quase eliminou o colorado. Com isso, o jogo está ocorrendo com portões fechados. Esse é o jogo da volta, no jogo da ida houve empate em 0 a 0, com o mando de campo do Grêmio. Mas, devido aos pedidos dos presidentes da dupla grenal, apenas repórteres fotográficos e da RBS podem ficar na beira do campo, então, os repórteres de rádio e demais profissionais da imprensa ganharam um número limitado nas cabines, que aliás, ficam bem longe do campo. Com isso, dá para se ouvir claramente o que os jogadores falam dentro de campo. Em certo momento, Marcos Manuel (outra moda é chamar o jogador pelo nome duplo), revelação do Grêmio, faz uma falta em Rodolfo Alfredo, do Internacional. O gremista acode o colorado:
- Tudo bem com você, amiguinho?
- Sim, e com você?
- Também.
E os dois saem, cada um para o seu lado.
No final do primeiro tempo o técnico do Grêmio chama o árbitro de “bobo” e é expulso. O do Inter da risada, mas o segundo árbitro vê, e também o expulsa. Já o zagueiro Alex Pereira, do Grêmio, solta um peido e o fiscal da federação também vê, e chama o árbitro, que faz sinal para que isso não se repita. Do outro lado, Anselmo, goleiro reserva do Internacional boceja, e como isso também está contra os princípios previstos no regulamento, leva cartão amarelo.
O jogo é chato, e o resultado se encaminha para um zero a zero, quando aos 44 minutos do segundo tempo, Marcos Manuel faz o gol da vitória do Grêmio. Ele volta para o seu campo caminhando, de cabeça baixa. O juiz apita o final do jogo, todos se abraçam, e todo mundo dentro de campo está feliz e unido, vencedores e perdedores, árbitros, dirigentes e comissão técnica, a Paz teria reinado por absoluto...
Teria reinado por absoluto caso as duas torcidas organizadas de Grêmio e Internacional não tivessem marcado um confronto para as proximidades da Praça Garibaldi, que acabou resultando na morte de 55 torcedores, três cachorros, um gato e um pássaro, que foi atingido por uma pedra.
No outro dia, todos os jornais apresentaram a mesma manchete:
PAZ E MORTE NO FUTEBOL GAÚCHO

Pobre Charles, pobre Müller...