Incidente em Antares, ou seria em Santo Ângelo... ou em Taubaté?
Só parem um minuto, e leiam o seguinte trecho do livro Incidente em Antares, do Erico Verissimo. O capítulo completo começa na página 263, separei apenas alguns pedaços, e faz referência a quando a Dona Quita, falecida, volta do cemitério para a cidade junto com seus seis companheiros defuntos, que não puderam ser enterrados. Nesse capítulo ela está observando as suas filhas e genros discutindo a herença:
“Escondida atrás da folha duma porta entreaberta, a velha fica a espiar e ouvir suas quatro filhas e seus quatro genros, que se acham sentados em torno da mesa, no centro da qual se vê um escrínio aberto, o interior forrado de veludo cor de ametista, com um espelho na parte interna da tampa (...) Um dos genros, o veterinário, levanta-se, boceja, estira os braços espreguiçando-se, depois acende um cigarro, solta uma baforada de fumaça, olha para o velho relógio de pêndulo e diz, azedo:
- Quase oito da manhã! Parece mentira que passamos a noite em claro, discutindo, e não chegamos a nenhuma conclusão. Acho que agora pelo menos podíamos tomar café. Estou morto de sono e de fome”.
A discussão segue pelas próximas quatro páginas, até que a defunta resolve interromper-lhes:
“- Não se incomodem, meninos e meninas. Só vim buscar as minhas jóias.
A filha mais moça solta um grito. A mais velha cai de joelhos e brada:
-- A mamãe foi enterrada viva!
- Socorro – grita o farmacêutico, que sai correndo, rumo do jardim, enquanto a mulher do comerciante rola no chão debatendo-se em guinchos, num ataque de histeria.
- O mau cheiro – diz a velha Quita – é muito do meu cadáver, mas é mais dos pensamentos de vocês, seus trapaceiros ordinários!”
Não vou me estender mais, porque quero chegar ao ponto crucial que me levou a escrever esses trechos. É que, acreditem nobres leitorinhos, eu achava que a parte da discussão de filhos sobre a herança logo após a morte da mãe só acontecia em ficção. Até cheguei a cogitar, nas duas vezes em que li o Incidente (uma para a monografia, outra para o projeto do mestrado, mas as duas com prazer), que isso poderia ocorrer no período em que o romance foi escrito (década de 70). Mas, eis que em Antares, digo, em Santo Ângelo, presenciei auditivamente uma cena exatamente igual a descrita pelo Erico.
Eis que faleceu dias atrás uma nobre senhora da nossa nobre sociedade (que não era uma nobre leitorinha desse blog). Não cheguei a conhece-la, mas senti pena dela. Acontece que eu estava indo em um compromisso em um local próximo da residência dessa senhora, e antes mesmo dela ser enterrada, ouvi gritos vindo da casa. “Puxa, a mulher morreu ontem e estão fazendo festa na casa dela”, pensei. Mas antes que eu questionasse, a pessoa que estava comigo tratou de me explicar que não era uma festa, mas sim a discussão entre os filhos sobre a herança da falecida (!!??) Isso era por volta das sete da noite, e disseram que a discussão havia começado de manhã (mil vezes !!??) e o enterro só seria no outro dia (um milhão de vezes (!!!???).
Pois é, nobre leitorinho, e eu fui testemunha auditiva dessa discussão. Eu simplesmente não acreditava no que ouvia, assim como a Dona Quita, do Incidente, não acreditou, assim como a senhora falecida também não acreditaria se voltasse ao convívio dos vivos como aconteceu na obra do Erico.
Mas isso que descrevi agora não é ficção. E para piorar, os filhos da dita senhora são todos, digamos assim, para os padrões brasileiros, ricos, ou pelo menos muito bem de vida.
Minha vontade nesse momento é de mandar esses filhos dessa nobre senhora enfiarem no rabo tudo que eles estão peleando e depois saírem pulando e dando assobios em um pé só. Não é possível. Não pode ser possível! Estou com 26 anos, mas às vezes acho que querem me enlouquecer. Chamem a velhinha de Taubaté!!! Chamem o gordo da bolha!! Chamem todos os lunáticos que já existiram, porque é tudo uma ilusão de ótica!! Só pode, só pode....
4 Comentários:
é....essa é uma história muito comum, e sempre acontece...nas famílias mais ou menos favorecidas.
E eu que já trabalhei com público, presenciei diversas cenas interessantes. Eu trabalhei com planos de saúde, e quando o marido morre, a esposa ganha 5 anos de plano gratito, chamado PEA.
E já presenciei várias esposas cujos maridos estavam moribundos, solicitando informações...é, este ser humano é incrível!
Por Aline, às 2 de junho de 2008 às 20:07
quem é o gordo da bolha?
Por Zaratustra, às 3 de junho de 2008 às 17:34
Pois é, se o cara escreveu isso, cara leia-se Érico Vespússiot. É por que já tinha ouvido falar. A vida imita a arte.
Jumanji o filme.
Por Rodrigo, às 3 de junho de 2008 às 19:35
qm eh o gordo da bolha, e a velinha de taubaté??????? hein hein hein
pois eh neh
q triste
mto bom manuxo
bjus
Por Carolina, às 6 de junho de 2008 às 14:01
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