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sábado, 7 de junho de 2008

O Barbeiro


PERSONAGENS:
MÃO
DEDOS
BOCA
CACHORRO 1
CACHORRO 2
BARBEIRO
CLIENTE
CABELO


Cenário: Uma barbearia, por volta das 14h59 de uma segunda-feira de alguma cidade européia do século XVI.

CLIENTE – Boa tarde, Barbeiro!
BARBEIRO – Olá! Sente-se nobre cliente, que ei de cortar a sua vasta cabeleira!
CLIENTE – Ora, será uma grande honra da minha parte, ter a minha vasta cabeleira cortada pelas mãos do barbeiro mais conhecido do Império!
BARBEIRO – Pois não seja tão elogioso, nobre amigo!

Cliente senta na cadeira. Barbeiro coloca um pano para não caírem os cabelos na roupa do Cliente e pega a tesoura.

MÃO – Sobressaltem vocês, ó dedos! Sobressaltem em nome do Rei!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CHACHORRO UM – Au, au, au, au!
BOCA – Fiquem quietos! Fiquem Quietos!
MÃO – Sobressaltem! Sobressaltem! Agora, vamos, vocês todos! Sobressaltem em nome de Vossa Excelência Altíssima!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CABELO – O quê estão fazendo? Parem com isso! Parem com isso agora! Eu não acredito numa coisa dessas! Cadê os meus irmãos? Quem é o mau caráter que teve o despeito de levarem-lôs? Quem? Quem? Quem?
BARBEIRO – E que belo dia hoje, não?
CLIENTE – Um belo dia, um belo dia...
BARBEIRO – Um dia realmente belo, não?
CLIENTE – Realmente, realmente...
BARBEIRO – O que você acha que vai acontecer com o priosioneiro?
CLIENTE – Será degolado, sem dúvidas.
CACHORRO DOIS – Caim, caim, caim, caim...
BARBEIRO – Pois eu preferia o enforcamento.
CLIENTE – Talvez. Mas sem dúvidas, seja o que for, será um espetáculo admirável.
BARBEIRO – Admirável, admirável...
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
MÃO – Sobressaltem todos vocês, antes que seja tarde! Vamos, ouçam-me! Eu falo em nome do reverendíssimo! Não ousem me desobedecer!
CABELO – Porque vocês não os deixam em paz? Parem com isso! Pelo amor de Deus! Parem! Parem!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, eiiiiii!
CACHORRO UM – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
BOCA – Calem-se todos vocês! Querem me deixar louca!! Parem imediatamente!
MÃO – Sobressaltem!
CLIENTE – O crime que ele cometeu, sem dúvidas, foi muito grave!
BARBEIRO – Obviamente que sim. Gravíssimo!
CLIENTE – Não é todo o dia que acontece um crime desses na vila...
BARBEIRO – Eu não lembro de nada parecido...
CLIENTE – Vou querer chegar cedo para pegar o primeiro lugar...
BARBEIRO – Terá que ir cedo mesmo. Mas mesmo assim, o máximo que vai conseguir é a segunda fila. A primeira é só para a nobreza.
CLIENTE – Alto lá, nobre Barbeiro! Com todo o respeito, sabes quem sois eu?
BARBEIRO – Obviamente que sim! Você é o jardineiro do príncipe Johnson!
MÃOS – Sobressaltem o rei! Sobressaltem o rei! Ele és tudo na vidinha de vocês, pobres infelizes!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei!
CLIENTE – Isso é só o que você sabe... Mas é melhor que não saibas mais do que isso...
BARBEIRO – Bom, na verdade, andam dizendo por ai algumas histórias, na qual não ouso mencionar, a respeito de vossa senhoria.
CLIENTE – Alto lá! Alto lá! Que histórias são essas, cavalheiro da Triste Tesoura?
CACHORRO DOIS – Grrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO UM – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr
OS DOIS JUNTOS – GRRRRRRRRRR! AUAUAUA!
CACHORRO DOIS – Cain, cain, cain...
CACHORRO UM (COORENDO ATRÁS DO DOIS) – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Fiquem quietos, cachorros nefastos!
BARBEIRO – Cavalheiro das Três Flores, só falo se você admitir que essa história não sou eu quem contei, mas sim, o povo!
CLIENTE – E o que é o povo?
BARBEIRO – Um amontoado de gente que se esquece do que se passou ontem, com a mesma velocidade do mijo de vossa excelência.
CLIENTE – Alto lá! Reiá! Reiá! Eu pensava que estava em um estabelecimento de alto nível!
BARBEIRO – Pois está! Certamente está! Do mais alto nível! Tanto é, que outro dia, o próprio príncipe, em carne e osso esteve nesse nobre recinto e nessa nobre cadeira, onde o seu traseiro encontra-se recostado nesse momento.
CLIENTE – Se isso que dizes for da mais pura verdade, então que toda a vila considere esse recinto como o da mais alta qualidade e credibilidade.
BARBEIRO – Pois assim é!
MÃO – O mundo inteiro deve sobressaltar-se! O mundo todo! Agora!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei!
CLIENTE – Mas que histórias andam contando a meu respeito, nobre barbeiro?
BARBEIRO – Que você tem um caso com alguém do palacete.
CLIENTE – Rará! Pois essa é muito boa!
CACHORRO 2 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrr.
CACHORRO 1 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO 2 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
OS DOIS – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!argh, aught! Grrrrrrrrrrrrr!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CACHORRO 1 (CORRENDO ATRÁS) – Grrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Calem-se! Pela última vez, calem-se nigromantes, mentecaptos!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CLIENTE – Eu não posso ter um caso por dois motivos: primeiro, porque sou casado, e segundo, porque respeito muito a indonielidade da nobre princesa.
BARBEIRO (COMEÇANDO A FAZER A BARBA DO CLIENTE, DEPOIS DE TER CORTADO A SUA CABELEIRA) – Mas acontece que... que dizem que seu caso não é com a princesa....
CLIENTE – Mas como? Se lá só vivem o príncipe e a princesa?
MÃOS – Sobressaltem!
DEDOS – Ei, ei, ei, ei, ei, ei!!!!!!!!!
CACHORRO 2 – Cain, cain, cain!
CACHORRO 1 – Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
BOCA – Fiquem quietos! Fiquem quietos!!!!!
CABELO EM PRANTOS – Cadê eles? Cadê??????????????

Nesse instante o Barbeiro passa a navalha pelo pescoço do cliente, que fica com os olhos esbugalhados e não chega a ouvir o Barbeiro murmurar para a mão:
- Maldito, maldito!

MÃO – Sobressaltem! Agora! Agora! Sobressaltem!

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