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quarta-feira, 22 de maio de 2013

O início do fim

A coisa mais engraçada, e ao mesmo tempo sem graça, é ouvir os colorados zoando os gremistas pela escassez de títulos. Após ganhar o título brasileiro de 1979, o Inter só foi ganhar uma Copa do Brasil em 1992. Ou seja, 13 anos de seca. E, para quem achava que o ano de 1992 marcasse uma nova fase na vida colorada, enganou-se: mais uma seca até nada mais nada menos do que 2006. Isso quer dizer que foram mais 14 anos na fila. Traduzindo, de 1979 até 2006 o Inter ganhou apenas uma Copa do Brasil. Uma Copa do Brasil em 27 anos de futebol. 27 anos é uma vida. Eu, por exemplo, tenho 31. 27 anos foi o tempo que pessoas como Jimi Henrix, Janis Joplin, Jim Morrisom, Kurt Cobain e Amy Winehouse freqüentaram esse planeta. Ou seja, imaginem se um deles fosse colorado e nascesse em 1979 e morresse em 2006: teria comemorado apenas uma Copa do Brasil (e alguns estaduais) durante toda a vida.
E por que estou dizendo tudo isso? Simplesmente porque o último título importante do Grêmio foi uma Copa do Brasil em 2001. Mesmo se não considerarmos a Copa do Brasil de 1997 como um outro título importante, e recuarmos até o título Brasileiro e da Recopa Sul-americana do Grêmio de 1996, nós temos ai 17 anos de seca (de 1996 até 2013). 17 anos com apenas duas Copas do Brasil (enquanto o Inter ficou 27 com uma Copa do Brasil). Ou seja, para o Grêmio se igualar à escassez de títulos colorada, teria que ficar mais dez anos sem ganhar absolutamente nada, além de Gauchão.
Senti-me obrigado a escrever isso porque ouço agora as mesmas piadas que os colorados ouviram durante 27 anos. Está certo, eles estão no direito deles, compreendo, afinal, foi tanto tempo de espera e tanto tempo sendo sacaneado (no meu tempo de colégio, colorado sofria bullying), que eles devem aproveitar ao máximo essa fase.
A má notícia (para os colorados) é que o futebol é feito de fases e círculos. O Corinthians já ficou na fila e depois acumulou taças. O Fluminense freqüentou a série C do Brasileirão para depois se tornar um especialista em títulos nacionais. O Palmeiras, que viveu uma fase espetacular na década de 1990, decaiu e só no ano passado foi ganhar novamente uma Copa do Brasil. O Flamengo, idem. O Cruzeiro, que dominou Minas Gerais, agora está apavorado vendo o Atlético-MG formar o melhor time do Brasil e ser favorito a todos os títulos que disputa. É a vida, meus amigos!
Não estou dizendo com isso que esse quadro vai mudar agora, nesse ano, nesse campeonato brasileiro. O que quero dizer é que, caso Grêmio ou Inter vença o Brasileirão ou a Copa do Brasil, o seu torcedor deve aproveitar bem esse momento: comemore, grite, pule, cante, fique sem voz, encha a cara, acorde pelado num lugar onde você não faz idéia de onde é, perca sua identidade, porque você nunca sabe quando será a próxima escassez de títulos. Aliás, ela sempre começa na última taça levantada...
Um bom final de semana a todos.

*Texto a ser publicado no JMissões do próximo sábado - Se Deus e o editor e o dono do jornal, assim quiserem.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Entre amigos


Ramon havia se separado há quatro meses e desde então estava só na punheta. Quando rolou o divórcio, achou que ia sair por ai, comendo todo mundo, mas depois de dois meses fazendo festa e vez em quando só dando uns beijos, começou a cansar. Principalmente porque as garotas que estava conhecendo queriam relacionamento sério, e para Ramon, após sete anos de casado, a última coisa que ele almejava era um relacionamento sério.
Os quatro meses de punheta começaram com muita ansiedade, mas agora ele estava entrando em uma fase depressiva em que não acreditava em mais nada que lembrasse relacionamento afetivo. Esse era o assunto da conversa com a sua amiga de infância, Rosane. Ela estudava medicina, não gostava de sair e havia namorado apenas cinco caras ao longo de seus 30 anos de vida. E tinha uma boca espetacular.
Foi olhando para aqueles lábios carnudos e rosados que, num momento iluminado pelo cinismo que crescia dentro de si, Ramon disse:
- Você me faz um boquete?
Rosane achou que não entendeu direito:
- Como é?
- Um boquete.
Ela permaneceu de olhos arregalados e boca aberta.
- Sabe? Um boquete. Aquilo em que você fica chupando o pau do cara até ele gozar na sua boca... Boquete! Pau! Boca! Porra! – e fez o movimento com a ponta da colher entrando e saindo de sua boca.
- Você está maluco?
- Não. Olhe, eu quero gozar. Você é minha amiga, pode fazer isso por mim. Eu até te compro umas camisinhas com sabores... você escolhe: uva, morango, coco, melancia... até de framboesa já tem. Framboesa, lembra? A gente comia junto lá na casa da tia Camélia...
Rosane ficou pensativa.
- É sem compromisso. Apenas uma necessidade biológica. Você é médica, sabe como é. Sem sentimentos. Você vai lá, põe meu pau na boca, chupa até eu gozar, e depois seguimos nossas vidas. É como a gente almoçar, tomar um suco juntos... Apenas uma necessidade biológica... Você fecha os olhos e imagina que é um picolé quente de framboesa... Até passo um leite condensado pra ficar mais saboroso...
Rosane ficou olhando fixamente para a mesa. Dois minutos de silêncio, após lembrar de tudo que o amigo fizera por ela ao longo da vida, soltou um suspiro e disse:
- Está bem, mas só se for com a de framboesa...
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Mari e Sandy estavam namorando há sete anos. Desde que se conheceram, aos 20, começaram a morar juntas. O maior sonho delas era ter um filho. Discutiram muito sobre o assunto. Mari queria achar um pai de aluguel e Sandy era a favor de inseminação artificial. Mari convenceu a esposa de que era mais seguro achar um homem para fazer o serviço. Após anos de estudo, finalmente concluíram que Jony era o cara perfeito: gostava de comer todas, era o que as outras garotas chamavam de bonitão, era fisicamente saudável, porém, o que tinha de atraente, tinha de burro e ingênuo. Ou seja, uma presa fácil: concordaria em comer mais uma, sem se preocupar que aquilo renderia um filho, biologicamente seu (com certeza ele sequer sabia o que significava a palavra “biologicamente”).
A decisão foi tomada, mas Sandy tinha ciúmes de Mari, a escolhida para fazer o serviço (em uma disputa de cara ou coroa) com Jony – colega de ambas na faculdade e estilo “amigão de todo mundo”. Então, combinaram que Mari levaria um gravador para captar a conversa da negociação e, depois, o que aconteceria no quarto.
Conforme o combinado, Mari convidou Jony para uma cerveja no bar do Tuco. Estavam lá, começando a segunda garrafa, falando as asneiras que Jony adorava, quando Mari começou a esfregar o copo na mesa e, aproveitando que o amigo bebericava o seu líquido precioso, soltou a proposta:
- Escuta, Jony. Você é um cara atraente, que todas as minhas gostam... Você me acha atraente?
Como sabia da opção sexual da amiga, tomou um susto. Gaguejou ao responder:
- Si-sim, claro, claro...
- Então. Eu e a Sandy estamos com uns planos... Bom, vou ser direta (até porque se complicar muito ele não vai entender, pensou ela): nós queremos ter um filho. Então, pensamos em você. Vamos num quarto, eu abro as pernas, e você faz o serviço. Só não pode rolar sentimento. É do jeito que você gosta: pa-pum, sacou? No máximo cinco minutos, você consegue? Eu vou levar uma revista para ficar lendo. Passo um lubrificante e você põe seu pau lá dentro e goza. Feito isso, vamos embora e nunca mais falamos sobre o assunto, topa?
Jony tomou o copo de cerveja que acabara de encher em um gole, deu um tapa na mesa e sentenciou:
- Vambora!

domingo, 12 de maio de 2013

Devaneios

Ok, leitores imaginários, eu sei que há pouco tempo prometi ser mais freqüente nesse espaço, mas realmente está difícil, pelos mesmos motivos que expliquei da última vez: compromissos com a tese, com os preparativos finais para a bolsa sanduíche, com a patroa e as crianças e, talvez principalmente, com o inglês. Tento usar praticamente todo o “tempo livre” (se é que ele existe) para estudar inglês nas suas quatro habilidades principais (ler, escrever, ouvir e falar). Além disso, ainda surgem os imprevistos.
Desde a última vez em que escrevi, posso dizer que aconteceu uma coisa muito boa e outra muito triste para mim. A triste foi a perda do meu padrinho, José Fontoura, que faleceu em Ijuí, aos 85 anos. A exemplo do que aconteceu alguns meses atrás, quando minha tia Eva também faleceu, o fato de não conseguir viajar até Ijuí torna a perda mais dolorosa. Depois, ficam as lembranças: os jogos de damas em que eu ficava observando as suas jogadas, que eram sempre fatais, e aconteciam entre alguns segundos de silêncio e o característico assobio dos sábios; as conversas sobre o nosso Grêmio; a pontualidade e uma certa severidade carinhosa que ele parecia ter com os filhos e netos (e que eu, como afilhado, escapava), as suas histórias do passado e as perguntas sobre o meu futuro... A saudades sempre é dolorosa, mas por outro lado, penso que chegar aos 85 anos de vida, como ele chegou, é uma vitória a ser admirada e respeitada por todos.
Em meio a essa tristeza, recebi a tão sonhada carta de concessão para realizar o meu estágio doutoral na New York University, a famosa bolsa sanduíche. Foi-me concedido um ano (de agosto de 2013 até julho de 2014). Está praticamente tudo certo – na verdade, tenho esses três meses basicamente para fazer o visto, porque o resto está tudo pronto. Em meio a isso, como disse, dedico-me a estudar inglês, a ler sobre todas as regiões da cidade e a elaborar um cronograma imaginário que sei que quando chegar lá vai ir para o espaço. E, além disso, tenho as outras duas colunas (do Jornal das Missões, de Santo Ângelo, e do Meu Bairro, de Porto Alegre, para atualizar semanalmente – coisa que não fiz nessa semana).
A coisa está me consumindo tanto que às vezes parece que estou sofrendo um bloqueio criativo. Parece que não posso sentar no computador e ficar de bobeira, porque “estou perdendo tempo que poderia estar estudando inglês e que vai fazer falta depois, etc”. Também tento achar eventos na área para o período em que estarei lá, apesar de também saber que qualquer programação prévia corre sério risco de cair no esquecimento com a mesma rapidez com que surgiu – a única coisa mais concreta é um curso que vai ter na Universidade de Columbia em outubro sobre cobertura em áreas de risco. Então, vou parando por aqui, quem sabe baixe algum espírito de algum escritor frustrado do século III e surgem idéias para textos mais criativos nas próximas horas, dias, semanas, meses...
Hasta!